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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Os Desastres, os Haitis e as Serras no Hipercapitalismo

Imagem publicada - uma fotografia de um dos milhares de acampamentos de haitianos, com milhares de tendas militares ao fundo, que têm em um enorme telão a projeção de uma ''novela'', ao centro, para que possam continuar sonhando/acreditando na Sociedade do Espetáculo, e, talvez, esquecer todas as corrupções, explorações, humilhações e escravagismos a que o povo do Haiti foi e continua sendo submetido. O Haiti 01 ano após ainda é um país em ruínas, com disputas macropolíticas que determinarão quando e quem irá ''doar'' dinheiro para sua reconstrução. Um país de milhares e incontáveis mutilados e novos membros da multidão de pessoas com deficiência do mundo... E no telão vemos o rosto de uma criança negra... (Acampamento de Carradeux, New York Times)

"Todos os dons recebidos pelo homem através de seu profundo conhecimento da natureza - os progressos da sua tecnologia, de sua química, de sua medicina -, tudo aquilo que parecia poder atenuar o sofrimento humano, tendem por um espantoso paradoxo, arruinar a humanidade..." Konrad Lorenz

Quando li pela primeira vez, há muitos anos, Civilização e Pecado de Konrad Lorenz, não tinha a ideia de seu caráter de ''futurologia ". A gente não olha para o futuro como possibilidade, principalmente quando falamos de Desastres, Calamidades, Catástrofes, ou melhor de cenários de destruição. 

Como Lorenz era apenas um etólogo, aliás um ramo científico por ele formulado como "um estudo científico e comparativo do comportamento instintivo e aprendido dos animais", sua visão é datada e contextualizada. Este cientista, para além de controvérsias ideológicas,  concluiu que a liberdade raramente existe sem perigo. Acrescento não há vida sem risco. Há sim a perpetuação aética de nossos "erros capitais".

Hoje, bombardeado pela incessante midiatização do sofrimento dos afogados, dos soterrados e dos desabrigados, por chuvas, represas abertas, descaso e imprevisão política, fiquei "atolado". Fiquei me sentindo preso entre ideias de Lorenz e de Naomi Klein, cuja atualização já fiz quando escrevi sobre O Aprendizado do Desastre, há um ano atrás.

As teorias de Lorenz são fundamentadas na "análise dos processos que ameaçam o ocaso da civilização e o fim da humanidade, ditados pelas leis naturais...". Em 1973 esse cientista ganhou o Prêmio Nobel de Medicina, tendo lançado um grito de alerta sobre a urgência, já naquela época, de se preservar e conservar o Meio Ambiente para que em breve este "não se torne inadequado à sobrevivência" de seres humanos.

O que estamos fazendo com nossos ''dons"? apenas aplicando à contabilidade de uma máquina cruenta de calcular corpos soterrados? ou nossa matemática de mortos e vidas destroçadas ainda não é suficiente para a naturalização da Doutrina do Choque, com nos afirma Naomi Klein? 

Para muitos a culpabilização do volume de água que os céus nos derramam é a única explicação. E aí podemos cantar que: "olha lá vai passando a procissão, eles acreditam nas coisas lá do Céu...", e apenas ''orar" ou "chorar" perante as perdas de vidas humanas e o arrasamento das cidades. Aparece, como mostram as telas, nossa solidariedade que se, potencializada coletivamente, poderá ser transmitida para a proposta das 3 Ecologias de Guattari.

A mudança que desejamos diante dessas devastações naturalizadas é urgente. Não deveríamos esquecer de nossos semelhantes haitianos, após 1 ano de terremoto. Ainda tremem as pernas e pés desses negros e negras diante da Cólera e do abandono das promessas de reconstrução de seu país, suas casas, suas vidas.

Como podemos nos reaproximar desse Haiti Vivo que sumiu por um longo período das telas e dos noticiários, retornando quando a Dona Morte atinge mais de perto os nossos vizinhos estaduais?. Nos distanciamos, processo humano de proteção de si e dos narcisismos, de quaisquer sofrimentos intensos que atingem, primeiramente, o Outro ou os Outros.

Precisamos rever a nossa construção de uma Ecosofia e de uma Ecologia Humana. Para Lorenz: "a ecologia humana se transforma muito mais rapidamente que todos os outros seres vivos. O ritmo lhe é ditado pelo progresso de sua tecnologia, sempre acelerado e em progressão geométrica..." Para ele isso é responsável, ao modificarmos profundamente nossos meios ambientes, até mesmo por nossas ruínas das "biocenoses nas quais vive e das quais vive".

Reforçamos a teoria de que criamos as condições e meios através dos quais podemos criar ou destruir a Vida, muito mais na direção de ''manipulação'' dos desastres do que na direção de outros modos ecosóficos de viver e TRANSMITIR A VIDA.

Por isso digo que não estou ''chocado" com as imagens que atolaram nos meios televisivos. Estou apenas mais consciente da urgência de analisarmos quais são os nossos "pecados", ou melhor nossas "armadilhas", que mantemos, macropoliticamente, em construção e recriação, do que chamamos, eufemisticamente, de Civilização. Seremos transmissores de Vida em 2011, insisto na pergunta?

Me interrogo: - seremos apenas os "homo homini lupus" (o Homem é o Lobo do Homem)? ou podemos, micropoliticamente, re-inventar a liberdade e a crítica, através de uma Bioética e Ecosofia de mãos dadas, desmontando as artimanhas do Hipercapitalismo, encontrarmos as saídas para um mundo sem Arcas de Noé ou Naves, "made in China" e privatizadas de 2012?

Qual é a distância (humana) entre Porto Príncipe, Itatiaia, Nova Friburgo, Concepción, Franco da Rocha, Santiago, Três Corações, Temuco, Petrópolis, Brisbane, e onde vivo? Será que terei a resposta do poderoso computador Tupã do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), instalado na cidade com nome de água cheia de força e intensidade: Cachoeira Paulista?

copyright jorgemarciopereiradeandrade (2010-2021 - favor citar o autor e as fontes em republicações livres na Internet ou outros meios de comunicação de massa, todos direitos reservados -2025)

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AS MASSAS E OS SOBREVIVENTES - Terra Trêmula - https://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Haiti

O HAITI NÃO ERA AQUI - A Terra Queimada -

Indicações/referências bibliográficas:

CIVILIZAÇÃO E PECADO, os oito erros capitais do Homem - Konrad Lorenz - Círculo do Livro, São Paulo, SP - 1977.

A DOUTRINA DO CHOQUE - A Ascenção do Capitalismo de Desastre - Naomi Klein - Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, 2009.

AS TRÊS ECOLOGIAS - Felix Guattari - Ed. Papirus, Campinas, SP, 1990.

ARTIGO - LA VALORACIÓN ECONÓMICA DE LOS DESASTRES: UNA APROXIMACIÓN METODOLÓGICA -Dra. Ana Fernandez-Ardavín &Dra. Carmen Calderón Patier, Dra. Monserrat Cabello Muñoz y Dra. Isabel Martínez Torre-Enciso

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O APRENDIZADO DO DESASTRE - O hai di ti é em qualquer lugar,,,

Imagem publicada: Uma da série de fotos tiradas por soldados americanos de prisioneiros do Iraque em Abu Ghraib. O prisioneiro com capuz (Satar Jabar) teve as duas mãos e o pênis amarrados com arame, e seria, segundo notícias, eletrocutado se ele caísse da caixa sobre a qual estava de pé. No momento em que esta foto veio a público, oficiais americanos declararam que o arame não estaria eletrificado. Isto foi negado depois pela pessoa da foto que declarou em uma entrevista que o arame estava eletrificado e estava "acostumado" a levar choques, para não perder todos os equilíbrios. A naturalização e a exibição das imagens pelos soldados tem uma finalidade de desmoralização de suas vítimas, assim como um alerta para todos os que se opuserem às suas técnicas de dominação, sejam políticas, econômicas ou mesmo as militares...

"...Mas países estilhaçados são atraentes para o Banco Mundial também por outra razão: eles acatam as ordens docilmente. Após um evento cataclísmico, os governos habitualmente fazem seja o que for para obter ajuda em dólares — mesmo se isso significa assumir dívidas enormes e concordar com políticas de reformas arrasadoras. E com a população local a lutar para obter abrigo e comida, a organização política contra a privatização pode parecer um luxo inimaginável". ( Naomi Klein - A Ascensão do Capitalismo do Desastre - 2005 )

A afirmação acima é feita por Naomi Klein, uma jornalista canadense, uma mulher inquieta e lúcida que traz, há anos, um pouco de luz às trevas ocultas sob as entranhas do Hipercapitalismo. Ela é autora de um livro de 592 páginas, que desnudam a face obscura de ações de guerras e de intervenções militaristas, em especial dos EUA, em países considerados "com soberania limitada". O Afeganistão, o Timor Leste, e, para um refresco de memória, o devastado HAITI, foram e são exemplos notórios.

Em seu texto a autora, em 2005, já denunciava: "O mesmo se passou no Haiti, a seguir à derrubada do presidente Jean-Bertrand Aristide. Em troca de um empréstimo de US$ 61 milhões, o banco está exigindo "parceria público-privado e governabilidade nos setores da educação e da educação", segundo os documentos do Banco (Mundial - World Bank) — ou seja, companhias privadas passam a administrar as escolas e os hospitais. 

Roger Noriega, ao secretário de Estado Assistente dos EUA para os Negócios do Hemisfério Ocidental, deixou claro que o governo Bush compartilha esses objetivos: "Também encorajaremos que o governo do Haiti avance, no momento apropriado, com a restruturação e a privatização de algumas empresas públicas", disse ele ao American Enterprise Institute em 14 de Abril de 2004".

Mais um desastre se tornou espaço de intervenção globalizada. Mais um povo deverá, no futuro, pagar as contas de todos os 'investimentos' e, quiçá, as ' doações' generosas e indispensáveis para a reconstrução da velha terra queimada, que para esta jornalista é, portanto, uma excelente oportunidade para a aplicação de " A Doutrina do Choque ". Este seu livro tem um sugestivo subtítulo, que utilizo com outras possibilidades: " A Ascensão do Capitalismo do Desastre", já traduzido e nas livrarias brasileiras.

Tomei contato com a pesquisa e ideias dela, que não são infundadas ou mero panfleto anticapitalista, em um vídeo do YouTube onde a aplicação de eletrochoques(ECT), são historicamente lembrados da psiquiatria, de Cerletti e Bini, aos dias de hoje, e são a base sobre a qual, segundo Klein, a CIA elaborou uma teoria sobre o seu uso e aplicação no campo macropolítico. Veja o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=jKU3jm4sjZE . No Iraque esta 'teoria' foi aplicada em Abu Ghraib.

Transcrevo um trecho do livro que por si só deixará para nós uma reflexão sobre as vítimas do terremoto no Haiti, ou melhor o que será feito desse país devastado e re-colonizado, pois o fura Katrina afetou especialmente um povo negro: "Tragédia em Nova Orleans, 2005. Enquanto o mundo assiste ao flagelo dos moradores com as inundações causadas por tempestades que estouraram os diques da cidade, o economista Milton Friedman apresenta no jornal The Wall Street Journal uma ideia radical. 

Aos 93 anos de idade e com a saúde debilitada, o papa da economia liberal das últimas cinco décadas vislumbrava, naquele desastre, uma oportunidade de ouro para o capitalismo: “A maior parte das escolas de Nova Orleans está em ruínas”, observou. “É uma oportunidade para reformar radicalmente o sistema educacional”

Para Friedman, melhor do que gastar uma parte dos bilhões de dólares do dinheiro da reconstrução refazendo e melhorando o sistema escolar público, o governo deveria fornecer vouchers para as famílias, que poderia gastá-los nas instituições privadas. Estas teriam subsídio estatal. A privatização proposta seria não uma solução emergencial, mas uma reforma permanente. A ideia deu certo. Enquanto o conserto dos diques e a reparação da rede elétrica seguiam a passos lentos, o leilão do sistema educacional se tornava realidade em tempo recorde".

Nossos pequenos desastres, nossas vítimas mais próximas nos aproximam dos mais de 200 mil mortos no Haiti. A nossa compreensão do desastre do Outro deveria passar pela visão bioética de pertencimento à mesma Terra. Mas, lentamente, no nosso modo hipermidiático de ser, vamos retirando das manchetes o Haiti e seu povo.

 Lentamente, esqueceremos ou não. Se a terra aqui não fosse tão pluvial e tropical, se a terra tivesse cobrido, não uma pousada a beira mar e casas humildes, mas invadisse a Usina em Angra, talvez agora estivéssemos agradecendo a chegada de mais uma leva de Marines... Dizem por aí que God is a Brazilian?...

Mas ainda há, espero, as revoluções moleculares e a resistência aos neocolonialismos, mesmo os travestidos de humanismo e de generosidade dos mais 'desenvolvidos', e os soterrados e sob controle nos campos de refugiados sobreviventes de Vida Nua ressurgirão dos destroços para assustar e expulsar os neo-invasores de seus territórios. VIVA O HAITI VIVO E LIVRE...

Lá estará, mundialmente, por enquanto, um privilegiado espaço para uma 'extreme makeover", como o programa da ABC, onde 'voluntários' passam por cirurgias e reformas radicais de seus corpos, que modificam plasticamente esses sujeitos e depois os devolvem para uma família, amigos e telespectadores maravilhados com a mudança de seu visual fashion... Aparentemente é tudo de graça, é tudo free..., com as melhores das boas intenções.

Portanto, 'hai di ti' que crê estar em um mundo longe desta possível aplicação de uma reforma radical, por interesses macropolíticos e econômicos, se o seu córrego ou riachinho virar uma inundação... E conheceremos a 'parte social do Capitalismo' tão cara ao encontro de Davos.

Não ficamos chocados com as imagens do Haiti? Qual será nosso aprendizado? Esperamos outros ''choques''?

(jorgemarciopereiradeandrade -Copyright and left ad infinitum, 2021, todos direitos reservados TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

FONTES = indicações de leitura crítica e letramento

 A DOUTRINA DO CHOQUE -  A Ascenção do Capitalismo de Desastre - Naomi Klein, Nova Fronteira, 2006, Rio de Janeiro, RJ.







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