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domingo, 7 de setembro de 2014

PSICANÁLISE, MACROPOLÍTICA, RELIGIÃO E O ‘’PONTO MORTO’’.

Imagem publicada - Sigmund Freud em 1938, já em Londres, após ser resgatado das garras cruéis e mortais do Nazismo, mas mostrando na face o efeito de mais de 30 cirurgias para o tratamento de seu câncer de palato e da mandíbula direita. Está de óculos redondos, de olhar firme e sereno, enfrentando todas as barreiras que lhe foram interpostas.  Está sem o tradicional charuto na boca. A barba  já está totalmente branca e o rosto emagrecido, por "sua" neoplasia. Apenas um homem, um homem visionário e persistente. Entretanto, por sua postura, não foi e nem deveria ser vilipendiado nem pela política e muito menos pela religião. Ambas não responderam ao seu desejo de outro futuro diante do mal estar na civilização da humanidade. (fotografia com a letra de Freud abaixo dela, com sua assinatura junto com a data 1938)

“Se eu governasse um povo de judeus, restabeleceria o templo de Salomão” (Napoleão, citado por Gustave Le Bon – Psicologia das Multidões, 1895).

E, a Universal, que não é a do cinema ou da tv, e cada dia mais utiliza de todos os meios e mídias, mas das salvações histriônicas, reconstruiu e se “fingiu” e mimetizou como se judaica fosse lá em São Paulo... O Napo Edir demonstrou-se ao seu ‘povo eleito’ e ungido. E foi louvado?

Após uma notícia sobre o uso da Psicanálise para fins de “evangelização” fui lançado novamente a um tema que pesquisei. Estas investigações e pesquisas foram a base de minha aprovação no Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Lá nos anos 70, mais precisamente em 1979, com a tese: Psiquiatria, Psicanálise e Religião podem coexistir?

Repito agora, nesses novos tempos pastorais, a interrogação. Apenas modifico com a inclusão da palavra POLÍTICA. E insistirei na busca de outra resposta: macro política, psicanálise e religião podem coexistir?

Segundo a matéria publicada recentemente há, para alguns oportunistas e mistificadores, uma nova utilidade dos conhecimentos descobertos e inventados por Sigmund Freud.

 Os pastores evangélicos utilizariam psicanálise para “cativar fiéis”. Digo que gostei dessa provocação, pude retomar um tema já estudado, e, mais ainda demonstrar a ambivalência que o termo “cativar” nos pode significar. Para mim não coexistimos e muito menos compartilhamos quando presos, iludidos, amarrados a quaisquer messianismos.

Torna-se cativo ou cativar fiéis pode ser também aproximado de cativeiro. Um local, que pode se o Templo de Salomão, onde mantem-se aprisionados e seduzidos milhares de pessoas. Uma massa ávida da salvação e de milagres. Um grupo humano que para O Futuro de uma Ilusão (Freud, 1927) pode estar buscando a repressão: “Parece mais provável que cada cultura deve ser construída em cima de ... coerção e renúncia às pulsões. ".

Não é por menos que alguns Pastores, como Mala&Faia, Marco Feliciano e cia, fazem uma cruzada homofóbica, tornando-se, neuroticamente, histéricos e vociferadores diante dos avanços dos direitos humanos para as diversidades sexuais no país. Como ocupam, cada dia mais, cargos de poder político torna-se necessário buscar o seu utilitarismo presente e futuro, inclusive nos discursos eleitorais recentes.

 Assim as Macropolíticas e a Religião passam a andar de braços dados. Quem sabe não estamos vendo aí “o retorno do reprimido”? Tenho a certeza científica de que, historicamente, desejamos nos nossos âmagos essa forma de controle. Entretanto também, em alguns corpos e mentes, as repudiamos, a elas estamos resiliente e ativamente combatendo.

Uma forma de controle que passa tanto pelas sutis biopolíticas assim como novos micros lugares onde os poderes serão exercitados e produzidos (Foucault). Reprimimos tanto quanto fomos reprimidos pelo Estado, como o caso brasileiro dos Anos de Chumbo, que ainda passam como verdade alguns discursos políticos de salvação da Ordem e do Progresso. Oferecem e prometem um lugar neutro e apolítico.

Este é o discurso que mais temo. Se procurarmos suas raízes histórico políticas encontraremos o “Vital Center” (Arthur Schlesinger, 1948). Um modelo de passeia entre a democracia e totalitarismo, hoje, também próximo dos fundamentalismos, que foi chamado de “meio da estrada”.

O modelo que foi abraçado por Ronald Reagan e Bill Clinton, tentando eliminar as competições entre o liberalismo e o conservadorismo, mas mantendo, para tal, uma postura “em cima do muro”, nem esquerda, nem direita. Muito pelo contrário uma forma de governabilidade que geraria e gerou um “ponto morto”. O ponto que não é de mutação, e, mesmo negando, é conservador e hipercapitalista.

Esse ponto foi também o que gerou algumas das crises econômicas que saíram do bojo do Império, nascente histórica de novas recessões, novos horrores econômicos. Horrores que justificam e justificaram a busca de posturas fascistas ou totalitárias, ou em sua máscara usada e velha com o acréscimo do termo NEO. O Neoliberalismo aí se cultiva, e, a muitos e muitas, cativa. Os “pontos mortos” são areias movediças para a História.

Há, então, que compreender e buscar respostas diante das novas estratégias de controle seja pela política, aqui como bio, das novas ondas de fundamentalismo religioso ou até mesmo pelos usos midiáticos ou evangelizadores da Psicanálise, mais uma vez anunciados.

Freud não teve a pretensão de que a psicanálise pudesse ser uma alternativa à política. Entretanto, deve se sentir ofendido pelos que usurpam sua Terra Psicanalítica com bíblias nas mãos. Ele, com certeza, se sabia e se sentia um judeu, mas não um rabino.

Apropriações ideológicas ou mistificadoras de quaisquer conhecimentos devem ser por princípio rechaçadas. O que faria Sigmund entrando ou participando de uma festa de reinauguração do Templo da Universal? Duvido que muitos achem que ele aceitaria. Eu digo que não. A sua vida e obra caminham em outra direção, buscam solver outros mistérios, outras verdades. Os novos vendilhões seriam expulsos do Templo? Ou com o Tempo?

Segundo Chemouni:”... Freud era um explorador modesto. Elaborou com tanta paixão a ‘sua’ psicanálise  que, mesmo se tivesse desejado, não teria tido tempo para entregar-se a outras tarefas”. E, vivendo em uma virada de séculos, com o recrudescimento do antissemitismo, a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Comunista e muitos “ismos” surgindo, não se tornou um ‘sionista’.

Hoje, acho eu, ele não autorizaria um massacre genocida da Palestina para que a Declaração de Balfour (1897) em seu objetivo de “encorajamento da colonização da Palestina por fazendeiros, camponeses e artesãos (judeus)”, utilizasse a guerra e a invasão como recentemente tele assistimos. Freud desconfiava da política. Nós somos treinados para desconfiar dos políticos e sua representatividade.

Ele teria, hoje, que reconhecer os desvios teóricos que a Psicanálise vem, historicamente, padecendo e/ou reproduzindo. O “Pai da Psicanálise” teria que re-conhecer as demolições de conceitos feitas por Guattari e Deleuze. Ambos seriam iconoclastas?  Quem sabe o criador, para além dos freudismos, leria com outros olhos o Anti-Édipo? Aceitaria a afirmação deleuziana “de que não devia considerar o desejo uma superestrutura subjetiva mais ou menos no eclipse”? O desejo e suas máquinas não cessam, não se limitam, podem transbordar, mas podem ser capturados pelas políticas.

Na sua Ilha Deserta, Deleuze, nos lembra, em debate com François Chatelet, Pierre Clastres, Roger Dadoun, Serge Leclaire e outros, a visão Guattari-deleuzeana de que “o desejo não para de trabalhar a história, mesmo nos seus piores períodos. As massas alemãs acabaram por desejar o nazismo...”. E, em nossos debates macro políticos atuais que desejo estamos pressentindo das nossas massas? O do ressentimento?

Ainda somos os mesmos daquelas massas, não-multidões, que foram para as ruas em Junho de 2013? Onde foi parar a nossa indignação e revolta? Guattari e Deleuze no debate citado nos dizem: “- Em certas condições as massas exprimem a sua vontade revolucionária, os seus desejos varrem todos os obstáculos, abrem horizontes inauditos, mas os últimos a se darem conta disso são as organizações e os homens que se supõem representá-las...”.

Repetirei ou não o convite à interrogação, no texto de 14 de junho de 2013: A PRAÇA É DO POVO? AS RUAS SÃO DOS AUTOMÓVEIS E ÔNIBUS? E DIREITOS HUMANOS SÃO DE QUEM? Ou vou convidá-los a uma posição mais ativa e participante, micro e macro politicamente? Vamos retornar, retroceder, ceder e optar pela chamada “Nova Política”?

Um recente manifesto do Clube Militar, que abre os braços para esta “nova política”, afirma que a candidata evangelizadora será a melhor opção para não tocarmos nas feridas abertas pelos Anos de Chumbo.

Vamos realmente reconhecer que são os corpos torturados, destruídos e lançados no Cemitério de Perus? E os responsáveis, inclusive o Governo da época, seus generais, almirantes, comandantes, seus subordinados ou seus algozes autorizados irão ser julgados, para além da Anistia? Por que estes senhores de pijamas com estrelinhas aposentadas estão com o poder de se afirmar os herdeiros da Ditadura Militar?

Acredito que eles desejam a manutenção de um Estado repressor, um Estado que possa ser tão sedutoramente “novo” que suas antigas repressões políticas sejam “esquecidas”. Volto, então, a Deleuze e Guattari que nos indagam: “Se é verdade que a revolução social é inseparável de uma revolução do desejo, enquanto a questão desloca-se: em que condições poderá a vanguarda revolucionária libertar-se da sua cumplicidade inconsciente com as estruturas repressivas e frustar as manipulações do desejo das massas pelo poder...?”

Estamos ávidos de servidão ou de salvação? E os pastores políticos serão nossos salvadores ou nossos “novos” senhores? Na vida política, seja nas macro ou micro políticas, ou nas psicanálises não deve haver espaço para neutralidades, mitificações ou mistificações.

Vamos acordar, ou seja, vamos colocar nossos corações e mentes em sintonia, e aí a Psicanálise talvez possa contribuir, mas nunca poderá substituir nossa busca de vontade política e de outras cartografias para o viver.

Para a resposta sobre a coexistência das práticas políticas, das psicanálises e das religiões, instigo a todos e todas buscarem as implicações que cada campo do viver citado propõem. Olhemos as fotografias ou imagens maquiadas com outras visões e pontos críticos. 

A de Freud, lá em cima, nos traz alguém que resistiu, com determinação, tanto ao Nazismo/Fascismo quanto ao próprio câncer do palato e de mandíbula. Sua memória fotográfica aí é a da re-existência que tanto falo e escrevo. Photoshops, há outros sendo midiatizados, seja de candidatos, candidatas, pastores ou não, mas que nos anunciam ‘novas-já velhas máquinas de Poder’ ou de “Glória”.

Concordo aí com Debray que nos diz que: “Reconhecer que existe algo mais do que a máquina na máquina destinada a transmitir é sugerir que, na arte de governar, há menos arte do que se possa presumir e mais mecanismo do que o próprio artista possa imaginar...”. Somos a Sociedade do Espetáculo, do Controle e da Hipermidiatização do viver?

Por isso, olhando para o nosso futuro sem ilusão, novamente, me/nos pergunto: - somos apenas espectadores televisivos, marionetes midiáticos, fanáticos religiosos ávidos da Salvação e da imortalidade, ou tornamos insondáveis que somos como um Inconsciente Maquínico, apenas criticamente mais e mais humanos que não abrem mão e negociam seus princípios éticos e seus direitos?

Copyright/left – sem estar no centro, muito pelo contrário jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação para e com as massas) TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025.

Matérias citadas e “visíveis” da Internet


Vital Center - Arthur Schlesinger, em "Introdução à Operação Edition" de The Vital Center https://en.wikipedia.org/wiki/Vital_Center

FREUD NÃO EXPLICA! Pastores brasileiros usam psicanálise para cativar fiéis evangélicos https://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=6&cid=209189

E para a “revelação” ou “insight” sobre o momento político-pastoral - VEJAM O VÍDEO, REFLITAM E COMPAREM COM VIDEOS DO PASSADO DOS QUE PROPUSERAM O FASCISMO COMO SOLUÇÃO: Pastora Ana Paula Valadão, "muito louca", profetiza a chegada da hora da igreja na política COMO UM EXÉRCITO? ou COM O EXÉRCITO?) https://www.geledes.org.br/pastora-ana-paula-valadao-muito-louca-profetiza-chegada-da-hora-da-igreja-na-politica/#axzz3CdwTGJik

Indicações para leitura crítica e reflexiva –

O FUTURO DE UMA ILUSÃO /TOTEM E TABU/ MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO – Sigmund Freud, Editoras Imago e Companhia das Letras, com edições diferenciadas pelas traduções e pelos tradutores.

FREUD E O SIONISMO (Terra Psicanalítica Terra Prometida) – Jacqui Chemouni, Editora Imago, Rio de Janeiro, RJ, 1992.

A ILHA DESERTA e outros textos – Gilles Deleuze, Editora Iluminuras, São Paulo, SP, 2006.

DIFERENÇA E REPETIÇÃO – Gilles Deleuze, Editora Graal, Rio de Janeiro, RJ, 1988.
O ESTADO SEDUTOR (As Revoluções Midialógicas do Poder) – RÉGIS DEBRAY, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1994.

LEIA TAMBÉM NO BLOG –

A COREIA DO FANATISMO POLÍTICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR – estamos no Século XXI? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/04/a-coreia-do-fanatismo-politico-e-o.html

FUNDAMENTALISMO, FASCISMO E INTOLERÂNCIA SÃO INCURÁVEIS? E OS GAYS? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/06/fundamentalismo-fascismo-e-intolerancia.html

Para não se esquecer do Pastor/Deputado - A ILHA DE FELIZ SEM ANO E SEU INTRUSO, E, NÓS TAMBÉM. (apenas um re-conto) 

MOVIMENTOS, MASSAS, MANIFESTOS E HISTÓRIA: POR UMA MICROPOLÍTICA AMOROSA, URGENTE. https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/06/movimentos-massas-manifestos-e-historia.html

O CORPO ULTRAJADO ONTEM SERÁ O CORPO NEGADO AMANHÃ? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/03/o-corpo-ultrajado-ontem-sera-o-corpo.html

sábado, 13 de abril de 2013

A COREIA DO FANATISMO POLÍTICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR – estamos no Século XXI?

..Resultado de imagem para marcha da familia + 1964 + tv brasil

Imagem publicada – foto em preto e branco, histórica, colhida na Internet, no link tvbrasil.ebc.com.br, sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, um movimento que reuniu milhares de brasileiros e brasileiras fervorosos; uma multidão, uma massa de brasileiros e brasileiras que carregam  faixas, bandeiras e cartazes, sendo em primeiro plano vemos uma bandeira com uma cruz cercada de estrelas, com cartaz bem no centro que diz: “QUEREMOS GOVERNO CRISTÃO”, com outro em seguida que diz: “Despertai povo de Santos” ao lado de “ Verde Amarelo sem Foice nem Martelo”; A mais emblemática é apenas uma imagem de uma águia que pousa sobre uma cruz com a palavra LIBERDADE logo acima; com manifestações populares conservadoras em todo o País, e, que em 19 de março de 1964, em São Paulo, legitimavam o que viria ser o golpe de estado de 31 de março de 1964, que mudou a nossa história democrática, e, que com apoio de políticos, deputados, padres, cristãos, evangélicos, governadores, empresários privados e, intelectuais, ‘anti-comunistas’, consolidaram os futuros 20 anos de Ditadura Militar e Anos de Chumbo no Brasil. E a História registra o depois.

O título pode parecer um pouco confuso. E o é, pois retrata os tempos de confusão politico-religiosas que estamos assistindo. A encenação do Estado Espetáculo precisa de uma Sociedade do Espetáculo. E, atualmente, os espetáculos mais midiatizados são o exagero de alguns “cultos”, porém não muito cultos.

Não há teatro sem palco ou espectadores. Não há ou haverá representantes políticos ou religiosos caso não haja ou houver seus partidários ou seus seguidores.

E, em tempos de ameaça do sujeito autônomo e mal-estar-na-civilização, proliferam os seus novos atores, as novas encenações: os messianismos, os mistificadores e os apocalípticos. E reaparecem as paranoias.

O Brasil está assistindo a um grande espetáculo provido por um Pastor. Eu, aqui na minha própria “crença” de não-crer à toa e alienadamente, me recuso a dizer o seu “sacralizado” nome.

Ao me referir sobre seu “papel e representação política” pode  não ser muito pouco, como mídia. Porém, o que já foi feito e divulgado por todo tempo de sua permanência na presidência, contestada, de uma Comissão de Direitos Humanos é muito.

O que estou tentando quando falo da Coréia dos fanatismos não apenas apontar meus mísseis de tinta digital para o culto à personalidade do comunista norte-coreano.

Há outros cultos às personalidades pseudo-páticas que estão também na primeira página dos jornais, capas de revistas e se tornam virais na Internet. E são tão contagiantes como a música que fazia milhares de pessoas dançarem de forma ‘’louca’’ e extravagante nos séculos XIV e XVIII, “espumando pela boca e até desmaiarem de cansaço”, em êxtase.

Por isso resgato na etimologia da palavra Coréia a atualidade dos fanatismos. Esta palavra, no grego, khoreia, nos remete à dança que em sua origem mítica que se associava à dança do ventre e às mulheres, que, como a dança dos “sete véus” de Salomé, enlouqueciam até os reis, e conquistavam até a cabeça decapitada de João Batista. As coreias podiam e podem enlouquecer?

 Como todos os termos polissêmicos, também podem denominar deste uma terra dividida como as Coreias, com uma Terra de Ninguém no meio, assim como doenças neuro degenerativas incuráveis, e que ainda causam estranheza e preconceitos pelos sintomas, como Huntington ou Sydenhann.

Os que sofrem destas doenças são acometidos de movimentos semelhantes às danças gregas, com movimentos involuntários, irregulares e, principalmente, repetitivos. Há também os que os associavam, nos cultos onde a dança era predominante, com as possessões demoníacas. Alguns, profeticamente, prometem curá-las, mas é preciso se alienar ou fingir que recebeu um milagre.

Hoje elas atacam muito mais a multidões. São as neo-coreias, mais de cunho histeriforme, onde os mitos e ritos político-religiosos predominam. Misturam com eficácia, como no passado: Deus e Democracia.

São massas humanas em busca de respostas para seus sofrimentos, misérias e sua própria exploração hipercapitalista. São, na sua maioria, o nosso “povo”, considerados incultos e privados de acesso ao conhecimento de sua própria escravidão.

A Coréia, ou melhor, a dança dos fanatismos políticos é o melhor termo para nos chamar a atenção para além das ogivas que são utilizadas para uma nova corrida armamentista e bélica.

O que tememos realmente? O “terror atômico”? O “horror econômico”? Ou uma nova “onda” fascistantes de escravidão e Vidas Nuas?

Há um fio invisível, porém duradouro, que une e fortalece essa nova dança contagiante de um fanatismo político a um fanatismo religioso. Uma nova “dançomania”. Os dois fanatismos se transversalizam há muitos anos...

Os fanatismos políticos, historicamente, sempre se sustentaram em cima de símbolos não-pagãos. A suástica é apenas a reapresentação de um símbolo muito mais antigo. As duas cruzes eram parte da “roda da verdade” que os monges budistas, no Tibet, incluíam em mandalas, com outra significação e simbolismo, muitos séculos antes de Hitler.

Por isso Castoriadis dizia que as religiões, no sentido arcaico do ‘religare’, nos instituía e institui como seres heterônimos. Somos indivíduos que inventam e dependem da existência de um Sagrado e da transcendência.

Para os atuais proliferadores e mistificadores da fé do outro essa necessidade humana é um prato cheio. Estamos, sob pena de exclusão ou danação, de não sermos mais os escolhidos, os ungidos, os eleitos para o Reino dos Céus. Somos hereges?

Temos, então, de nos tornar todos e todas em “crentes”. Os que não creem estão condenados ao fogo, assim como foram as mulheres, como bruxas, na Idade Média.
Retomamos essas práticas inquisitórias? Melhor então render homenagens e até oferecer cargos e privilégios políticos para quem possa nos retribuir com votos ou graças divinas. Vamos, então, render graças pelos “direitos” recebidos. Não há direitos adquiridos inerentemente por nossa condição de humanos.

Para escapar de novas práticas sutis de tortura, os fanatismos, com sua oferta sedutora, nos propõem uma redenção. Não importa se afirmamos a separação entre os Poderes. Nosso corpo e sua suposta liberdade nunca deixaram de ser do Estado.

Teríamos de afirmar como Fernando Pessoa que “a Liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo...”. 

E esse desassossegado poeta nos causará, por isso, um enorme desassossego. Afinal, no primeiro artigo de nossa Declaração não é dito que “... todos os homens nascem livres...”?

Creio que os que utilizam as técnicas de poder e controle de massas já descobriram o lado obscuro dessa afirmação do poeta. Temos ser coletivos enquanto acreditamos, mas só somos individualistas que aplicam o narcisismo das pequenas diferenças.

Por exemplo, agora, historicamente, estamos confirmando no Brasil como a religião é consubstancial a todo o corpo social. E que toda a forma de governar esse fragmentado e ameaçador corpo é, hoje, estimulada dentro de templos evangélicos.

Lá ninguém escapa de outro tipo de servidão sem crítica. E, de camarote, como meros espectadores assistimos a sua bancada revogando ou criando novas leis para todos e todas. Os seus partidos defendem o Pastor, mas muito mais ainda suas posições ideológicas, que devem ser eternamente: conservadoras, intolerantes, sexistas, homofóbicas, racistas, individualistas e segregadoras de quaisquer diferenças.

Nessas templárias construções é que Pastores como o moço feliz e vociferante afirmam que “Jesus não é para enfeitar pescoço de homossexual ou pederasta”. E, como estas condições ou diferenças podem levar às novas fogueiras, ou do Inferno ou dos novos fornos crematórios, muitos preferirão optar pela sua conversão.

Estes cenários, com palcos amplos, com luzes bem direcionadas, com microfones potentes e alto falantes que penetram na Alma são hoje também o melhor palco para uma eleição. E lá vamos nós de novo para uma Coréia coletiva de mãos erguidas em busca da salvação. “Levanta-te, ser impuro, e em mim deposita todos os seus votos”... E na minha conta bancária também.

Afinal, o que se chamou de “voto de cabresto” antigamente, é hoje transformado em um voto de protesto e santo. Entre os que só são apresentados como corruptos políticos e os que são livres desse pecado, em quem o nosso povo in-crédulo poderia e poderá votar?

Hoje é mais seguro vender a alma. Houve um tempo que se trocava por camisetas, sapatos ou dentaduras. Uma nova e eficiente máquina de sedução e captura política nasce exatamente de nos tornamos tementes, novamente. O que desejavam as massas que construíram os nazismos e os fascismos? Diriam os marqueteiros: apenas uma suposta LIBERDADE e SUPREMA FELICIDADE. E a Salvação é claro!

E não me venha dizer que Hitler era um “louco”. Não, assim com os atuais mistificadores de massa ou pastores das maltas, era apenas mais um Presidente Schreber. Era um paranoico, com uma massa ávida de encontrar um alemão que falasse de e para uma “raça pura” e “superior”.

Schreber, um alemão que foi presidente do Senado de Dresden, foi o mais clássico caso de paranoia descrito desde Freud. Em seu livro “Memórias de um Doente dos Nervos”, apresentou-se ao mundo como um homem culto e inteligente. Ficou internado por sete anos em várias clínicas psiquiátricas. Ao sair escreveu o que pode nos ajudar a entender, ainda hoje, como funciona a mente de um paranoico delirante.

Ele, como nos diz Elias Canetti em seu Massa e Poder: “...estava tão firmemente convencido da exatidão e do significado de sua religião autocriada que assim que recebeu alta (do hospital) mandou publicar seu texto...”. Schreber, como alguns hoje em dia, diante de plateias ululantes, afirmava que seu corpo humano tratava-se de um “corpo celeste”, quiçá celestial.

Ele escreve em 1903: “Um relacionamento regular de Deus com as almas humanas somente ocorre após a morte. Deus pode aproximar-se dos cadáveres sem perigo, para retirar seus nervos do corpo e para despertá-los para uma nova vida celestial”.

Porém, como os paranoicos da modernidade, ele afirmava que Deus só pode usar nervos humanos “puros”. Seria esse Deus um eugenista? Teria Schereber (1842-1911) conhecido, como leitor/seguidor, as obras de Francis Galton (1822-1911)? Para que, os seres mundanos pudessem atingir a via rumo ao Céu seus “nervos” precisavam ser revistos e purificados. Tornar-se-iam superiores.

Este magistrado saído do hospício apresentava um sistema delirante de uma pessoa perseguida por Deus. Seu discurso apontava para uma existência terrível: sem estômago, laringe, perseguições de pássaros etc. Ele se transformaria em uma mulher que engravidaria de Deus.

E, como nos discursos evangelizadores ou sedutores modernos, este precursor dizia que alguns eram melhores e mais puros que outros. No seu céu todas as pessoas esqueciam-se de que eram humanos, menos os homens eminentes como Goethe ou Bismarck. Porém nessa “democracia” celestial até os poderosos um dia esqueciam sua condição humana.

No ápice, ou melhor, na sua maior “clarividência” místico paranoica  ele, sob a influência de visões que eram “parcialmente de caráter terrificante, mas em parte, também, de grandeza indescritível” convenceu-se da iminência de uma grande catástrofe:  o fim do mundo.

Nas suas alucinações auditivas, as “vozes” lhe disseram que todos os milênios da Terra vieram para nada, e só restariam mais 212 anos para a humanidade. Porém, quando retornou à clínica do Dr. Flechsig, tornou-se crente de que esse tempo já havia passado.  Entretanto, ele seria o “único” homem se salvaria desse Apocalipse.

Acredito, ou melhor, reflito que há quem ainda creia e jure que há esta proximidade do Fim. Recentemente muitos temeram o fim do ano passado como nossa terminalidade terrestre.

As mídias tonitruantes, as mesmas que concentram suas atenções para as bravatas e os discursos do Pastor, ajudaram também a uma multiplicação de protestos em massa. Portanto, há também o outro lado dessa moeda. O único risco é de sua captura por outros fanatismos políticos discriminatórios: as microfascistações em nós.

Hoje mesmo indaguei em uma rede dita social, acerca das profecias do Pastor: O que dizer aos seus seguidores fanáticos? O que dizer aos que ainda acreditam nessa ditadura dos termos retrógrados deste Exmo. Sr. que pula e GRITA?

Os seus vídeos, que não são autobiográficos como o livro de Schreber, mas passíveis de uma análise crítica, não apenas psicanalítica, também, uma visão psicossociológica nos faz “crer” que há um movimento mais antigo e enraizado que alinha os fanáticos políticos com os religiosos.

 Assistam aos vídeos e reflitam sobre os que estão atrás do Pastor e à sua frente na grande plateia do seu “teatro” e a sua coreia histérica a falar de cantores, de Caetano a John Lennon. Gravem bem estas imagens, pois esse passado de hoje ainda estará presente no futuro, em outros novos políticos ou mistificadores religiosos.

As manifestações tiveram e têm seu papel na reivindicação dos direitos humanos como direitos a serem efetivados. Devem e podem continuar, mas não podem cair na “tentação” de ser também a única forma de revolução ou rebeldia.

Quando lidamos com o ressurgimento de movimentos paranoicos, de seus representantes, sejam políticos ou religiosos, ou as duas coisas, temos de reler e refletir o que disse Canetti.

Gostaria de nos lembrar que Schreber dizia que a ‘humanidade’ toda seria exterminada pois ousou ficar ‘contra ele’: “Nisto ele não se mostra apenas como paranoico; é a tendência mais profunda de todo ‘poderoso’ IDEAL ser o último a permanecer com vida. O poderoso envia os demais à morte para que ele mesmo seja perdoado pela morte: ele a desvia de si. A morte dos demais não lhe é apenas indiferente; tudo o impele a provocá-la de maneira maciça...”.

E não devemos nos sentir convidados ou atraídos para estas novas Coreias, para além das geopolíticas mundiais e capitalísticas, que apenas estão maquiando velhos e consagrados meios de controle e biopolíticas. Portanto não basta afirma a laicidade do Estado Espetáculo. É preciso confirmar a minha livre e singular condição humana para além de todos os preconceitos.

Ao Pastor e suas hordas envio a minha 'vigilância' e gramática civil: meus direitos não são desumanos quando o Outro é a minha/nossa diferença e alteridade. Não busco a sua extinção. Só aceito seu convite à dança quando é para não repetir os mesmos passos errados que já demos no Salão de DANÇAS da Vida, que, tenham certeza, não é nome de nenhum culto ou espaço de alienação política.

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013-2014 e depois AD INFINITUM (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de “massas”- TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025) todos direitos reservados.

Indicações de matérias/fontes na INTERNET –


FREUD, Sigmund. XII. O Caso Schreber, Artigos sobre Técnica e Outros Trabalhos (1911-1913) (Volume XII) para Dowload https://pt.scribd.com/doc/68594953/FREUD-Sigmund-XII-O-Caso-Schreber-Artigos-sobre-Tecnica-e-Outros-Trabalhos-1911-1913-Volume-XII


INDICAÇÕES PARA LEITURA E REFLEXÃO CRÍTICA –

MASSA E PODER – Elias Canetti – Editora UNB, Brasília,DF, 1983.

PSICOSSOCIOLOGIA - Análise Social e Intervenção – André Levy, Andre Nicolai, Eugène Enriquez, Jean Dubost – Editora Autêntica, Belo Horizonte, MG, 2001.

O CASO SCHREBER" E OUTROS TEXTOS - Obras completas volume 10 - Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia ("O caso Schreber"), Artigos sobre técnica e outros textos(1911-1913) – Sigmund Freud, Editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 2010.

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