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segunda-feira, 1 de abril de 2013

AUTISMO – TODOS PODEMOS SER/NOS TORNAR UM POUCO AZUIS?


Imagem publicada –  uma rosa azul, apenas uma rosa, considerada diferente, única, singular e "artificial",  que não é como todas as outras rosas, apenas diferenciada pela sua cor, com um fundo verde das plantas consideradas "normais", porém que também poderão um dia  se tornarem azuis... Uma rosa como a da minha Parábola da Rosa AZUL, imersa e escondida dentro de um outro mar de rosas... vermelhas, que chamamos: a Vida.

O FIO VERMELHO QUE PODE  SE TRANSFORMAR EM AZUL
"O mito diz que os deuses prendem um fio vermelho no tornozelo de cada um de nós e o conectam a todas as pessoas cujas vidas estamos destinados a tocar. Esse fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir."

O texto acima é parte de uma lenda chinesa Segundo essa lenda, que versa sobre o Destino, somos todos conectados por um fio vermelho, amarrado ao tornozelo, àquela pessoa a qual estamos destinados: nossa “alma gêmea” ou “par ideal”.

E, para as pessoas com diferenças notáveis tenho a certeza de que necessitamos do Outro, também diferente e diverso, que o/nos re-conheça e a ele se conecte afetiva e afetuosamente. Há, a partir dessa visão da lenda, acontecimentos que não podemos pré-determinar, porém há acontecimentos que nos pré-determinam.

Estava pensando e refletindo sobre o que escrever. Então, aparece, há alguns dias atrás, em um programa da TV o Kiefer Sutherland.  A sua presença me chama a atenção para o programa de Jonathan Ross Show. Porém os poucos minutos da entrevista que vejo me levam ao tema que pensava. Ele fala da série que aborda o Autismo: TOUCH.

Touch é uma série televisiva que foi apresentada na Fox. É a história de um menino autista e seu pai (Kiefer Sutherland).  A série foi apresentada no ano passado. O menino, em seu autismo, tem a capacidade de ver o passado e prever o futuro, porém como autista não consegue usar nossas formas de comunicação.

Na trama desse seriado está o fio vermelho. No centro da cena está Martin Bohm (Kiefer Sutherland), viúvo e pai solteiro, martirizado pela impossibilidade de se comunicar com Jake (David Mazouz), seu filho autista, de onze anos.

Ele precisa de números para se expressar. Precisa de uma matemática única e singular. Na história criada o pai muda seu comportamento quando descobre que Jake possui um incrível e especial dom para ver coisas e padrões que ninguém mais consegue.

Nas nossas vidas, no mundo real muitas vezes esta estória virou história...

 Foi aí que o filme sobre Temple Grandin me retorna com sua forma de construção do pensamento através de imagens, assim como as incompreensões que teve de vencer. Há muito cinema e muitos filmes ou documentários sobre os autismos...

Como ela que é uma singular história real, o ficcional menino Jake nos diz da importância de deixar-se tocar muito mais do que achar que devemos tocá-los. Uma máquina do abraço como a de Grandin, pode vir a ser mais confortável do que uma aproximação física forçada por nós.

Ao buscar essa série encontrei o meu fio da meada. O fio azul que me ligou longo tempo à questão e experiência do autismo. É preciso ser tocado, ser afetado pelo mundo diferente de uma pessoa com autismo. E o meu tornozelo, primeiro médico e depois humanizado foi sendo amarrado às interrogações sobre o que chamo, no plural, de nossos autismos.

As interrogações se misturam às minhas vivências, que já escrevi sobre elas em tempos remotos de minha prática clínica. Há, porém, interrogações que nascem de novos conhecimentos e novos conceitos. Já disse que precisamos dos novos paradigmas para quebrar e romper com nossos pré-conceitos que se enraízam.

O DIA MUNDIAL DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O AUTISMO é hoje uma data consagrada. Hora de pintar o mundo e nossas ideias e, principalmente, nossas ações de AZUL.

 É uma boa oportunidade para desmitificar os milhares de preconceitos que foram construídos sobre quem vive com este transtorno, ou melhor, essa “neurodiversidade” afetivo-comportamental.

Sim, a compreensão do novo conceito de Diversidade junto com a necessidade do respeito às singularidades e diferenças é que, hoje, pode nos ajudar a desestigmatizar todos os comportamentos e “doenças” ligados ou decorrentes das noções, políticas e científicas, de “cérebro” e “mente”.

As neurociências vêm ganhando terreno na construção de um novo determinismo: o cerebral. E, a partir, deste estão surgindo as resistências a ver em um sujeito com autismo apenas uma condição neurobiológicamente determinada.

Os próprios autistas de alto desempenho, chamados “aspies” vêm, desde 1999,afirmando que todos os cérebros, independentemente de suas limitações, são belos. Para eles não há somente cérebros “normais”.

Ficam muito próximos do que reivindicaram as pessoas com deficiência com os Estudos Culturais sobre as Deficiências  com a criação do chamado modelo social há muitos antes. Vejam aí a construção da semente do chamado “orgulho autista”.

Os que defendem essa posição desestigmatizadora, que rompe com a modelização biomédica e neurológica, dizem que as neurodiversidades, nas quais se incluiriam os autismos, constituem formas diferenciadas de cada sujeito de revelação de suas capacidades, incapacidades e funcionalidades, principalmente as cognitivas.

Estes defensores se esforçariam para que possamos “re-conceituar” os autismos, saindo da noção já consagrada dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento e do espectro autista. Eles têm um movimento mundial que tem por principais objetivos:

  1  - Reconhecer que as pessoas com neurodiversidade não são “doentes”,  portanto não necessitam de uma “cura”;

   2  -  Portanto, as terminologias médicas e nomenclaturas de “distúrbio, transtorno e/ou doença”, principalmente com a ideia comum de  gravidade e isolamento total, devam ser modificadas;

   3 Com essa ruptura dos termos e conceitos afirmarem, como já foi feito pelas pessoas com deficiência, o direito ao reconhecimento de novos tipos de autonomia, o direito à Vida independente;

   4  - Apoiados nessa mudança de paradigmas, já incluída em novos marcos legais como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas Com Deficiências, passarem ativamente a participar do controle, com apoio dos familiares e da sociedade, das formas de tratamento a que querem e devem ser submetidos, inclusive qual será a sua duração.

Hoje temos a notícia de uma primeira iniciativa internacional de afirmação dessas neurodiversidades apoiadas na/pela Convenção. Um jovem com Asperger no México reivindica o seu direito a não ser tutelado e questionou junto á Suprema Corte a constitucionalidade da lei que o considera um incapaz. Ele não quer, como muitos outros Ricardos ou Marias, para além do México, serem mantidos e considerados como “menores de idade”, portanto tuteláveis.

Então, utilizando esse conceito de “neurodiversidade” é que interrogo no título deste texto homenagem sobre a possibilidade de todos nós também estarmos tão AZUIS como aqueles que pretendemos diagnosticar, tratar ou limitar como autistas.

Há em todos nós também o “fio azul” que nos aproxima de nossas próprias formas de isolamento, incomunicabilidade, dissociação da chamada realidade, e, em seu extremo, de nossas próprias e singulares “loucuras”.

Há quem se utiliza dessa afirmação para falar de um novo movimento anti-psiquiátrico nos subterrâneos dos que defendem as neurodiversidades. Há, porém, que datar e contextualizar essa tentativa de um outro olhar, uma outra escuta sensível e um outro modo de se deixar “tocar’’ pelo fio vermelho do tema Autismos. Novos tempos, novos conceitos contra velhos preconceitos.

Os tempos atuais, que denomino “pastoriais”, têm trazido para o debate as retomadas que buscam o conservadorismo nas práticas e nas ciências. Estamos em tempos de enfrentamento dos que acreditam que os hospitais, as internações, as clínicas especializadas são as únicas formas de tecnologias do cuidado e atenção para com os autistas, assim como para com outros que possam estar nesses campos de intervenção médico-reabilitadora.

Aprendi há muitos anos atrás como é provocador de emoções o contato, o convívio e a vivência de um sujeito com autismo. Experimentem os que apenas os viram nos filmes ou leram acerca dessa proximidade tão contagiante...

Portanto, mesmo que em mim persista o conhecimento científico e os muitos anos que foram dedicados à Medicina, ainda devo tentar ir além da visão que reduz os autismos e aos seus diversos sujeitos à condição de uma síndrome. Tenho o dever ético e bioético de buscar essa nova compreensão e diálogo com o movimento de defesa dos direitos das pessoas com autismo.

O seu “orgulho” nos fará ir mais uma vez em direção aos Estudos sobre Deficiências, e na minha humilde visão ir além do que os nossos conhecimentos padronizados que nos afirmam e garantem. Um sujeito com autismo não é apenas peça da ficção dos diversos filmes já realizados sobre o tema. Uma pessoa com autismo é também um UNIVERSO que no DIVERSO afirma que nossos fios continuam emaranhados.

E hoje é apenas um dos muitos dias que teremos de alinhavar com fios azuis novos laços sociais em prol da sua singularização, autonomia, diversidade e, mais ainda, dos seus direitos humanos e sua inclusão em todos os espaços, como as escolas regulares, e outros bens sociais.

 E o laço azul se entrelaçará, definitiva e vivamente, com o nosso fio vermelho...

Copyright/left – jorgemarciopereiradeandrade 2013-2014 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de massa - TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

FONTES E INDICAÇÕES PARA LEITURA NA INTERNET-

O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade  Francisco Ortega https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132008000200008

Neuro diversity

Neurociências: na trilha de uma abordagem interdisciplinar

INDICAÇÕES PARA LEITURA E CRÍTICA –

Deficiência, Direitos Humanos e Justiça – Debora Diniz, Lívia Barbosa & Wenderson Rufino dos Santos – SUR - https://www.surjournal.org/conteudos/getArtigo11.php?artigo=11,artigo_03.htm
s

Caponi S, Verdi M, Brzozowski FS, Hellmann F, organizadores. Medicalização da Vida: Ética, Saúde Pública e Indústria Farmacêutica. 1ª Edição. Palhoça: Editora Unisul; 2010.

PARA VISITAR, NAVEGAR, ASSISTIR E REFLETIR

TEMPLE SITE OFICIAL GRANDIN - https://templegrandin.com/

Baixar - TEMPLE GRANDIN - DVDRIP - RMVB LEGENDADO https://www.omelhordatelona.biz/genero/drama/1002-temple-grandin.html

Autism in the movies – Autismo nos filmes - https://www.imdb.com/list/0sigYQ1Icp0/

TOUCH – TV Fox – Série https://www.canalfox.com.br/br/series/touch/


LEIA(M) TAMBÉM NO BLOG –


O AUTISMO NÃO É APENAS UMA DOENÇA

AUTISMO: O AMOR É AZUL?

ORGULHOS ´MÚLTIPLOS' - no combate a todos os preconceitos https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/06/orgulhos-multiplos-no-combate-todos-os.html


MATÉRIAS PUBLICADAS NO INFONOTÍCIAS DEFNET (algumas) –

ASPERGER/AUTONOMIA - Jovem mexicano reivindica afirmação de sua autonomia legal Jovem com síndrome de Asperger luta contra a lei que o incapacita no México https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/04/aspergerautonomia-jovem-mexicano.html

AUTISMO - LEI 12.764/2012 equiparação e inclusão Brasil cria política de proteção à pessoa autista https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/01/autismo-lei-127642012-equiparacao-e.html

AUTISMO/INCLUSÃO ESCOLAR - Rompendo com preconceitos/medos nas escolas  É preciso perder o medo mútuo entre escola e autistas  https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/02/autismoinclusao-escolar-rompendo-com.html

AUTISMO - A lei "Berenice Piana" entra em ação ESCOLA QUE SE RECUSAR A MATRICULAR AUTISTA SERÁ PUNIDA https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/01/autismo-lei-berenice-piana-entra-em-acao.html

Ufam desenvolve software para auxiliar crianças autistas, em Manaus https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/02/autismo-software-amazonense-ajuda.html

Escolas regulares de AL não são preparadas para receber autistas https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/03/autismoinclusao-escolar-em-alagoas-pais.html

AUTISMO/PESQUISAS - Universidade Federal de São Carlos lança revista especializada https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/03/autismopesquisas-universidade-federal.html

AUTISMO/PESQUISAS - Estudo nos EUA desmitificam vacinas como causa de Autismo Novo estudo nos EUA descarta vínculo entre vacinas infantis e autismo https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/03/autismopesquisas-estudo-nos-eua.html

Neurocientistas identificam área cerebral relacionada ao autismo https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/02/autismopesquisas-identificada-area.html

DESINFORMAÇÃO: ASPERGER NÃO É PSICOPATIA! Discurso de psicóloga no Faustão indigna mães de autistas e especialistas https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2012/12/desinformacao-asperger-nao-e-psicopatia.html
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quarta-feira, 23 de maio de 2012

RACISMO, HOMOFOBIA, LOUCURA E NEGAÇÃO DAS DIFERENÇAS:as flores de Maio

Imagem publicada – uma foto colorida da chamada Flor de Maio, que recebe o nome deste mês, mas que como as micropolíticas e subterrâneas revoluções moleculares, de intensa cor vermelha, só florescem em datas posteriores. Também conhecida como Cacto do Natal, Cacto da Pascoa, Flor de Seda ou Schlumbergera truncata, essa suculenta brasileira se caracteriza por ser uma epífita da família dos cactos (porém sem espinhos) que apresenta lindas flores que aparecem próximo à época de virada de ano.

Preencher uma página em branco. Superar as nossas mais profundas fragilidades e depressões, às vezes, só se consegue vendo alguma beleza que nos resta do que chamamos Natureza...

O mês de maio é pleno de comemorações e manifestações. Foi-se o tempo em se que comemoravam apenas os noivos e os casamentos. É agora a mudança de conceitos e a derrubada de preconceitos que se afirma na contemporaneidade. Assim como florescem, por nossos estímulos, a conquista de novos direitos, que nos animam para a vida.

Outro dia, nesse mês, a Câmara Federal realizou-se IX Seminário LGBT no Congresso. Há alguns dias atrás, mesmo ofuscados pelo Dia das Mães, foi lembrado que ainda temos os Racismos entranhados nos mais baixos ventres da sociedade. Era o dia 13 de maio, que não deve ser historicamente mantido como a real libertação de nossos escravos negros em 1888.

Amanhãs sempre multicoloridos ajudaram nas marchas contra a Homofobia. Contrariando e criminalizando o ódio homofóbico, Maio traz também o Dia Nacional de Combate à Homofobia. Há então a possibilidade de outro olhar sobre as plurais manifestações e escolhas afetivo-erótico-sexuais. Retomaremos então os caminhos de Freud, aceitando a multiplicidade a ser vivenciada quando rompemos os tabus sobre as sexualidades.

E quando começamos a ver outras flores, no alvorecer do dia 18 de maio, temos de encarar outro preconceito arraigado, bem nutrido e histórico. Temos de comemorar e ativar o Dia Nacional de Luta Antimanicomial, para além do mês de maio.

Há, como na difusão dos outdoors, em campanha de conscientização, uma pergunta a responder. Na construção de novos dispositivos em Saúde Mental, que nossos cuidados e tecnologias reproduzem, é preciso indagar: que armadilhas e novos modos de sofrimento estão sendo produzidos?

O lema antimanicomial deste ano foi: "SUStentar a diferença, saúde não se vende, gente não se prende". Mas estamos mandando “flores de maio”, decaídas ou decadentes, para as internações compulsórias ou não?

No Brasil de novos programas carinhosos e assistencialistas, por que veredas tortuosas estão sendo mantidos os loucos, os homoeróticos, os meninos e meninas em situação de rua, os negros e todos os que possam ser submetidos às mais sutis violências, desde as simbólicas às mais visíveis e institucionalizadas? 

A atual parceria Governos e práticas de higienização social, com suporte até de evangelizadores, denunciam um possível retrocesso pela normatização ou pela produção/serialização de Vidas Nuas. O crack e seus marginais que o digam.

Então, o que transversalizamos em todos estes eventos? Quando é que a encruzilhada dos direitos faz com que se encontrem no mesmo cenário político os que passam pelo racismo, pelas homofobias, pelas pedofilias, e a retomada do desejo manicomial nas ações contra os que vivem transtornos mentais ou dependências químicas?

A maioria se parece com as flores de Maio. Não são dotadas de espinhos, porém pertencem a uma família de cactos. E acabam germinando em lugares que precisam de muita luz, mas se beneficiam de algumas sombras. Elas são epífitas, ou seja, crescem sobre outras plantas sem, contudo, parasitá-las. Na visão reducionista se tornam “diferentes” pelo cuidado que exigem. E na sua diferença tornam-se, apesar de belas e diversas, “exóticas”...

Assim também homens, mulheres, crianças ou idosos vivenciam ainda estas duras experiências de segregação, discriminação, marginalização, bullying, preconceito e violências? Basta que se afirmem na condição humana de uma diferença. Basta que floresçam fora de época e em lugares não permitidos?

Seja um negro, uma pessoa homossexual, ou então um “viciado” e sua drogadição ou alguém com uma deficiência psicossocial, independentemente de seu gênero ou faixa etária, todos tem de enfrentar, nas suas diversidades e pluralidades, as duras penalizações que os conservadorismos lhes impõem.

Mas o que é uma diferença? Um dos mais emocionantes exemplos que assisti recentemente me trouxe um exemplo de vivência na pele da diferença. Era o encontro de um grande homem negro, Magic Johnson, com uma pequena menina negra que estava em uma escola onde vivenciava os mesmos sentimentos que o famoso atleta.

Ambos eram e são pessoas convivendo com o vírus HIV. Ela fala com lágrimas como era tratada, lá nos anos 90, como um ser contaminado e contaminante. E que todos se afastavam dela na escola.

Nesse mesmo documentário de Nelson George, The Annoucement, sobre o “anúncio” público de Magic sobre a sua condição de pessoa com HIV, o rei do basquetebol nos toca na direção do enfrentamento de muitos dos preconceitos que atingem todos os que se diferenciam ou são diferenciados socialmente.

Até suas gotas de suor foram motivo de seu afastamento das quadras, muito embora sua resiliência o tenha feito retornar e receber os abraços dos que temiam seu contágio. Chegaram a fazer um minuto de silêncio nos jogos como se Magic tivesse morrido com o simples anúncio de seu vírus. Era o olhar de estigma que a AIDS produzia, e ainda produz, como metáfora da morte e da Peste.

Portanto em plena Idade Mídia ainda temos muito a plantar, semear e diferenciar com todas as “flores de maio”, simbólicas e plurais. Há um possível espaço de ação micropolítica que se estabelece com as nossas marchas públicas, nossas petições e nossas presenças e ações no cenário macro político brasileiro.

Em tempos de Comissão da Verdade, no seu papel instituído, caberá lembrar que nossas ações ainda estão distantes do movimento das Madres de Maio. Seriam elas flores que deveríamos aprender a respeitar/reinventar ao invés de chamá-las de ‘’loucas’’?

E como resposta a indagação temos de afirmar que surgem nos horizontes, para os que sonham com outro tipo de mundo e ambiente, para além da Rio +20, um modo ecosófico e bioético de viver. É A AFIRMAÇÃO DA DIFERENÇA. É O COMBATE EM NÓS DAS NEGAÇÕES DE NOSSAS DIFERENÇAS. NÃO SOMOS “ALMAS” HOMO- GÊMEAS, NEM MESMO NO AMOR OU NO SEXO, em todas as formas e multiplicidades do amar...

É o mês das flores de maio que só mostraram seu espetáculo e beleza tempos depois. Mas é a hora de combater A AMBIGUIDADE DE PRODUÇÃO DE UM DISCURSO BINARIZANTE, sem franjas ou entremeios, sem liberdade para as múltiplas peles que podemos habitar. 
A binarização é dicotomia, ou somos homens ou somos mulheres, ou somos "racialmente" brancos ou negros, ou somos loucos ou somos "normais". NÃO PODEMOS SER UMA METAMORFOSE AMBULANTE OU UMA DIFERENÇA GRITANTE?

Como a nossa visão ainda é atravessada pelos olhares e os rostos de nossos ancestrais, ainda olharemos o Outro como uma diferença a ser tolerada ou eliminada. Os novos campos de exceção, os novos Auschwitz-Birkenau, são construídos na mesma ideia de uso dos corpos em serialização, ou para o extermínio ou para a expropriação.

Por isso temos de estar atentos ao que nos dizem Guattari e Deleuze: “Do ponto de vista do racismo não existe exterior, não existem pessoas de fora. Só existem pessoas que deveriam ser como nós, cujo crime é o não serem...”. E aí situo a necessária transversalização dos preconceitos a combater para além do mês e das flores de maio. 

QUANDO APRENDEREMOS A APRENDER SOBRE A ALTERIDADE, quando aprenderemos a respeitar seus direitos fundamentais sem ter que tolerá-los em determinados lugares, em determinadas paredes, em determinados guetos ou muros, reinstituindo, continuamente, as mais pérfidas formas de exclusão da Sociedade de Controle?

Ah, não somos homens e nem mulheres, somos então o quê?

Copyright jorgemarciopereiradeandrade 2010-2013 ad infinitum . (Favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa - TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Notícias relativas ao texto na Internet-

Três mil participam de desfile pela Luta Antimanicomial em BH, diz PM
https://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2012/05/tres-mil-participam-de-desfile-pela-luta-antimanicomial-em-bh-diz-pm.html

“Não vejo distinção entre manicômio e tortura”, diz deputado Adriano Diogo
https://www.spressosp.com.br/2012/05/nao-vejo-distincao-entre-manicomio-e-tortura-diz-deputado-adriano-diogo/

Luta antimanicomial: conquistas e desafios http://www.inclusive.org.br/?p=22516

Dia Nacional de Combate à Homofobia, 17 de maio. Deputado Jean Wyllys (PSOL) https://www.liderancapsol.org.br/component/content/article/6-pronunciamentos/1997-dia-nacional-de-combate-a-homofobia-17-de-maio-dep-jean-wyllys.html?349dca8a83294b3c55eb74a2686523b3=dcbc07ffcc5b9510360b9bf48c46eea7

Dia Nacional de Combate à Homofobia e Comitê de Cultura LGBT
https://www.cultura.gov.br/culturaviva/dia-nacional-de-combate-a-homofobia-e-comite-de-cultura-lgbt/

Após dez anos em vigor, plano nacional contra pedofilia ainda é ineficiente https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2012/05/18/interna_nacional,295006/apos-dez-anos-em-vigor-plano-nacional-contra-pedofilia-ainda-e-ineficiente.shtml

The Announcement – trailer – sem legendas – em inglês – foi exibido na ESPN BRASIL https://www.youtube.com/watch?v=S209KvH_LFg
https://www.youtube.com/watch?v=ybwYvzBNjKI

Auschwitz-Birkenau https://pt.wikipedia.org/wiki/Auschwitz-Birkenau

Indicação de leitura –

MIL PLATÔS – Vol. 3 - CAPITALISMO E ESQUIZOFRENIA – Felix Guattari e Gilles Deleuze – Editora 34, Rio de Janeiro, RJ,2000.

Versão do GOOGLEBOOKS
 https://books.google.com.br/books/about/MIL_PLATOS_V_3.html?hl=pt-BR&id=qwh2TCerr6MC
https://books.google.com.br/books?id=qwh2TCerr6MC&pg=PA44&lpg=PA44&dq=GUattari+e+binariza%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=qfvhkr_N1B&sig=fwBKLw968eRurPq_lZ2eT6Kx_WU&hl=pt-BR&sa=X&ei=J1e8T_anO8GugQefv5WuDw&ved=0CFAQ6AEwAg#v=onepage&q&f=false

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OS NOVOS MALDITOS E AS NOVAS SEGREGAÇÕES: da Lepra ao Crack https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/os-novos-malditos-e-as-novas.html

SAÚDE MENTAL E DIREITOS HUMANOS COMO DESAFIO ÉTICO PARA A CIDADANIA https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/06/saude-mental-e-direitos-humanos-como.html

ALÉM DOS MANICÔMIOS - 18 de maio/ Dia Nacional de Luta Antimanicomial https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/05/alem-dos-manicomios-18-de-maio-dia.html

A DIFERENÇA NOSSA DE CADA DIA, SEMEANDO A IGUALDADE DE DIREITOS https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/09/diferenca-nossa-de-cada-dia-semeando.html

ONDE NASCEM E MORREM OS DIREITOS HUMANOS? 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/11/onde-nascem-e-morrem-os-direitos.html

segunda-feira, 19 de março de 2012

NÃO SOMOS ANORMAIS, SOMOS APENAS CIDA-DOWNS....


Imagem publicada – foto colorida de arquivo pessoal de Gabriel Almeida Nogueira, um jovem de 24 anos, que convive e supervive com sua Síndrome de Down, vestido de uma camisa branca, a moda de outros jovens, dançando alegremente com sua namorada, que está com um vestido vermelho. A sua descontração e alegria foi coroada, além da comemoração de dois anos de namoro, com sua entrada para a Universidade Federal de Pelotas. Ele irá fazer o curso de Teatro, mas já trabalhou como ator no filme “City Down”, um lugar aonde quem vem fazer a diferença, e se torna a "anomalia", é uma criança “que nasce normal"... (foto publicada no Jornal eletrônico G1 Globo.com)

Mais uma vez no mês de março tomamos a Síndrome de Down para reflexão e comemoração. Em 21 de março deste ano ela também estará na ONU. Mais uma conquista, uma maior visibilização e mais reconhecimento desta diferença de ser e estar com uma deficiência.

Entretanto, ainda temos alguns passos na direção de sua indispensável e inegável condição cidadã. Em 2004 difundi a Declaração de Montreal sobre os Direitos Humanos de pessoas com deficiência Intelectual. Lá já se revelava uma constatação: “PREOCUPADOS por que a liberdade das pessoas com deficiências intelectuais para tomada de suas próprias decisões é frequentemente ignorada, negada e sujeita a abusos”.

Passaram-se alguns anos e ainda precisamos indagar sobre como é ser e estar com esta condição. Quando é que a sua igualdade de direitos passa pelo reconhecimento de suas diferenças? Respondo que ainda temos muitos preconceitos que atravessam um corpo, uma vida e uma pessoa com Síndrome de Down. Ainda muitos são vistos como a-normais.

Ainda os temos como a ‘’cavalgada de mongóis’’, na cena memorável do filme o 8º Dia? A sua associação com Genghis Khan povoa alguns imaginários ainda... Seriam eles os novos ‘bons selvagens’, agora oriundos da Mongólia, bem longe de todos os nossos Ocidentes?
Recentemente publiquei uma matéria sobre polêmicas geradas a partir da reivindicação de pais que movem ações contra hospitais, laboratórios de pré-natal e médicos. Eles se sentiram com seus direitos feridos ao não terem o diagnóstico prévio e preventivo da síndrome (vejam o texto A Pagar-se uma Pessoa com Síndrome de Down.

É o crescimento de demandas judiciais sobre “crianças indevidas” que as triagens pré-natais, os exames genéticos e a escolha dos pais de recém-nascidos ou não com a Síndrome ou quadros genéticos. Daí decorre as buscas judicias de reparação.
Podemos, então, interrogar, mais uma vez, o que buscamos, tanto os pais como a sociedade, é a concepção geneticamente perfeita? Não pensamos, bem lá no íntimo, como construir uma ‘’normalidade’’ para toda e qualquer gestação?

Podemos tecer julgamentos, éticos ou bioéticos, sobre os pais de Kalanit, 04 anos, cujos pais Ariel e Deborah Levy, demandam, no Oregon (USA), uma ação de 3 milhões de dólares por um possível ‘’erro’’ de diagnóstico preventivo da Síndrome de Down de sua filha?

Sim, podemos e devemos refletir sobre os pilares que sustentam sua reinvindicação. O primeiro deles é de difícil demolição: o conceito de anormalidade.

A Síndrome de Down por sua condição genética, ligada ao Cromossomo 21, é uma das principais condições humanas que nos leva em direção ao conceito de corpos diferenciados. Houve um tempo, pelo visto não tão remoto, que a igualdade do homem consigo mesmo, a identidade de si, implicava na igualdade com seu corpo. Buscam uma perfeição saudável dos corpos, agora aperfeiçoada pelas biotecnologias de prevenção no período pré-natal.

Mas o que fazemos diante de um corpo que tem ‘’logo de cara’’ uma série de diferenças anatômicas, fenotípicas? Como olhamos, classificamos e discriminamos, principalmente, no reino das perfeições, uma ‘’anormalidade intelectual’? Os sujeitos com a Síndrome tem uma diferença intelectual que muitos ainda chamam de ‘’retardo mental’’. Essa seria talvez mais forte que quaisquer outras diferenças visíveis.

Afirmo aí que o fundamento, ou melhor, o fundamentalismo que moveu os pais, tanto na Espanha como nos EUA, podendo estar em qualquer país do mundo, é movido pelos preconceitos e pelo racismo. Somos todos racistas ou preconceituosos?

A base da busca de perfeição tem gênese nos conceitos biomédicos de normalidade, até o último fio de cabelo. O mundo aspira, conspira em silêncios e emudecimentos, pela eugenia, com tempos cada dia mais direcionados a parecermos ‘’normais’’.

A obra de Michel Foucault, os Anormais, apresenta as gêneses sociais e políticas que construíram o conceito de anormalidade. No final do Século XIX, depois do nascimento das biopolíticas, Foucault apresenta três figuras que representam o “anormal” em momentos históricos distintos: o monstro humano, o indivíduo a corrigir e o onanista.

Quando se construiu o conceito de deficiência mental para os ‘’portadores’’ desta síndrome a Medicina os conectou com outro conceito: o de uma ‘’aberração’’ cromossômica. Esta associação favoreceu a possível inclusão dos seus portadores no campo das monstruosidades humanas. Mais tarde, institucionalizados, também passaram pelo processo de correção, tanto reabilitadora como educacional especial. Finalmente, para coroar o processo, tornam-se portadores de uma ‘’sexualidade’’ ora exacerbada ou então desviante...

O seu diagnóstico, hoje já modificado, desde o ‘’mongolismo’’, passando pelo ‘’retardamento mental’’ até a concepção de sindrômicos, tornou-se portador de um estigma: a anormalidade.

A construção da anormalidade é uma das formas de confirmação de nossos racismos trans-históricos. Desde os tempos bíblicos, como no demonstrou Castoriadis, os racismos se fundamentam na distinção entre os que estão dentro e os que estão lançados para o lado de fora de alguns ‘’muros invisíveis’’ dos preconceitos.
Há ainda a questão bioética que se suscita com a ideia e as teorias sobre o abortamento de crianças diagnosticadas, no período pré-natal, com a Síndrome de Down. Esta prática remonta aos experimentos nazifascistas que guardavam as cabeças destas crianças para as suas comprovações de degeneração racial. Estudemos as leis racistas do período nazista na Alemanha e encontraremos a segregação com posterior eliminação dos que tinha estes diagnósticos da anormalidade, principalmente as de origem genética.

Mas como eliminar de um processo coletivo e transcultural a presença, mesmo que subjacente, desses estereótipos, estigmas e preconceitos?

Procuremos, hoje, então as 21 formas diferenciadas de reconhecimento das diferenças e singularidades de um sujeito que vive com Síndrome de Down. A primeira seria o reconhecer seu direito inalienável e humano à Educação. Quando vivenciamos, atualmente, o seu processo de inclusão social e escolar cada dia mais nos vemos diante de suas demolições paradigmáticas. Estão, como em uma prova com barreiras, cada dia mais ultrapassando mais uma.

Assim como um atleta negro provou a Hitler que não houve, não havia e nem existirá um povo eleito e uma raça superior...

Já temos mais que provas, para além dos Enades ou Enems, que até a Universidade não é mais uma barreira intransponível.

Os jovens Alysson, Kallil e Gabriel, nomes mais recentes, comprovam o que outros CIDA-DOWNS, já realizaram. Eles entraram, com louvor e dedicação, nas salas de aula das universidades brasileiras, em todas as latitudes e longitudes. Caminham no direito a uma nova gramática civil: não são mais os únicos ‘’anormais’. São e serão apenas cidadãos e cidadãs. São iguais como lhes afirma o Decreto 6949/2009 (a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência), e que se cumpram seus mais de 21 direitos HUMANOS...

Mas não bastam essas ‘’raras’’ presenças no meio universitário. Lá também devemos continuar promovendo, do ensino fundamental até as pós-graduações, a ruptura de um paradigma biomédico: a reificação das nossas deformidades humanas, nossas imperfeições genéticas, nossos pequenos defeitos. Temos de ir para além dos narcisismos das pequenas diferenças, são elas que nos tornam apenas HUMANOS. Eis uma tarefa imprescindível para a Educação inclusiva...

Somos, portanto, demasiadamente humanos, mas ainda distanciados de um re-conhecimento do Outro e da sua indispensável diferença e diversidade. Por isso se nos colocássemos dentro de uma cidade ou mundo dos que tratamos e excluímos talvez pudéssemos ‘’sentir na pele’’, esse verdadeiro Eu, o quanto “uma perturbação introduzida na nossa configuração (real e simbólica) do corpo é uma perturbação introduzida na coerência (ético-política) do mundo...”.

Podemos, enfim, dizer que somos todos Cidadãos ou Cidadãs ou apenas anomalias ambulantes que precisam de correção, esquadrinhamento, classificação e tratamento eugênico e higienizante, conforme a biopolítica para as Vidas Nuas?

No Século XXI os 21 também se declaram com direito às suas a-normalidades..., mesmo que para isso tenham de nos convidar para outra sessão de cinema, pois outros City Down virão ou uma próxima formatura de jovens Cida-downs, nas muitas universidades do Brasil e do Mundo.

PS- Caro Gabriel Nogueira não o inclui na minha “Carta a um Jovem com Síndrome de Down na Universidade” pelo fato do texto ter sido escrito antes que eu pudesse comemorar mais esta vitória e quebra de um velho paradigma, em 14/03.
Porém, gostaria que você lembrasse a todos/todas como foi este seu percurso até a Universidade, conforme a matéria publicada: ...”O primeiro filho de um casal pelotense sempre estudou em escolas normais. “Ele nunca repetiu o ano, sempre foi muito esforçado”, diz Joseane. Quando sua irmã mais nova decidiu cursar jornalismo, Gabriel entusiasmou-se com a ideia e também quis virar calouro. “A ideia foi dele. Nos questionávamos se ele iria conseguir, mas ele não se deixa intimidar, é de bem com a vida e conseguiu uma nota suficiente para entrar”.


Copyright jorgemarciopereiradeandrade 2012/2013 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet) TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025

Matérias pesquisadas na Internet:

FILME “CITY DOWN – A história de um diferente” – 2011, DIREÇÃO: JOSÉ MATTOS/ PAULO CÉSAR NOGUEIRA
Vídeo reportagem Assista emhttps://www.youtube.com/watch?v=brhFBOVIoAg
Site oficial do Filmehttps://citydown.webnode.com.br/

Para DOWN-load
- https://www.g1filmes.com/baixar/download-city-down-a-historia-de-um-diferente-dvdrip-nacional/


Jovem com Síndrome de Down é aprovado em universidade do RS
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/03/jovem-com-sindrome-de-down-e-aprovado-em-universidade-do-rs.html

DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL- DefNet
www.defnet.org.br/decl_montreal.htm

Will The Down syndrome Children Disappear?  https://www.bioethics.net/2009/09/will-the-down-syndrome-children-disappear/

Bioethicist: Parents shouldn’t have to sue over ‘wrongful birth’ of child with Down syndrome https://www.bioethics.net/news/bioethicist-parents-shouldnt-have-to-sue-over-wrongful-birth-of-child-with-down-syndrome/

A race against time for Down syndrome research https://www.bioedge.org/index.php/bioethics/bioethics_article/9700

Novas Fronteiras da Genética: Mentalidade Eugenésica https://bioetica.blog.br/category/eugenico/

Bioética, deficiência e direitos reprodutivos: entrevista com a Dra. Janaína Penalva https://www.inclusive.org.br/?p=21178

Graças ao Brasil, Dia da Síndrome de Down, 21/3, será comemorado pelos países da ONUhttps://www.inclusive.org.br/?p=22163

Indicações de Leitura -
As Encruzilhadas Do Labirinto 3 Mundo Fragmentado – Cornelius CASTORIADIS, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, RJ , 1992.

Políticas do Corpo (Elementos para uma história das práticas corporais) – Denise Bertuzzi de Sant’Anna (org.) , Editora Estação Liberdade, São Paulo, SP, 1995

Admirável Nova Genética: Bioética e Sociedade – Debora Diniz (org.), Editora UNB/Letras Livres, Brasília, DF, 2005.

Os Anormais – Michel Foucault – Editora Martins Fontes, São Paulo, SP, 2010.

LEIA TAMBÉM NO BLOG
SINDROME DE DOWN E REJEIÇÃO: UM CORPO ESTRANHO ENTRE NÓS? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/10/sindrome-de-down-e-rejeicao-um-corpo.html

O VIGESSIMO PRIMEIRO DIA - CINEMA E SÍNDROME DE DOWNhttps://infoativodefnet.blogspot.com/2010/03/o-vigessimo-primeiro-dia-cinema-e.html

A PAGAR-SE UMA PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/09/pagar-se-uma-pessoa-com-sindrome-de.html

01 NEGRO + 01 DOWN + 01 POETA = 01 DIA PARA NÃO SE ESQUECER DE INCLUIRhttps://infoativodefnet.blogspot.com/2011/03/01-negro-01-down-01-poeta-01-dia-para.html 

CARTA A UM JOVEM COM SÍNDROME DE DOWN NA UNIVERSIDADE https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/carta-um-jovem-com-sindrome-de-down-na.html

VAN GOGH - A CONSTRUÇÃO DE UMA A-NORMALIDADE https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/10/van-gogh-construcao-de-uma-normalidade.html

VULNERAÇÃO E MÍDIA NO COTIDIANO DAS DEFICIÊNCIAS https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/04/vulneracao-e-midia-no-cotidiano-das.html

quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHERES, SANGUE E VIDA, para além de sua exclusão histórica

Imagem publicada – foto preto e branco de Sabina Spielrein (Rostov – 1885/1942), uma mulher russa que descobri há muitos anos em um livro: Diário de uma secreta simetria, que foi ocultada e excluída da história da psicanálise. Hoje no dia internacional da Mulher sua imagem me veio como estímulo à reflexão sobre o feminino e suas exclusões, até recentemente em favor de uma historiografia feita para e pelos homens. Há muitas Liliths que foram suprimidas e/ou reprimidas, mas nunca conseguiram apagar os seus marcantes passos deixados para e na história contemporânea mundial.

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.

Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar ...” 
(Aviso da Lua que Menstrua – Elisa Lucinda)

Já disse e repito o mundo é um útero e todo útero é um mundo, se não for seu principal multiplicador plural no feminino... e às vezes precisa sangrar diante do mundo.

Eu conheci essa poesia que nos alerta há muitos anos atrás. Uma mulher me trouxe um livro com uma dedicatória da autora. E nunca mais esqueci este aviso. Porém incauto e curioso não me faltou à memória diversas vezes em que errei junto e com as mulheres que transversalizaram e transversalizam a minha vida.

As mulheres, refleti, hoje, não são mais nem menos. Esta seria uma síntese diante da equação de que todos e todas sempre trazemos um pouco, mesmo que negando, de homens e mulheres. Apenas, como nos diz Luce Irigaray transitamos em discursos linguísticos totalmente diferenciados.

Hoje, no dia internacional da Mulher, analiso que são elas que fazem a verdadeira diferença. E já escrevi anteriormente sobre isso, já afirmei que elas é que são o Útero criativo e incomensurável da vida e do mundo. Podemos tentar substituí-las em possíveis replicantes ou robôs. Ainda assim terão de conservar um indispensável feminino feminista. Mesmo que pelas nanotecnologias...

Vivemos cada dia mais um discurso da igualdade dos gêneros. Irigaray tem, na perspectiva feminista e filosófica, outra visão ao afirmar que: “A igualdade entre homens e mulheres não se pode realizar sem um pensamento do gênero como sexuado e uma reescrita dos direitos e deveres de cada um, enquanto diferente, nos direitos e deveres sociais...”

Hoje se manifesta a afirmação de equiparação de direitos entre homens e mulheres no trabalho. Mas já houve e ainda haverá muitas mulheres que foram, para além da linguagem dominante e machista, excluídas ou negadas em seus trabalhos, principalmente os de origem intelectual. Manifestar nesse dia Internacional é também retirá-las das sombras masculinas.

Mas por que se lembrar da Sabina psicanalista e mulher nessa data? É que ainda persistem as sombras que se projetam em sua histórica e histérica passagem pela vida de Jung. Já foi motivo de diferentes abordagens fílmicas. Recentemente mais uma tentativa foi feita de traduzi-la. 

A mais recente busca de desocultamento é o filme de David Cronenberg: “Um método perigoso”. Advertência no título que revela, em minha opinião, o preconceito contra sua principal personagem: a mulher que se interpôs entre dois titãs da psicanálise. Sabina, entre Jung e Freud, nesse filme está recopiada, mas continuará sendo mulher. Portanto sem a resposta do que deseja uma mulher.

O filme que tentou contar um pouco mais de sua histórica passagem pela Psicanálise na URSS é o Jornada da Alma, do italiano Roberto Faenza (2002), que já assisti e posso afirmar que traz uma visão menos psicopatologizada desta mulher.

O porquê seu nome, assim como de outras mulheres permaneceu na obscuridade por muitos anos? O que levou as Sociedades de Psicanálise levar tanto tempo para reconhecer que as noções primárias de pulsões destrutivas, no caso Thánatos em nós, foram parte de um artigo desta jovem psicanalista, ex-paciente e discípula de Jung, assim como sua amorosa amante, que impregnou e fecundou a mente de Sigmund Freud.

Sabina em 1912 publicou seu artigo "A destruição como causa de vir-a-ser", no Jahrbruch für Psychoanalyse, IV. O seu artigo que era como um aviso da Lua que menstrua; nove anos depois Freud a cita em uma nota de rodapé de seu “Além do princípio do prazer”. 

Ela trouxe importantes contribuições sobre a questão do erotismo, da pulsão de destruição e dos sentimentos de angústia de jovens diante do alvorecer de suas sexualidades.

Por Sabina e por muitas outras mulheres que fizeram parte da história da construção da Psicanálise (Anna Freud, Melanie Klein, Lou Andreas Salomé, Frieda Fromm-Reichmann, Marie Bonaparte, por exemplo), é que revivo esta mulher para meus leitores e leitoras, como ressurgimento do feminino apesar de sua supressão ou exclusão historiográfica. 

Muitas são as mulheres, que como Sabina, em outros campos do saber e da Vida que foram, são e serão excluídas da História. Ao menos por um tempo, principalmente se forem tomadas como perigo ou risco para o discurso hegemônico e instituído.

Entretanto há um campo que escapará sempre das repressões, das caças às bruxas ou neo-inquisições: o campo inexplorado e vasto do desejo feminino. “Não se deveria esperar”, diz Irigaray, ”que o desejo da mulher falasse a mesma linguagem do desejo do homem; o desejo da mulher tem sido(...) abafado pela lógica que domina o Ocidente desde o tempo dos gregos”.

Nesse campo transitou com galhardia e estardalhaço abafado a russa, de origem judaica, que inventou uma ‘‘Casa Branca”, um jardim da infância, um local onde as crianças russas aprenderiam o sentido do amar e da humanidade. Uma casa-berçário onde até Stalin matriculou seu filho, mas de forma anônima, com um nome falso. Tempos depois sua polícia soviética o fechou...

Assim essa discípula de dois homens, Freud e Jung, tentava fazer com se instituísse outro modo de formar e forjar os homens. Mas com ensinar a liberdade de ser e estar em um mundo cinzento e Big Brother do stalinismo cruento e cruel?

Falar sobre, escrever sobre e lembrar o seu nome, que traduzido significava: “tocar no justo tom = Spielrein”. É reintroduzir o seu desejo feminino de que as crianças sejam educadas para e com liberdade. E, que, meninos e meninas possam entender sua principal diferença: o desejo. 

Ainda assim podem construir uma mesma música, um mesmo tom de justiça e igualdade entre os gêneros.

O aprender a aprender a diferença deverá então, se pudermos fazer com que tenhamos o mesmo tom, mas mantendo nossas singularidades, que o feminino em nós se torne uma possível aliança e uma nova suavidade.

E quem são e serão as novas Sabinas? Ou melhor as novas Bruxas e Lilith dos tempos da Idade Mídia?

Alinhemos as principais e ainda resistentes mulheres, como as da Praça Tahir, que, mesmo violentadas, não deixam de denunciar as formas ditatoriais e macropolíticas de cerceamento da vida. Elas falam da destrutividade que os exércitos andam praticando no mundo árabe. E reintroduzem o desejo feminino no campo da liberdade.

São elas as novas Amazonas? Porém, agora não passam mais pelas castrações de seus seios para melhor atirar flechas. Hoje tornam-se ativistas de seus direitos sexuais e reprodutivos, mesmo que para isso retirem, via Internet, as burcas e véus, revelando sua nudez revolucionária.

O que temos de denunciar é a busca um lugar de poder e fardamento das mulheres, principalmente nos modelos de guerra e na lógica hipercapitalista. Elas podem se tornar tão ou mais cruéis que os pequenos ou grandes ditadores. Há mulheres que se tornam de ferro quando poderiam ser da mais fina seda ou puro cristal.

Por isso, ao olhar hoje mulheres no Poder, as Angelas, Dilmas e Cristinas, rememorando as Indiras, espero que possam vir a assistir os filmes, o documentário e lerem sobre a vida de uma mulher que ousou se impor, amorosa e sexualmente, entre dois gigantes masculinos.

Talvez possamos juntos, repensar outra forma de introduzir o feminino nesse mundo engessado e endurecido e, apesar de vocês no Poder, continuar falocrático. Nunca usem nossas fardas e nem nossos fardos masculinos.

Ouçam uma afirmação de Spielrein: “A visão artística do mundo vem somente com a idade, com o despertar do componente sexual. Então a rudeza cede lugar ao feminino...”, em uma carta para o grande mestre Sigmund Freud, no início do século passado.

Ela esteve convicta, até os últimos instantes quando botas nazistas a executaram, que precisamos do reconhecimento de nossas pulsões inconscientes, homens e mulheres, na direção da destrutividade. Mesmo quando queremos e buscamos o Gozo Vital.

ÀS MULHERES, DE TODAS AS ETNIAS, TODAS AS DIVERSIDADES, TODAS AS MULTIPLICIDADES, TODOS OS CANTOS, TODOS OS ENCANTOS, TODAS AS DIFERENÇAS, E, PRINCIPALMENTE AQUELAS SOB TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA, ENVIO MEU MAIS DOCE/TERNO ABRAÇO, e certeza de que ainda não aprendi e nem aprenderei tudo sobre o SER FEMININO...

Que seu sangue nunca seja derramado em vão, mesmo que o da Lua, e a vida continue sendo gaia e uterina, para além de todo nosso desejo e tentativas de excluí-las de nossas histórias.

Copyright jorgemarciopereiradeandrade 2012/2016/ 2022 - ad infinitum Todos os Direitos Reservados  ( favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou meios de comunicação de massa) TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025

Indicações e referências disponíveis na Internet:

POESIA – AVISO DA LUA QUE MENSTRUA – Elisa Lucinda
SABINA SPIELREIN - https://pt.wikipedia.org/wiki/Sabina_Spielrein


My Name was Sabina Spielrein - Ich hiess Sabina Spielrein ( 2002 ) Documentário – Elisabeth Márton https://www.imdb.com/title/tt0333611/

O amor que ousa dizer seu nome: Sabina Spielrein - pioneira da psicanálise (tese de doutorado) Renata Udler Cromberg (USP)

Mulheres desempenham papel fundamental nas revoltas populares do mundo árabe https://www.icarabe.org/entrevistas/mulheres-desempenham-papel-fundamental-nas-revoltas-populares

Leituras Recomendadas - 

SABINA SPIELREIN - UMA PIONEIRA DA PSICANÁLISE (obras completas- volume 1) Org. Renata Udler Cromberg - Editora Livraria da Matriz, São Paulo, SP, 2014.

DIARIO DE UMA SECRETA SIMETRIA - Aldo Carotenuto, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, RJ, 1984.

MULHER DIGITAL – O Feminino e as Novas Tecnologias , Sadie Plant, Editora Rosa dos Ventos, Rio de Janeiro, RJ, 1999

LEIA TAMBÉM NO BLOG: 

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