terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O AMBIENTE EXIGE RESPEITO

IMAGEM PUBLICADA - Uma montagem exibida em matéria, na Internet, sobre a recente COP 15, a Conferência do Clima, com uma imagem da Terra com um halo amarelo, que nos lembra o Sol, com desaparecimento de seu tradicional azul, com manchas amarelas e alaranjadas, simbolizando a situação do aquecimento global e com uma figura humana cabisbaixa olhando para esse painel e panorama do futuro possível de todos nós..., publicada em matéria jornalística sobre o fracasso da Conferência em portal 

"A Terra, na verdade, nos fala em termos de forças, de ligações e de interações, o que basta para fazer um contrato. Cada um dos parceiros em simbiose deve, de direito, a vida ao outro, sob pena de morte. Tudo isto permaneceria letra morta se não se inventasse um homem político..." ( Michel Serres - O Contrato Natural)

O filósofo francês Michel Serres escreveu este livro em 1990. Passaram-se 20 anos e ainda não inventamos um novo homem político, ou seja um novo homem político-estético e ético. O livro Contrato Natural tem sido minha leitura de cabeceira, desde do encontro e representação espetacular sobre mudanças climáticas da Terra em Copenhague.

Aliás o tema já se esgotou na mídia, como bem nos interessa na Sociedade do Espetáculo, onde nossos representantes políticos cada dia mais se aprimoram nessa arte: o mise-en-scène, o palco/palanque hipermidiatizado da macropolítica . Tudo tem sua efemeridade garantida, e o assunto do momento pode ser apenas mais uma catástrofe, nevasca, tornado, furacão, enchente ou devastação florestal, quem sabe outro tsunami, ou mais uma campanha eleitoral .

Quando pensei o título desta mensagem de fim de ano, como tentativa de manter nossas antenas críticas ligadas, me lembrei de um antigo samba: " Moço olha o vexame, o Ambiente exige respeito... pelos estatutos da nossa gafieira, dance a noite inteira mas dance direito...", que foi lançado em 1954, por Billy Blanco. Talvez, por essa longevidade tão próxima da minha, muitos não o conheçam.

A lembrança do samba e da sua estrofe é a afirmação de que 'qualquer ambiente', ou melhor "todos os meios ambientes" exigem respeito. E, diante da devastação, exploração e poluição que continuamos realizando, apesar de todos os espasmos e gritos do que chamamos Natureza, temos urgência de formular estatutos para que a dança da vida possa continuar no salão do planeta Gaia.

A gafieira, local de danças populares, onde os mais humildes tinham o direito ao lazer e prazer da música, criou, para o deleite ser democrático e sempre alegre, algumas regras. Lá 'NÃO podia', segundo o 'artigo 120... nem subir nas paredes... nem dançar de pé pró ar'. 

Mas se olharmos para nossos tempos atuais, onde as gafieiras minguam, e a dança não é mais de salão, de dois parceiros fiéis, mas sim de multidão, andamos sem estatutos que valham para evitar os prejuízos de hoje que afetarão, sem dúvida, os pés-de-valsa do amanhã.

Colocamos nossos pés massificantes esmagando qualquer um, só importando ir atrás de um falso trio elétrico.

Haverá um futuro baile, onde cara a cara dançaremos com a Terra, ou 'já dançamos', como dizem em gíria, quando nos violentam ou assaltam? Aliás quem são os mais velhos assaltantes e violentadores da Gaia, a chamada MÃE-TERRA?

O que assistimos, como espectadores, na COP 15, ao meu ver, caiu na decepção, principalmente quando os chamados líderes dos países, ou seja os presidentes, como Lula, apareceram no cenário apenas para seus discursos, onde nenhum deles tinha a fala fora da ordem. Nenhum deles lembrou de fazer uma referência a um novo contrato, pacto ou aliança com o próprio motivo desta conferência: a Terra. Lá só estavam nossos representantes mundiais, e nenhum me pareceu interessado em não deixar esta oportunidade virar mais uma "letra morta".

Tudo poderia ser resumido em uma frase dita há 07 (sete) dias atrás por nosso Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc : "Foi muita gente olhando para o seu próprio umbigo e um clima de desconfiança muito ruim", disse ele ao jornal o Estado, quando embarcava de volta para o Brasil.

Isso mesmo, o clima da Conferência do Clima, assim como outros espaços de cunho universalista, também sujeito a chuvas de ego e trovoadas de poder, não passou de um encontro de países desconfiando uns dos outros. Lá a hegemonia imperial esteve presente, os mais ricos preocupados com as emissões de carbono dos mais pobres. 

Para crescer, economicamente, também precisamos de combustíveis fósseis para continuar sendo chamados de 'emergentes' e não mais de 'subdesenvolvidos'. A realidade de nossos países se liga também ao efeito estufa: mais progresso, mais ordem serializante, mais fábricas, mais substâncias tóxicas, mais poluição, menos reciclagem, mais hipercapitalismo, mais emissão de dinheiro e carbono.

O Sol esquenta a Terra e ela esquenta em troca por estar sufocada, e, como num jardim de inverno, acaba por nos sufocar também... O céu sem ozônio verte mais chuvas, que se não são ácidas, tornam-se alagamentos e nos prepara para pequenos dilúvios.

Diante disso é que temos de firmar, enquanto simbiotas do planeta, um novo tratado, já que estamos sentindo cada dia mais frio ou calor, mais neve ou enchentes. Já passou da hora, como previa o filósofo, de definir um acordo harmônico, com valores éticos e ecosóficos renovados: o contrato que Serres chamou de Natural, e que, atualizando, chamarei de Contrato Ecosófico.

Olhar para o futuro em viradas de ano será um bom exercício, se não ficarmos como disse o ministro "olhando para o próprio umbigo". Não é um exercício obrigatório, nem deve sê-lo, mas é um exercício bio-ético, como um direito humano de todos e todas, para com o seu ,o nosso, e o devir de toda a humanidade, para com o futuro planetário e global.

Em outubro de 2005 a Unesco proclamou, após uma conferência de 191 países, inclusive o Brasil, uma Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, que inicia afirmando que todos deverão estar: "Conscientes da capacidade única dos seres humanos de refletir sobre sua própria existência e sobre seu meio ambiente...".

  Será que nós temos mesmo essa capacidade? Estamos refletindo, individual e coletivamente, sobre nossa existência? Desejamos realmente uma mudança ética, política e estética nos nossos meios ambientes? Cuidamos com afeto e respeito de nossa parceira principal, no Salão da Dona Natureza, sem lhe pisar nos pés, ou derrubá-la, como às árvores ao chão, nesse convite para uma nova dança, uma nova música e um novo Concerto da Vida?

Aos moços e moças, os jovens do futuro, do grande baile vital, todos e todas, deixo aqui o convite para que conheçam essa Declaração, que não é apenas mais uma, mas um documento que olha para nosso futuro, em especial em seu Artigo 17: "PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE, DA BIOSFERA E DA BIODIVERSIDADE", que nos clama, reclama e avisa que a: "Devida atenção deve ser dada à inter-relação de seres humanos com outras formas de vida, à importância do acesso e utilização adequada de recursos biológicos e genéticos, ao respeito pelo conhecimento tradicional e ao papel dos seres humanos na proteção do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade."

A dança da vida exige movimento, já o disse, e agora para 2010 posso afirmar que o Ambiente EXIGE RESPEITO... Vamos cuidar do nosso salão de danças, com o fogo, a àgua, os ventos, e seu chão tão batido? ou deixaremos este espaço físico e seus problemas para os futuros dançarinos, do 'Salão da Dona Gaia', ou melhor a 'gafieira do Planeta', outrora chamada Terra?

Lembrete: os futuros dançarinos podem ser nossos filhos, filhas, netos ou bisnetos, mas basta que sejam habitantes do ainda imenso, belo, confuso, criativo, plural, complexo e diverso mundo no qual semearemos, po-éticamente, nosso próprio devir. Parafraseando o poeta Drummond de Andrade, digo:
"é dentro de nós, que, anestesiado e sonolento pelo espetáculo, o Ano Novo, cochila e espera desde sempre."

Vamos festejar o quê em 2011 e depois? O cinema já se antecipa, com boas bilheterias e espectadores, com a ameaça da catástrofe ficcional para 2012... e outros presságios.

copyright / left jorgemárciopereiradeandrade ad infinitum - 2009 ad infinitum, todos os direitos reservados, favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela internet... as massas e o meio ambiente agradecem. (PARA ALÉM DE TODAS AS PANDEMIAS)

Referências bibliográficas - Serres, Michel - O Contrato Natural - Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, 1991.
do IG)

InfoAtivo.DefNet - Nº 4324 - Ano 13 - 29 de Dezembro de 2009
Editorial ANO NOVO - 2010 FELIZ MUNDO NOVO NO ANO NOVO

Fontes:
Estatuto da Gafieira - https://letras.terra.com.br/billy-blanco/376613/

COP 15 - https://www.estadao.com.br/noticias/vidae,arremedo-de-acordo-assinado-em-copenhague-nao-convence,485838,0.htm

DECLARAÇÃO SOBRE BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS - https://www.bioetica.org.br/?siteAcao=DiretrizesDeclaracoesIntegra&id=17

LEIAM TAMBÉM NO BLOG - 
ÁGUA PARA QUE TE QUERO?  DIA INTERNACIONAL DA ÁGUA. https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/03/agua-para-que-te-quero-dia.html

AS MASSAS, AS ÁGUAS, AS FLORESTAS, NOSSAS VIOLÊNCIAS https://infoativodefnet.blogspot.com/2015/03/as-massas-as-aguas-as-florestas-e.html

2 comentários:

  1. Jorge
    Gostei tanto que transcrevi uma parte do seu texto :o)
    Um Feliz Planeta para todos nós em 2010!!!
    E que as pessoas saibam escolher os próximos governantes baseados na importância do respeito à natureza e toda a sua biodiversidade.

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  2. OI TURMA ALINA OU SEJA PEDRA PRECIOSA QUE SE MULTIPLICA...
    Obrigado por sua difusão em seu Cartas de Tarot e pelo desejo que tenhamos lucidez e crítica suficientes no ano de 2010 para deixarmos o modelo representativo ser mais forte que nosso desejo micropolitico de um outro modo de olhar e governar o nosso MUNDO, nossas Vidas e o Planeta...
    um doce abraço e FELIZ ANO QUE ESTÁ COMEÇANDO DAQUI A POUCO...
    JORGE MARCIO

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