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domingo, 18 de dezembro de 2011

A ARTE DE RE-VIVER - Quando morrem o Teatro, o Carnaval e a Música? Nunca...



Imagem publicada - a capa do livro A ARTE DA VIDA, de Zygmunt Bauman, com uma imagem esmaecida de um rosto feminino que se apoia em um ombro de um homem com um cigarro à boca, sendo sobrepostos por um ponteiro e um relógio, havendo sombras humanas ao fundo. Uma alegoria da nossa passagem pelo ‘’túnel ou máquina’’ do tempo da modernidade líquida e veloz. O fundo é como uma pintura onde o branco predomina, o mesmo que pensamos vestir quando passamos pelo Ano Novo... (Autoria Sérgio Campante sobre fotos de Steve Woods, Leroy Skalstad e Jay Simmons)

Quando é que aprenderemos que sem a Arte a vida é vazia de sentido? E quando é que ela fica vazia de sentido quando perdemos nossos artistas? E quando é que nos descobrimos precisando ser artífices de nossas próprias artes de viver e morrer?

Estas interrogações não parecem combinar com os tempos pré-natalinos e festivos para alguns. Mas o fim de um ano pode trazer um pouco de reflexão... Principalmente se a Senhora Dona Morte nos ceifar alguns intensificadores da alegria do viver...
Nesse pré-Natal de 2011, Dona Morte, mais três poderão alegrar, encantar e musicalizar o chamado “outro mundo”. Morreram Sergio Britto, Joãozinho Trinta e Cesária Évora.

Mas não devemos lamentar ou lamuriar. Devemos evocar e homenagear, pois o que deixaram por aqui é muito diferente do que alguns andam provocando e criando. E esses, também midiatizados e midiatizáveis, parecem imortais como o que causam.


Hoje custosa e cara Senhora mais uma carta tenho de escrever-lhe. A missiva (carta em português arcaico) é para lhe lembrar de que nesse fim de ano muitas coisas andaram mortais pelo Planeta Terra. Muita propaganda, muito estímulo ao consumo e as velhas promessas macropolíticas de erradicação da miséria, ou será dos miseráveis?

A Caríssima Senhora e seu amigo Cronos (o Tempo) nos arrebataram três grandes seres humanos. O Joãozinho, revolucionário e lúcido, que valia por trinta outros. Mostrou-nos, sem destemor, no Reinado de Momo, que a alegria para os excluídos é imprescindível, principalmente na miséria impingida. Agora é carnavalesco em outras bandas... Devia estar faltando humor, beleza e criatividade no seu reinado, Dona obscura e repentina?

A digníssima se lembra de quando ele teve de cobrir o Cristo Redentor? Ainda continuamos tapando com panos quentes as nossas desigualdades... Agora estamos em plena higienização social pré-Copa e Olimpíadas. Nossas periferias e seus diferentes marginais estão ficando “clean”. Nem se parecem com o seu enredo dos “Ratos e Urubus, Larguem a minha fantasia”.

Precisamos, por isso, sim das fantasias, como nos palcos dos teatros. Ali, usando personas (máscaras), escancaram-se para poucos o desnudamento de nossas tristes e confusas humanidades tropicais. Houve este homem teatral, de dedicação ímpar a esta arte: Sérgio Britto.

O Sérgio deverá cuidar agora de outra peça, outro palco, outra plateia, sob sua direção e ato. Talvez agora nos apresente um magnifico espetáculo pós- futurista, com voz tonitruante avisará: na Sociedade do Espetáculo agora vale a verdade e a ética, todas as farsas, principalmente, as políticas não mais nos iludem.

Nesse mesmo instante sonhado e futuro, a Cesária nos lembrará de que a Somália foi liberada da fome e dos mercenários, pois seu sangue é africano. A moda do Cabo Verde, e com seu português típico nos cantará, destoando dos cantos hiperindustrializados, que a ‘sodade’ não é nostalgia, muito menos desejo de viver sempre no passado. É o desejo de lembrar que ainda sonhamos, de pés descalços, com outras formas de amar, existir e re-viver.

Para quem aproveitar estas perdas para uma breve reflexão, a arte do re-viver se tornará um bom aprendizado. Eu, aqui nessas conversas sem resposta com a Senhora Dona Morte ainda não desisti de suas devoluções. Agora mesmo estou lendo e relendo A ARTE DA VIDA do Zygmunt Bauman... É a hora de repensar que ‘’presentes’’ estamos vendendo/comprando?

Para este autor, refletindo sobre nossa incansável indagação, o que é há de errado com a felicidade hoje (?), nos provoca e responde que: - “O caminho para a felicidade passa pelas lojas e, quanto mais exclusivas, maior a felicidade alcançada. Atingir a felicidade significa a aquisição de coisas que outras pessoas não têm chance nem perspectivas de adquirir. A felicidade exige que se pareça estar à frente dos competidores...” (p. 36).

Nós, por aqui como telespectadores, ainda estamos assistindo as Primaveras, e nossas massas povoam os shoppings, vez por outra algumas praças ou linhas de trem. Acho, olhando para o céu das minhas Minas Gerais que entramos em um Verão, a ser mais caudaloso do que o já visto. Não quero rever as velhas enxurradas de explicações sobre os nossos desmoronamentos, ainda mais quando os montes não são mais belos, todos são inundáveis.

Esquecemo-nos depressa demais de nossas tragédias pessoais ou coletivas. Os tempos tão velozes que nos assustam são também nossos melhores lenitivos ou anestésicos para as dores que não se calam ou silenciam rápido demais. A Senhora, Dona Morte, é que se regala e banqueteia com muitos novos corpos, novas Vidas Nuas de tragédias anunciadas.

Novamente Bauman nos abre os olhos, com a liquidez dos tempos em que a arte da vida deveria ser a afirmação de nosso desejo de sermos mais felizes. Ele diz que: -“Num tom um pouco mais sério, o mundo líquido-moderno está num estado de revolução permanente, um estado que não admite as revoluções de uma só vez, os “eventos singulares” que constituem lembranças dos tempos da modernidade “sólida”... (p. 87)

Qual seria, então, o presente ‘’revolucionário’’ singular que nos legaram estes artistas que nos deixaram: Évora, Britto e Trinta?

Talvez uma advertência para além dos comerciais e das propagandas, onde as inovações são sempre “revolucionárias”. Como Bauman nos avisaram com festa, música, teatro e alegorias, que só uma renovada intensidade amorosa em busca do Outro e dos Outros pode alicerçar as mais sinceras criações.

Somos assim artistas do re-viver e da vida, organizando o Caos e sendo organizados pelo Tao. Desiguais, diferentes, diversos, heterogêneos, plurais e múltiplos, mas, singularmente criativos e empáticos. E, lamento informa-la, Dona Morte, que assim nos tornamos artistas como eles.

Eles partiram bem perto de outras festas, como também o fazem poetas e filósofos, e nos deixam mais indagações do que respostas. Em sua memória é que podemos nos tornar verdadeiros artífices de vida, ou melhor, grandes artistas da vida privada ou coletiva.

Para uma parábola zen budista ao ser instigado um homem para que pinte um dragão em um mosteiro, como desafio, um mestre lhe responde:"Torne-se um dragão"... Para nós talvez nesse desejo apenas de alegria, sem encarar também os sofrimentos ou dores, fica um desafio para que, cada um e todos/todas juntos, nos tornemos o ‘’fogo” que alimente nossos Teatros, nossas Músicas e os nossos futuros Carnavais.

Eles morreram, mas seu espírito continua soprando sobre nossas argilas...

QUE O NOVO ANO SEJA REALMENTE INSPIRADOR E CRIATIVO, e que nossas misérias sejam realmente combatidas, com justiça, ética, alegria e determinação... tendo sempre como fundamento os direitos humanos, e o desejo de sermos TRANSMISSORES DE VIDA.


Copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Notícias sobre os Três e suas artes da vida
:

Morre Joãosinho Trinta, carnavalesco polêmico e revolucionário
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/12/17/morre-joaosinho-trinta-carnavalesco-polemico-e-revolucionario.jhtm

Morreu Cesária Évora 
https://aeiou.expresso.pt/morreu-cesaria-evora=f694993

Morre aos 88 anos o ator e diretor Sérgio Britto -
https://diversao.terra.com.br/gente/noticias/0,,OI5523165-EI13419,00-Morre+aos+anos+o+ator+e+diretor+Sergio+Britto.html

Indicação de leitura e reflexão: A Arte da Vida - (Zygmunt Bauman) – Download do livro: https://www.baixedetudo.net/livro-a-arte-da-vida Em papel - Editora Zahar, Rio de Janeiro, RJ, 2009.

Leia também no BLOG:
s A MÚSICA QUE ENCANTA DEPENDE DOS OLHOS? https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/03/musica-que-encanta-depende-dos-olhos.html

SEREMOS TRANSMISSORES EM 2011?  https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/12/seremos-transmissores-em-2011.html

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A TOLERÂNCIA É MAIS QUE UM BACALHAU NO MEU FEIJÃO COM ARROZ ? em busca da Empatia , para além da Antipatia...


Imagem publicada -a capa de um dvd do filme: "Arn,o Cavaleiro Templário", com o ator empunhando um espada, vestindo uma armadura e vestes brancas, manchadas de sangue, com o símbolo da Cruz que os cavaleiros templários ostentavam e defendiam nas Cruzadas. Este filme me retornou à mente após o atentado da Noruega, pois se trata de um conto de poder, coragem e traição, ambientado na Suécia, conta a inesquecível história de amor de Arn Magnussson, jovem culto e exímio esgrimista, e Cecilia, separados pela guerra entre cristãos e muçulmanos, quando ele é enviado como cavaleiro templário para a Terra Santa. A capa traz escrito: "a missão de um heróico cavaleiro nas sangrentas cruzadas", que justificaram, e ainda justificam, as ações de invasão, guerra e destruição dos que foram os primeiros acusados do que ocorreu em Oslo e na Ilha Utoeya. É a mesma cruz dos cavaleiros estampada no texto que o assassino e terrorista norueguês colocou na capa de seu Manifesto da Internet.(An European Declaration of Independence - 2083" Uma declaração de Independência Europeia - 2083)...

...em busca da Empatia , para além da Antipatia...

Eu confesso, não como bacalhau. Isso mesmo não posso nem com o seu cheiro à mesa, principalmente quando rodeado de boas batatas e muitos outros legumes, inclusive com meu idolatrado azeite extra virgem. Mas uma coisa é não gostar do bacalhau da Noruega. A outra é tornar todos os ''noruegueses, portugueses, espanhóis ou europeus'' que gostam deste prato em suas mesas, em motivo de repulsa, ódio, nojo, desgosto ou ''alguma coisa que não consigo engolir...''. Não podemos tornar nossos pratos, culturalmente identificatórios, em motivo para alimentar nossos fanatismos ou narcisismos de pequenas diferenças. Há muitos que não comem feijoada, principalmente, nesse momento, na Somália. 

O viking templário nos trouxe volta para a questão da tolerância. E fui buscar meus pensamentos sobre o tema. Descobri que já apresentei um texto de antevisão sobre estes seres humanos que confundem suas visões fascistas com a forma que cada um vê, experimenta e usufrui da Vida. Meu texto escrito para uma conferência em julho de 2006 já me colocava uma interrogação: Telepatia, Empatia ou Antipatia: por onde caminhamos nas trilhas da Diferença? Já o reproduzi, em parte, no meu texto A Máquina da Empatia.

Apresentei-o no XV Congresso de Leitura do Brasil. Na ocasião se discutia a temática deste importante evento. Era um "encontro que se propunha pensar as “crianças mudas telepáticas” em nós e para além das hecatombes e violências do cotidiano precisamos buscar um ‘meta diálogo’, ou seja uma conversa acerca deste problemático caminhar nas trilhas da diferença em um tempo de homogeneização e de produção serializada de subjetividades. 

Nossas trilhas das Antipatias se acentuaram, agora gritam para além das paredes de uma Escola em Realengo, escapando dos seus muros, agora sob vigilância, embora no esquecimento público. No texto de 2006 eu já afirmava: ... [naquele] Congresso que aponta(va) para as Crianças Mudas Telepáticas é (era) o desejo de uma maior implicação com a transformação da irredutibilidade dos processos de exclusão, assim colocados quando naturalizados, bem como dos processos de inclusão que podem nos fazer crer, a ferro e a fogo, que o melhor para os diferentes é torná-los ‘normais’...

Era e é um ato de fragmentação ou de glorificação de identidades, que o recente atentado da Noruega nos reapresentou. Hoje, reassistimos, telepaticamente, a busca da homogeneização e a negação das diferenças culturais. Tudo em nome de uma suposta diversidade cultural euro e egocêntrica de apenas um homem: Anders Behring Breivik. Ele me provoca novamente: por onde caminhamos nas trilhas da Diferença?

Trabalhei, agora repenso, com essas 3 palavras ao léu, três movimentos, três ações que podemos realizar no tabuleiro do xadrez das relações humanas. E, neste sentido, os desejos da distância (tele), do dentro e do mesmo (empático) ou de uma maior exclusão (antipática,) nesta época do apagamento das distâncias geográficas, poderão nos conduzir a uma falsa empatia, encobridora da antipatia e da xenofobia que estes Outros diferentes, próximos distantes nos causam..., com os quais só teríamos futuros contatos virtuais e telepáticos? 

O jovem cristão norueguês, lamentavelmente, confirmou meus temores e angústias diante dos olhares e ideologias de exclusão que já se alimentavam, como o Ovo da Serpente, há muito tempo.

A tolerância vem se tornando cada dia mais uma resultante, ou melhor, uma atitude reativa à intolerância, principalmente a que nos é provocada pela violência, pelos movimentos xenofóbicos, homofóbicos, pelo racismo, pela discriminação de pessoas com deficiência, pela segregação de pessoas com transtornos mentais, enfim, todos os movimentos que alicerçam as desigualdades sociais e promovem a Exclusão. 

Os nossos ''políticos'' de ''direita'' andam fazendo sua parte nessa Terra Brasilis, onde, na cabeça e no bolso nada rico de inclusão, conhecimentos e afetos, alimentamos nossas pequenas e latinas intolerâncias.

Mas como combater todos estes “males ou defeitos” se estão enraizados em nossas mentes e corações como preconceitos permanentes contra toda forma de alteridade ou diferença? O Outro é sempre um alienígena que virá nos destruir ou tomar a nossa querida e preciosa Terra. 

Continuamos, eurocentricamente bem educados, angustiados com a ''invasão'' de nossos pequenos territórios, nossas pequenas ''propriedades'', nossos castelos narcisistas, onde o ideal é erradicar os que denominaremos como o ''mal'' ou como uma ''anormalidade ou disfunção''.

O Outro sempre visto como o ‘mal’, tornou-se radicalmente uma invenção maléfica, como o disse Frederick Jameson: “o mal é caracterizado por qualquer coisa que seja radicalmente diferente de mim, qualquer coisa que, em virtude precisamente dessa diferença, pareça constituir uma ameaça real e urgente a minha própria existência....” , assim sendo podemos localizar os “bárbaros” fora de nossa sacrossanta e pura imagem de nós mesmos. Nascem as 'guerras santas'...

Os que não são idênticos a mim, pertençam a minha gang, classe, etnia ou utopia devem ser excluídos. E, afinal ‘malvados’ sempre serão os outros, que podem ser tanto um índio, um negro, um morador de rua, um doente mental, um favelado, um deficiente intelectual ou alguém que é estranho ou fala uma outra língua,ou come pratos considerados exóticos para minha outra língua...

O manifesto do jovem cavaleiro templário norueguês, com sua cruz na capa de seu manifesto pré-terror, nos recoloca, na Idade Mídia, dentro da cultura do Medo. Ele ataca sua própria gente e ''raça Viking''. No seu radicalismo eugênico e racista busca eliminar com uma bomba, simbolicamente o Estado multicultural e progressista.

Ele, fantasiado de policial ou guerreiro, é o mesmo que explode balas especiais nos corpos jovens de um Partido Trabalhista. Planejada e meticulosamente construiu o "mal" a ser exterminado. Projetou-o nos jovens da ilha, o mesmo que, textualmente, havia projetado nos estrangeiros, inclusive nós brasileiros. Os colonizados ou os ''infiéis' podem contaminar sua terra, seu povo, seu país e toda a Europa. 

Por aqui, na Terra Brasilis, os extermínios também podem estar usando fardas ou uniformes. Não somo menos violentos e mortais do que os países que preferem o bacalhau à feijoada oriunda de senzalas. Temos, temporariamente, um momento de empatia com os que são violentados ou morrem nessas espetaculares ações de terror. Mas depois nos esquecemos da Chacina da Candelária, de Realengo, da Zona Leste, do Jardim Ângela e outros espaços de marginalização, miséria ou desfiliação social.

O sofrimento momentâneo com o ''mal'' pode, por efeito anestésico e midiático, tornar-se uma naturalização. Aceitamos e nos resignamos, apoiados em ideologias ou religiões, a presença de novas Cruzadas, batalhões de choque ou choques de ordem. A presença de uma dimensão macropolítica nos atos de fanatismos são banalizadas. E, saímos, à caça de explicações de especialistas sobre o desenvolvimento de novos/arcaicos fanatismos.

As xenofobias, as homofobias, os racismos, as intolerâncias, os sexismos, as discriminações ou segregações se alimentam do mesmo prato. Não é o bacalhau ou a feijoada. Estas se alimentam de ideologias duras que impedem o livre pensar, a crítica, a estética, e, finalmente a ética. É quando a não reflexão sobre nossas novas 'barbáries', imersos numa sociedade hipercapitalista, perversa e histérica, nos abre nos inconscientes, individual e coletivamente, as brechas para as paranóias fascistantes. Thanatós não pode ocupar todo o campo social ou vital de cada um e de todos nós.

A Tolerância que tem até um dia mundial, em 16 de novembro, bem perto do dia de Zumbi e da Consciência Negra, não é, portanto, um bacalhau a ser engolido, antipaticamente, com o meu/seu, aparentemente ''pobre e indigesto'', feijão com arroz de um país miscigenado, que nega sua cor de feijão preto. 

A "mardita tolerância" (insustentável? impossível? imaginária?), por ser uma criação humana para a convivência de diferenças, ao ser educacionalmente discutida nos faz, por exemplo, entender que há muitos pratos vazios, como os de outros negros, haitianos ou africanos, que produzem tantas mortes em série ou de massa quanto um massacre em um país considerado nórdico e civilizado. 

Eis algo que poderia nos gerar alguma forma empatia e, quem sabe, um aprendizado da árdua, quase impossível, harmonia nas diferenças... Eu, você, seu vizinho, o que vem de fora, os estrangeiros, os Outros, e, principalmente, os diferentes, poderemos tentar respeitar e re-conhecer outras formas de se alimentar ou viver.E, mais humanos, re existiremos... 

Isso, para além das antipatias, pode ser realizado, desde que a dignidade e autonomia de escolha superem todas as homogeneizações, todas as cristalizações fascistantes, todas as nossas negações do que há de político em qualquer forma de atentado à Vida...

copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2025 ad infinitum (favor citar o autor e fontes em republicações livre na Internet ou outros meios de comunicação de massa- TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025) >

Indicações para reflexão:
Em manifesto, atirador norueguês diz que Brasil é um país "disfuncional"
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/07/25/em-manifesto-atirador-noruegues-diz-que-mistura-de-racas-fez-do-brasil-um-pais-disfuncional.jhtm

Atentado na Noruega -Textos publicados na internet planejavam a "queda de Oslo"- https://www.ionline.pt/conteudo/139545-textos-publicados-na-internet-planeavam-queda-oslo

Noruega - https://pt.wikipedia.org/wiki/Noruega
Tolerância - https://pt.wikipedia.org/wiki/Toler%C3%A2ncia

Filme: Arn, o Cavaleiro Templário - https://pt.wikipedia.org/wiki/Arn:_The_Knight_Templar

Holocausto Cigano: uma tragédia que o mundo esqueceu 
https://unisinos.br/blogs/ndh/2014/05/28/holocausto-cigano-a-tragedia-que-o-mundo-esqueceu/

LEIA TAMBÉM NO BLOG:
A MÁQUINA DA EMPATIA - incluindo a reinvenção do Outro
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/12/maquina-da-empatia-incluindo-reinvencao.html

A MORTE DO FANÁTICO NÃO MATOU O FANATISMO https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/04/morte-do-fanatico-nao-matou-o-fanatismo.html

DEMOLINDO PRECONCEITOS, RE-CONHECENDO A INTOLERÂNCIA E A DESINFORMAÇÃO 
https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/06/demolisndo-preconceitos-re-conhecendo.html

ADEUS ÁS ARMAS: SEM TIROS NO FUTURO OU CEM TIROS? 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/05/adeus-as-armas-sem-tiros-no-futuro-ou.html

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A MÁQUINA DA EMPATIA - incluindo a reinvenção do Outro

IMAGEM PUBLICADA - um grupo crianças agrupadas em uma escola mostram alguns golfinhos feitos de papel multicolorido, estão sorridentes, e, quem sabe, empáticos, após uma aula sobre as relações que são nutridas pelos golfinhos, baseadas na Empatia, em sua capacidade de viver e aprender em grupalidade sobre a construção de um respeito às diferenças e aos seus semelhantes. Um caminho que ainda estamos trilhando no mundo globalizado em busca da reinvenção do Outro e o re-conhecimento do mesmo.

Tudo em tudo 
Cada homem em todos os homens
Todos os homens em cada homem
Todos os seres em cada ser
Cada ser em todos os seres
Toda distinção é mente, pela frente, na mente, da mente
Sem distinção não há mente para distinguir
. (Laços, Ronald Laing, 1970


Hoje acordei com as minhas dores, aliás dormi com elas apenas um pouco. Logo ao acordar já apresentei a minha filha a solução de uma tarefa escolar do dia anterior. A Isadora recebeu como lição de casa desenvolver uma ideia que envolvesse a "criação científica" de uma tecnologia ou recurso que NÃO existe ainda. Além disso teria de desenhá-la e explicá-la, em texto livre, de como funcionaria este invento. O objetivo seria que esta tecnologia pudesse ajudar uma pessoa no dia a dia ou nosso planeta. Eu lhe sugeri a criação de uma "máquina da empatia".

Mas como explicar para uma criança de 10 anos a Empatia? E a minha tarefa conjunta matutina desdobrou-se em milhares de exemplos. Primeiramente, como um pai sonhador e ativista de direitos humanos, lembrei-lhe como tentar vestir a "pele" de crianças do mundo. Passei pelo Haiti e acabei pousando, de forma sensata, nas relações de bullying no meio escolar que ela conhece melhor do que eu. Ela se apropriou da ideia e foi além. Assim poderá constituído e vir a ser um processo 'metadialógico' entre um pai e uma filha.

A Máquina da Empatia já passeia na minha mente há muitos anos. Em 2005 tive a honra de fazer uma conferência no XV COLE (Congresso de Leitura do Brasil, da ALB), com uma apresentação de um artigo: TELEPATIA, EMPATIA, ANTIPATIA: POR ONDE CAMINHAMOS NAS TRILHAS DA DIFERENÇA. Nessa ocasião disse serem "três palavras ao léu ou três movimentos que podemos realizar no tabuleiro das relações humanas, quando nos aproximamos/afastamos do Outro? Este encontro de três palavras nos empurra na direção de uma encruzilhada de labirintos teóricos e de práticas ligadas aos sujeitos e à diferença".

Nesses tempos Idade Mídia, atualmente labirínticos, quando os Morros são ocupados militarizadamente, a Cólera é transmitida por soldados no Haiti, o controle biopolítico justifica novos e aperfeiçoados métodos de esquadrinhamentos e controle populacionais, a homofobia e outros modos de negação das diversidades humanas justificam novos microfascismos, afirmo que as práticas educacionais e filosóficas de construção de conceitos se tornam, bio e eticamente, indispensáveis.

Tenho de retomar meu discurso de 2005, e, como no texto sobre a Violência nossa de Cada Dia, me sinto ainda mais futurista, pois ainda precisamos, urgentemente, de: "...para além das hecatombes e violências do cotidiano precisamos buscar um 'metadiálogo’, ou seja uma conversa acerca deste problemático caminhar nas trilhas da diferença em um tempo de homogeneização e de produção serializada de subjetividades"

Meus caminhos pela estrada do empatizar são antigos... Vem da Psicanálise. Para o psicanalista vienense, Heinz Kohut, o termo EMPATIA é indispensável ao exercício da psicanálise. Em 1959 publicou um artigo que enfatizou o papel do narcisismo e da empatia na teoria e na clinica psicanalítica. Ele alinhavou algumas aquisições no desenvolvimento das formas de narcisismo que vivemos e da integração de personalidade de um sujeito.

Kohut indica uma série de aquisições que culminariam com a Sabedoria em nossa jornada rumo ao autoconhecimento, e uma visão mais humanitária de nossas relações, indicando-nos que: “ a empatia é o modo pelo qual coletamos dados psicológicos acerca das outras pessoas e pelo qual, quando elas dizem o que pensam ou sentem, imaginamos sua experiência interior, mesmo que não esteja aberta à observação direta".

Minha interlocutora Isadora me colocou novamente diante de Heinz Kohut. Ela perguntou se: ..."as pessoas,mesmo passando pela Máquina da Empatia, continuassem sendo e fazendo o que antes acontecia...", ou seja não tivessem mudando um pingo na sua posição egoísta e narcisista  Kohut, concorda com ela, e nos adverte que, desejando empaticamente o melhor para todos os nossos semelhantes, deveríamos para atingir uma incerta/insegura sabedoria.

Ele alinha como outras aquisições indispensáveis a criatividade dos homens, seu senso de humor e sua capacidade de encarar a sua própria transitoriedade, enfim de saber e reconhecer-se finito e mortal, atingindo a integração e superar nosso narcisismo inalterado”, aceitando e reconhecendo nossas limitações físicas, intelectuais e emocionais.

Dedico, pois, este texto a todos e todas que estão nas escolas brasileiras, trilhando as veredas do campo da inclusão e da reinvenção do Outro, com especial carinho e orgulho à minha filha, nos seus 10 anos de vida.

Em sua Máquina da Empatia, no seu texto escolar, ela escreveu: "a máquina da empatia faz (trans-forma) as pessoas que não são empáticas serem pessoas melhores, mais agradáveis, que dão valor aos sentimentos das outras pessoas. Bem, se pelo menos 10 pessoas, em uma cidade, fossem empáticas ela poderia ser até mais alegre..."

E, transversalizados por esta máquina inovadora e renovadora, mais empáticos, quem sabe, até nos tornemos um pouco mais telepáticos e menos televisivos.

Portanto, e enfim, para que não me torne "antipático", sem desejar a simpatia, reapresento o texto final da conferência apresentada no XV COLE:

UM METADIÁLOGO COM A POÉTICA DIFERENÇA DO FOGO

Imaginemos, então um diálogo entre um pai e sua filha, que prepara com sua mochila para uma viagem através do mundo, aos dezoito anos, sobre as três possíveis trilhas, ou a possibilidade de seu inevitável entrecruzamento:

Filha – Como é que medimos as distâncias entre as pessoas?

Pai – é incomensurável o que nos distancia, assim como o que nos aproxima... Mas podemos dizer que há três movimentos em direção a uma outra pessoa ou coisa, que diríamos está em Empédocles??

Filha – em Empédocles, o filósofo grego, pré-socrático, aquele do Etna?

Pai – é aquele que nasceu no século V antes de Cristo, que segundo o Dicionário Oxford de Literatura Clássica, era: filósofo e cientista natural de Acragás (Agrigento), na Sicília...; pertencia a uma família abastada e ilustre, e, segundo constava, foi-lhe oferecido várias vezes o trono de sua cidade, mas o filósofo recusou-o... era um gênio extremamente versátil, e interessou-se pela biologia, pela medicina e pela física (deve-se lhe a descoberta de que o ar é uma substância, distinta do espaço vazio)...

Filha – Então ele aprendeu-ensinou que as substâncias, assim como nós, tem diferenças?

Pai – Ele nos ajudará a entender que podemos, segundo a sua filosofia, tentar reconciliar a percepção dos fenômenos cambiantes com a concepção lógica de uma existência imutável subjacente...

Filha – Como ele chegou a esta ideia?

Pai – Ele desvendou/descobriu o que o poeta-Prometeu D. H. Lawrence nos anunciou alguns muitos séculos depois, que somos, basicamente, ‘elementares’, ou seja, há quatro elementos inalteráveis – a terra, o ar, a água e o fogo – de cuja interação, associação ou dissociação se produzem as mutações do mundo como o conhecemos...

Filha – É aí que ele afirma a existência de forças antagônicas, como nós entendemos o que chamamos de AMOR x ÓDIO?

Pai - Sim, não apenas como antagônicas, mas muito próximo do que os filósofos do TAO chamaram de yin e yang, com a CONCÓRDIA disputando com a DISCÓRDIA, construindo, destruindo e reconstruindo infinitamente...

Filha – Mas pai, o que afinal tudo isso tem a ver com aquela conversa metadialógica sobre a Telepatia, a Empatia e a Antipatia?

Pai – para esta resposta teria que ter tido a ousadia de Empédocles que se atirou no vulcão Etna, e, segundo Bachelard, em seus “fragmentos para uma poética do fogo”: Empédocles é uma das maiores imagens da poética do aniquilamento. No ato empedocliano, o homem é tão grande quanto ao fogo. O homem é o grande ator de um cosmodrama verdadeiro...!”

Filha – Então o que teremos de fazer é nos deixarmos levar pelo fogo essencial que há dentro de todos nós. Mas a chama que me abrasa é a mesma que abrasa o cerne de todos os outros? Seria isso que nos fez ficarmos próximos apenas quando acendíamos o fogo há milênios, e diante dele nos colocávamos em roda, invertendo, nesse preciso momento, nosso temor de sermos tocados pelo Outro?

Pai – quem sabe a poesia do Lawrence possa nos ajudar? Posso lê-la?

Filha – melhor seria se nos empatizarmos com ele, mas pelo menos poderemos nos forçar a sermos transmissores de sua poética do fogo, aquele poema em que ele diz ser “mais profundo que o amor...”, o fogo primordial ... conectado ao ingnoscível fogo mais remoto de todas as coisas...

ELEMENTAR

Por que é que as pessoas não param de ser amáveis

Ou de pensar que são amáveis, ou de querer ser amáveis,

E passam a ser um pouco elementares?

Como o homem é feito de elementos, do fogo, chuva, ar e barro

E como nada disso é amável

Mas elementar,

O homem não pende inteiramente para o lado dos anjos
... 
DH Lawrence

Aos que buscam como tirar as fraldas do processo de inclusão escolar envio a minha sugestão de que promovam "metadiálogos" provocativos em seus relacionamentos mais próximos, bem antes de levá-los às salas de aula, pois os nossos narcisismos das pequenas diferenças começam, primordialmente, e ainda na intimidade de nossos territórios afetivos ...

copyright/left  jorgemarciopereiradeandrade 2010-2011 ad infinitum após 2021 (favor citar o autor e as fontes em republicação livre pela Internet, todos direitos reservados... 2025)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _

Laing, R. D ( 1982). – Laços – Petrópolis, Editora Vozes.

Kohut, Heinz, Self e Narcisismo (1984) – Rio de Janeiro, RJ – Zahar Editores

Bachelard, Gaston ( 1990) – Fragmentos de uma poética do fogo – São Paulo, SP – Editora Brasiliense.

Lawrence, D. H ( 1985) – Poemas ( edição bilíngue do centenário) – Rio de Janeiro, RJ – Editora Alhambra.

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