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domingo, 17 de maio de 2015

O MANICÔMIO MORREU? PARA QUE O MANTEMOS VIVO EM NÓS?

Imagem publicada- uma foto de uma pintura de Rugendas, o pintor alemão que viajou o Brasil de 1822 a 1825, retratando costumes e hábitos instituídos pela Escravidão, como na cena com título CASTIGOS DOMÉSTICOS, onde aparecem diferentes personagens, à direita vemos os senhores e senhoras da fazenda, com mulheres brancas sentadas, uma que cata piolhos nos seu rebento, outra traz um bebê ao colo, com um cachorro que pula em sua direção, outra em pé, ao lado de um capitão do mato branco, tendo ao centro o Senhor branco sentado em uma cadeira e com uma palmatória na mão, tendo à sua frente três escravos: um negro que é castigado, uma criança negra nua e uma mulher negra puxada por outro capitão do mato branco que tem um açoite nas mãos. No canto esquerdo estão, embaixo de uma árvore, observando e se distanciando da cena central, cinco outros escravos negros, apoiando-se em uma roda de carro de bois. A cena não é de um manicômio, mas sim de uma Casa Grande. A cena não demonstra encarceramentos ou correntes. A cena apenas traz o mesmo instrumento que foi usado de forma DISCIPLINAR tanto nas escolas como nos hospícios: a PALMATÓRIA. Estendam as suas mãos!

“Somos todos loucos. Alguns o sabem, outros o ignoram. A maioria teme a sua própria loucura e corta-lhe as asas” (Jacques Lesage de La Haye – in A Morte do Manicômio)

O manicômio, ou melhor, os manicômios morreram ou morrerão? Eis uma pergunta que deveríamos nos comprometer com ela. Uma implicação que temos de buscar. Um entregar-se de corpo e alma, principalmente a última, na resposta sobre nossas necessidades de encarceramento, isolamento e exclusão do Outro.

Já sabemos como se constroem arquitetonicamente colônias, hospícios e os hospitais para os alienados. A sua história, historiografia e gênese já nos foram demonstradas. A lógica e a finalidade de exclusão do que é e era considerado Loucura têm muitos escritos sobre elas. Ainda cabe um maior aprofundamento na pesquisa e no investigar sobre a sobrevivência dos manicômios em nossos imaginários, seja no individual como no coletivo?

Uma ponte explicativa possível, nesses tempos da Idade Mídia, é seu vínculo com o Poder e as Violências institucionalizadas. Naturalizadas como instituições se tornam e são demandas e tem suas gêneses em biopolíticas.  Como diz Eugene Enriquez, o poder surge nas e das instituições, esse ‘conjunto formador que se refira a um saber teórico legitimado e que tenha por função garantir a ordem e um determinado estado de equilíbrio social’.

O que são essas ditas, benditas ou malditas “instituições”? Para os que só as veem, quando querem enxergar, além dos olhos e das visões autorizadas, como os que não se sabem seus reprodutores, podemos dizer que são as modalidades cristalizadas das relações sociais, ou seja, o sistema de poder. Estão, por exemplo, nos alicerces das leis, das políticas, da educação e dos inconscientes.

Há dois dias, por exemplo, midiatizou-se uma das mais importantes das instituições: a família. Por ter também o seu ‘Dia’, milhares de postagens a homenageavam e ‘glorificavam’ nas redes sociais. Onde está a família no quadro de Rugendas? Quais são os que ameaçavam a sua estrutura e normalidade nessa pintura?

Eis, pois uma das formas sutis de nossas instituições sagradas e seculares. Não lhes atribuem ‘poder’ ou ‘poderes’ sobre nós? Elas se perpetuam por nós e para nós. Nosso quadro pintado pós modernamente é outro? Ou apenas dizemos que vivemos agora uma “nova” multifacetada e plural família? Nossos ritos e nossas tradições familiares permanecem intocáveis e imutáveis? Ou mudaram suas funções e papéis? A palmatória pós moderna virou o que? E que ninguém ouse questionar sua sacralidade.

 A sua desmitificação será, para muitos, tomada como uma demolição ou iconoclastia.  Porém, eis uma das formas instituídas que legitimaram a retirada, de seu meio e seio, aqueles que dela se desviaram ou divergiram. Muitos ‘loucos’ e outros desviantes ou transgressores de normas foram e ainda são motivo desse desejo de segrega-los, de encontrar uma instituição /organização que dê conta de sua desordem ou desequilíbrio.  Entretanto, dizemos, no passado, que a família, instituída como normal, era parte da doença, por isso poderia ser a cura dos seus loucos e suas anormalidades?

Como uma ‘grande família’, em datas especiais, devia e deve ser re-unida. A indagação que deve continuar principalmente no Dia Nacional de Luta Antimanicomial é sobre seus fundamentos e alicerces políticos, sociais e religiosos, já que se sucede aos outros Dias, se alinha às datas comemorativas de outras instituições. Bem perto da Abolição da Escravatura.

Hoje, por ser um momento de crise de governamentabilidades da Vida, recrudescem  as politicas do medo. E, saindo de suas Casas Grandes, muitos senhores e senhoras, aliadas das novas/velhas instituições, marcham em nome da pátria, da família e da moral. E de suas propriedades.

Surgem ou são inventadas novas formas de assujeitamento e de alienação. Agora com os novos aparatos e novos meios/recursos/alianças no campo da Saúde Mental? A hora é de conter, aplicar a palmatória ou incitar as manifestações contra os poderes constituídos e representativos na Política?

Diante das agitações ou das desordens, especialmente as políticas, reinventamos, primeiro, os muros, as portas e as grades visiveis. Quando institucionalizados e naturalizados se tornam invisíveis e ‘comuns’. Depois passamos às ‘terapêuticas’’ medidas de tratamento, desde o banho gelado. Hoje reapresentado como o esfriamento de quaisquer interações pessoais ou coletivas. É preciso que mantenhamos distância do Outro e da Diferença. Passamos, em seguida, pelas jaulas giratórias ou correntes. Hoje é natural e incentivado o aprisionamento eficaz em teias invisíveis e autorizadas dos espaços chamados redes sociais neo panópticas. Chegamos aos leitos de contenção e as celas solitárias. Hoje, os nossos Leitos de Procusto, foram aprimorados com os recursos tecnológicos, novas vigilâncias, novos modos de controle, novas drogas lícitas. Somos a um só tempo: Espetáculo, ou Ameaça e seu Controle.

Nesse novo cenário ou distopia, assim atemorizados ou momentaneamente heroicos, caso nenhuma verdadeira força instituinte consiga romper nossas repetições históricas, como, realmente, demolir tão sutis manicômios que não assim se denominam? Como então reconhecer nossas próprias Casas Verdes agora com novas maquiagens, novas fachadas e falsas cores? Desterritorializamos para reterritorializar? Como nos incluir nos espaços que dizemos serem ideais apenas para os que devem ser afastados de nosso convívio? Como desnaturalizar os nossos próprios preconceitos acerca do enlouquecimento e do que chamamos de ‘doenças’ mentais?

Quem sabe se nos remetermos às nossas próprias profundezas psíquicas, como em ‘cavernas de Platão’ ou ‘ tocas de Freud’, lá encontraremos nossos Totens psicanalíticos e nossos Tabus psiquiátricos. Encontraremos os nossos ‘demônios’ institucionais?

Diante dessas demonizações do Outro, como perigo ou anormalidade ou diferença,  poderíamos repensar o que estamos inventando para justificar nossas novas fascistações e velhas cruzadas para a caça às bruxas. Novos modos de produção de subjetividades amedrontadas, com temor transfundido, surgem a despolitização do viver, a banalização das violências e esse se distanciar das paixões e dos encontros. Afaste-se de mim ou cale-se.

 Agora é o momento de escolher o melhor bode expiatório e aceitar quaisquer retrocessos, até mesmo as diferentes ditaduras ou totalitarismos, sejam elas ou eles desde o que não sou Eu, me considerando normal e puro, até aqueles Outros que pensam ou desejam diferentemente, inclusive politica e ideologicamente.

Atualmente a moda e o mais midiatizado é expor esses microfascismos publicamente, com hiperexposição, pessoal ou grupal, como se fosse um desejo de “limpar a Sociedade” do Mal, da Corrupção e dos Governos...

Esquecendo-se da senzala ou dos periféricos, se tornaram naturalizadores e banalizadores de suas próprias violências, usam de todos os meios ou estratégias, até as mais vis ou covardes para vencer ou derrotar esses males. Distorcem suas realidades, vitimizam-se. Reinventam os mesmos muros eletrificados e cercas de arame farpado.

O Panóptico atual precisa de câmeras, conspirações, falsos delatores, policias grotescas e políticos mais que conservadores, racistas, homofóbicos e fundamentalistas. Revivemos os confinamentos ou as marginalizações. Agora as ‘camisas de força’ são para esses novos infames. Gritam nos seus nacionalismos de ocasião: - Cadeia neles! E os seus legisladores mancomunados exultam na criação de ‘leis mais duras’. E, para tantos novos prisioneiros não há contêineres suficientes. Então, menos medrosos, gritarão: - Viva o manicômio!

Os manicômios, portanto, como formas ocultas ou manipuladas de poder instituído, permanecem como recalque de nossas próprias pulsões e internalizações das Normas. Vivem e sobrevivem de nossas banalizações das mais cruentas e violentas formas de dominação. Alimentam-se de nossa paranoia e nossos histéricos modos de enfrentar, individual ou coletivamente, as crises e as mudanças sociais ou culturais. Um exemplo recente e cheio de instituídos ocorreu no Paraná. Mesmo com a agressão a direitos e a repressão, primeiro política e depois policial, de quem tem a tarefa de educar para o questionar e a cidadania, os nossos professores e professoras, as bombas e as balas de borracha, no meio dessa rixa, podem ser naturalizadas e autorizadas.

Por esses acontecimentos e essas reflexões é que interroguei e continuo me perguntando, motivado pelos 13 de Maio, data oficial da Abolição da Escravatura. Podemos, como exercício da desmitificação da historiografia, buscar no nosso passado da Princesa Isabel, que muitos institucionalizaram como Áurea, a história da construção das leis, desde o ‘ventre livre’ à suposta liberdade dos escravos, as formas de ‘reparação de prejuízos econômicos’ aos que utilizavam essa mão de obra dos negros?

 Então vamos relembrar que lá no Império, pressionado pela Inglaterra, encontramos os barões, condes e parlamentares senhores de terras e latifúndios. Estes foram os seus idealizadores biopolíticos. Estes construíram as ferrovias que abasteceram de Vidas Nuas, majoritariamente negras, as chamadas ‘colônias agrícolas’. Lá, também, está a nascente de todos os liberalismos e trabalho escravo que ainda não erradicamos.

Em texto de 15-05-1888, há uma pérola de discurso do Senador Dantas: afirmando que a abolição "não marcará para o BRASIL uma época de miséria, de sofrimentos, uma época de penúrias" como alguns parlamentares pensavam, porque, em 17 ANOS, 800.000 (OITOCENTOS MIL) ESCRAVOS tinham DESAPARECIDO DO BRASIL e, nesse período se notou "MAIOR RIQUEZA NO PAÍS, grande aumento de trabalho e com ele maior produção e, como consequência considerável AUMENTO DA RENDA PÚBLICA". DEFENDE AINDA REFORMAS LIBERAIS. (AS. V.I, pp 42 - 44) - no volume II, 1823-1888 - A ABOLIÇÃO NO PARLAMENTO - 65 anos de lutas - 2ª edição - pág. 506.

Transhistoricamente, nessa mesma linha dos trens, também podemos ligar, ou ‘linkar’, a construção de novos manicômios, visíveis e invisíveis, pois que a maioria dos ‘ocupantes’ dos hospícios era constituída dos descendentes ou dos próprios negros ex-escravos. Procurem nos arquivos da Loucura.

É no alvorecer do século XX que Juliano Moreira, que era negro, o nosso Philippe Pinel, consegue a promulgação de uma lei de reforma da assistência a alienados. Ele remodelou o Hospício Pedro II (1903) com a retirada das grades, dos coletes e das camisas de força. A passagem do instituído pela Psiquiatria a um novo modelo também traz o Manicômio Judiciário do Brasil em 1919. Afinal, tínhamos muitos negros alienados ou alienados negros?

Essa interrogação me traz à memória manicomial uma visita ao Franco da Rocha. O complexo manicomial que teve incendiado (2005) os seus arquivos e perdeu suas memórias. Há alguns anos atrás, com alguns médicos residentes, para os quais fui preceptor, lá estivemos, lá sentimos. Foi em uma grande mesa no caminho da ‘rotunda’ dos alienados, onde não pudemos entrar que pude ver um documento histórico que me comprovou como se pode naturalizar um manicômio.

Lá se encontra, a salvo, espero, o registro da primeira internação do hospício: uma mulher negra, pobre, que para lá foi mandada de trem no Século XIX, na inauguração (em 1898), e lá permanece ‘sem diagnóstico’ até os anos 30 do Século XX. Franco da Rocha, o fundador do manicômio e outro ‘Pinel brasileiro, afirmava que as mulheres negras, em contraponto às mulheres brancas, eram maioria por lá, devido a que: ‘estas se expõe não somente aos trabalhos como aos desvios de conduta e às extravagâncias de toda espécie’...”.

Em mim permanecerá a visão deste documento, assim como há a permanência ainda de muitos ‘remanescentes’ de sua institucionalização numa das maiores colônias psiquiátricas do país. Entretanto, a visita às suas grades e enfermarias, não extirpou todos os grilhões de minha própria formação, mas eu esperava que removesse ou abalasse os que estavam invisivelmente presos às mentalidades de meus jovens colegas.

Reflitam, assim os convido, como se instalam em nós os sutis modos de educação e de doutrinamento sobre a necessidade dos encarceramentos. Seriam ainda os resquícios da escravidão, das biopolíticas nascidas no Século XVIII, das higienizações do Século XX, das políticas de guerra e de dominação desse século XX e seus labirintos?

Não tenho ainda as respostas e nem sei se terei o fôlego necessário para busca-las. Incito, como o fiz lá no Juquery, aos mais jovens ou antigos que as busquem. Aos que me seguem e leem tenho tentado, inclusive nossos espaços enredados e hiper expositores das redes sociais, provocar alguma reflexão.

Entre estas está o uso da poesia. No dia 14 de maio, o dia seguinte, que não é o dia 18, Dia Nacional da Luta Antimanicomial assim como do Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, me propôs algumas perguntas em poema: - NOS NOSSOS 14 DE MAIO, O DIA SEGUINTE, O QUE NOS ACONTECE? OU ACONTECERÁ? 
Deixarei aos amigos e amigas docemente um novo poema indagação -

DES/ABO/LIÇÕES (14 DE MAIO DE 2015 ou será 1888)

Quem me concede a liberdade da escrita,
Aquela que faço no mais fluídos instantes,
e nos mais subterrâneos dos meus porões?
Quem me livra ou livrará desse ventre obscuro,
Ao tempo em que me torna branco por decreto,
Mas que ninguém ainda domina nem dominará?
Quem me dará como ressarcimento as novas terras,
Os novos espaços infecundos e as novas fronteiras,
Aquelas que não se delimitam e estão perdidas?
Quem me dirá ou dirão os Outros que pensam mandar
Que o sangue negro e antigo que me transborda
E trago com orgulho em mim e nessas letras,
Não se revoltará contra os mandantes tiranos um dia?
Quem me trará os novos alimentos invisíveis,
Os novos rizomas, as novas fugas e as novas semeaduras,
Que proliferam e não respeitam e nem respeitaram
As mais cruéis ditaduras?
Quem me aboliu ou abolirá dessa extensa,
Negada e ainda sutil escravatura?
E uma Eco desnorteada sussurra no ouvido do meu Narciso:
- ‘NINGUÉM, NENHUMA FORÇA INSTITUÍDA,
NENHUM ESTADO, NENHUMA DAS CRENÇAS OU IDEOLOGIAS,
NENHUMA FALSA LIBERTAÇÃO,
POIS AINDA TRAZEM APRISIONADAS,
ATRÁS DE SEU ESPELHO E MIRAGEM,
OUTRAS INFINITAS DES/ABO/LIÇÕES...
OUTRAS MOLECULARES REVOLUÇÕES’.

Por fim afirmo que há muitas loucuras em nós, pelo menos em mim.  Entretanto, como disse o autor, muitas ainda são ignoradas ou negadas, mas não deveríamos continuar as reprimindo e punindo com os muitos e imperceptíveis ardis, armadilhas e prisões, inclusive as de cunho subjetivo.

E que a desconstrução dos meus mini manicômios mentais ou inconscientes possam continuar sua jornada... E que todos e todas possamos nos aproximar/respeitar, sem medo do que são as psicoses, as neuroses, as esquizofrenias, as bipolaridades ou as depressões em nós..., aquelas que compunham a ‘Grande Saúde’ de Nietzsche e outros ‘loucos’ e ‘anormais’ da História.

E me respondam: - Os Manicômios ainda sobre-vivem em nós? Para que?

Copyright/left jorgemárciopereiradeandrade 2015-2016 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de difusão para e com as massas. TODOS DIREITOS RESERVADOS ...2025)

Matérias da Internet ligadas ao texto que postei no Facebook (algumas) –

SAÚDE MENTAL - EM PORTO ''VELHO'' - Aprovado o Projeto que autoriza a internação voluntária, involuntária e compulsória (e a palavra CAPS nem existe no texto e provavelmente na ''lei'' municipal) https://www.rondoniadinamica.com/arquivo/aprovado-o-projeto-que-autoriza-a-internacao-voluntaria-involuntaria-e-compulsoria-,92445.shtml

SAÚDE MENTAL - Deputado (Pastor) critica fechamento de clínicas psiquiátricas em Alagoas https://www.tribunahoje.com/noticia/141435/politica/2015/05/13/deputado-critica-fechamento-de-clinicas-psiquiatricas-em-alagoas.html

DIREITOS HUMANOS - Número de presos no RJ aumentou 32% em três anos, diz relatório
Em 2014, mais de 38 mil pessoas estavam presas, contra 29 mil em 2011.

Fontes históricas
JOHANN MORITZ RUGENDAS –


INDICAÇÕES DE LEITURA CRÍTICA –

ARQUIVOS DA LOUCURA – Juliano Moreira e a descontinuidade da história da psiquiatria – Vania Portocarrero, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, 2002.

O ESPELHO DO MUNDO. Juquery a História de um Asilo – Maria Clementina Pereira Cunha, Editora Paz e Terra, São Paulo, SP, 1986.

A MORTE DO MANICÔMIO – História da Antipsiquiatria – Jacques Lesage de La Hage, Editora da UFAM – Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, 2007.

A ABOLIÇÃO NO PARLAMENTO 1823-1888 -  65 anos de lutas -  Editora do Senado Federal, Brasília, Secretaria Especial de Editoração, 2ª edição, 2012.

LEIAM TAMBÉM NO BLOG –

RACISMO, HOMOFOBIA, LOUCURA E NEGAÇÃO DAS DIFERENÇAS: as flores de Maio.  https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/05/racismo-homofobia-loucura-e-negacao-das.html

ALÉM DOS MANICÔMIOS - 18 de maio/ Dia Nacional de Luta Antimanicomial https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/05/alem-dos-manicomios-18-de-maio-dia.html

OS MORTOS-VIVOS DO HOSPICIO QUE ENSINAVAM AOS VIVOS SOBRE A VIDA NUA... BARBACENAS NUNCA MAIS! https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/10/os-mortos-vivos-do-hospicio-que.html

LOUCURA SEMPRE! DESINSTITUCIONALIZAÇÃO NÃO É INTERNAÇÃO, MUITO MENOS COMPULSÓRIA .

SAÚDE MENTAL: quando a Bioética se encontra com a Resiliência https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/10/saude-mental-quando-bioetica-se_11.html

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

OS MORTOS-VIVOS DO HOSPICIO QUE ENSINAVAM AOS VIVOS SOBRE A VIDA NUA... BARBACENAS NUNCA MAIS!


Imagem- uma fotografia em preto e branco de uma das “enfermarias” do Hospício de Barbacena, nela vê-se enfileiradas diversas camas, toscas, que muitas vezes eram substituídas por capim, na ausência de colchões, aparecendo um homem sentado no chão, perto dele há deitado um homem, negro, seminu e emagrecido, que nos olha e interroga, podendo-se ver ao fundo, à direita, dois homens vestidos e de terno, possivelmente, dois profissionais da instituição, seriam dois médicos, dois psiquiatras? É possível que sim, pelo simples fato de estarem fisicamente vestidos, e, portanto, não poderiam ser parte do cenário de vidas nuas ali abandonadas, apesar de alguma roupa. Nesse manicômio histórico a média de mortos diária era de 16 novos corpos. E contei 16 catres de ferro... Alguns dos fotografados podem ter sido parte deste registro imagético de mortes anunciadas. Fotografia de Luiz Alfredo, da Revista O Cruzeiro, 1961, para a reportagem com o título: Hospital de Barbacena – Sucursal do Inferno)

“No hospício, como nos cárceres, o tempo está como que paralisado: se têm a sensação de um presente enorme e vazio…” (Alfredo Moffatt in Psicoterapia del Oprimido – Editorial Libreria ECRO, 1975)

Há alguns anos atrás escrevi sobre os vivos esquecidos na Casa dos Mortos. Era um texto sobre a não vida dos que são “esquecidos” nos Manicômios Judiciários do país. Afirmava e confirmava a frase acima de Moffat. Era o ano de 2009, um ano que mudou radicalmente a minha vida e o meu corpo. Torne-me titânico e com mais parafusos para perder.

 Escrevi então: “Em 19 de abril deste ano o Correio Braziliense nos informava: cerca de 4500 pessoas estão ‘abrigadas’ nos manicômios judiciários no país. Reforçava a reportagem que estes sujeitos têm três escolhas existenciais possíveis: ou o suicídio, ou a internação ad infinitum (como dizem nas ruas: ‘forever’) ou a sobrevivência em um ambiente dantesco e desumano...”. Lamentavelmente, passam os anos e algumas dessas opções ainda são o único meio de “libertação” desses sujeitos transformados em Vidas Nuas.

Estamos em um novo Outubro, um mês para colorir de rosa contra o câncer de mama. As nossas multidões vão, ainda, para as ruas. Este mês, para mim, nos meus descoloridos dias da dor contínua, também é o mês no qual se comemora o Dia Mundial da Saúde Mental. Este ano o tema principal é sobre a saúde mental em idades mais avançadas, ou seja, na velhice. Já refleti sobre o tema no último texto, transversalizei a memória, a deficiência e o envelhecimento.

Há, porém, para mim, um tema que me toca profundamente: os que foram meus primeiros “mestres” sobre a vida e a morte, os cadáveres anônimos de loucos oriundos dos Manicômios. Aqueles que sobre mesas frias de aço serviram de aprendizagem de Anatomia Humana de várias faculdades de medicina nos anos 70.

Confirmei através da leitura de Daniela Arbex, com seu pungente Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil, que muitos outros médicos também vivenciaram essa experiência do contato com os cadáveres vendidos pelo Hospício de Barbacena, um nome aterrorizador que ouvia desde pequeno lá em Minas Gerais.

Ouvi muitas vezes, quiçá muitos que lerem este texto também ouviram, as ameaças que se faziam, em busca de obediência e não discordância, as falas dos “mais velhos” aos meninos e meninas. A ameaça simples e direta era: “... se você continuar assim.. se não fizer o que estou mandando... se continuar tão levado(a)...se ousar transgredir – Você vai de trem para Barbacena!”. Podíamos também ser levados de carro ou ônibus. Só não voltaríamos...

Sabíamos nessa suposta orientação corretiva que se encontrava também um vaticínio, uma prescrição, um diagnóstico e uma possível segregação: teríamos o mesmo fim dos Loucos. Era para Barbacena, não muito distante de minha Cambuquira, nas encostas da Serra da Mantiqueira, que existia esse hospital e onde se “prendiam” os que transgrediam, os que andavam sem rumo nas ruas, os sem-família, os com-família, os que infringiam leis ou normas nas cidades ao seu redor.

Para a Colônia iam de trem, levados para uma internação sem volta. Lá foram depositados 60 mil corpos, sessenta mil ‘vidas nuas’. Estes internados ad infinitum, assim como os outros dos Manicômios judiciários. Remessas enviadas pelas ferrovias, ônibus e até caminhões de corpos desviantes e desfiliados.

Explico para os que ainda não sabem que este conceito de Vida Nua vem do filósofo italiano Giorgio Agamben. Essas vidas matáveis são as que, na sua leitura da biopolítica foucaultiana, com uma metodologia arqueológica e paradigmática, estão sempre ligadas ao nosso passado histórico de segregação jurídica. “Vida nua" refere-se à experiência de desproteção e ao estado de ilegalidade de quem é acuado em um terreno vago, um limbo, submetido a viver em Estado de Exceção.

O teórico italiano nos traz de volta Roma e a noção do ‘homo sacer’, aquele que é caracterizado por dois traços: a matabilidade (qualquer sujeito pode matá-lo sem que tal ato constitua homicídio) e a insacrificabilidade (o homo sacer não pode ser morto de maneira ritualizada, vale dizer, não pode ser sacrificado). Fica no limiar entre o profano e o sagrado. E permanentemente exposto à violência, pode ou precisa ser aniquilado, controlado ou submetido a uma “exclusão-inclusiva”.

São os que viram uma espécie de ser como um lobisomem, híbrido da animalidade e do homem. Bichos de sete cabeças. Seres para serem caçados ou para serem protegidos pelo Soberano. Ele diz que essa “... lupinificação do homem e humanização do lobo é possível a cada instante no estado de exceção...”. Onde o Soberano recebe e tem “... o direito natural de fazer qualquer coisa com qualquer um, que se apresenta então como direito de punir”. E o direito de aprisionar, matar ou exterminar. E, em Barbacena, o direito de vender estas vidas que, por coincidência, passavam um bom tempo nuas, ou  seja no mais profundo, a pele.

A vida nua, instituída no limiar que não é nem vida natural, nem vida social – é algo inerente ao Ocidente, como argumenta o filósofo, desde o ‘homo sacer’ condenado à banição pelo direito romano até, por exemplo, uma colônia penal, um manicômio como o de Barbacena, passando pelos campos de concentração nazistas.

Agamben compreende a vida nua como zoé (fato este idêntico a todos os seres vivos, sejam homens ou qualquer outro animal), como simples viver; a vida desprovida de qualquer qualificação política.

 Em seu livro Homo Sacer I ele nos propiciará uma compreensão do que foi e é a ideia de vidas que não merecem viver, como os pré-cadáveres ou os mortos-vivos desse manicômio mineiro.  Como nos explica: ”... O conceito de vida sem valor (ou ‘indigna de ser vivida’) aplica-se antes de tudo aos indivíduos que devem ser considerados ‘incuravelmente perdidos’ em seguida a uma doença ou ferimento...”, e os próprios sujeitos passam a um estado onde não querem nem viver nem morrer. Um exemplo disso são os sobreviventes aos campos de extermínio na Segunda Guerra Mundial.

Dentro da política ocidental, no que chamamos de modernidade, segundo esse autor, as duplas categoriais, supostas oposições, não são aquelas amigos-inimigos, “mas vida nua-existência política, zóe-bíos, exclusão-inclusão...”.

Sob a alegação política de proteção o Estado pode produzir esses espaços manicomiais, ou instituições totais (Gofmann), espaços para separação dos corpos como vidas descartáveis (Bauman) sobre a alegação de uma inclusão mantendo-os na exclusão.

Se chamarmos nossos tempos também de idade da biopolítica, segundo o filósofo, hodiernamente a relação entre o homo sacer e o soberano é mais sutil. Isto por que  se separam os que detêm o poder soberano daquela figura clássica, dos que podem suspender a ordem jurídica e decretar o Estado de Exceção.

Pelo contrário, “na idade da biopolítica este poder [soberano] tende a emancipar-se do estado de exceção, transformando-se em poder de decidir sobre o ponto em que a vida cessa de ser politicamente relevante...”. Caminhamos em direção a um Estado Policialesco, retomaremos a Era de ouro dos manicômios, das prisões ou conventos?

Aí se encaixa a pergunta: existem vidas humanas que perderam a tal ponto a qualidade bioética de vida, de cidadania, de existência e de bem jurídico, que sua ‘disponibilidade’, extermínio ou continuidade, tanto para o seu portador como para a sociedade, são destituídas de todo seu valor?

Quem sabe as bárbaras cenas de uma instituição ‘filantrópica’, que entre 1969 e 1980, obteve lucro com os 1853 corpos de pacientes do manicômio vendidos para 17 faculdades de medicina, respondam quem são essas vidas humanas sem/com valor?

Como os incômodos sujeitos chamados de loucos, enclausurados no manicômio, incluíam todos os “deficientes mentais, cretinos, débeis, homossexuais, epiléticos, alcóolatras, prostitutas”, os ‘loucos de toda espécie’ conforme as leis, mesmo sem comprovação de suas anormalidades mentais, foram eles os ‘escolhidos’. 

Foram os banidos para esta e outras Colônias. Não ‘valiam’ nada lá dentro, inclusive para a psiquiatria.  Mas adquiriam um valor temporário para sua dissecção/ensino pela Medicina lá fora.

Segundo Arbex, em Barbacena, ‘pelo menos 60 mil morreram dentro dos seus muros’. Ela nos relata esse horror através de um professor universitário que testemunhou a chegada de um lote de cadáveres adquirido pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Eram as vidas nuas, concreta e fisicamente expostas, que geraram nele um choque. Não um eletrochoque (ECT) aplicado rotineira e indiscriminadamente nesse hospício.

Reproduzo, como se o tivesse vivido e com algumas lembranças de Vassouras, o diálogo quase kafkiano a que Ivanzir Vieira foi submetido lá em Juiz de Fora: _ ”Descendo as escadas do segundo andar, apareceu Salvador, funcionário da Faculdade de Medicina, quem o professor conhecia. – Olá Ivanzir. Tudo bem? Porque veio trabalhar hoje? Não sabe o diretor liberou os professores e os alunos?...”.

O professor Ivanzir, após ter visto algumas pilhas de corpos, continua este diálogo ao indagar: “_O que aconteceu aqui Salvador? Que susto levei com esses corpos! Parece até a cena do Inferno de Dante. E olha que falo com conhecimento de causa, pois folheei a Divina Comédia e vi as gravuras – tentou brincar Ivanzir, embora estivesse se refazendo do impacto  que sentiu.”

Tenho, nessa página 74, a confirmação do título deste texto. Na continuidade desse diálogo responde o Salvador: “Rapaz, que luta! Essa madrugada uma camioneta de Barbacena chegou lotada de cadáveres. O responsável localizou o diretor da medicina e ofereceu cada corpo por 1 milhão(cerca de R$364 nos dias atuais). Se a universidade não quisesse já tinha comprador no Rio de Janeiro. Claro que o diretor não podia perder a oportunidade. Estávamos apenas com seis cadáveres, e o preço estava bom...”.

Aí, quando li, senti o mesmo cheiro de muitos anos atrás (mais ou menos em 1973) do formol. Revi a cena dantesca apresentada pelo diálogo. Os tanques cheios de corpos, corpos que estiveram nos manicômios, muitos deles nascidos nas Minas Gerais. E, também, revi a forma como alguns acadêmicos de medicina, como eu, os dissecavam e novamente dissecavam. Relembrei como nós, em nossos primeiros anos, lidávamos com estas “peças”, dissecadas por bisturis afoitos para uma boa nota em Anatomia I e II.

Só posso dizer que a maioria tinha a pele escurecida, mais ainda do que já fora. Eram “peças prontas para o primeiro ano, com a pele retirada, a musculatura exposta, membros destacados para estudos mais especializados...” disse o Salvador. Eu o re-escutei, agora com outros ouvidos essa frase que naturalizava o uso desses corpos sem nome, sem família, sem nenhuma identidade com os futuros médicos. Aí os mortos-vivos ensinavam aos que deveriam cuidar de vidas, estas sim consideradas humanas, no futuro.

Aprendi anatomia, neuro anatomia e dissecar, denominar, decorar e responder. A indagação é se todos nós aprendemos aquilo que colocamos no nosso convite de formatura: um médico só se tornaria capaz do cuidado do e com o Outro quando primeiro se tornar “humano”? Para um jovem acadêmico, eu, essa era a meta ética maior a atingir.

Por isso tive nesse mesmo convite uma homenagem “Ao cadáver desconhecido”, de Robilausky (1876), que termina dizendo: “... Seu nome, só Deus o sabe... Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade... A humanidade por ele passou indiferente. Este (o Anatômico) é o lugar em que a morte ufana socorrer à vida!”.

Convido-os, então, a conhecer um pouco do que foi esse passado manicomial e produtor de vidas nuas. Assistam o documentário ‘Em nome da razão’, de Helvecio Ratton(#), de 1979, são só 24 minutos. Um tempo que não foi devolvido em “um pouco de ar’’ pedido por uma pessoa dentro do hospício. Lá estavam os rotulados como “crônico social”, onde o subtítulo do documentário diz tudo: ‘um filme sobre os porões da loucura’.

No meio desse documentário é confirmada a frase de Mofatt: “aqui dentro não existe a dimensão temporal. O tempo é percebido apenas em função das necessidades fisiológicas. Há uma hora para comer, uma hora para dormir... O ócio é absoluto.” E ao fundo as mulheres desse campo de concentração psiquiátrico cantam o Hino Nacional: ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil.

Então, para os que já me chamaram de antipsiquiatra, sugiro que apenas me rotulem hoje de ‘Antimanicomial’. Os rótulos são necessários para que nos transformemos em possíveis objetos de venda, compra ou descarte. Mais ainda quando se trata dos “desviantes’’, principalmente os desviantes institucionais. Melhor seria que entendessem a necessidade da desinstitucionalização dos muros não visíveis, das muralhas da China (Kafka).

Esses espaços onde os corpos foram comercializáveis como vidas nuas, mesmo virando museus, sejam a Juliano Moreira, o Engenho de Dentro (Rio de Janeiro, RJ), o Juquery (Franco da Rocha, SP), ou qualquer outro manicômio, ainda perduram no mais profundo âmago da visão que mantemos desse Outro ensandecido, enlouquecido, despolitizado e despossuído. Em nós ainda persistem alguns manicômios e muros mentais.

Lamentavelmente, para mim como lembrança, inclusive incrustada em meu pulmão, a passagem pelos hospícios não me deixou nenhum outro estigma. Consegui ir além, entretanto ainda vejo e vi muitas reproduções destas instituições totais em novas ações da Saúde Mental. Os equipamentos substitutivos, ao serem só institucionalizados como neos ‘minicômios’ passam à residência não terapêutica e à resistência em nós. A oposição eles / a gente, normais/anormais, que sejamos incluídos aí, confirmam uma distinção entre nossos corpos sacralizados, territorializados, legítimos e esses Outros, somente vidas nuas.

Não se surpreendam, caso realmente assistam os documentários indicados, se fizerem analogias com os campos de concentração e extermínio nazistas. O confinamento, a chamada internação involuntária ou compulsória, à época de Barbacena, chamada internação à força, é que alimentou essa ‘indústria’ de cadáveres dissecáveis.

 Reeditamos essa justificativa da compulsoriedade das internações. Elas, como lei, estão presentes na Reforma, na Lei 10216 de 2001. Diante de novas ‘epidemias’, mesmo que as pesquisas confirmem os alcoolismos como a maior estatística, saímos em busca dos ‘malditos’ do Crack. As suas internações involuntárias passam a ser consideradas medidas de proteção, seja do indivíduo ou da sociedade. Como multidões indesejáveis e visíveis precisam de uma ‘solução final’. Voltamos à higienização eugênica do início do século XX?

As leis que foram criadas pelo regime nazista também justificavam seus atos e a banalização do mal. Novamente os mais estigmatizados serão o alvo principal dessas biopolíticas. Eram os trens, a caminho de Dachau ou Birkenau, que carregavam os corpos que foram utilizados, sob a alegação de um avanço científico para todos. Em especial para os mais puros, os mais eugenicamente normais, pertencentes ao modelo ideológico de sociedade racialmente limpa e portadora de humanidade.

Para além das câmeras de gás, das valas comuns, muitos dos loucos, ‘deficientes mentais’, ciganos, homossexuais, judeus ou não, se tornaram os VP, e os médicos também, depois do uso desses corpos, ora propositalmente infectados ora torturados, eram dissecados, como descreve Agamben: “... Excepcionalmente grave e dolorosa para os pacientes foi, além disso, a experimentação sobre a esterilização não cirúrgica, por meio de substâncias químicas ou radiações, destinada a servir à política eugenética do regime (nacional-socialista); numa proporção mais ocasional foram tentados transplantes de rins, sobre inflamações celulares, etc...”.(VP – Versuchenpersonen = cobaias humanas)

Não se surpreendam, portanto, e vejam estas infames ações sobre os infames da História como privilégio dos nazistas. Na Bioética podemos ensinar/aprender que também outros corpos, transhistoricamente, foram considerados vidas nuas. Foram e quiçá ainda sejam, cobaias humanas. Vejam a história nos EUA com a experimentação da sífilis, por 40 anos, mesmo com o a descoberta da penicilina, no “Estudo Tuskegee de Sífilis Não-Tratada em Homens Negros”, mais conhecido como Caso Tuskegee, que ocorreu no Condado de Macon, Alabama, Estados Unidos, de 1932 a 1972.

Mas o que há de transversal nessa relação entre os campos de concentração, os negros no Alabama e os loucos de Barbacena? Minha resposta é a biopolítica que alicerçou o uso, a disponibilidade, o despojamento, a desgraça, o aniquilamento da condição humana dos corpos pelos Estados de Exceção ou os que criaram as distinções do estar dentro ou estar fora da bíos. Os mesmos que criaram e ainda criam campos de isolamento onde tudo pode ser feito, como em Guantánamo, com outros corpos, em nome da vigilância ou da segurança.

Fica, então, para todos e todas as outras respostas a dar e inventar. Mas tenho ainda uma interrogação.  Após a leitura crítica daquele Holocausto, reportado pela Daniela Arbex, como refletir e responder a uma simples pergunta: quem serão os que, diante dos avanços da medicina e das biotecnologias, por exemplo, poderão ser consideradas vidas dignas de serem preservadas? E quais serão os ainda matáveis, as neo-vidas nuas?

Os outros dias de comemoração da Saúde Mental virão. Outros modos de produção de sujeição, seleção ou discriminação serão inventados. E eu continuarei afirmando, inclusive para as multidões, massas ou o povo: Barbacenas, NUNCA MAIS!

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013/2014 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação para as massas; 2024 TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

(TEXTO PUBLICADO - em primeira mão no EN CENA - A SAÚDE MENTAL EM MOVIMENTO - Insight - acesse e difunda - https://ulbra-to.br/encena/categorias/insight )

DOCUMENTÁRIOS INDICADOS –

(#) EM NOME DA RAZÃO, um filme sobre os porões da loucura – Helvecio Ratton (1979) https://www.youtube.com/watch?v=R7IFKjl23LU

A CASA DOS MORTOS – Débora Diniz (2008) – https://www.youtube.com/watch?v=fsAyVUuDNkQ

Os vivos esquecidos na Casa dos Mortos – Jorge Márcio Pereira de Andrade (2009) https://www.inclusive.org.br/?p=7525

Holocausto brasileiro: 60 mil morreram em manicômio de Minas Gerais (com galeria de fotos) https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/mg/2013-07-12/holocausto-brasileiro-60-mil-morreram-em-manicomio-de-minas-gerais.html

LEITURAS CRÍTICAS INDICADAS –

HOLOCAUSTO BRASILEIRO, Daniela Arbex, Geração Editorial, São Paulo, 2013.
HOMO SACER – O poder soberano e a vida nua I – Giorgio Agamben, Editora UFMG, Belo Horizonte, MG, 2007.

LEIAM TAMBÉM NO MEU BLOG –

O MANICÔMIO MORREU? PARA QUE O MANTEMOS VIVO EM NÓS? 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/05/o-manicomio-morreu-para-que-o-mantemos.html

SAÚDE MENTAL: quando a Bioética se encontra com a Resiliência https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/10/saude-mental-quando-bioetica-se_11.html

ALÉM DOS MANICÔMIOS - 18 de maio/ Dia Nacional de Luta Antimanicomial https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/05/alem-dos-manicomios-18-de-maio-dia.html

SOMOS TRABALHADORES COM "SAÚDE"? COM DOR OU ARDOR NAS LUTAS E LABUTAS? ATÉ QUANDO? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/05/somos-trabalhadores-com-saude-com-dor.html

OS NOVOS MALDITOS E AS NOVAS SEGREGAÇÕES: da Lepra ao Crack https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/os-novos-malditos-e-as-novas.html

POR UMA MEDICINA QUE ENVELHEÇA COM DIGNIDADE https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/07/por-uma-medicina-que-envelheca-com.html

LOUCURA SEMPRE! DESINSTITUCIONALIZAÇÃO NÃO É INTERNAÇÃO, MUITO MENOS COMPULSÓRIA 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/05/loucura-sempre-desinstucionalizacao-nao.html

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SAÚDE MENTAL: quando a Bioética se encontra com a Resiliência.

Imagem publicada – a foto colorida de uma pessoa, negra, de Gana, que está acorrentada a uma árvore. É de autoria da Human Watch Rights (HWR) como denúncia da realidade de maus tratos, cárcere e privações a que são submetidas as pessoas com transtornos mentais em Gana, na África. Segundo a matéria: “A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que cerca de 3 milhões de pessoas vivem com deficiências e distúrbios mentais no país que possui apenas três hospitais públicos psiquiátricos. Em todas as unidades, a HRW encontrou corredores e quartos em péssimas condições com fezes e urinas no chão, sistemas hidráulicos quebrados e superlotação”. Uma dura realidade que não é um privilégio africano, mas que ainda persiste em muitos lugares da Terra. Uma realidade manicomial que ainda temos de ultrapassar e nunca mais retomá-la como modelo de cuidados em Saúde Mental, aqui, lá e em qualquer longitude ou latitude...

Tornou-se uma atividade mundial a lembrança com datas para os assuntos que mobilizam em direção tanto para o consumo como para as questões humanas ou humanitárias. No dia 10 de outubro, assim como recentemente outros “dias” (Alzheimer, Autismo, etc...), comemora-se, ou melhor, somos lembrados do Dia Mundial da Saúde Mental. E este como muitos outros dias já passou, e a realidade sempre volta.

Eu, aqui entre quem já estive em seu “front”, na área psicossocial, hoje me sinto muito mais próximo dos que a vivem como uma ”guerra” cotidiana. Digo isso, pois também tenho minhas comemorações nesses 10 dias de outubro. Aliás, muito menos devo comemorar do que relembrar apenas a data de minha neurocirurgia há 03 anos. E ainda tive também meus dias seguintes, meus “days after”... Ou seja, a minha “queda” dentro de um hospital público da rede do SUS..

Foi após esse Outubro, que não deixava de ser também o Outubro Rosa no combate contra o Câncer de Mama, que pude vivenciar o quanto precisamos, urgentemente, da Bioética. Essa “invenção” transdisciplinar dos anos 70 tem uma presença cada vez mais indispensável nos campos das ciências, biotecnologias e, em especial, no campo da Saúde.

Quando passei pela experiência, corporal e psíquica, da ameaça de vulneração dentro de um hospital é que comecei a repensar a resiliência e seu sentido bioético. Este termo não é muito empregado, por enquanto, nas questões de saúde, em especial na Saúde Mental. Porém posso dizer que o experimentei na própria pele... 

A “resiliência” significa, no seu sentido primordial, a capacidade de plasticidade que um material, mesmo rígido, tenha de recobrar sua forma original depois de ser submetido às pressões que o deformem. O termo e conceito foram inicialmente tomados de empréstimo pela Psicologia, em sua crítica às leituras que se fizeram sobre as crianças que sofrem traumas infantis.

A visão clássica era de que estariam condenadas a reproduzir esses traumas, e, como seres humanos vulneráveis, trariam para sua vida adulta todas as “feridas” da tenra infância. Porém o se que verificou com pesquisas é que não há esse determinismo. Nem todas as crianças, ou seres humanos, são marcados por essas situações de vulneração e trauma igualmente.

O surgimento da capacidade de resiliência, em muitos, pode demolir essa visão tanto quanto a ideia de invulnerabilidade. Nem condenados, nem vítimas e, muito menos, heróis. Somos, nos tornando resilientes, apenas seres humanos em sua infinita capacidade de superação e aprendizado. Não digo que temos resiliência, digo que a experimentamos e a desenvolvemos.

O que acontece quando temos uma doença crônica, um diagnóstico de AIDS ou câncer? O que se passa, principalmente, por nossas mentes? O que essa situação de hiperestresse provoca em nossos corpos?

O que se passa com nosso mundo psíquico, fragilizado e frágil, quando temos de aprender a conviver com outro modo de andar, conviver e se relacionar, vivenciando, por exemplo, uma deficiência pós-traumática? 

Tornamos-nos aquilo ou aqueles antes apontávamos ou identificamos como sendo diferentes de nossa suposta normalidade? Talvez essa vivência inesperada possa vir a ser a diferença. Porém, cada um em sua singularidade e subjetividade, passará por uma experiência vital única e incomparável. É quando podemos desenvolver essa capacidade de projeção menos sombria e mortal que muitos alardeiam ou se vitimizam. Pode nascer em nós a capacidade de ir além dos diagnósticos, incapacidades ou perdas de funcionalidade.

Há aí uma capacidade, que poderíamos ousar dizer universal, de aprendizado, superação e formas diferenciadas de transformação pessoal. Chamaremos essa potencialidade de resiliência ou re-existência? Podemos como muitos fazem, e se utilizam disso, nos colocarmos no papel de vítimas. As nossas novelas que ocupam, a meu ver, muito mais espaço das vidas e das redes sociais, são peritas nessa produção de subjetividade.

Nessa temporalidade da Idade Mídia e da Sociedade do Espetáculo há sempre alguém muito mais interessado no destino de uma “Carminha” do que dos muitos brasileiros e brasileiras que vivem reais condições de produzir, enfrentar ou serem derrotadas pelas adversidades inevitáveis da Vida. 

Somos estimulados uma posição vitimada e vitimizadora. Diante dos processos de perda de papel micropolítico, ou mesmo macro político, é que muitos passam a situação de hiper-vulneráveis pelo Estado. Sugiro, então, a partir de minha própria vivência, que é a busca dos antídotos revitalizadores, para além das urnas, que podem multiplicar nossas resistências e resiliências coletivas.

O campo da Saúde Mental é e sempre será propício para esta práxis e proposta psicossocial. Porém não podemos revitalizar o que for fazer crescer em nós, como cicatrizes mal tratadas, os modelos messiânicos, as buscas apocalípticas, os fundamentalismos e as micro-fascistações que nos são profundamente tentadoras por suas promessas fáceis e mistificadoras. Não há mudanças radicais de uma vida sem o aprendizado com suas perdas, mas também com seus ganhos em novos saberes ou sabedorias.

Eu, aprendi a sonhar, mas não creio nesses profetas que hoje saem das igrejas-partidos em direção às Câmaras ou outros espaços da política e dos poderes constituídos. Principalmente pela ausência real de propostas de políticas sociais realmente estruturantes. Ainda mais no campo da Saúde Mental ou a Coletiva e Pública.

Basta que pensemos nas promessas de candidatos a prefeitos, recém-propagandeadas, de resolução “total” de nossos problemas sociais, econômicos, habitacionais, educacionais e, mais localizadamente, de nossas muitas saúdes. São as falácias e os espetáculos macro políticos que se perpetuam abusando das camadas populacionais vulneráveis.

Essas chamadas de “comunidades” estão e estarão precisando de uma intervenção micropolítica que as ajude a despertar na e com a resiliência. Assim como em nós, individualmente. Porém como nos ajudar nesse processo de recuperação da dignidade e do direito à justiça social? Há sim como recuperarmos nossas diferentes saúdes, principalmente se a reconhecermos como um fundamento para todos os outros direitos humanos que temos. 

Não há com quebrar os mecanismos do que chamo de vulneração, por exemplo, das pessoas com deficiência, sem um processo ativo de seu emponderamento. Um processo histórico que quebra os velhos paradigmas reabilitadores ou biomédicos e lhes dá um lugar social e políticas públicas para além da visão sedimentada de que são apenas objeto e não sujeitos de direitos.

Essa mesma mudança de paradigmas, que conquistamos com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, apesar da conceituação e o abraço conceitual de deficiências psicossociais para quem vive transtornos mentais graves ou persistentes, ainda não ocorre, a meu ver, no campo da Saúde Mental.

Ainda temos uma visão e práxis que não reconhece a força das pressões sociais e econômicas na produção de muitos quadros psicopatológicos. Quando lemos que as pessoas estão vivenciando mais quadros depressivos e as taxas de suicídio aumentam é que deveríamos pesar, para além de refletir, o quantum da pressão social que as crises econômicas vêm produzindo, desde 1929, a Grande Depressão nos EUA.

E, então para socorrer e tratar dessas populações em crescimento “assustador” e “epidêmico” surgem apenas as constatações e as epidemiologias. São criadas as recentes bio políticas. Os orçamentos e os seus valores em milhões, a princípio, são grandiosos. Há, porém, a persistência da serialização e multiplicação dos diagnósticos e das suas curas. Serão apenas 350 milhões ou 5% da população mundial (OMS) que vivencia as diferentes depressões? E amanhã, quantos seremos?

Um psiquiatra português diante do chamado “desânimo” diante da crise econômica que castiga seu país e a Europa nos informa que: 
“...os doentes mentais crônicos também são vulneráveis a esta situação de crise". Roma Torres salienta que "o sistema de saúde é onde as pessoas acorrem muitas vezes em situações de dificuldade que nem sempre é da saúde e isso nota-se particularmente na área da psiquiatria"

Essa mesma psiquiatria que tenta a remoção dos estigmas e dos mitos tentando ensinar novos modos de ver, cuidar, institucionalizar e revisar perguntando às crianças: “o que é um maluco?”.  O que é a Loucura?

Outras notícias e outras visões nos informam que, nesse Dia Mundial da Saúde Mental, devemos sim é fortalecer as chamadas redes psicossociais de cuidados e tecnologias sociais. São os sujeitos em interação, com os mais diferentes suportes em suas territorialidades ou espaços de convívio que, emponderados, passam de vítimas vulneráveis a ativistas de seus direitos. Podem, então, participar e até fiscalizar as políticas públicas, não assistencialistas, que possam ir para além dos paradigmas biomédicos ou reabilitadores.

O exemplo do surgimento dessa resistência que fomentará a resiliência que pode vir, por exemplo, das pessoas que são consideradas objetos de intervenção social. Nessas medidas, desde os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) até os Centros de Reabilitação, os governos investem em busca do atendimento de uma demanda crescente chamada de “doentes mentais”, a maioria, como no resto do mundo ocidental, submetida ainda um modelo fisicalista, farmacológico e orgânico de seu adoecimento e sua cronificação. 

As depressões prefiro-as no plural e na pluralidade, só estão cada dia mais “diferentes”. Nessa constatação o colega ultramarino também identifica e prescreve a solução final dos nossos modelos tão difundidos de re-internação, re-hospitalização, inclusive com a judicialização da saúde mental e os processos de justificação das internações compulsórias, em especial dos drogadictos, reedição dos modelos higienistas e manicomiais. 

Há alguma perspectiva que nos dirija para as desinstuticionalizações para além das Reformas? Há, realmente, em ação uma mudança de paradigmas que nos abra um caminho para resiliência comunitária, ou melhor para uma resistência diante de tanta desumanização do cuidado em Saúde? Nossos novos minicômios em ação são mais pulverizadores e invisibilizadores do que os Juqueris, os velhos manicômios e seus muros visíveis? As correntes que se usam aqui são mais “finas e sutis” que as usadas em Gana?

Minha utopia, aliás, minhas utopias e sonhos não serão demolidos por essas duras tecnologias que se repetem e reproduzem nas palavras “compulsória e involuntária”. Há um desejo nascente do meu estudo da Bioética que aponta possibilidades, pontes para o futuro, que transformam os chamados “portadores” de deficiências ou doenças, mesmo as raras, em novos sujeitos resilientes. 

Em minha própria pele, esse que é o maior órgão do corpo humano, e também nosso egoico protetor, às vezes excessivamente narcísico, venho tentando a experimentação do árduo aprendizado de me tornar resiliente. Por isso escrevo tantas Cartas de Vida(s) à Dona Morte. Por isso amplio minha própria vulnerabilidade, questiono meus pré-conceitos, busco essa nova e renovada visão da saúde, para além de quaisquer doenças ou incapacidades. 

Com mais este texto, em nosso contexto político das privatarias, dos mensalões, das corrupções visíveis e invisíveis, faço mais um convite para o re-conhecimento do quanto a Bioética pode trazer de estímulo para a proteção e salvaguarda dos que estão em uma ponte, só que pensando, silenciados e silenciosamente, no suicídio e falsa redenção pela morte.

Entre a ponte para um futuro com mais justiça, menos exclusões, sem estímulo às desfiliações sociais e aos horrores econômicos de um hiper capitalismo parasitário, essa ponte de ondem saltam a cada 40 SEGUNDOS globais os seres em desesperança e desilusão vital, qual é a ponte que pretendemos atravessar, juntos, em direção de nossos devires?


Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de massa TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025 ...)

Indicações de Leitura: 
Bioética, Vulnerabilidade e Saúde – Christian de Paul de Barchinfontaine & Elma Lourdes Campos Pavone Zoboli (orgs.) – Editora Ideias&Letras/ Centro Universitário São Camilo – São Paulo, SP, 2007.

Desnutrição, Pobreza e Sofrimento Psíquico – Ana Lidia Sawaya et Allii (orgs) – Editora da Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, SP, 2011. El Sufrimiento Mental – El poder, la ley y los derechos – Emiliano Gallende & Alfredo Jorge Kraut, Lugar Editorial, Buenos Aires, Argentina, 2006.

Ensaios: Bioética – Sérgio Costa & Debora Diniz, Editora Letras Livres/Brasiliense, Brasília/São Paulo, 2006.

Rizomas da Reforma Psiquiátrica – A difícil reconciliação – Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Porto Alegre, RS, 2007.

Sobre a imagem utilizada – Matéria
 Notícias da Internet – Dia Mundial da Saúde Mental

Psiquiatra apela a "resposta profissional" para combater desânimo social 

Mulheres têm o dobro de chances de desenvolver depressão -

OMS pede mais ações públicas voltadas à prevenção do suicídio 

Sobre a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto 6949/2009)Disponível novo mapa de assinaturas e ratificações de Convenção da ONU sobre Direitos das Pessoas com Deficiência 

LEIA TAMBÉM NO BLOG –

SAÚDE MENTAL E DIREITOS HUMANOS COMO DESAFIO ÉTICO PARA A CIDADANIA  


OS NOSSOS CÃES desCOLORIDOS - Nossas "depressões" e o Dia Mundial da Saúde Menta

ALÉM DOS MANICÔMIOS - 18 de maio/ Dia Nacional de Luta Antimanicomial

RACISMO, HOMOFOBIA, LOUCURA E NEGAÇÃO DAS DIFERENÇAS: as flores de Maio
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/05/racismo-homofobia-loucura-e-negacao-das.html