Imagem- uma fotografia em
preto e branco de uma das “enfermarias” do Hospício de Barbacena, nela vê-se
enfileiradas diversas camas, toscas, que muitas vezes eram substituídas por
capim, na ausência de colchões, aparecendo um homem sentado no chão, perto dele
há deitado um homem, negro, seminu e emagrecido, que nos olha e interroga,
podendo-se ver ao fundo, à direita, dois homens vestidos e de terno,
possivelmente, dois profissionais da instituição, seriam dois médicos, dois
psiquiatras? É possível que sim, pelo simples fato de estarem fisicamente
vestidos, e, portanto, não poderiam ser parte do cenário de vidas nuas ali
abandonadas, apesar de alguma roupa. Nesse manicômio histórico a média de
mortos diária era de 16 novos corpos. E contei 16 catres de ferro... Alguns dos
fotografados podem ter sido parte deste registro imagético de mortes anunciadas.
Fotografia de Luiz Alfredo, da Revista O Cruzeiro, 1961, para a reportagem com
o título: Hospital de Barbacena – Sucursal do Inferno)
“No hospício, como nos
cárceres, o tempo está como que paralisado: se têm a sensação de um presente
enorme e vazio…” (Alfredo
Moffatt in Psicoterapia del Oprimido
– Editorial Libreria ECRO, 1975)
Há
alguns anos atrás escrevi sobre os vivos esquecidos na Casa dos Mortos. Era um
texto sobre a não vida dos que são “esquecidos” nos Manicômios Judiciários do
país. Afirmava e confirmava a frase acima de Moffat. Era o ano de 2009, um ano
que mudou radicalmente a minha vida e o meu corpo. Torne-me titânico e com mais
parafusos para perder.
Escrevi então: “Em 19 de abril deste ano o Correio Braziliense nos informava: cerca de
4500 pessoas estão ‘abrigadas’ nos manicômios judiciários no país. Reforçava a
reportagem que estes sujeitos têm três escolhas existenciais possíveis: ou o
suicídio, ou a internação ad infinitum (como dizem nas ruas: ‘forever’) ou a
sobrevivência em um ambiente dantesco e desumano...”. Lamentavelmente,
passam os anos e algumas dessas opções ainda são o único meio de “libertação”
desses sujeitos transformados em Vidas Nuas.
Estamos
em um novo Outubro, um mês para colorir de rosa contra o câncer de mama. As
nossas multidões vão, ainda, para as ruas. Este mês, para mim, nos meus
descoloridos dias da dor contínua, também é o mês no qual se comemora o Dia
Mundial da Saúde Mental. Este ano o tema principal é sobre a saúde mental em
idades mais avançadas, ou seja, na velhice. Já refleti sobre o tema no último
texto, transversalizei a memória, a deficiência e o envelhecimento.
Há,
porém, para mim, um tema que me toca profundamente: os que foram meus primeiros
“mestres” sobre a vida e a morte, os cadáveres anônimos de loucos oriundos dos
Manicômios. Aqueles que sobre mesas frias de aço serviram de aprendizagem de
Anatomia Humana de várias faculdades de medicina nos anos 70.
Confirmei
através da leitura de Daniela Arbex, com seu pungente Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do
Brasil, que muitos outros médicos também vivenciaram essa experiência do
contato com os cadáveres vendidos pelo Hospício de Barbacena, um nome
aterrorizador que ouvia desde pequeno lá em Minas Gerais.
Ouvi
muitas vezes, quiçá muitos que lerem este texto também ouviram, as ameaças que
se faziam, em busca de obediência e não discordância, as falas dos “mais
velhos” aos meninos e meninas. A ameaça simples e direta era: “... se você continuar assim.. se não fizer
o que estou mandando... se continuar tão levado(a)...se ousar transgredir –
Você vai de trem para Barbacena!”. Podíamos também ser levados de carro ou
ônibus. Só não voltaríamos...
Sabíamos
nessa suposta orientação corretiva que se encontrava também um vaticínio, uma
prescrição, um diagnóstico e uma possível segregação: teríamos o mesmo fim dos
Loucos. Era para Barbacena, não muito distante de minha Cambuquira, nas
encostas da Serra da Mantiqueira, que existia esse hospital e onde se “prendiam”
os que transgrediam, os que andavam sem rumo nas ruas, os sem-família, os
com-família, os que infringiam leis ou normas nas cidades ao seu redor.
Para
a Colônia iam de trem, levados para uma internação sem volta. Lá foram
depositados 60 mil corpos, sessenta mil ‘vidas nuas’. Estes internados ad
infinitum, assim como os outros dos Manicômios judiciários. Remessas enviadas
pelas ferrovias, ônibus e até caminhões de corpos desviantes e desfiliados.
Explico
para os que ainda não sabem que este conceito de Vida Nua vem do filósofo
italiano Giorgio Agamben. Essas vidas matáveis são as que, na sua leitura da
biopolítica foucaultiana, com uma metodologia arqueológica e paradigmática,
estão sempre ligadas ao nosso passado histórico de segregação jurídica. “Vida
nua" refere-se à experiência de desproteção e ao estado de ilegalidade de
quem é acuado em um terreno vago, um limbo, submetido a viver em Estado de
Exceção.
O
teórico italiano nos traz de volta Roma e a noção do ‘homo sacer’, aquele que é
caracterizado por dois traços: a matabilidade (qualquer sujeito pode matá-lo
sem que tal ato constitua homicídio) e a insacrificabilidade (o homo sacer não
pode ser morto de maneira ritualizada, vale dizer, não pode ser sacrificado).
Fica no limiar entre o profano e o sagrado. E permanentemente exposto à
violência, pode ou precisa ser aniquilado, controlado ou submetido a uma
“exclusão-inclusiva”.
São
os que viram uma espécie de ser como um lobisomem, híbrido da animalidade e do
homem. Bichos de sete cabeças. Seres para serem caçados ou para serem
protegidos pelo Soberano. Ele diz que essa “... lupinificação do homem e humanização do lobo é possível a cada instante
no estado de exceção...”. Onde o Soberano recebe e tem “... o direito natural de fazer qualquer coisa
com qualquer um, que se apresenta então como direito de punir”. E o direito
de aprisionar, matar ou exterminar. E, em Barbacena, o direito de vender estas
vidas que, por coincidência, passavam um bom tempo nuas, ou seja no mais profundo, a pele.
A
vida nua, instituída no limiar que não é nem vida natural, nem vida social – é
algo inerente ao Ocidente, como argumenta o filósofo, desde o ‘homo sacer’
condenado à banição pelo direito romano até, por exemplo, uma colônia penal, um
manicômio como o de Barbacena, passando pelos campos de concentração nazistas.
Agamben
compreende a vida nua como zoé (fato este idêntico a todos os seres vivos, sejam homens ou qualquer
outro animal), como simples viver; a vida desprovida de qualquer qualificação
política.
Em seu livro Homo Sacer I ele nos propiciará
uma compreensão do que foi e é a ideia de vidas que não merecem viver, como os pré-cadáveres
ou os mortos-vivos desse manicômio mineiro. Como nos explica: ”... O conceito de vida sem valor (ou ‘indigna de ser vivida’) aplica-se
antes de tudo aos indivíduos que devem ser considerados ‘incuravelmente
perdidos’ em seguida a uma doença ou ferimento...”, e os próprios sujeitos
passam a um estado onde não querem nem viver nem morrer. Um exemplo disso são
os sobreviventes aos campos de extermínio na Segunda Guerra Mundial.
Dentro
da política ocidental, no que chamamos de modernidade, segundo esse autor, as
duplas categoriais, supostas oposições, não são aquelas amigos-inimigos, “mas vida nua-existência política, zóe-bíos,
exclusão-inclusão...”.
Sob
a alegação política de proteção o Estado pode produzir esses espaços
manicomiais, ou instituições totais (Gofmann), espaços para separação dos
corpos como vidas descartáveis (Bauman) sobre a alegação de uma inclusão
mantendo-os na exclusão.
Se
chamarmos nossos tempos também de idade da biopolítica, segundo o filósofo,
hodiernamente a relação entre o homo sacer e o soberano é mais sutil. Isto por
que se separam os que detêm o poder soberano daquela figura clássica, dos que podem suspender a
ordem jurídica e decretar o Estado de Exceção.
Pelo
contrário, “na idade da biopolítica este
poder [soberano] tende a emancipar-se do estado de exceção, transformando-se em
poder de decidir sobre o ponto em que a vida cessa de ser politicamente
relevante...”. Caminhamos em direção a um Estado Policialesco, retomaremos
a Era de ouro dos manicômios, das prisões ou conventos?
Aí
se encaixa a pergunta: existem vidas humanas que perderam a tal ponto a
qualidade bioética de vida, de cidadania, de existência e de bem jurídico, que
sua ‘disponibilidade’, extermínio ou continuidade, tanto para o seu portador
como para a sociedade, são destituídas de todo seu valor?
Quem
sabe as bárbaras cenas de uma instituição ‘filantrópica’, que entre 1969 e
1980, obteve lucro com os 1853 corpos de pacientes do manicômio vendidos para
17 faculdades de medicina, respondam quem são essas vidas humanas sem/com
valor?
Como
os incômodos sujeitos chamados de loucos, enclausurados no manicômio, incluíam
todos os “deficientes mentais, cretinos, débeis, homossexuais, epiléticos,
alcóolatras, prostitutas”, os ‘loucos de toda espécie’ conforme as leis, mesmo
sem comprovação de suas anormalidades mentais, foram eles os ‘escolhidos’.
Foram
os banidos para esta e outras Colônias. Não ‘valiam’ nada lá dentro, inclusive
para a psiquiatria. Mas adquiriam um
valor temporário para sua dissecção/ensino pela Medicina lá fora.
Segundo
Arbex, em Barbacena, ‘pelo menos 60 mil morreram dentro dos seus muros’. Ela
nos relata esse horror através de um professor universitário que testemunhou a
chegada de um lote de cadáveres adquirido pela Universidade Federal de Juiz de
Fora. Eram as vidas nuas, concreta e fisicamente expostas, que geraram nele um
choque. Não um eletrochoque (ECT) aplicado rotineira e indiscriminadamente nesse
hospício.
Reproduzo,
como se o tivesse vivido e com algumas lembranças de Vassouras, o diálogo quase
kafkiano a que Ivanzir Vieira foi submetido lá em Juiz de Fora: _ ”Descendo as escadas do segundo andar,
apareceu Salvador, funcionário da Faculdade de Medicina, quem o professor
conhecia. – Olá Ivanzir. Tudo bem? Porque veio trabalhar hoje? Não sabe o
diretor liberou os professores e os alunos?...”.
O
professor Ivanzir, após ter visto algumas pilhas de corpos, continua este
diálogo ao indagar: “_O que aconteceu
aqui Salvador? Que susto levei com esses corpos! Parece até a cena do Inferno
de Dante. E olha que falo com conhecimento de causa, pois folheei a Divina
Comédia e vi as gravuras – tentou brincar Ivanzir, embora estivesse se
refazendo do impacto que sentiu.”
Tenho,
nessa página 74, a confirmação do título deste texto. Na continuidade desse
diálogo responde o Salvador: “Rapaz, que
luta! Essa madrugada uma camioneta de Barbacena chegou lotada de cadáveres. O
responsável localizou o diretor da medicina e ofereceu cada corpo por 1
milhão(cerca de R$364 nos dias atuais). Se a universidade não quisesse já tinha
comprador no Rio de Janeiro. Claro que o diretor não podia perder a
oportunidade. Estávamos apenas com seis cadáveres, e o preço estava bom...”.
Aí,
quando li, senti o mesmo cheiro de muitos anos atrás (mais ou menos em 1973) do
formol. Revi a cena dantesca apresentada pelo diálogo. Os tanques cheios de
corpos, corpos que estiveram nos manicômios, muitos deles nascidos nas Minas
Gerais. E, também, revi a forma como alguns acadêmicos de medicina, como eu, os
dissecavam e novamente dissecavam. Relembrei como nós, em nossos primeiros anos,
lidávamos com estas “peças”, dissecadas por bisturis afoitos para uma boa nota
em Anatomia I e II.
Só
posso dizer que a maioria tinha a pele escurecida, mais ainda do que já fora.
Eram “peças prontas para o primeiro ano,
com a pele retirada, a musculatura exposta, membros destacados para estudos
mais especializados...” disse o Salvador. Eu o re-escutei, agora com outros
ouvidos essa frase que naturalizava o uso desses corpos sem nome, sem família,
sem nenhuma identidade com os futuros médicos. Aí os mortos-vivos ensinavam aos
que deveriam cuidar de vidas, estas sim consideradas humanas, no futuro.
Aprendi
anatomia, neuro anatomia e dissecar, denominar, decorar e responder. A
indagação é se todos nós aprendemos aquilo que colocamos no nosso convite de
formatura: um médico só se tornaria capaz do cuidado do e com o Outro quando
primeiro se tornar “humano”? Para um jovem acadêmico, eu, essa era a meta ética
maior a atingir.
Por
isso tive nesse mesmo convite uma homenagem “Ao cadáver desconhecido”, de
Robilausky (1876), que termina dizendo: “...
Seu nome, só Deus o sabe... Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a
grandeza de servir à humanidade... A humanidade por ele passou indiferente.
Este (o Anatômico) é o lugar em que a morte ufana socorrer à vida!”.
Convido-os,
então, a conhecer um pouco do que foi esse passado manicomial e produtor de
vidas nuas. Assistam o documentário ‘Em nome da razão’, de Helvecio Ratton(#),
de 1979, são só 24 minutos. Um tempo que não foi devolvido em “um pouco de ar’’ pedido por uma pessoa
dentro do hospício. Lá estavam os rotulados como “crônico social”, onde o
subtítulo do documentário diz tudo: ‘um filme sobre os porões da loucura’.
No
meio desse documentário é confirmada a frase de Mofatt: “aqui dentro não existe a dimensão temporal. O tempo é percebido apenas
em função das necessidades fisiológicas. Há uma hora para comer, uma hora para
dormir... O ócio é absoluto.” E ao fundo as mulheres desse campo de
concentração psiquiátrico cantam o Hino Nacional: ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil.
Então,
para os que já me chamaram de antipsiquiatra, sugiro que apenas me rotulem hoje
de ‘Antimanicomial’. Os rótulos são necessários para que nos transformemos em
possíveis objetos de venda, compra ou descarte. Mais ainda quando se trata dos
“desviantes’’, principalmente os desviantes institucionais. Melhor seria que
entendessem a necessidade da desinstitucionalização dos muros não visíveis, das
muralhas da China (Kafka).
Esses
espaços onde os corpos foram comercializáveis como vidas nuas, mesmo virando
museus, sejam a Juliano Moreira, o Engenho de Dentro (Rio de Janeiro, RJ), o
Juquery (Franco da Rocha, SP), ou qualquer outro manicômio, ainda perduram no
mais profundo âmago da visão que mantemos desse Outro ensandecido, enlouquecido,
despolitizado e despossuído. Em nós ainda persistem alguns manicômios e muros
mentais.
Lamentavelmente,
para mim como lembrança, inclusive incrustada em meu pulmão, a passagem pelos
hospícios não me deixou nenhum outro estigma. Consegui ir além, entretanto
ainda vejo e vi muitas reproduções destas instituições totais em novas ações da
Saúde Mental. Os equipamentos substitutivos, ao serem só institucionalizados
como neos ‘minicômios’ passam à residência não terapêutica e à resistência em
nós. A oposição eles / a gente, normais/anormais, que sejamos incluídos aí,
confirmam uma distinção entre nossos corpos sacralizados, territorializados,
legítimos e esses Outros, somente vidas nuas.
Não
se surpreendam, caso realmente assistam os documentários indicados, se fizerem
analogias com os campos de concentração e extermínio nazistas. O confinamento,
a chamada internação involuntária ou compulsória, à época de Barbacena, chamada
internação à força, é que alimentou essa ‘indústria’ de cadáveres dissecáveis.
Reeditamos essa justificativa da
compulsoriedade das internações. Elas, como lei, estão presentes na Reforma, na
Lei 10216 de 2001. Diante de novas ‘epidemias’, mesmo que as pesquisas
confirmem os alcoolismos como a maior estatística, saímos em busca dos ‘malditos’
do Crack. As suas internações involuntárias passam a ser consideradas medidas
de proteção, seja do indivíduo ou da sociedade. Como multidões indesejáveis e
visíveis precisam de uma ‘solução final’. Voltamos à higienização eugênica do
início do século XX?
As
leis que foram criadas pelo regime nazista também justificavam seus atos e a
banalização do mal. Novamente os mais estigmatizados serão o alvo principal
dessas biopolíticas. Eram os trens, a caminho de Dachau ou Birkenau, que
carregavam os corpos que foram utilizados, sob a alegação de um avanço
científico para todos. Em especial para os mais puros, os mais eugenicamente
normais, pertencentes ao modelo ideológico de sociedade racialmente limpa e
portadora de humanidade.
Para
além das câmeras de gás, das valas comuns, muitos dos loucos, ‘deficientes
mentais’, ciganos, homossexuais, judeus ou não, se tornaram os VP, e os médicos
também, depois do uso desses corpos, ora propositalmente infectados ora
torturados, eram dissecados, como descreve Agamben: “... Excepcionalmente grave e dolorosa para os pacientes foi, além
disso, a experimentação sobre a esterilização não cirúrgica, por meio de
substâncias químicas ou radiações, destinada a servir à política eugenética do
regime (nacional-socialista); numa proporção mais ocasional foram tentados
transplantes de rins, sobre inflamações celulares, etc...”.(VP –
Versuchenpersonen = cobaias humanas)
Não
se surpreendam, portanto, e vejam estas infames ações sobre os infames da
História como privilégio dos nazistas. Na Bioética podemos ensinar/aprender que
também outros corpos, transhistoricamente, foram considerados vidas nuas. Foram
e quiçá ainda sejam, cobaias humanas. Vejam a história nos EUA com a
experimentação da sífilis, por 40 anos, mesmo com o a descoberta da penicilina,
no “Estudo Tuskegee de Sífilis Não-Tratada em Homens Negros”, mais conhecido
como Caso Tuskegee, que ocorreu no Condado de Macon, Alabama, Estados Unidos,
de 1932 a 1972.
Mas
o que há de transversal nessa relação entre os campos de concentração, os
negros no Alabama e os loucos de Barbacena? Minha resposta é a biopolítica que
alicerçou o uso, a disponibilidade, o despojamento, a desgraça, o aniquilamento
da condição humana dos corpos pelos Estados de Exceção ou os que criaram as
distinções do estar dentro ou estar fora da bíos. Os mesmos que criaram e ainda
criam campos de isolamento onde tudo pode ser feito, como em Guantánamo, com
outros corpos, em nome da vigilância ou da segurança.
Fica,
então, para todos e todas as outras respostas a dar e inventar. Mas tenho ainda
uma interrogação. Após a leitura crítica
daquele Holocausto, reportado pela Daniela Arbex, como refletir e responder a
uma simples pergunta: quem serão os que, diante dos avanços da medicina e das
biotecnologias, por exemplo, poderão ser consideradas vidas dignas de serem
preservadas? E quais serão os ainda matáveis, as neo-vidas nuas?
Os outros dias de comemoração da Saúde Mental
virão. Outros modos de produção de sujeição, seleção ou discriminação serão
inventados. E eu continuarei afirmando, inclusive para as multidões, massas ou
o povo: Barbacenas, NUNCA MAIS!
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republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação para as
massas; 2024 TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)
(TEXTO PUBLICADO - em primeira mão no EN CENA - A SAÚDE MENTAL EM MOVIMENTO - Insight - acesse e difunda - https://ulbra-to.br/encena/categorias/insight )
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DOCUMENTÁRIOS
INDICADOS –
(#) EM
NOME DA RAZÃO, um filme sobre os porões da loucura – Helvecio Ratton (1979) https://www.youtube.com/watch?v=R7IFKjl23LU
A
CASA DOS MORTOS – Débora Diniz (2008) – https://www.youtube.com/watch?v=fsAyVUuDNkQ
Os
vivos esquecidos na Casa dos Mortos – Jorge Márcio Pereira de Andrade (2009) https://www.inclusive.org.br/?p=7525
Holocausto
brasileiro: 60 mil morreram em manicômio de Minas Gerais (com galeria de fotos)
https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/mg/2013-07-12/holocausto-brasileiro-60-mil-morreram-em-manicomio-de-minas-gerais.html
LEITURAS CRÍTICAS INDICADAS –
HOLOCAUSTO
BRASILEIRO, Daniela Arbex, Geração Editorial, São Paulo, 2013.
HOMO
SACER – O poder soberano e a vida nua I – Giorgio Agamben, Editora UFMG, Belo
Horizonte, MG, 2007.
LEIAM
TAMBÉM NO MEU BLOG –
O MANICÔMIO MORREU? PARA QUE O MANTEMOS VIVO EM NÓS?
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/05/o-manicomio-morreu-para-que-o-mantemos.html
O MANICÔMIO MORREU? PARA QUE O MANTEMOS VIVO EM NÓS?
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/05/o-manicomio-morreu-para-que-o-mantemos.html
SAÚDE
MENTAL: quando a Bioética se encontra com a Resiliência https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/10/saude-mental-quando-bioetica-se_11.html
ALÉM
DOS MANICÔMIOS - 18 de maio/ Dia Nacional de Luta Antimanicomial https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/05/alem-dos-manicomios-18-de-maio-dia.html
SOMOS
TRABALHADORES COM "SAÚDE"? COM DOR OU ARDOR NAS LUTAS E LABUTAS? ATÉ
QUANDO? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/05/somos-trabalhadores-com-saude-com-dor.html
OS
NOVOS MALDITOS E AS NOVAS SEGREGAÇÕES: da Lepra ao Crack https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/os-novos-malditos-e-as-novas.html
POR
UMA MEDICINA QUE ENVELHEÇA COM DIGNIDADE https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/07/por-uma-medicina-que-envelheca-com.html
LOUCURA SEMPRE! DESINSTITUCIONALIZAÇÃO NÃO É INTERNAÇÃO, MUITO MENOS COMPULSÓRIA
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/05/loucura-sempre-desinstucionalizacao-nao.html
LOUCURA SEMPRE! DESINSTITUCIONALIZAÇÃO NÃO É INTERNAÇÃO, MUITO MENOS COMPULSÓRIA
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/05/loucura-sempre-desinstucionalizacao-nao.html
Impossível esquecer fatos como esse! É triste e dolorido lembrar que já fizeram isso com seres humanos mas é preciso avivar a memória para isso jamais se repita!! Parabéns pela postagem! Ninguém está livre de para num lugar como esse, se esse lugar existir...
ResponderExcluirEm tempos de discussão sobre a Meta 4 do PNE, e pelos "argumentos" divulgados pela FENAPAEs defendendo a segregação, me lembro da passagem de Geraldo Viramundo por Barbacena. E o vejo, considerado "especial", nas APAEs seculares. Afinal, quem é o grande mentecapto?
ResponderExcluirPois é...isso tudo acontecia pra todo lado. Infelizmente não era só em Barbacena. Todos tivemos essa ameaça de ser levado pra "lá" em busca de um bom comportamento. Mas a meu ver o problema é mto mais social no sentido do preconceito q existia (ainda existe mas atualm/ mais mascarado). Mtos familiares q deixaram os seus a essa sorte morreram/morriam de remorsos mas não havia outra opção. A pessoa q tinha problema mental não era aceita na sociedade de forma nenhuma! Era uma coisa horrível, era desumano. Mas...como lidar com essa exclusão dentro de casa? Os tratamentos terríveis, todos!
ResponderExcluirRaríssimas pessoas - mais sclarecidas, q tinham um poder aquisitivo melhor - conseguiam conviver com este problema pq tinham a possibilidade de um tratamento menos agressivo com Psiquiatras q buscavam o bem estar do paciente em primeiro lugar. Psiquiatras q estavam buscando modificar esse quadro tão tenebroso e cruel. .
A Psiquiatria avançou muito, graças a Deus! Mas ainda hoje é muito triste uma internação.
Enfim...Barbacenas nunca mais! Nunca!!!
Grande abraço,
Amália
Brilhante o artigo. Tive um tio que foi internando em Barbacena por ter epilepsia. A minha família, muito pobre e numerosa não teve escolha na época. Além disso, este tio era alcoólatra. Esse tema é um tabu na família, e como eu era criança, quase não me lembro dos fatos com detalhe. Mas me recordo de ter escutado coisas horríveis que meu tio fora submetido em Barbacena. Essas "ferramentas" psiquiátricos deixaram sequelas para sempre, pois além da epilepsia, ele desenvolveu surtos e diversos outros problemas. Hoje estou com 28 anos e sou formado em geografia. Moro no Norte de Minas e nunca conheci a cidade de Barbacena. Mas carrego comigo lembranças dolorosas desse lugar que um dia serviu de inferno para meu tio Dante.
ResponderExcluirAo final deste seu belíssimo texto vamos esbarrar, juntamente com sua indagação no conceito de Mais-valia de Marx, no sentido de que nos tornamos um produto de Pós- valia.E o que somos e o que sentimos continua não importando.
ResponderExcluirQue você acha dessa matéria?
ResponderExcluirhttp://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2013/10/15/noticia_saudeplena,145962/politicamente-correto-pode-esconder-o-mundo-real-das-criancas.shtml
Precisamos nos apropiar deste discurso e caminhar na certeza de não sermos mais uma massa manipulavel que não conhce sua propria história e nem sabe o que se psssa com seus próprios filhos.Filhos muitas vezes vítimas da desigualdade social que os destroi e muitos delesvterminam como protagonistas destes filmes de Mortos-Vivos.já pagamos muito caro por tantos erros.Desintituicionalizar já!
ResponderExcluirMuito triste ver que a humanidade é capaz de fazer com seu semelhante, conheci um menino muito pobre negro ele tinha epilepsia, foi crescendo e desenvolvendo com crises de distúrbio de comportamento,na adolecência ele passou a ser internado num hospital psiquiatra em Sorocaba, aos quinze anos foi encontrado morto numa mata que tem nos fundos deste Hospital.Cada família deve buscar informações sobre os cuidados com seus doentes, jamais entregar ao estado essa função.Só o amor nós da paciência para enfrentar a doença e buscar um tratamento digno e humano, hoje muita coisa esta mudando mas tem muita criança e adulto sofrendo com negligência por da família e do poder público.
ResponderExcluirAbsurdos que deverão ficar no passado mas temos muito que conversar sobre saúde mental e o que tenho a dizer no momento de minha vivência é que a luta esqueceu do cuidador, o cuidador sem amparo está morrendo à míngua, jogaram o doente pra casa sem preparar a cama e o resultado?cuidadores morrendo em silencio, calados e culpados esperando a morte!
ResponderExcluirPensar que Barbacena ficou para trás é utopia! Ela continua nos anais da história dos horrores cometidos dentro deste manicômio. Na verdade há outros estendidos por este Brasil afora,camuflados com o nome de Clínicas Psiquiátricas, Clínicas de Repouso,mas no fundo, o tratamento, não mudou. Me responda, por favor! Qual o motivo que leva administradores dos ainda existentes a, coibir a entrada dos familiares nos alojamentos? Amigos! Não se engane! Enquanto a luta continua focada Barbacena,," Não que este holocausto deve ser esquecido" , mas se foquem também, nos que ainda estão ativados, onde pacientes estão vivendo os mesmos horrores em pleno século XXI !
ResponderExcluirPensar que Barbacena ficou para trás é utopia! Ela continua nos anais da história dos horrores cometidos dentro deste manicômio. Na verdade há outros estendidos por este Brasil afora,camuflados com o nome de Clínicas Psiquiátricas, Clínicas de Repouso,mas no fundo, o tratamento, não mudou. Me responda, por favor! Qual o motivo que leva administradores dos ainda existentes a, coibir a entrada dos familiares nos alojamentos? Amigos! Não se engane! Enquanto a luta continua focada Barbacena,," Não que este holocausto deve ser esquecido" , mas se foquem também, nos que ainda estão ativados, onde pacientes estão vivendo os mesmos horrores em pleno século XXI !
ResponderExcluirSerá que esse horror será evitado nos dias de hoje, tão sombrios.
ResponderExcluirQue terrível a ideia de ver acontecer tudo de novo. que medo. O mesmo medo da menina de 7 anos ameaçada de ser levada para o internato,lugar onde havia castigos, onde a luz se apagava as 20 horas. Tudo por que eu e minha irmã brigávamos.As ameaças duraram até os 20 anos, quando o medo foi subistituido pela vergonha.Terríveis tempos.
O Hollocauto era em barbárie-cena ou o inferno de Dante!!
ResponderExcluirO "Holocausto Brasileiro" que aconteceu em Barbacena não terminou. Segundo o próprio texto há muitas formas de sujeição, maus tratos e desumanidade. Diversos relatos, comentários junto ao texto falam do problema. Então, é preciso abrir os olhos para a triste realidade de muitas instituições de tratamento hoje, é preciso reagir e dizer: BASTA DE SOFRIMENTOS! CHEGA DE DESUMANIDADE! E "Barbacenas NUNCA MAIS!"
ResponderExcluirIncrível como esse Desgoverno fascista quer usar da Saúde Mental para instaurar a Tortura no Brasil novamente e uma forma de aniquilar jovens pensantes e é claro a venda de equipamentos e desvio de verbas...mas quem foi a Tribuna Defender "Ustra" vocês queriam o guê??? Sinto muito por quem se absteve de votar em Haddad e empurrar o Brasil para o Holocausto Brasileiro!!
ResponderExcluirMas os "Bolsonazistas" prometeram isso e aq elite se absteve ..não votando em Haddad....."para tirar o tal PT" e olha ai jogou a todos nós no no nosso inferno!!! Agora vamos ter de chamar o tal PT e os Comunistas para apagar o fogo!!!!
ResponderExcluir