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domingo, 31 de maio de 2015

NEGROS, DEFICIENTES E MESTIÇOS – AS ENCRUZILHADAS DAS NEO/VELHAS-EUGENIAS e de um biólogo estrangeiro entre os novos ‘selvagens’.

Imagem publicada – uma fotografia histórica em preto e branco de um grupo de jovens ‘meninos’ da Juventude Hitlerista, com seus uniformes e perfilados militarmente, como parte de uma grande massa atrás deles, todos nazifascistas. São todos ''brancos, belos, loiros ou de cabelos bons, bonitos, saudáveis, higiênicos, normais, sem defeitos ou degenerescências morais, incorruptíveis, guerreiros, patriotas, sem nenhuma deficiência física ou mental, nascidos de casamentos e famílias arianas, ideais, perfeitos, racialmente puros e compõem a elite de seu povo e sua nação...”. Assim podem, ainda nos dias de hoje, se postularem arrogantemente alguns que se considerarem a elite que deve governar e disciplinar a vida dos Outros. Principalmente, se na fotografia distorcida, tivéssemos atrás deles uma massa de seres de muitas raças, degenerados e, em especial, muitos negros, muitos sujeitos com deficiências, pior ainda se forem todos refugiados ou imigrantes da modernidade líquida. Entretanto, o nosso retrato é colorido e bem maquiado, apesar dos apocalípticos e difusores de biopolíticas do medo, pois os nossos jovens neofascistas ainda são uma das diferentes e múltiplas minoria  da Terra BRasilis.

“O Brasil está destinado, como país da imigração, ser o rebotalho movediço(...) seremos o refúgio dos piores imigrantes. Da análise de nossas estatísticas manicomiais e criminais pode o observador atento concluir que a emigração não desejável (dos norte-americanos) é a que constitui o principal fator de aumento de alienados e delinquentes em nossos manicômios e prisões(...)” (Juliano Moreira apud Cunha Lopes, 1940)

O que acontece se um britânico tropeça e cai em um aeroporto brasileiro? A sua testa e olho são feridos. A sua massa encefálica continuará sendo a mesma? Lógico que sim, a mente desse homem que aparece elogiando a atenção médica e os pontos que recebeu no SUS, não difundida, é a de um eugenista em pleno século XXI. Falo de Richard Dawkins. O mesmo que, ainda hoje, tropeça em discursos higienistas e eugenistas do século passado, no mesmo tom do proto psiquiatra Moreira e do higienista Cunha Lopes.

O seu acidente teve notoriedade pela sua afirmação sobre o SUS, eis a manchete: “BIÓLOGO BRITÂNICO ACIDENTADO EM SP ESCREVE TEXTO ELOGIANDO ATENDIMENTO DO SUS”. Afora a sua surpresa de nossa presteza e rapidez no seu cuidado, seu olhar colonialista continua subjacente na sua surpresa e comparação com seu país. Para ele: “... o atendimento médico na Inglaterra é muito demorado”.

Nenhuma das notícias diz que palestras, que temas e onde proferiu suas ideias. Muito menos sobre seus polêmicos discursos sobre pessoas que não deveriam nem ser concebidas.

Saiamos do Aeroporto de Guarulhos e seus tropeços. Vamos aqui abrir umas páginas da História de nossos primeiros eugenistas. Nelas é que encontrei e encontro respostas, ainda inconclusas, sobre as encruzilhadas que transversalizaram e transversalizam tanto os negros, os mestiços quanto as pessoas com deficiências. A questão racial foi preponderante, a meu ver, para que milhares de pessoas com deficiências, em especial as intelectuais, serem quase uma maioria dentro dos hospícios do século XX.

Indagam-me, recentemente, se não transformaria essa já velha pesquisa em material acadêmico. Respondo que, na minha modesta opinião, ainda não foi criado no mundo científico e universitário um verdadeiro e novo paradigma sobre o tema, a partir de uma visão dos afetados. No futuro quem sabe ou quem desejará fazê-lo? Ainda estão muito distantes de doutoramentos e suas pós, mesmo com as ações afirmativas, os nossos negros, nossos sujeitos possuidores, em um só e no mesmo corpo, desses estigmas da mestiçagem, da deficiência e da escravidão.

Já há um magnifico trabalho da Prof.ª Dr.ª Lilia Lobo, da UFF, sobre os “Infames da História: pobres, escravos e deficientes no Brasil”, tese e livro nos quais, em sua metodologia foucaultiana, desnaturaliza todo o constructos históricos sobre o corpo deficiente, e sua submissão às dominações e disciplinarizações seculares. Lá também são levantadas questões que ainda me faço, já que tive o privilégio da interlocução e convívio com a autora.

São apresentadas em sua obra como as Vidas Nuas em que se transformavam os corpos cativos negros que podemos buscar algumas raízes de corpos infames. Ainda no Império forjaram as imagens monstruosas, dos corpos marginais, passando pelos ‘alienados’ dos manicômios, e, tendo seu ápice nas imagens de anões nus e constrangidos diante de objetivas de laboratório eugênicos no início do Século XX.

Pelos discursos dos eugenistas é que poderíamos buscar os atravessamentos que, trans historicamente, ainda persistem em muitos dos discursos oficiais ou autorizados dentro das universidades e do meio social. O modelo de higiene mental e de eugenia nasceu, foi propagandeada e proliferou exatamente através das falas dos ‘mestres’. Como Lopes ou Moreira, ou mesmo o nosso consagrado Monteiro Lobato e seus amigos.

Na posição de uma das mais eminentes figuras de nossa Psiquiatria, lá em 1906, Juliano Moreira já antevia, nos Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, comentando sobre as moléstias ligadas à herança, dizia que “... em breve surgirá a época da higiene profilática”. Este discurso serviu anos depois para que Cunha Lopes, em 1917, com apoios de outros eugenistas pudesse forjar a constituição da Comissão Central Brasileira de Eugenia.

Esta Comissão tinha como objetivos: a) manter no país o interesse pelo estudo das questões de hereditariedade e eugenia; b) propugnar a difusão dos ideais de regeneração física, psíquica e moral do homem; c) prestigiar ou auxiliar, ad libitum, toda organização científica ou humanitária de caráter eugênico. Poderíamos, retirando o termo eugenia, atualizar e encontrar esses objetivos em discursos de biólogos, geneticistas e até bioeticistas nos tempos atuais? Em que espaço social encontramos maior respaldo de suas ideias e suas crenças científicas?

Encontrem as respostas lendo Dawkins e outros muito atuais defensores da ‘boa herança genética’ ao modo de Gattaca. Para eles e Cunha Lopes se deveria e se deve ‘aumentar a descendência de casais (heterossexuais e puros) geno e fenotipicamente sadios. Aí também se cruzam os discursos de fanáticos religiosos e alguns pastores evangélicos.

E, para atingir as metas eugênicas não teríamos, por esse discurso naturalizado, de procurar limitar o máximo possível a descendência de anormais e restringir a multiplicação de indivíduos hereditariamente inferiores?

Para Cunha Lopes, em 1940: “As medidas que decorrem da eugenia ... dependem do esforço das elites e da educação das massas populares”. Não ouvimos, assistimos e lemos recentemente esse mesmo discurso de ‘limpeza’ de nossas ‘’impurezas político-sociais’’ de nossas chamadas “elites” brancas e verde amareladas? Afinal, segundo ele: “...cruzamento de raças próximas costuma dar bons resultados no tocante ao físico e também para o lado psíquico, ao passo que a mistura de raças mui diversas (esses pardos e pardais) entre si dá resultados desfavoráveis”.

Estamos realmente no Século XXI? Ainda temos de ouvir e ler sobre ‘regeneração nacional’, ‘aprimoramento das populações marginais e miscigenadas’, ‘controle social das degenerescências e corrupções herdadas’? Acho que o biólogo britânico veio por aqui nos lembrar das políticas de esterilização em massa, dos controles biológicos das possibilidades heredológicas desviantes, da castração de inaptos e inferiores de cores de pele perigosas quando associadas a deficiências, inclusive as morais e políticas.

Como então, reagir diante das novas selvagerias e violências que estes ‘neo-selvagens’ e anormais da Terra Brasilis, fazem proliferar? Abolindo a faixa etária para seu extermínio? Antecipando sua tendência para ser cordialmente miscigenado? Construindo novas e sutis formas de controle populacional dessas minorias que são maiorias da cor de pele? Embranquecer os negros, inclusive os ‘portadores’ de ‘invalidez’ social e econômica? Prevenir o surgimento de novos ‘defeituosos genéticos’ e novos sujeitos que se afirmem em suas deficiências como singularidades? Sanear de todos os ‘malditos e infames’ a nossa gloriosa Pátria?

Seriam, como já publiquei, a utilização de novos ‘choques’ e novos ‘testes e técnicas psicológicas’, ou seja ‘científicas’, a maneira perversa e contraditória, para erradicar os preconceitos, as discriminações e as ‘eliminações’ desses Outros anômalos? 

Vejam o que se pode propor para eliminação dos racismos e machismos na experiência desenvolvida em universidades dos EUA (matéria InfoNotícias DEFNET recém publicada no blog). Poderíamos submeter toda aquela tropa de jovens hitleristas às lavagens cerebrais que apagariam de suas memórias os ódios raciais? E dos novos ‘guris’ neo-liberais dos dias de hoje?

Há muitos que ainda se deixam iludir e seduzir pelas nossas colonizadas imagens e sonhos eurocêntricos ou norte-americanófilos.  Nossos eugenistas também o fizeram, visitaram a Inglaterra, os Estados Unidos, a Itália, e, principalmente, a Alemanha, antes e depois dos Nazi fascismos surgirem como desejo de massa. Aspiraram serem herdeiros daquelas ‘ciências’.

Foi seu modelo eugenista que se naturalizou através dos muros e das instituições que construímos, fossem os hospícios, as colônias agrícolas ou os manicômios. Nestes espaços instituídos forjaram-se muitas formas de ‘tratamento’, ‘reeducação’, ‘reabilitação’ e ‘educação’ que depois se transformaram nas encruzilhadas institucionais onde se miscigenou o corpo negro, o corpo pobre e o corpo deficiente. E os ‘homens-elefante’ daqui tinham, além de seus feiuras morais também os vícios e defeitos genéticos a serem extirpados.

Há, pois, que também desnaturalizar a fala de um neo-eugenista e biólogo estrangeiro, mesmo que esteja nos elogiando o sistema único de saúde. A sua visão não foi modificada pelo tombo brasileiro. Os seus preconceitos arraigados e ‘cientificamente’ estruturados não foram abalados. Assim com eles há também os nossos conterrâneos contemporâneos, brasileiros e brasileiras, que como as elites do passado ainda pensam obtusamente de ‘de olhos virados para trás’. Pedem até a ‘tortura na hora certa’ e a Ordem como ditadura.

A eles peço que reflitam após assistir como podem os que se considerem melhores, mais puros, mais inteligentes e mais fortes, assim como desejavam os médicos eugenistas, tanto aqui como na Alemanha Nazista, transformar a morte e extermínio, no caso de forma ‘indolor’ pelo gás, de corpos e mentes defeituosas em práticas ‘empresariais’. Assistam o Action 4 urgentemente. Os doutores dessa História também colecionavam cérebros.

E, por favor, convidem o nosso estrangeiro biólogo para esta reflexão. Não se esqueçam de lembra-lo que o SUS foi uma resultante de muita luta pelo direito humano inalienável à saúde para todos, sem discriminação, sem exceções. A família Hulk que o diga.

 E, lhe digam que ainda temos muito a aprender para que os corpos, nas suas diferenças, inclusive as resultantes de nossas inconscientes colonizações, permaneçam na busca da chamada liberdade sócio-política. A mesma que pode ser o antídoto para que nossos desejos eugenistas e fascistantes possam ser combatidos.

Já sabemos que a maioria de nossos corpos deficitários podem ser, estatisticamente, classificados como ainda pobres, marginalizados, negros, violentados, eliminados, neo-escravizados e, perversamente, tornados os principais objetos dos discursos de inclusão. Somos mesmo apenas 24 a 25 milhões de pessoas com deficiência? Qual é mesmo a cor da pele dominante de nossas a-normalidades?

Avisem, enfim, que não é a maioria, ainda, das massas que desejam retornar às garras duras dos Anos de Chumbo, mas que é preciso RE-EXISTIR. O rio da Vida que escolhemos tem águas turbulentas, mas continua correndo, apesar de tentarem represa-lo. O preferimos às águas pantanosas dos lagos estagnados de quem só quer os cérebros para a dominação, a perfeição de si e o ódio ao Outro.

Copyright/left jorgemárciopereiradeandrade 2015-16 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação e dominação de massas) TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025

Matérias da Internet ligadas ao texto -

Richard Dawkins diz que "é imoral" uma mulher dar à luz um filho com síndrome de Dow https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/richard-dawkins-diz-que-imoral-uma-mulher-dar-luz-um-filho-com-sindrome-de-down-13680998

BIÓLOGO BRITÂNICO ACIDENTADO EM SP ESCREVE TEXTO ELOGIANDO ATENDIMENTO DO SUS https://br29.com.br/biologo-acidentado-em-sp-escreve-texto-elogiando-atendimento-do-sus/

Notícia de 2018 - Juristas pela Democracia repudia esterilização forçada (CasoJanaína) https://jornalggn.com.br/noticia/juristas-pela-democracia-repudia-esterilizacao-forcada

LEITURAS CRÍTICAS INDICADAS - 

A HORA DA EUGENIA – Raça, Gênero e Nação na América Latina, Nancy Leys Stepan, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, 2005.

ARQUIVOS DA LOUCURA – Juliano Moreira e a descontinuidade histórica da Psiquiatria,  Vera Portocarrero, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ,2002.

OS INFAMES DA HISTÓRIA: Pobres, Negros e Deficientes, Lília Lobo, Editora Lamparina, Rio de Janeiro, RJ, 2009. (Veja e leia em - https://www.historiaecultura.pro.br/cienciaepreconceito/producao/infamesdahistoria.pdf

DOCUMENTÁRIO indicado para reflexão sobre eugenia, medicina, psiquiatria e nazifascismo Ação T4: Um Médico sob o Nazismo -   Direção: Emmanuel Roblin País: França Ano: 2014 (Legendado)  -Este documentário relata a história da chamada "Ação T4", que consistia em eliminar deficiências físicas e mentais e pessoas consideradas inúteis e prejudiciais pelo regime nazista. Em espaços médicos e psiquiátricos,  diferentes experiências para sua eliminação, de forma prática, indolor e eficaz foram realizadas, até o aperfeiçoamento das câmaras de gás. Dr. Julius Hallervorden, importante nome na ciência da patologia cerebral, contribuiu para o assassinato sistemático de alemães mentalmente doentes, ordenado por Hitler. Ele, no entanto, seguiu uma carreira brilhante no pós-guerra, impune, e morreu coberto de honras. Entre 1939 e 1945, pelo menos 200.000 pessoas com doenças mentais ou pessoas com deficiências foram assassinadas. Exibições no Canal Curta! - https://old.hagah.com.br/programacao-tv/jsp/default.jsp?uf=1&action=programa&canal=BQ4&operadora=25&programa=0000437625&evento=000000538832631&gds=1&hgh=0

LEIA TAMBÉM NO BLOG –

EUGENIA – COMO REALIZAR A CASTRAÇÃO E ESTERILIZAÇÃO DE HOMENS E MULHERES COM DEFICIÊNCIA? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/01/eugenia-como-realizar-castracao-e.html

OS MORTOS-VIVOS DO HOSPÍCIO QUE ENSINAVAM AOS VIVOS SOBRE A VIDA NUA... BARBACENAS NUNCA MAIS – https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/10/os-mortos-vivos-do-hospicio-que.html

"RACISMOS/PSICOLOGIA - Os preconceitos podem ser apagados dos nossos cérebros? Racismo e machismo podem ser apagados do cérebro"  https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2015/05/racismospsicologia-os-preconceitos.html


RETORNAR À CASA VERDE, RETROCEDER E INSTITUCIONALIZAR A LOUCURA? OU SOMOS TODOS ‘LOUCOS’? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/05/retornar-casa-verde-retroceder-e.html

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A PERFEIÇÃO RACIAL E A DESTRUIÇÃO NASCEM NO MESMO NINHO...

Imagem publicada – uma foto da cidade de Gaza com sinalizadores que são lançados de Israel na madrugada, e iluminam o céu da cidade sitiada, riscos ou traços de fumaça branca, anúncio de bombardeios aéreos maciços, que segundo dados já mataram mais de 1.100 palestinos. Uma fotografia em sépia, com a força de uma noite prolongada que obscurece o futuro da própria História de um povo que já foi também massacrado e exterminado holocausticamente..., um povo que se disse “escolhido”, um grupo humano que se tornou significante de muitas coisas criativas ou destrutivas, e carregou uma estrela de Davi como símbolo de exclusão e vulneração. Hoje as verdadeiras estrelas saíram da faixa, não existe ar que as permitam brilhar... (foto de Khalil Hamra/AP)

“Toda luta entre homens é, de fato, uma luta pelo reconhecimento, e a paz que se segue a essa luta é apenas uma convenção que institui os sinais e as condições desse mútuo e precário reconhecimento. Tal paz é sempre e apenas a paz das nações e do direito, ficção de reconhecimento de identidade da linguagem, que provém da guerra e acabará na guerra.” *(Giorgio Agamben – A ideia da Paz in Ideia da Prosa – Autêntica Ed.,2013)

Os meus pulmões não são perfeitos. Acho que ainda não aprendi a respirar “perfeitamente”. Quem sabe isso é consequência da minha miscigenação genética? Um pouco de cristãos novos, obrigados a ser uma árvore frutífera, lá na Inquisição de Portugal pode ter sido o começo de tudo: tenho o Pereira no nome e no sangue. E, hoje, me sinto palestino e sem ar...

Aliás, para quem não sabe que alguns cristãos novos são judeus, ou mesmo de origem moura, convertidos a ferro e fogo pela Igreja Inquisitorial a se converterem, deixando sob os porões de Lisboa e arredores os seus outros livros sagrados e seus purismos raciais, tornam-se criptojudeus ou massacrados, lá em 1506. Hoje nessa minha mais nova pneumonia, que já passa da quinta em alguns anos, estou pensando que o Google tem razão. Meu sangue deve ser “ruim”.

Hoje li e publiquei o artigo que anuncia uma possível neoeugenização ou neobiotecnomedicina para a ‘’a busca do ser humano perfeito”. Em matéria de Raquel Freire para a Techtudo anuncia-se que o “... Google começou a coletar material genético de voluntários com objetivo de montar um banco de dados de biomarcadores, que mostrarão como um ser humano saudável deve ser. Denominado Baseline Study, o polêmico projeto sobre o corpo e a saúde perfeitos está sendo desenvolvido pelo Google X, o “laboratório secreto” que cuida dos planos mais audaciosos do gigante de Internet...”.

Para mim foi a concretização de uma reflexão bioética sobre como estamos caminhando, cada dia mais velozmente, para uma suposta medicina de prevenção das doenças e do sofrimento, enquanto mantemos uma massa de seres humanos ainda vivendo com o Ebola, a Dengue, e, preferencialmente, com as máquinas mortíferas da guerra ampliando nossas misérias e doenças “tropicais e sub-tropicais”.

Como estarão, agora, milhares de crianças em situação de exposição de guerra no Sudão, na Síria, em Gaza, no Iraque, ou mesmo, nas nossas multiplicantes periferias das megalópoles? Não falo apenas das guerras que vivemos assistindo nas Tvs. Não falarei das que recebemos como notícias longínquas ou que não nos afetam diretamente. Falo e grito sim é sobre os que estão sendo lentamente sufocados, subterraneamente mantidos, ou mesmo, sob novos, e até visíveis, muros de vergonha e de segregação. Os cenários de destruição, após controle biopolítico, em massa. E que comporão a possível “escória” infame a ser geneticamente purificada.

Tenho, por força dessa minha própria condição debilitante física, sido obrigado a reconhecer nossa intrínseca relação com a Dona Morte. O nosso corpo imperfeito/frágil nos obriga a reconhecer o sentido da finitude da Dona Vida. Começamos a nos sentir imperfeitos mortais? E, neo eugenicamente, nos iludimos, aceitando que nosso sangue seja coletado para um “projeto secreto” que irá, no futuro, eliminar todos os nossos defeitos genéticos, inclusive aqueles que nos turvam a mente e nos tornam “transtornados mentais”. Eliminarão a parte “negativa e ruim” de minhas heranças genéticas lá de Portugal ou da África?

A busca de uma perfeição humana é a mesma daquela que originou micro e macrofascismos. Persistentemente, têm adeptos do ‘sangue bom’ x ‘sangue ruim’, ideológica, fanática e religiosamente. É o alicerce dessa discriminação: a chamada ‘perfeição racial’. Já escrevi, aqui, que a ideia de uma raça “pura” antecede aos modelos fascistas ou nazistas do século XX. As suas raízes são mais profundas, mais transhistóricas. A atual utilização do discurso racial no Oriente Médio nos levará, se pesquisarmos, até muito antes dos hebreus e da Terra Prometida.

A atualização do discurso de purificação racial é hoje, por exemplo, em Israel utilizada pelos mais diferentes apologistas desse massacre em ação. Houve até a sua comprovação com o discurso de um ‘professor israelita de Literatura Árabe’ que nos diz que uma forma de impedir os atentados palestinos é cometer um atentado sexual. Diz ele: “...As palavras exatas de Mordechai Kedar, citadas no site do Alternative Information Center (AIC), de Jerusalém, são as seguintes: "A única coisa que pode deter um bombista suicida é saber que, em caso de captura [de quem? - a tradução inglesa não é clara], a sua irmã ou a sua mãe serão violadas".

E, para melhorar ainda a solução final, parecida com as do Dr. Mengele, há ultranacionalistas sionistas que pregam o ‘extermínio’ desses “insetos” que não são uma “raça pura e boa”...E como uma esterilização em massa, no caldeirão bombástico atual de lá, não foi e nem será possível, propõem uma matemática cruenta: para cada israelense morto multipliquem, com as bombas, em no mínimo 100 palestinos “cirurgicamente extirpados”. Não importa se adultos, velhos ou crianças. Talvez, em alguma mente perversa o melhor é seguir o método do Mordechai. Afinal ele não é um professor?

Por isso afirmo que a chamada perfeição racial é nascida do mesmo ninho da serpente da destruição. Dessa construção de uma suposta PAZ fomentando uma industrial e eficiente máquina da guerra. Para a Paz violentadora de alguns que se implante a Paz pela violência e destruição de outros, sejam estes inclusive geneticamente “tão perfeitos como nós”. Diremos que são ‘defeituosos’ e uma ameaça às nossas próprias vidas.

Já vimos esse filme devastador. Os próprios ancestrais, inclusive os meus Pereiras, já virão como é fácil demonizar e exorcizar, com Cruzadas, Cruzes ou Campos de Extermínio, aqueles que passam a ser o modelo social da “impureza, da sordidez, da avareza, da degeneração racial ou mesmo da luxúria”. O Outro “infiel e não crente” só merece mesmo a tortura, a expulsão ou ostracismo, a sua inclusão pelo trabalho escravo, ou melhor, ainda, a sua “eliminação”...

Por essa indignação que me atravessa, transhistoricamente no meu próprio corpo dito impuro, que traz também o sangue de índios e de negros, é que supliquei outro dia, poeticamente para que nos revoltássemos contra essa nova ditadura de um mundo tão perfeito, tão limpo e ao mesmo tempo com tantas ruínas em produção. E ainda continuo e continuarei, nesse sangue miscigenado e brasileiro, buscando alguma coisa contra a perfeição...

E REPITO: A PERFEIÇÃO RACIAL E A DESTRUIÇÃO NASCEM DO MESMO NINHO... E esse ninho pode ser em qualquer mente, corpo ou “coração”, mesmo os geneticamente modificados...

Aí vai para os que não me leram em rede:

O AR É O VERDADEIRO FOGO!
  (para os meus e os seus meninos/meninas em Gaza)

Quantas vezes já sentiram lhes faltar?
Quantas vezes o expiras?
Quantas vezes o sentes?
Quantas vezes, silenciosamente, o escutas?
Quantas vezes foi o ausente?
A sua ausência nem ao fogo permite potência
A sua saturação é o que lhe propaga...
Em nós quem sabe o apagaria?
Penso novamente nele, apenas na pneumonia?
Para o que te tornas tão dependente?
Até lá fora da Terra me prendes?
Se desço profundidades também?
Por isso aqui também sinto sua presença
Onde uma ausência nem mesmo será notada
Caso desejem o impérios tirá-lo do ar...

O ar esse invisível parceiro sendo quase um infiel
Tornou-me, em segundos, sem fôlego, sem forças,
Sem fogo vital...

 Será o mesmo que agora em instantes arde em outras
Faixas sitiadas e cheias de gaze, cheias de sangue, sem chão, sem água e SEM AR?
E, cada segundo ou seus milésimos mais indiferentes,
Nós, que não o perdemos, como respiramos?
Mais aéreos, como as bombas, menos arejados como os túneis.
A nossa hipocrisia e distanciamento, são como respostas,
Como profundos silenciosos, aqueles onde o vácuo das mentes povoa...
Somos afinal respirantes, somos quiçá apenas transpirantes?
Sequem as já desérticas superfícies sensíveis
E nenhuma gota ética será suada por nenhum Genocídio,
Seguem em marcha então, com máscaras anti gases,
Exércitos, massas, seguidores, fanáticos e fascistas,
Seguem retirando a música silenciosa do vento,
Substituem-na por um fogo que só queima o que
De pureza no ar ainda resiste...

E se o teu fôlego e empenho até aqui te trouxe,
Não te iludas que dele, o ar, também és dependente e amante...
ENTÃO, por que, como os torturados, dele privados, o imploras?
FAZ a tua parte, abre agora a tua janela, expande teus pulmões,
E GRITA: nenhuma fé, nenhuma ideologia, nenhum partido,
Nenhum que se arvore a ser humano, nem pequeno ou grande,
Poderá ser, assim como da Terra, do AR o único dono.
Ar, AR, AR-RREFECER, DES-AR-MAR, ASPIR-AR, AO AR AM-AR,
PRINCIPALMENTE SE É ELE O QUE ESQUECESTES... O OUTRO SUFOCADO.
Perdoem-me a falta de pausas, é que falta INS PIRAÇÃO...

Sobram-me a dor, urgência de novos ares, novos pARes, e essa dura constatação:
O AR É O NOSSO VERDADEIRO FOGO.
CESSEM O OUTRO, ELE SÓ TRAZ FUMAÇA...
E o sufocamento. ...

Copyright/left jorgemarciopereiadeandrade 2014 ad infinitum  2023...(favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de e para as massas, TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025})

Links de matérias na Internet –


NEOEUGENIA (termo que chamo atenção e alerto há algum tempo) ou a NEOBIOTECNOMEDICINA? – Google quer catalogar material genético para criar 'ser humano perfeito' 

Em inglês (recomendo o texto Jewish Eugenics de Glatt) - NeoEugenics' web site https://www.neoeugenics.net/

The future of neo-eugenics. Now that many people approve the elimination of certain genetically defective fetuses, is society closer to screening all fetuses for all known mutations? https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1794693/ (a partir da questão bioética da “prevenção” dos chamados ‘defeitos genéticos’ e da síndrome de Down, uma discussão sobre o uso de técnicas de ‘eliminação’  desses ‘defeitos’...)

Académico israelita recomenda violação de palestinianas para impedir atentados https://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=754372&tm=7&layout=121&visual=49

PARA ONDE CAMINHA ISRAEL? Deputada israelita anti-racista foi suspensa do parlamento 
Documentário - Homo Sapiens 1900 (Original) Ano produção: 1998 Dirigido por: Peter Cohen Duração: 88 minutos https://www.youtube.com/watch?v=jUXC9dj3Oqw

LEIA TAMBÉM NO BLOG


EUGENIA – Como realizar a castração e esterilização de mulheres e homens com deficiência? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/01/eugenia-como-realizar-castracao-e.html

SEREMOS, NO FUTURO, CIBORGUES? Para Além de Nossas Deficiências Humanas https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/seremos-no-futuro-ciborgues-para-alem.html

RACISMOS, BARBÁRIES, FUTEBOL... ONDE ENTRECRUZAM AS VIOLÊNCIAS SOCIAIS? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/05/racismos-barbaries-futebol-onde.html

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O RETORNO DA INTEGRAÇÃO PELA INCLUSÃO: OS NOVOS MUROS NAS ESCOLAS, FÁBRICAS E HOSPITAIS (e nas fronteiras)  https://infoativodefnet.blogspot.com/2016/08/o-retorno-da-integracao-pela-inclusao.html