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sábado, 13 de abril de 2013

A COREIA DO FANATISMO POLÍTICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR – estamos no Século XXI?

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Imagem publicada – foto em preto e branco, histórica, colhida na Internet, no link tvbrasil.ebc.com.br, sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, um movimento que reuniu milhares de brasileiros e brasileiras fervorosos; uma multidão, uma massa de brasileiros e brasileiras que carregam  faixas, bandeiras e cartazes, sendo em primeiro plano vemos uma bandeira com uma cruz cercada de estrelas, com cartaz bem no centro que diz: “QUEREMOS GOVERNO CRISTÃO”, com outro em seguida que diz: “Despertai povo de Santos” ao lado de “ Verde Amarelo sem Foice nem Martelo”; A mais emblemática é apenas uma imagem de uma águia que pousa sobre uma cruz com a palavra LIBERDADE logo acima; com manifestações populares conservadoras em todo o País, e, que em 19 de março de 1964, em São Paulo, legitimavam o que viria ser o golpe de estado de 31 de março de 1964, que mudou a nossa história democrática, e, que com apoio de políticos, deputados, padres, cristãos, evangélicos, governadores, empresários privados e, intelectuais, ‘anti-comunistas’, consolidaram os futuros 20 anos de Ditadura Militar e Anos de Chumbo no Brasil. E a História registra o depois.

O título pode parecer um pouco confuso. E o é, pois retrata os tempos de confusão politico-religiosas que estamos assistindo. A encenação do Estado Espetáculo precisa de uma Sociedade do Espetáculo. E, atualmente, os espetáculos mais midiatizados são o exagero de alguns “cultos”, porém não muito cultos.

Não há teatro sem palco ou espectadores. Não há ou haverá representantes políticos ou religiosos caso não haja ou houver seus partidários ou seus seguidores.

E, em tempos de ameaça do sujeito autônomo e mal-estar-na-civilização, proliferam os seus novos atores, as novas encenações: os messianismos, os mistificadores e os apocalípticos. E reaparecem as paranoias.

O Brasil está assistindo a um grande espetáculo provido por um Pastor. Eu, aqui na minha própria “crença” de não-crer à toa e alienadamente, me recuso a dizer o seu “sacralizado” nome.

Ao me referir sobre seu “papel e representação política” pode  não ser muito pouco, como mídia. Porém, o que já foi feito e divulgado por todo tempo de sua permanência na presidência, contestada, de uma Comissão de Direitos Humanos é muito.

O que estou tentando quando falo da Coréia dos fanatismos não apenas apontar meus mísseis de tinta digital para o culto à personalidade do comunista norte-coreano.

Há outros cultos às personalidades pseudo-páticas que estão também na primeira página dos jornais, capas de revistas e se tornam virais na Internet. E são tão contagiantes como a música que fazia milhares de pessoas dançarem de forma ‘’louca’’ e extravagante nos séculos XIV e XVIII, “espumando pela boca e até desmaiarem de cansaço”, em êxtase.

Por isso resgato na etimologia da palavra Coréia a atualidade dos fanatismos. Esta palavra, no grego, khoreia, nos remete à dança que em sua origem mítica que se associava à dança do ventre e às mulheres, que, como a dança dos “sete véus” de Salomé, enlouqueciam até os reis, e conquistavam até a cabeça decapitada de João Batista. As coreias podiam e podem enlouquecer?

 Como todos os termos polissêmicos, também podem denominar deste uma terra dividida como as Coreias, com uma Terra de Ninguém no meio, assim como doenças neuro degenerativas incuráveis, e que ainda causam estranheza e preconceitos pelos sintomas, como Huntington ou Sydenhann.

Os que sofrem destas doenças são acometidos de movimentos semelhantes às danças gregas, com movimentos involuntários, irregulares e, principalmente, repetitivos. Há também os que os associavam, nos cultos onde a dança era predominante, com as possessões demoníacas. Alguns, profeticamente, prometem curá-las, mas é preciso se alienar ou fingir que recebeu um milagre.

Hoje elas atacam muito mais a multidões. São as neo-coreias, mais de cunho histeriforme, onde os mitos e ritos político-religiosos predominam. Misturam com eficácia, como no passado: Deus e Democracia.

São massas humanas em busca de respostas para seus sofrimentos, misérias e sua própria exploração hipercapitalista. São, na sua maioria, o nosso “povo”, considerados incultos e privados de acesso ao conhecimento de sua própria escravidão.

A Coréia, ou melhor, a dança dos fanatismos políticos é o melhor termo para nos chamar a atenção para além das ogivas que são utilizadas para uma nova corrida armamentista e bélica.

O que tememos realmente? O “terror atômico”? O “horror econômico”? Ou uma nova “onda” fascistantes de escravidão e Vidas Nuas?

Há um fio invisível, porém duradouro, que une e fortalece essa nova dança contagiante de um fanatismo político a um fanatismo religioso. Uma nova “dançomania”. Os dois fanatismos se transversalizam há muitos anos...

Os fanatismos políticos, historicamente, sempre se sustentaram em cima de símbolos não-pagãos. A suástica é apenas a reapresentação de um símbolo muito mais antigo. As duas cruzes eram parte da “roda da verdade” que os monges budistas, no Tibet, incluíam em mandalas, com outra significação e simbolismo, muitos séculos antes de Hitler.

Por isso Castoriadis dizia que as religiões, no sentido arcaico do ‘religare’, nos instituía e institui como seres heterônimos. Somos indivíduos que inventam e dependem da existência de um Sagrado e da transcendência.

Para os atuais proliferadores e mistificadores da fé do outro essa necessidade humana é um prato cheio. Estamos, sob pena de exclusão ou danação, de não sermos mais os escolhidos, os ungidos, os eleitos para o Reino dos Céus. Somos hereges?

Temos, então, de nos tornar todos e todas em “crentes”. Os que não creem estão condenados ao fogo, assim como foram as mulheres, como bruxas, na Idade Média.
Retomamos essas práticas inquisitórias? Melhor então render homenagens e até oferecer cargos e privilégios políticos para quem possa nos retribuir com votos ou graças divinas. Vamos, então, render graças pelos “direitos” recebidos. Não há direitos adquiridos inerentemente por nossa condição de humanos.

Para escapar de novas práticas sutis de tortura, os fanatismos, com sua oferta sedutora, nos propõem uma redenção. Não importa se afirmamos a separação entre os Poderes. Nosso corpo e sua suposta liberdade nunca deixaram de ser do Estado.

Teríamos de afirmar como Fernando Pessoa que “a Liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo...”. 

E esse desassossegado poeta nos causará, por isso, um enorme desassossego. Afinal, no primeiro artigo de nossa Declaração não é dito que “... todos os homens nascem livres...”?

Creio que os que utilizam as técnicas de poder e controle de massas já descobriram o lado obscuro dessa afirmação do poeta. Temos ser coletivos enquanto acreditamos, mas só somos individualistas que aplicam o narcisismo das pequenas diferenças.

Por exemplo, agora, historicamente, estamos confirmando no Brasil como a religião é consubstancial a todo o corpo social. E que toda a forma de governar esse fragmentado e ameaçador corpo é, hoje, estimulada dentro de templos evangélicos.

Lá ninguém escapa de outro tipo de servidão sem crítica. E, de camarote, como meros espectadores assistimos a sua bancada revogando ou criando novas leis para todos e todas. Os seus partidos defendem o Pastor, mas muito mais ainda suas posições ideológicas, que devem ser eternamente: conservadoras, intolerantes, sexistas, homofóbicas, racistas, individualistas e segregadoras de quaisquer diferenças.

Nessas templárias construções é que Pastores como o moço feliz e vociferante afirmam que “Jesus não é para enfeitar pescoço de homossexual ou pederasta”. E, como estas condições ou diferenças podem levar às novas fogueiras, ou do Inferno ou dos novos fornos crematórios, muitos preferirão optar pela sua conversão.

Estes cenários, com palcos amplos, com luzes bem direcionadas, com microfones potentes e alto falantes que penetram na Alma são hoje também o melhor palco para uma eleição. E lá vamos nós de novo para uma Coréia coletiva de mãos erguidas em busca da salvação. “Levanta-te, ser impuro, e em mim deposita todos os seus votos”... E na minha conta bancária também.

Afinal, o que se chamou de “voto de cabresto” antigamente, é hoje transformado em um voto de protesto e santo. Entre os que só são apresentados como corruptos políticos e os que são livres desse pecado, em quem o nosso povo in-crédulo poderia e poderá votar?

Hoje é mais seguro vender a alma. Houve um tempo que se trocava por camisetas, sapatos ou dentaduras. Uma nova e eficiente máquina de sedução e captura política nasce exatamente de nos tornamos tementes, novamente. O que desejavam as massas que construíram os nazismos e os fascismos? Diriam os marqueteiros: apenas uma suposta LIBERDADE e SUPREMA FELICIDADE. E a Salvação é claro!

E não me venha dizer que Hitler era um “louco”. Não, assim com os atuais mistificadores de massa ou pastores das maltas, era apenas mais um Presidente Schreber. Era um paranoico, com uma massa ávida de encontrar um alemão que falasse de e para uma “raça pura” e “superior”.

Schreber, um alemão que foi presidente do Senado de Dresden, foi o mais clássico caso de paranoia descrito desde Freud. Em seu livro “Memórias de um Doente dos Nervos”, apresentou-se ao mundo como um homem culto e inteligente. Ficou internado por sete anos em várias clínicas psiquiátricas. Ao sair escreveu o que pode nos ajudar a entender, ainda hoje, como funciona a mente de um paranoico delirante.

Ele, como nos diz Elias Canetti em seu Massa e Poder: “...estava tão firmemente convencido da exatidão e do significado de sua religião autocriada que assim que recebeu alta (do hospital) mandou publicar seu texto...”. Schreber, como alguns hoje em dia, diante de plateias ululantes, afirmava que seu corpo humano tratava-se de um “corpo celeste”, quiçá celestial.

Ele escreve em 1903: “Um relacionamento regular de Deus com as almas humanas somente ocorre após a morte. Deus pode aproximar-se dos cadáveres sem perigo, para retirar seus nervos do corpo e para despertá-los para uma nova vida celestial”.

Porém, como os paranoicos da modernidade, ele afirmava que Deus só pode usar nervos humanos “puros”. Seria esse Deus um eugenista? Teria Schereber (1842-1911) conhecido, como leitor/seguidor, as obras de Francis Galton (1822-1911)? Para que, os seres mundanos pudessem atingir a via rumo ao Céu seus “nervos” precisavam ser revistos e purificados. Tornar-se-iam superiores.

Este magistrado saído do hospício apresentava um sistema delirante de uma pessoa perseguida por Deus. Seu discurso apontava para uma existência terrível: sem estômago, laringe, perseguições de pássaros etc. Ele se transformaria em uma mulher que engravidaria de Deus.

E, como nos discursos evangelizadores ou sedutores modernos, este precursor dizia que alguns eram melhores e mais puros que outros. No seu céu todas as pessoas esqueciam-se de que eram humanos, menos os homens eminentes como Goethe ou Bismarck. Porém nessa “democracia” celestial até os poderosos um dia esqueciam sua condição humana.

No ápice, ou melhor, na sua maior “clarividência” místico paranoica  ele, sob a influência de visões que eram “parcialmente de caráter terrificante, mas em parte, também, de grandeza indescritível” convenceu-se da iminência de uma grande catástrofe:  o fim do mundo.

Nas suas alucinações auditivas, as “vozes” lhe disseram que todos os milênios da Terra vieram para nada, e só restariam mais 212 anos para a humanidade. Porém, quando retornou à clínica do Dr. Flechsig, tornou-se crente de que esse tempo já havia passado.  Entretanto, ele seria o “único” homem se salvaria desse Apocalipse.

Acredito, ou melhor, reflito que há quem ainda creia e jure que há esta proximidade do Fim. Recentemente muitos temeram o fim do ano passado como nossa terminalidade terrestre.

As mídias tonitruantes, as mesmas que concentram suas atenções para as bravatas e os discursos do Pastor, ajudaram também a uma multiplicação de protestos em massa. Portanto, há também o outro lado dessa moeda. O único risco é de sua captura por outros fanatismos políticos discriminatórios: as microfascistações em nós.

Hoje mesmo indaguei em uma rede dita social, acerca das profecias do Pastor: O que dizer aos seus seguidores fanáticos? O que dizer aos que ainda acreditam nessa ditadura dos termos retrógrados deste Exmo. Sr. que pula e GRITA?

Os seus vídeos, que não são autobiográficos como o livro de Schreber, mas passíveis de uma análise crítica, não apenas psicanalítica, também, uma visão psicossociológica nos faz “crer” que há um movimento mais antigo e enraizado que alinha os fanáticos políticos com os religiosos.

 Assistam aos vídeos e reflitam sobre os que estão atrás do Pastor e à sua frente na grande plateia do seu “teatro” e a sua coreia histérica a falar de cantores, de Caetano a John Lennon. Gravem bem estas imagens, pois esse passado de hoje ainda estará presente no futuro, em outros novos políticos ou mistificadores religiosos.

As manifestações tiveram e têm seu papel na reivindicação dos direitos humanos como direitos a serem efetivados. Devem e podem continuar, mas não podem cair na “tentação” de ser também a única forma de revolução ou rebeldia.

Quando lidamos com o ressurgimento de movimentos paranoicos, de seus representantes, sejam políticos ou religiosos, ou as duas coisas, temos de reler e refletir o que disse Canetti.

Gostaria de nos lembrar que Schreber dizia que a ‘humanidade’ toda seria exterminada pois ousou ficar ‘contra ele’: “Nisto ele não se mostra apenas como paranoico; é a tendência mais profunda de todo ‘poderoso’ IDEAL ser o último a permanecer com vida. O poderoso envia os demais à morte para que ele mesmo seja perdoado pela morte: ele a desvia de si. A morte dos demais não lhe é apenas indiferente; tudo o impele a provocá-la de maneira maciça...”.

E não devemos nos sentir convidados ou atraídos para estas novas Coreias, para além das geopolíticas mundiais e capitalísticas, que apenas estão maquiando velhos e consagrados meios de controle e biopolíticas. Portanto não basta afirma a laicidade do Estado Espetáculo. É preciso confirmar a minha livre e singular condição humana para além de todos os preconceitos.

Ao Pastor e suas hordas envio a minha 'vigilância' e gramática civil: meus direitos não são desumanos quando o Outro é a minha/nossa diferença e alteridade. Não busco a sua extinção. Só aceito seu convite à dança quando é para não repetir os mesmos passos errados que já demos no Salão de DANÇAS da Vida, que, tenham certeza, não é nome de nenhum culto ou espaço de alienação política.

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013-2014 e depois AD INFINITUM (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de “massas”- TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025) todos direitos reservados.

Indicações de matérias/fontes na INTERNET –


FREUD, Sigmund. XII. O Caso Schreber, Artigos sobre Técnica e Outros Trabalhos (1911-1913) (Volume XII) para Dowload https://pt.scribd.com/doc/68594953/FREUD-Sigmund-XII-O-Caso-Schreber-Artigos-sobre-Tecnica-e-Outros-Trabalhos-1911-1913-Volume-XII


INDICAÇÕES PARA LEITURA E REFLEXÃO CRÍTICA –

MASSA E PODER – Elias Canetti – Editora UNB, Brasília,DF, 1983.

PSICOSSOCIOLOGIA - Análise Social e Intervenção – André Levy, Andre Nicolai, Eugène Enriquez, Jean Dubost – Editora Autêntica, Belo Horizonte, MG, 2001.

O CASO SCHREBER" E OUTROS TEXTOS - Obras completas volume 10 - Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia ("O caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros textos(1911-1913) – Sigmund Freud, Editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 2010.

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