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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A CONSCIÊNCIA INCLUSIVA E O RACISMO NA ESCOLA



Imagem Publicada - Alunos da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Guia Lopes, no Limão, na Zona Norte de São Paulo, fizeram desenhos contra a discriminação racial sobre uma pichação feita durante um fim de semana de outubro no muro da unidade. A frase "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas" foi escrita pelos pichadores acompanhada da suástica nazista. A Emei tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil 1 e 2 (pré-escola) (Foto: Filipe Araújo/Agência Estado)

Estamos em um momento histórico para o mundo e país. Muitas re-voluções estão em ação. E, na comemoração do Dia de Zumbi, o resistente negro dos Palmares, o quilombola, reinvoco a sua potência para algumas interrogações/opiniões.

Primeiramente, precisamos interrogar quantos dos que lerão este texto quem experimentou, na pele, alguma forma de discriminação, ou não? Você(s) já se viu discriminado ou tratado com diferenciais modos de atenção ou exclusão em espaços públicos? Já vivenciaram a sensação de serem os ‘’estranhos no ninho’’ por quaisquer de suas condições humanas? Ou por serem mulher, ou gay, ou gordo (a) ou uma pessoa com deficiência?

Há alguns dias comemorou-se o Dia Internacional da Tolerância. Mas muito poucas pessoas se deram conta dessa ‘’comemoração’’ da UNESCO. Por quê? Esta palavra não é parte ativa de nosso Cotidiano e das Violências? . A palavra que confirma o sofrimento e o suportar o Outro e suas diferenças...

Interrogo-me sobre sua presença e negação, se o que mais estamos assistindo e televisando são, quando falamos das atuais massas em movimento, as resistências aos regimes intolerantes, aos tiranos de aldeia ou mesmo os que se engessam nos poderes.
São as revoltas contra todas as formas de perpetuação das violações de Direitos Humanos..., principalmente dos chamados regimes autoritários ou ditatoriais, e, inclusive, o ditos democráticos e, economicamente, hegemônicos.

Em minha opinião, podemos dizer que somente a revolta e a derrubada de tiranos ou velhos ditadores não é e nem será suficiente para uma mudança radical de paradigmas e culturas sobre os diferentes racismos. Muitas vezes, no hipercapitalismo atual, tornam-se as legitimadoras de outras formas sutis de segregação ou discriminação.

Primeiramente, portanto, precisamos lembrar o que foi descrito com sendo o racismo, e os atos que o alimentam: a Discriminação Racial. Segundo o conceito estabelecido pelas Nações Unidas (Convenção da ONU/1966, Sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial):
Significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferências baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou exercício, em condições de igualdade, os direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, social ou cultural, ou em qualquer outro domínio da vida pública (Idem, Ibidem)”.

Em outubro foi difundido um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil- de forma inédita, mostrava que mais de 50% desta população é composta por homens com até 30 anos e em sua maioria migrante do Nordeste. 80% são de raça negra!

Um dia em um quilombo, há alguns séculos atrás, um homem negro desafiou por alguns anos, na Serra da Barriga, em Alagoas, a colonização opressora e seu trabalho escravizador. Quantos são os Zumbis que hoje resistem nos canaviais, nas fazendas, nos latifúndios, nas madeireiras, nos diferentes espaços rurais, e, inclusive urbanos, onde seus corpos são apenas Vidas Nuas em exploração e cativeiro?
E, por haver ainda o trabalho indigno e escravo é que diante das atuais manifestações de júbilo ou de conquista de direitos para a população negra é que afirmo: ainda estamos muito longe de uma derrocada definitiva dos racismos.

Ainda estamos no caminho, ainda estamos a passos muito lentos nessa direção. Não farei as tradicionais alegações de diferenças salariais, econômicas ou de classe social, para falar da brecha que separa os cidadãos e cidadãs negros de outras ‘’raças’’. O IBGE tem sido suficientemente competente para nos mostrar em números escandalosos este abismo que nos distancia ou segrega.

Por estarmos assim ainda tão distanciados é que proponho que nossas maiores ênfases e dedicações, nesse momento atual, no combate aos racismos se deem através da Educação Inclusiva. A mesma que recebeu recentemente, no campo das deficiências, um duro golpe legislativo para se manter a institucionalização das diferenças. Cada um no seu quadrado... Enquadrado.

No mesmo Diário Oficial de nosso Governo Federal, do dia 17/11/11, estão o Decreto 7611 e o 7612. O primeiro tratando da Educação Especial e apagando da história as conquistas do Decreto 6571 de 2008, e o segundo que deveria ser o primeiro, o Plano Nacional para as Pessoas com Deficiência.

E o VIVER SEM LIMITES torna-se a nova meta governamental até o ano de 2014, com uma verba de R$ 7,6 bilhões, nos campos da educação, da acessibilidade, da mobilidade e da saúde. Um plano que ainda mantêm alguns campos das heterogêneas e singulares formas de ser e estar com uma deficiência sob velhos paradigmas e antigas instituições. Desejamos que seja avanço, mas já foi antecedido por um retrocesso...
É no retrocesso que mantemos sob vigilância todas as formas instituintes.

É no conservadorismo que muitos resistiram aos abolicionistas. Temiam perder suas propriedades e senzalas, perdendo sua mão de obra escrava. Há os que ainda acreditam em privilégios, ou seja, leis para alguns poucos.
Mas a história nos mostrou que apenas trocamos de senhores e de capitães do mato. Ainda temos milhares em situação de trabalho escravo. Não temos mais Zumbis, perdemos nossas potências de resistência e revolta civil?

Hoje, assistindo um filme de Denzel Washington, O Grande Desafio, pude ver uma nova centelha de luz. É a história de um homem que crê na possibilidade de ‘’incluir’’ os estudantes negros em um debate com outros estudantes da Harvard. Baseou-se em uma história real, uma história que gostaria de ver milhares de vezes repetidas em nossas escolas.

Ele, como o professor Tolson, acredita no poder das palavras. Inspira-se em Gandhi e na desobediência civil. Ele, com sua determinação, escolhe três discípulos que nos mostrarão o quanto a cor da pele pode falar, quando é incluída e respeitada.
Creio que, somente, sob o estímulo de um bom professor, em um espaço de ensino aprendizagem mútua, no máximo respeito às singularidades e individualidades, como deve ser uma escola rumo à Inclusão, que podemos, juntos, acreditar em nossos direitos fundamentais e humanos de nos incluirmos entre nossos pares, sejam de que cores de pele forem.

Imaginemos uma criança negra, gorda, com síndrome de down, e pobre. Esta criança pode e deve frequentar nossas escolas regulares? Segundo novas determinações legais haverá uma possibilidade, dependendo da escola, de que sua inclusão esteja sob condicionais. Precisamos continuar tendo a sua possível diferença como transformadora e instituinte. O banco mais comum de escola, com todas as adaptações razoáveis, é o seu melhor lugar para a quebra de todos os preconceitos.

Bastaria lembrar, como a Convenção de 1966, que não podemos, sob nenhuma alegação, restringir seu direito, se nós a discriminamos por ser negra. E, para “complicar” o estereótipo, podemos dizer que essa aluna potencial poderia ser uma menina.

O gênero é e pode ser motivo de outra forma de exclusão, já que meninas negras são ainda mais segregadas. Assim, então, como nos afirmou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em relação às meninas com deficiências, em seu artigo 3º sobre os seus Princípios:
g) A igualdade entre o homem e a mulher;
h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade.

Portanto se pudermos, coletivamente, pensar em um “debate”, como os alunos do Professor Tolson, é a hora de reunirmos as forças instituintes e resilientes, que defendem direitos humanos, para que tanto os racismos, as homofobias ou quaisquer forma de preconceitos tornem-se discussão contínua e parte das diretrizes curriculares, urgentemente.

É preciso reconhecer que, para além dos bullyings, há um campo fértil para estas discriminações dentro dos muros (assim como fora) das escolas. É preciso reconhecer, assim como o fez o Projeto de Lei 256/11, que se deve incluir a educação em e para os direitos humanos já no ensino fundamental. Somente a sua apropriação por nossos filhos, e os filhos de nossos filhos, é a abertura para as necessárias e possíveis mudanças culturais e antirracistas, para além de todos os preconceitos, estigmas ou estereótipos.

Sim, poderemos ainda um dia VIVER SEM LIMITES, ou melhor, sem as limitações impostas, mas precisaremos antes da remoção de muitas barreiras, muitos ressentimentos identitários, muitos narcisismos das pequenas diferenças, muitos sectarismos, muitos exclusivismos e muitas negações do Outro e suas diferenças. Diferenças que espelham a sua afirmação contra toda forma de discriminação.

Vamos então reconhecer, diante das atuais macropolíticas, o quanto ainda temos de lutar por políticas públicas estruturais, o quanto ainda temos de, molecularmente, aprender a aprender a consciência inclusiva, que pode ser antirracista ou antihomofóbica, por exemplo, mas que só germina quando reconhecemos que ela é também o motivo de nossa vida, e, como disse Saint Exupéry, também o motivo de nossa morte...

Houve um tempo para que pudéssemos aprender que os bárbaros podem pichar nossos muros escolares. Nós não podemos é deixar de pintar, como as crianças da Emei Guia Lopes, com todas as cores, ideias e etnias, um arco-íris de direitos humanos dentro de nossas mentes e corações...

Pela Potência Zumbi, Maria Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento, Milton Santos e todas as negritudes que estão surgindo por aí...


Copyright e copyleft jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa. TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Para conhecimento e difusão na Internet
A bela resposta da Emei Guia Lopes e da comunidade à pichação racista 
https://revistaforum.com.br/spressosp/2011/11/a-bela-resposta-da-emei-guia-lopes-e-da-comunidade-a-pichacao-racista/

OIT divulga dados do trabalho escravo rural no Brasil
https://www.palmares.gov.br/?p=15391

DECRETO No- 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011
Dispõe sobre a educação especial 
https://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=12&data=18%2F11%2F2011

DECRETO 6949/2009
Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007 - https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm

COMBATE AO RACISMO Dia reforça luta contra preconceito na rede pública https://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/3288/162/dia-reforca-luta-contra-preconceito-na-rede-publica.html

Direitos humanos devem integrar diretrizes da educação, decide comissão
https://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/205450-DIREITOS-HUMANOS-DEVEM-INTEGRAR-DIRETRIZES-DA-EDUCACAO,-DECIDE-COMISSAO.html

Alunos fazem desenhos sobre pichação com frase racista em escola
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/11/alunos-fazem-desenhos-sobre-pichacao-com-frase-racista-em-escola.html

INDICAÇÕES PARA LEITURA –
Superando o Racismo na Escola – Kabengele Munanga (Org.)-httpS://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4575.pdf

Filmes indicados:
O GRANDE DESAFIO – Denzel Washington (2007) - https:www.premiereonline.com.br - Trailer
- https://cinezencultural.com.br/site/2010/03/14/o-grande-desafio/

Leia também no BLOG –
Onde Nascem e Morrem os Direitos Humanos –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/onde-nascem-e-morrem-os-direitos.html

Direitos Humanos como uma questão para a Educação Inclusiva – https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/05/imagem-publicada-uma-foto-de-tres.html

Como fazer a Cabeça com Beatriz Nascimento?
https://infoativodefnet.blogspot.com/2009/11/infoativo_19.html

Qual é a SUA RAÇA? Nada a Declarar –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/11/imagem-publicada-uma-foto-em-preto-e.html

NA NOITE GLOBAL TODOS OS SERES TORNAM-SE PARDOS https://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Frantz%20Fanon

HISTÓRIA/MANDELA - Projeto de lei promoverá Prêmio Nelson Mandela de Ensino da História da África

PROJETO INSTITUI PRÊMIO NELSON MANDELA DE ENSINO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2014/01/historiamandela-projeto-de-lei.html

domingo, 20 de novembro de 2011

A CONSCIÊNCIA INCLUSIVA E O RACISMO NA ESCOLA

Imagem Publicada - Alunos da Escola Municipal de Educação Infantil(Emei) Guia Lopes, no Limão, na Zona Norte de São Paulo, fizeram desenhos contra a discriminação racial sobre uma pichação feita durante um fim de semana de outubro no muro da unidade.
A frase "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas" foi escrita pelos pichadores acompanhada da suástica nazista. A Emei tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil 1 e 2 (pré-escola) (Foto: Filipe Araújo/Agência Estado)


Estamos em um momento histórico para o mundo e país. Muitas re-voluções estão em ação. E, na comemoração do Dia de Zumbi, o resistente negro dos Palmares, o quilombola, reinvoco a sua potência para algumas interrogações/opiniões.

Primeiramente, precisamos interrogar quantos dos que lerão este texto experimentou, na pele, alguma forma de discriminação, ou não? Você(s) já se viu discriminado ou tratado com diferenciais modos de atenção ou exclusão em espaços públicos? Já vivenciaram a sensação de serem os ‘’estranhos no ninho’’ por quaisquer de suas condições humanas? Ou por serem mulher, ou gay, ou gordo (a) ou uma pessoa com
deficiência?

Há alguns dias comemorou-se o Dia Internacional da Tolerância. Mas muito poucas pessoas se deram conta dessa ‘’comemoração’’ da UNESCO. Por quê? Esta palavra não é parte ativa de nosso Cotidiano e das Violências?. A palavra que confirma o sofrimento e o suportar o Outro e suas diferenças...

Interrogo-me sobre sua presença e negação, se o que mais estamos assistindo e tele-visando são, quando falamos das atuais massas em movimento, as resistências aos regimes intolerantes, aos tiranos de aldeia ou mesmo os que se engessam nos poderes.

São as revoltas contra todas as formas de perpetuação das violações de Direitos Humanos..., principalmente dos chamados regimes autoritários ou ditatoriais, e, inclusive, o ditos democráticos e, economicamente, hegemônicos.

Em minha opinião, podemos dizer que somente a revolta e a derrubada de tiranos ou velhos ditadores não é e nem será suficiente para uma mudança radical de paradigmas e culturas sobre os diferentes racismos. Muitas vezes, no hiper capitalismo atual, tornam-se as legitimadoras de outras formas sutis de segregação ou discriminação.

Primeiramente, portanto, precisamos lembrar o que foi descrito com sendo o racismo, e os atos que o alimentam: a Discriminação Racial. Segundo o conceito estabelecido pelas Nações Unidas (Convenção da ONU/1966, Sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial):
Significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferências baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou exercício, em condições de igualdade, osdireitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, social
ou cultural, ou em qualquer outro domínio da vida pública (Idem,Ibidem)”.


Em outubro foi difundido um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil- de forma inédita, mostrava que mais de 50%desta população é composta por homens com até 30 anos e em sua maioria migrante do Nordeste. 80% são de raça negra!

Um dia em um quilombo, há alguns séculos atrás, um homem negro desafiou por alguns anos, na Serra da Barriga, em Alagoas, a colonização opressora e seu trabalho escravizador. Quantos são os Zumbis que hoje resistem nos canaviais, nas fazendas, nos latifúndios, nas madeireiras, nos diferentes espaços rurais, e, inclusive urbanos,
onde seus corpos são apenas Vidas Nuas em exploração e cativeiro?

E, por haver ainda o trabalho indigno e escravo é que diante das atuais manifestações de júbilo ou de conquista de direitos para a população negra é que afirmo: ainda estamos muito longe de uma derrocada definitiva dos racismos.

Ainda estamos no caminho, ainda estamos a passos muito lentos nessa direção. Não farei as tradicionais alegações de diferenças salariais, econômicas ou de classe social, para falar da brecha que separa os cidadãos e cidadãs negros de outras ‘’raças’’. O IBGE tem sido suficientemente competente para nos mostrar em números escandalosos este abismo que nos distancia ou segrega.

Por estarmos assim ainda tão distanciados é que proponho que nossas maiores ênfases e dedicações, nesse momento atual, no combate aos racismos se deem através da Educação Inclusiva. A mesma que recebeu recentemente, no campo das deficiências, um duro golpe legislativo para se manter a institucionalização das diferenças. Cada um no seu quadrado... Enquadrado.

No mesmo Diário Oficial de nosso Governo Federal, do dia 17/11/11,estão o Decreto 7611 e o 7612. O primeiro tratando da Educação Especial e apagando da história as conquistas do Decreto 6571 de 2008,e o segundo que deveria ser o primeiro, o Plano Nacional para as Pessoas com Deficiência.

E o VIVER SEM LIMITES torna-se a nova meta governamental até o ano de 2014, com uma verba de R$ 7,6 bilhões, nos campos da educação, da acessibilidade, da mobilidade e da saúde. Um plano que ainda mantêm alguns campos das heterogêneas e singulares formas de ser e estar com um avanço, mas já foi antecedido por um retrocesso... 
É no retrocesso que mantemos sob vigilância todas as formas instituintes. Já que as fascistações e o racismo andam de braços dados na micro e na macro política.

É no conservadorismo que muitos resistiram aos abolicionistas. Temiam perder suas propriedades e senzalas, perdendo sua mão de obra escrava. Há os que ainda acreditam em privilégios, ou seja, leis para alguns poucos.

Mas a história nos mostrou que apenas trocamos de senhores e de capitães do mato. Ainda temos milhares em situação de trabalho escravo. Não temos mais Zumbis, perdemos nossas potências de resistência e revolta civil?

Hoje, assistindo um filme de Denzel Washington, O Grande Desafio, pude ver uma nova centelha de luz. É a história de um homem que crê na possibilidade de ‘’incluir’’ os estudantes negros em um debate com outros estudantes da Harvard. Baseou-se em uma história real, uma história que gostaria de ver milhares de vezes repetidas em nossas escolas.

Ele, como o professor Tolson, acredita no poder das palavras. Inspira-se em Gandhi e na desobediência civil. Ele, com sua determinação, escolhe três discípulos que nos mostrarão o quanto a cor da pele pode falar, quando é incluída e respeitada.

Creio que, somente, sob o estímulo de um bom professor, em um espaço de ensino aprendizagem mútua, no máximo respeito às singularidades e individualidades, como deve ser uma escola rumo à Inclusão, que podemos, juntos, acreditar em nossos direitos fundamentais e humanos de nos incluirmos entre nossos pares, sejam de que cores de pele forem.

Imaginemos uma criança negra, gorda, com síndrome de down, e pobre. Esta criança pode e deve frequentar nossas escolas regulares? Segundo novas determinações legais haverá uma possibilidade, dependendo da escola, de que sua inclusão esteja sob condicionais. Precisamos continuar tendo a sua possível diferença como transformadora e instituinte. O banco mais comum de escola, com todas as adaptações razoáveis, é o seu melhor lugar para a quebra de todos os preconceitos.

Bastaria lembrar, como a Convenção de 1966, que não podemos, sob nenhuma alegação, restringir seu direito, se nós a discriminamos por ser negra. E, para “complicar” o estereótipo, podemos dizer que essa aluna potencial poderia ser uma menina.

O gênero é e pode ser motivo de outra forma de exclusão, já que meninas negras são ainda mais segregadas. Assim, então, como nos afirmou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em relação às meninas com deficiências, em seu artigo 3º sobre os seus Princípios:
g A igualdade entre o homem e a mulher;
h)O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade.


Portanto se pudermos, coletivamente, pensar em um “debate”, como os alunos do Professor Tolson, é a hora de reunirmos as forças instituintes e resilientes, que defendem direitos humanos, para que tanto os racismos, as homofobias ou quaisquer forma de preconceitos tornem-se discussão contínua e parte das diretrizes curriculares, urgentemente.

É preciso reconhecer que, para além dos bullyings, há um campo fértil para estas discriminações dentro dos muros (assim como fora) das escolas. É preciso reconhecer, assim como o fez o Projeto de Lei256/11, que se deve incluir a educação em e para os direitos humanos já no ensino fundamental.

Somente a sua apropriação por nossos filhos, e os filhos de nossos filhos, é a abertura para as necessárias e possíveis mudanças culturais e antirracistas, para além de todos os preconceitos, estigmas ou estereótipos.

Sim, poderemos ainda um dia VIVER SEM LIMITES, ou melhor, sem as limitações impostas, mas precisaremos antes da remoção de muitas barreiras, muitos ressentimentos identitários, muitos narcisismos das pequenas diferenças, muitos sectarismos, muitos exclusivismos e muitas negações do Outro e suas diferenças. Diferenças que espelham a sua afirmação contra toda forma de discriminação.

Vamos então reconhecer, diante das atuais macropolíticas, o quanto ainda temos de lutar por políticas públicas estruturais, o quanto ainda temos de, molecularmente, aprender a aprender a consciência inclusiva, que pode ser antirracista ou anti homofóbica, por exemplo, mas que só germina quando reconhecemos que ela é também o motivo de nossa vida, e, como disse Saint Exupéry, também o motivo de nossa morte...

Houve um tempo para que pudéssemos aprender que os bárbaros podem pichar nossos muros escolares. Nós não podemos é deixar de pintar, como as crianças da Emei Guia Lopes, com todas as cores, ideias e etnias, um arco-íris de direitos humanos dentro de nossas mentes e corações...

Pela Potência Zumbi, Maria Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento, Milton Santos e todas as negritudes que estão surgindo por aí...

Copyright e copyleft jorgemarciopereiradeandrade - 2024 ad infinitum - todos os direitos reservados ao autor  (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Para conhecimento e difusão na Internet

LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. 
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm

OIT divulga dados do trabalho escravo rural no Brasil
https://www.palmares.gov.br/?p=15391

DECRETO No- 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011 Dispõe sobre a educação especial
https://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=12&data=18%2F11%2F2011

DECRETO 6949/2009 - Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm

COMBATE AO RACISMO Dia reforça luta contra preconceito na rede pública https://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/3288/162/dia-reforca-luta-contra-preconceito-na-rede-publica.html

Direitos humanos devem integrar diretrizes da educação, decide comissão
https://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/205450-DIREITOS-HUMANOS-DEVEM-INTEGRAR-DIRETRIZES-DA-EDUCACAO,-DECIDE-COMISSAO.html

Alunos fazem desenhos sobre pichação com frase racista em escola
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/11/alunos-fazem-desenhos-sobre-pichacao-com-frase-racista-em-escola.html

INDICAÇÕES PARA LEITURA –
Superando o Racismo na Escola
 Kabengele Munanga (Org.)-
https://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4575.pdf

Filmes indicados:

O GRANDE DESAFIO – Denzel Washington (2007) -
- Trailer www.premiereonline.com.br
https://cinezencultural.com.br/site/2010/03/14/o-grande-desafio/

Leia também no BLOG –

Onde Nascem e Morrem os Direitos Humanos –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/onde-nascem-e-morrem-os-direitos.html

Direitos Humanos como uma questão para a Educação Inclusiva –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/05/imagem-publicada-uma-foto-de-tres.html

Como fazer a Cabeça com Beatriz Nascimento?
https://infoativodefnet.blogspot.com/2009/11/infoativo_19.html

Qual é a SUA RAÇA? Nada a Declarar –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/11/imagem-publicada-uma-foto-em-preto-e.html

NA NOITE GLOBAL TODOS OS SERES TORNAM-SE PARDOS
https://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Frantz%20Fanon

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CRIANÇAS SÃO MORTAIS! - O Suicidado pedagógico


Imagem publicada - a foto publicada na mídia da frente da Escola Alcina Feijão. Tem um faixa estendida que traz a seguinte frase: Parabéns, Alunos, Professores e Equipe, pela classificação honrosa: 1º Lugar das escolas públicas de São Paulo no ENEM 2010. Lá, em escala"menor", a tragédia de Escola de Realengo se reproduziu... E um cartaz anuncia que AS AULAS ESTÃO SUSPENSAS... (Foto de Raphael Prado G1)


"... A criança que não fala não conhece a morte, conhece a ausência." (Ginette Raimbault, L'Enfant et la mort, 1977)

Mais um. Mais um aluno revela o quanto precisamos aprender um simples lição: as crianças são mortais. Morte, ou melhor a Dona Morte como a tenho intimamente chamado, é um episódio que afeta profundamente às crianças. E, no nosso silêncio-tabu, não deixamos de matá-las, violentá-las e, mesmo inconsciente e filicidamente, ajudá-las a cometer o suicídio. Negando-nos à aceitação de que as crianças também morrem...


Em São Caetano do Sul, uma escola que tem nome finalizado em feijão, me trouxe de volta ao tema de outros posts do blog. Primeiramente por saber de uma trágica situação de um menino que se suicida (ou é suicidado?), com o 38 de seu pai, após atirar em sua professora. Não irei indagar o que o motivou, já estão afirmando-o uma criança com deficiência física, que mancava e que sofreu bulliyng dos colegas.


A interrogação que nos deverá assolar é: andamos, coletivamente, praticando uma pedagogia da violência? Segundo matéria publicada: a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Altina Dantas Feijão, de São Caetano do Sul, região do ABC Paulista, disse nesta sexta-feira acreditar que jamais será descoberto o motivo pelo qual um aluno da escola baleou uma professora para depois se matar.

Ela o descreve como um aluno como uma criança doce, não se envolvia em bagunça - tampouco era quieto demais - e cumpria regras. "A gente via ele brincando, mas nunca em brigas, em confusão ou bagunça".

Aí me pergunto se no perfil do suicidado estará também a pergunta de seus motivos autodestrutivos tão intensos. Estaria o aluno calmo e de boas notas arquitetando há muito tempo como Wellington uma "vingança ou revanche"? Não teremos todas a certezas e nem devemos, onipotentemente, almejá-las. Podemos sim, mas uma vez, com humildade, refletir sobre a mortalidade infantil e o quanto nossas crianças são mortais?

Morrerão ainda muitas caso nossas ações em sua proteção e defesa, intransigente, não for realizada. Morrem, a granel, inclusive no chifre da África ou no Haiti ou nos confins do Brasil, pelos olhos vendados de nosso mundo, um mundo que, como já disse, prioriza os direitos econômicos nessa hora urgente de defesa dos demais Direitos Humanos. 

Nos diálogos sombrios ou metafísicos que tenho de travar com a Dona Morte, nos últimos tempos, andei refletindo sobre a Criança e a Morte. Fui buscar a releitura de Ginette Raimbault. Esta leitura foi realizada há muitos anos atrás quando trabalhei com um grupo de profissionais de saúde a terminalidade da vida. Era um trabalho no Hospital Geral de Bonsucesso, com crianças com um câncer renal inexorávelmente fatal. 

O livro nos traz uma fala das próprias crianças sobre a clínica do luto. Desnudam-se nossos temores diante da Dona Morte. As crianças, com doenças terminais, diante do silêncio dos adultos sobre o tema, não o temem. Pelo contrário mostram com clareza a capacidade que têm reconhecer sua doença, portano a nossa ''mortalidade''.

Recomendo que resgatem essa obra da psicanalista, sua leitura poderá abrir espaço para o mínimo diálogo íntimo com nossa própria transitoriedade e finitude. E, nossos recônditos lutos ou temores da perda, poderão ser melhor compreendidos...

Quanto a escola deste menino e desta ferida pedagogia caberá, para além de um suporte psicológico imediato, uma profunda e séria reflexão sobre os modos éticos e bioéticos do processo de aprendizado sobre o valor da vida e sua vulnerabilidade.

Lá, espero eu, poderá, como em Realengo, vir a ser um foco de revolução molecular sobre a educação para e sobre os Direitos Humanos. Um tema que insisto deverá fazer parte viva e ativa de todos os currículos escolares, do ensino fundamental até às pós-graduações. Nesses muitos anos de aprendizado ainda faltarão muitos outros para que o respeito à Vida e ao Outro se consolidem.

O nome do suicidado é/era Davi, como os mesmos 10 anos de minha filha Isadora. Por, ela e todos que merecem um Outro Mundo Possível é que continuarei indagando: - Diante de novos Davis, armados ou não, nós somos/seremos seus Golias, tirânicos, disciplinadores e imperialistas, a serem derrubados com uma pedrada ético-política vinda da Palestina ou da Somália? Temos de cuidar para que as escolas permaneçam o lugar da diferença, e não se tornem novos campos de disciplinamento de corpos ou Vidas Nuas.

Descanse em paz, então este Davi, lá no Cemitério das Lágrimas, pois não podemos "descansar", enquanto existirem outros a serem menos vulnerabilizados e violentados. Ainda temos de construir um outro modo, ético, político e estético, para a(s) vida(s), pequenas ou maiores, de cada criança que habita o planeta Terra.

Lembrem-se: as crianças são mortais. Mais ainda se as armamos com nossas piores desatenções. Hoje no muro da escola estava escrito: uma criança chora e os pais não vêem. Escutemos em nós as nossas próprias crianças e suas vulnerações. Uma criança que é imortal em cada um(a) de nós...


Copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 (favor citar a fonte em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Leitura indicada: A Criança e a Morte ( Crianças doentes falam da morte: problemas da clínica do luto)- Ginette Raimbault - Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, RJ, 1978

Notícias citadas:


SP: nunca saberemos motivação de aluno atirador, diz pedagoga https://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5368220-EI5030,00-SP+nunca+saberemos+motivacao+de+aluno+atirador+diz+pedagoga.html

Aluno de 10 anos atira em professora em escola de São Paulo https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/aluno-de-10-anos-atira-em-professora-em-escola-de-sao-paulo/n1597223769645.html

Namorado diz que professora baleada não se queixava de aluno
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/09/garoto-era-aluno-exemplar-diz-professora-namorado.html

LEIA TAMBÉM NO BLOG:

O SUICÍDIO E A DOR - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/09/o-suicidio-e-dor.html

TIROS REAIS EM REALENGO - A VIOLÊNCIA É UMA PÉSSIMA PEDAGOGA? - https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/04/imagem-publicada-imagem-de-bracos-e.html

AOS PAIS QUE APRENDERAM COM A(R) DOR AS PERDAS - https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/08/aos-pais-que-aprenderam-com-ar-dor-as.html

A TOLERÂNCIA É MAIS QUE UM BACALHAU NO MEU FEIJÃO COM ARROZ - https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/07/tolerancia-e-mais-que-um-bacalhau-no.html

O JUQUINHA E SUA CADEIRA - POR UMA EDUCAÇÃO DIFERENTE - https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/07/juquinha-e-sua-cadeira-por-um-educacao.html

A AMIZADE COMO ALICERCE DA INCLUSÃO ESCOLAR - Saindo das fraldas? - https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/07/amizade-como-alicerce-da-inclusao.html

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A EDUCAÇÃO DE PÉS DESCALÇOS

imagem publicada - capa de dvd do filme Nenhum a Menos. Este filme chinês, dirigido por Zhang Yimou (Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1999), a ser visto como uma alegoria de uma jovem, de 13 anos, que substitui o professor, determinada a não permitir que ''nenhuma criança fique fora de sua sala de aula'', custe o que custar, mesmo que tenha de caminhar milhares de quilômetros contra a evasão escolar, em um cenário ainda muito próximo das condições de educação rural em nosso país. Nesta capa aparece a menina chinesa, Whei Minzhi, no centro de uma imagem desfocada, como uma multidão, tendo abaixo um grupo de crianças chinesas sentadas, com presença de um menino, de 10 anos, está entre as letras de Nenhum a Menos (Not One Less). O menino a ser resgatado da cidade, para onde foi em busca de sobrevivência familiar, assim como milhares ainda o fazem ao sair do campo em busca de trabalho no Brasil, embora devessem estar é em escolas.

"É direito. É todos direitos que a humanidade tem, né? Os direito!" (fala de um morador de Capão Redondo, São Paulo)

Por um educação dos diferentes pés, calçados ou não...

Hoje, sentia muito frio nos meus pés. Nesse amanhecer de inverno para minhas dores, no cedo tão frio minha manhã ficou mais quente e calorosa. Era a notícia de que o Senado, no caminho para a disciplina de direitos humanos ser incluída nas escolas, está discutindo: "diretrizes nesse sentido estão sendo elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), conforme anunciou nesta quinta-feira (9) o representante do colegiado, Raimundo Feitosa, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH)...".

E estas diretrizes já se tornaram antigas máximas que repeti durante muitos encontros. Já, para além dos universalismos, publiquei em quase todos os textos que escrevi: a educação em e para os direitos humanos é a via regia para a construção de uma futura Sociedade que respeite as diferenças.

Quem já 'sabe' o que são os Direitos Humanos? As vozes e ecos populares, assim como Ícaros que vão em direção ao Sol, aprenderam uma máxima que é o contrário: ''Vixe, agora as crianças vão aprender desde cedo que o crime compensa, e que tem muita gente que viva à custa dele...", confirmando os ares penetrantes do passado dos Anos de Chumbo. A maioria da população brasileira que ainda usa os pés descalços, tanto física como educacionalmente, para caminhar acredita, piamente, que só há direitos humanos para ''bandidos''.

Como então construir um outro conhecimento sobre o que realmente são os Direitos Humanos? Há que providenciar uma outra forma de educação. Uma educação que tire as meias dos preconceitos, os coturnos da disciplina militarizada e do passado, retire os temores das pedras das intolerâncias arraigas, e, como Heráclito, acredite que os novos caminhos e estradas se construirão ao caminhar. Para além de todos os obstáculos e todos os percalços das novas estradas do conhecimento.

O território que experimentamos é, como já o disse Milton Santos, para além dos territórios conhecidos e mapeados, são os territórios banais. É nesse campo, em especial nos longíguos recantos brasileiros, que precisaremos de um persistente e contínuo desejo de educar para e com direitos humanos. Até nas metrópoles e nas cidades mais desenvolvidas há um incessante murmúrio velado sobre os Direitos Humanos. Um exemplo nos vem de uma experiência realizada em Capão Redondo, situado na região sul de São Paulo.

Esta experiência de enfrentar os "Desafios para a atuação de um Centro de Direitos Humanos e Educação Popular", é descrita por Petronella Maria Boonen. Ela nos mostra que em uma área de concentração de favelas, loteamentos clandestinos e moradias precárias, com população majoritária de migrantes, o trabalho de educar para direitos humanos fica ainda mais árduo. Esta é (ou foi) uma região conhecida pelos altos índices de homicídios e violências cotidianas.

Como então vencer preconceitos arraigados sobre o que são, a quem se destinam e como efetivar os Direitos Humanos? A pesquisadora Petronella em seu artigo nos avisa sobre as representações que os moradores destes espaços têm sobre direitos humanos. E, ao lê-la, sobre a possível 'razão' do que chamamos de 'população desfavorecida' ter resistências ao tema, como sendo o ''desenraizamento'' associado à exclusão social, ficaremos para refletir sobre as mudanças de conceitos e de representações que uma escola pode propiciar.

A afirmação dos Direitos Humanos, que passam pela profissão, pela moradia digna, pelo saneamento básico, pelo emprego, pela conquista de justiça social, tem uma velha origem: a palavra direito. Esta palavra, segundo Lèvy Bruhl, citado por Buono e Boonen, deriva de "droit, right, Recht, Diritto e direito, nas diversas línguas, provém de uma metáfora, em que a figura geométrica adquiriu sentido moral e, em seguida, jurídico: o direito é a linha reta, que se opõe à curva ou à oblíqua, e que se liga à noção de retidão, de franqueza e de lealdade nas relações humanas''.

A notícia, mesmo que tardia, da introdução de uma disciplina de direitos humanos nas escolas só acrescenta à geometria civilizatória uma dose necessária de gramática civil. O exercício, como deverá ser em uma proposta de inclusão escolar, da máxima: NENHUMA CRIANÇA A MENOS, é por si só um possível para a erradicação dos analfabetismos funcionais sobre direitos humanos.

Estaremos abrindo portas e janelas dos ambientes escolares para a ventilação de novas idéias de convívio, respeito e aprendizagem com a diferença. Por isso convoco a todos e todas para que ''politizemos'' a questão dos direitos humanos nas escolas. Principalmente nas escolas rurais, sertanejas ou reconditas, onde os pés ainda calçam chinelos ou, preferencialmente, ainda vivem do chão batido.

Peço apenas que retiremos as meias palavras e nossas protegidas meias visões sobre estes Outros em marginalização. Somente um exercício de aplicação dos nossos conhecimentos eivados de muito afeto, empatia e respeito poderão abrir e construir, com as mãos calejadas ou sem calos, juntas, singularizadas, uma estrada aberta para o futuro dos Direitos Humanos.

Direito é direito. Muito embora, na realidade brasileira, faça curvas e trace caminhos oblíquos para os que só andam de sapatos ou botas de couro, sejam nacionais ou importados, de griffe ou da 25 de Março. Entretanto, parece que seus pés, "tristemente entortados", principalmente pelas corrupções, começam a ser igualitariamente tratados pela Justiça. Eles também se dizem ''portadores'' de direitos humanos...

Os filhos de nossos filhos verão, assim desejo, um outro mundo possível: direitos humanos transversalizarão todas as vidas humanas, independentemente de quaisquer privilégios ou preconceitos, assim como a educação é e será sempre um direito fundamental. NÃO PODEMOS TEMER NEM ATEMORIZAR NOSSAS CRIANÇAS.

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Referência Bibliográfica no texto:
Direitos Humanos e Educação - Outra Palavras, Outras Práticas - Flavia Schilling (Org.) , Ed FEUSP/Cortez Editora , São Paulo, SP, 2005.

Direitos humanos deverão ser ensinados nas escolas 
https://www.senado.gov.br/noticias/direitos-humanos-deverao-ser-ensinados-nas-escolas.aspx

Direitos Humanos nas Escolas - BLOG (Ver comentários)
https://maringa.odiario.com/blogs/edsonlima/2011/06/10/direitos-humanos-nas-escolas/

Filme - NENHUM A MENOS
https://www.infoescola.com/cinema/nenhum-a-menos/
https://www.asia.cinedie.com/not_one_less.htm

LEIA TAMBÉM NO BLOG - 

DIREITOS HUMANOS COMO QUESTÃO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA-
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/05/imagem-publicadsa-uma-foto-de-tres.html

s UM PEDAÇO DE GIZ NA LOUSA DIGITAL - Pelo Dia do(a) Professor(a) 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/10/um-pedaco-de-giz-na-tela-digital-dia.html

sexta-feira, 8 de abril de 2011

TIROS REAIS EM REALENGO - a violência é uma péssima pedagoga


imagem publicada- imagem de braços e mãos, de diferentes cores e matizes, que se estendem para além de uma cerca de arame farpado. Uma alusão as diferentes formas de aprisionamento e cerceamento de liberdades, ou de violações de Direitos Humanos, que vem sendo banalizadas e naturalizadas em nosso mundo globalizado na Idade Mídia. Hoje uma referência às possíveis formas de controle de violência que poderão ser implantadas pela Sociedade do Controle para que a violência não retorne ao interior dos muros da escola.

"Sou contra meu irmão e meu irmão é contra o meu primo, mas meu irmão, meu primo e eu somos contra o vizinho"

(Provérbio libanês - recolhido em recorte de jornal dos anos de guerra no Líbano, com o título: Luxo e morte: em meio à guerra, a mistura surrealista do Líbanoartigo de Charô Saavedra) Esta frase podemos aplicar aos conflitos do mundo globalizado no que chamamos de Oriente Médio, Mundo Árabe, Islã e norte da Àfrica, onde já se naturalizou a presença de fanatismos religiosos e sua implicação nos conflitos armados, que retroalimentam nossas xenofobias.

Escrevo este texto em luto. Eu sei o que é a sensação, os sentimentos e as ''dores'' que a perda de um filho aos 13 anos de idade causam. Não irei fazer ilações ou especulações científicas ou psiquiátricas sobre o jovem franco atirador. Estamos diante da reedição do Tiros em Columbine na Escola de Wellington em Realengo. Espero, desejo e estimulo que se procure uma atenção especial aos que ficaram: os sobreviventes. Estes que, vivendo após um tsunami sangrento na escola, sentem añgústia e desamparo, buscando como enfrentar esse momento de perdas dos meninos e meninas. Estimulo e desejo que busquemos atitudes bio-éticas, para nos revoltarmos com a naturalização das sementes humanas e sociais do que chamamos de violência.

Eu conheci de perto a região onde esta escola está situada no Rio de Janeiro. Trabalhei alguns anos em um bairro próximo: Bangu. Aprendi e cresci muito com as vivências e experiências sócioculturais junto aos que eram chamados de ''suburbanos". Nesse época era apenas um psiquiatra trabalhando em uma clínica de reabilitação psicomotora, de inspiração espírita, cuja clientela era composta pelos moradores desta região: a zona Oeste do Rio, onde o calor e as misérias atingiam seus picos máximos. São vivas, muito embora os seus ''suburbanos'' não se sentissem assim. 

Estavam sempre buscando um outro modo de vida para si e seus filhos quando iam em busca de tratamento e reabilitação. A maioria destes cidadãos e cidadãs sonhava serem incluídas e não mais marginalizadas... Porém continuavam em desfiliação social. Continuavam intensamente conformados às suas pobrezas.

As indagações, amplamente midiatizadas, são hoje sobre a eclosão de uma violência espetacular nessa mesma região. E, apressadamente, nos colocamos nas mãos dos especialistas na loucura humana. Esquecemos de buscar raízes mais profundas. Esquecemos, emocionados, de perguntar o que nos leva a assistir hoje mais um tiroteio. Essa chacina foi embasada, pelo que nos informam, no fanatismo e nas ações suicidas de um jovem em sua ex-escola.

Uma escola no bairro de Realengo, me traz a memória alguns dos jovens autistas, com distúrbios de conduta, deficiências intelectuais e outras condições psicomotoras, psicológicas e psiquiátricas. Todos e todas essas crianças e jovens eram classificados, à época (anos 80), como ''alunos excepcionais".

Nós na posição de tele-espectadores ficamos perplexos e indagando o que se passa na mente de um franco-atirador. Mais ainda quando esse episódio é uma repetição de um modelo importado diretamente de Columbine, nos EUA. E, talvez aí esteja uma possível ''explicação'' do modelo jovem kamikaze que mata, embora premeditamente, outros jovens e crianças no suposto espaço da convivência em harmonia: a escola. Esse é um espaço onde se espera que estejamos todos buscando aprender sobre a paz e não sobre a violência. Lamentavelmente, pelo que estamos tele-assistindo, esse espaço não é mais isolado das outras violências sociais e urbanas que já estavam, como ovos da serpente, sendo gestados nos REALengos que sangram.

O sofrimento que irá afetar os sobreviventes dos Tiros em Realengo é um fato a ser considerado. Talvez consigamos aí buscar ações que nos solidarizem com o enfrentamento das injustiças e as misérias, de toda ordem, que possam ser o caldo de cultura das intolerâncias e dos fanatismos. O sofrimento alheio só suscita um movimento de protesto e solidariedade se resolvemos a clivagem entre pobreza, exclusão social e injustiças. 


Só podemos compreender os que estão vivos e, um dia, precisarão retornar ao cenário dessa escola pública. Só podemos tentar nos empatizar com os sentimentos dos seus pais e familiares que os receberão no retorno das aulas. É que a vida deles todos continuará sendo em um bairro da Zona Oeste. Esses sobreviventes continuarão na ''resignação'' de suas perdas? continuarão, como os que passaram pela tragédia das Serras fluminenses, considerando uma fatalidade, agora resultante da ''natureza humana"?

Percebo, pela intensa espetacularização global, que nos preocupamos com a dissecção da mente do criminoso. Buscamos explicar "o que tinha na cabeça o jovem Welligton" e, explicar sua "loucura" através de seu texto sobre a impureza dos Outros. Esquecemos de dizer que a banalização da violência é decorrência direta da banalização das injustiças sociais. Esquecemos rapidamente dos moradores do Morro do Bumba, das favelas e suas palafitas, das milícias, dos tráficos, das condições sociais e políticas onde vivemos essa violência nossa de cada dia.

Muitos jovens, fora das salas de aula, também são "sacrificados" e muitos mortos nas tristes estatísticas das violências urbanas (sem falar das rurais). Há,nesse momento, apenas a diferença de que olhamos o cenário de uma guerra dentro de uma sala de aula. Um jovem maneja, com destreza, as armas que foram produzidas, guardadas e comercializadas sem nenhum escrúpulo ou sentimento ético de alguns que agora estão escandalizados com seus resultados mortais.

Em 24 de fevereiro deste ano foi lançado o Mapa da Violência - os jovens do Brasil", que já apontava: "A violência entre jovens na faixa etária de 15 anos aos 24 anos cresceu no período 1998/2008. Nesta década, enquanto 1,8% das mortes entre adultos foram causadas por homicídios, no grupo jovem a taxa chegou a 39,7%". Acredito que Wellington e sua família, assim como as famílias enlutadas de Realengo e adjacências, ainda em processo de ''sub-urbanidade" sócio, econômica, política, não consigam ainda realizar que as noções de responsabilidade e justiça concernem à ética e não à psicologia, muito menos à psiquiatria.


Não bastará explicar em um indivíduo toda a insanidade que alicerça nossos ódios inconscientes e violências grupais.

Ficou-me uma pergunta, após um exercício matutino de ajuda a minha filha de 10 anos: como responder a ela sobre os muitos muros das escolas e da sociedade. Ela está estudando em sua escola comunitária sobre a Diversidade Humana. Hoje precisava responder sobre o tema e fazer uma pequena dissertação de como podemos aprender na convivência com a heteronomia humana. Ela finalizou sua resposta afirmando que "somos todos diferentes e iguais, e todos temos ancestrais"...A pergunta deixo-a para todos nós: como podemos aprender com a violência se ela é uma péssima pedagoga?

A triste e lamentável ação mortífera de Wellington pode ser um estímulo para esta reflexão. Isso dependerá de não banalizarmos, mais uma vez, com explicações que nos distanciarmos e nos eximirmos da nossas estranhas entranhas humanas. Temos todos implicações éticas e bioéticas com o que nos vem assombrando. E se não olharmos, com destemor, todos nossos terrores não poderemos, quem sabe, encontrar modos inventivos de escrever outras cartografias, outros modos de educar e nos educar. O que já disse hoje no Facebook aos professores do Rio de Janeiro e conclamo a todos educadores do Brasil: já passou da hora de incluirmos, ativamente, no currículo escolar a educação sobre e em Direitos Humanos.

Dirão alguns retrógrados e reticentes fascistas, a moda de Bolsonaro, que estamos somente cuidando dos Direitos Humanos dos "fora da lei". Já cansei de seu bordão e clichê: e ''onde estão os humanos direitos?". A eles indago agora sua direta implicação com o terror, seja nos Estados de Exceção, seja na legitimação das guerras e das torturas, ou, então, nas suas falsas aceitações da diversidade e da diferença, negando-se a se reconhecerem racistas, segregacionistas e homofóbicos. 


Foram estes que, não olhando no espelho, foram capazes de naturalizar o extermínio de jovens, bastando para isso que eles fôssem rotulados de ''subversivos". Hoje, quem sabe, para estes apenas foram mortos jovens e crianças "suburbanas", ou melhor "sub-humanas", tal qual aquelas que morrem, nesse momento, como milhares de "moscas",como vidas nuas e coléricas, no Triste e Insular Haiti.

Estou de luto. E lutarei com ele, pois aprendi após a perda de um filho jovem o quanto precisamos aprender a aprender a convivência com o Outro. Indo além de todos os narcisismos das pequenas diferenças. Indo além de todas as nossas inconscientes e noturnas ancestralidades brutais, vingativas, bárbaras e cruéis. Há um risco em nós de acreditarmos em nossos próprios fanatismos. 


E, bastando um pouco de ilusão como o cinema, reproduzimos e justificamos qualquer forma de ato violento ou destruidor. Não espero assistir os Tiros reais de Columbine e Realengo novamente, mas sei que posso ter esse dejá vu.

Cuidemos com afeto, suavidade e muito calor humano dos que sobreviveram. E deixemos de "explicar" a loucura do Outro, isso só nos justifica e aliena, além de banalizar todas as injustiças.


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INDISPENSÁVEL LEITURA CRÍTICA:
MAPA DA VIOLÊNCIA - OS JOVENS DO BRASIL - https://blog.planalto.gov.br/mapa-da-violencia-2011-aponta-causas-de-homicidios-entre-jovens-no-brasil/

INDICAÇÕES DE FILMES:
TIROS EM COLUMBINE - de Michael Moore, Oscar de melhor documentário de 2003 - https://www.omelete.com.br/cinema/itiros-em-columbinei/

ELEFANTE - de Gus Van Sant - https://www.cranik.com/elefante.html

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA- de Laurent Cantet - Palma de Ouro no Festival de Cannes - https://cinema.uol.com.br/ultnot/2009/03/11/ult4332u1035.jhtm

ALGUNS AUTORES E LIVROS QUE ME INFLUENCIARAM NO TEXTO, MAS NÃO O EXPLICAM:

- A BANALIZAÇÃO DA INJUSTIÇA SOCIAL - CHRISTOPHE DEJOURS
- A VIOLÊNCIA TOTALITÁRIA - MICHEL MAFESOLI
- MASSA E PODER - ELIAS CANETTI
- OUTONO ALEMÃO - STIG DAGERMAN
- RAZÃO E VIOLÊNCIA - RONALD LAING
- POR QUE A GUERRA? - SIGMUND FREUD
- O QUE RESTA DE AUSCHWITZ - GIORGIO AGAMBEN
- HOMO SACER - O PODER DO SOBERANDO E A VIDA NUA - GIORGIO AGAMBEN

LEIA TAMBÉM
A VIOLÊNCIA NOSSA DE CADA DIA... Dai-nos também https://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Viol%C3%AAncia%20cotidiana


ADEUS  ÀS ARMAS: CEM TIROS NO FUTURO OU SEM TIROS?  https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/05/adeus-as-armas-sem-tiros-no-futuro-ou.html


O CORPO ULTRAJADO HOJE, SERÁ O CORPO NEGADO AMANHÃ? 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/03/o-corpo-ultrajado-ontem-sera-o-corpo.html