domingo, 18 de dezembro de 2011

A ARTE DE RE-VIVER - Quando morrem o Teatro, o Carnaval e a Música? Nunca...



Imagem publicada - a capa do livro A ARTE DA VIDA, de Zygmunt Bauman, com uma imagem esmaecida de um rosto feminino que se apoia em um ombro de um homem com um cigarro à boca, sendo sobrepostos por um ponteiro e um relógio, havendo sombras humanas ao fundo. Uma alegoria da nossa passagem pelo ‘’túnel ou máquina’’ do tempo da modernidade líquida e veloz. O fundo é como uma pintura onde o branco predomina, o mesmo que pensamos vestir quando passamos pelo Ano Novo... (Autoria Sérgio Campante sobre fotos de Steve Woods, Leroy Skalstad e Jay Simmons)

Quando é que aprenderemos que sem a Arte a vida é vazia de sentido? E quando é que ela fica vazia de sentido quando perdemos nossos artistas? E quando é que nos descobrimos precisando ser artífices de nossas próprias artes de viver e morrer?

Estas interrogações não parecem combinar com os tempos pré-natalinos e festivos para alguns. Mas o fim de um ano pode trazer um pouco de reflexão... Principalmente se a Senhora Dona Morte nos ceifar alguns intensificadores da alegria do viver...
Nesse pré-Natal de 2011, Dona Morte, mais três poderão alegrar, encantar e musicalizar o chamado “outro mundo”. Morreram Sergio Britto, Joãozinho Trinta e Cesária Évora.

Mas não devemos lamentar ou lamuriar. Devemos evocar e homenagear, pois o que deixaram por aqui é muito diferente do que alguns andam provocando e criando. E esses, também midiatizados e midiatizáveis, parecem imortais como o que causam.


Hoje custosa e cara Senhora mais uma carta tenho de escrever-lhe. A missiva (carta em português arcaico) é para lhe lembrar de que nesse fim de ano muitas coisas andaram mortais pelo Planeta Terra. Muita propaganda, muito estímulo ao consumo e as velhas promessas macropolíticas de erradicação da miséria, ou será dos miseráveis?

A Caríssima Senhora e seu amigo Cronos (o Tempo) nos arrebataram três grandes seres humanos. O Joãozinho, revolucionário e lúcido, que valia por trinta outros. Mostrou-nos, sem destemor, no Reinado de Momo, que a alegria para os excluídos é imprescindível, principalmente na miséria impingida. Agora é carnavalesco em outras bandas... Devia estar faltando humor, beleza e criatividade no seu reinado, Dona obscura e repentina?

A digníssima se lembra de quando ele teve de cobrir o Cristo Redentor? Ainda continuamos tapando com panos quentes as nossas desigualdades... Agora estamos em plena higienização social pré-Copa e Olimpíadas. Nossas periferias e seus diferentes marginais estão ficando “clean”. Nem se parecem com o seu enredo dos “Ratos e Urubus, Larguem a minha fantasia”.

Precisamos, por isso, sim das fantasias, como nos palcos dos teatros. Ali, usando personas (máscaras), escancaram-se para poucos o desnudamento de nossas tristes e confusas humanidades tropicais. Houve este homem teatral, de dedicação ímpar a esta arte: Sérgio Britto.

O Sérgio deverá cuidar agora de outra peça, outro palco, outra plateia, sob sua direção e ato. Talvez agora nos apresente um magnifico espetáculo pós- futurista, com voz tonitruante avisará: na Sociedade do Espetáculo agora vale a verdade e a ética, todas as farsas, principalmente, as políticas não mais nos iludem.

Nesse mesmo instante sonhado e futuro, a Cesária nos lembrará de que a Somália foi liberada da fome e dos mercenários, pois seu sangue é africano. A moda do Cabo Verde, e com seu português típico nos cantará, destoando dos cantos hiperindustrializados, que a ‘sodade’ não é nostalgia, muito menos desejo de viver sempre no passado. É o desejo de lembrar que ainda sonhamos, de pés descalços, com outras formas de amar, existir e re-viver.

Para quem aproveitar estas perdas para uma breve reflexão, a arte do re-viver se tornará um bom aprendizado. Eu, aqui nessas conversas sem resposta com a Senhora Dona Morte ainda não desisti de suas devoluções. Agora mesmo estou lendo e relendo A ARTE DA VIDA do Zygmunt Bauman... É a hora de repensar que ‘’presentes’’ estamos vendendo/comprando?

Para este autor, refletindo sobre nossa incansável indagação, o que é há de errado com a felicidade hoje (?), nos provoca e responde que: - “O caminho para a felicidade passa pelas lojas e, quanto mais exclusivas, maior a felicidade alcançada. Atingir a felicidade significa a aquisição de coisas que outras pessoas não têm chance nem perspectivas de adquirir. A felicidade exige que se pareça estar à frente dos competidores...” (p. 36).

Nós, por aqui como telespectadores, ainda estamos assistindo as Primaveras, e nossas massas povoam os shoppings, vez por outra algumas praças ou linhas de trem. Acho, olhando para o céu das minhas Minas Gerais que entramos em um Verão, a ser mais caudaloso do que o já visto. Não quero rever as velhas enxurradas de explicações sobre os nossos desmoronamentos, ainda mais quando os montes não são mais belos, todos são inundáveis.

Esquecemo-nos depressa demais de nossas tragédias pessoais ou coletivas. Os tempos tão velozes que nos assustam são também nossos melhores lenitivos ou anestésicos para as dores que não se calam ou silenciam rápido demais. A Senhora, Dona Morte, é que se regala e banqueteia com muitos novos corpos, novas Vidas Nuas de tragédias anunciadas.

Novamente Bauman nos abre os olhos, com a liquidez dos tempos em que a arte da vida deveria ser a afirmação de nosso desejo de sermos mais felizes. Ele diz que: -“Num tom um pouco mais sério, o mundo líquido-moderno está num estado de revolução permanente, um estado que não admite as revoluções de uma só vez, os “eventos singulares” que constituem lembranças dos tempos da modernidade “sólida”... (p. 87)

Qual seria, então, o presente ‘’revolucionário’’ singular que nos legaram estes artistas que nos deixaram: Évora, Britto e Trinta?

Talvez uma advertência para além dos comerciais e das propagandas, onde as inovações são sempre “revolucionárias”. Como Bauman nos avisaram com festa, música, teatro e alegorias, que só uma renovada intensidade amorosa em busca do Outro e dos Outros pode alicerçar as mais sinceras criações.

Somos assim artistas do re-viver e da vida, organizando o Caos e sendo organizados pelo Tao. Desiguais, diferentes, diversos, heterogêneos, plurais e múltiplos, mas, singularmente criativos e empáticos. E, lamento informa-la, Dona Morte, que assim nos tornamos artistas como eles.

Eles partiram bem perto de outras festas, como também o fazem poetas e filósofos, e nos deixam mais indagações do que respostas. Em sua memória é que podemos nos tornar verdadeiros artífices de vida, ou melhor, grandes artistas da vida privada ou coletiva.

Para uma parábola zen budista ao ser instigado um homem para que pinte um dragão em um mosteiro, como desafio, um mestre lhe responde:"Torne-se um dragão"... Para nós talvez nesse desejo apenas de alegria, sem encarar também os sofrimentos ou dores, fica um desafio para que, cada um e todos/todas juntos, nos tornemos o ‘’fogo” que alimente nossos Teatros, nossas Músicas e os nossos futuros Carnavais.

Eles morreram, mas seu espírito continua soprando sobre nossas argilas...

QUE O NOVO ANO SEJA REALMENTE INSPIRADOR E CRIATIVO, e que nossas misérias sejam realmente combatidas, com justiça, ética, alegria e determinação... tendo sempre como fundamento os direitos humanos, e o desejo de sermos TRANSMISSORES DE VIDA.


Copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Notícias sobre os Três e suas artes da vida
:

Morre Joãosinho Trinta, carnavalesco polêmico e revolucionário
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/12/17/morre-joaosinho-trinta-carnavalesco-polemico-e-revolucionario.jhtm

Morreu Cesária Évora 
http://aeiou.expresso.pt/morreu-cesaria-evora=f694993

Morre aos 88 anos o ator e diretor Sérgio Britto -
http://diversao.terra.com.br/gente/noticias/0,,OI5523165-EI13419,00-Morre+aos+anos+o+ator+e+diretor+Sergio+Britto.html

Indicação de leitura e reflexão: A Arte da Vida - (Zygmunt Bauman) – Download do livro: http://www.baixedetudo.net/livro-a-arte-da-vida Em papel - Editora Zahar, Rio de Janeiro, RJ, 2009.

Leia também no BLOG:
A MÚSICA QUE ENCANTA DEPENDE DOS OLHOS? http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/03/musica-que-encanta-depende-dos-olhos.html

SEREMOS TRANSMISSORES EM 2011?  http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/12/seremos-transmissores-em-2011.html

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O RETORNO DA INTEGRAÇÃO PELA INCLUSÃO: novos muros nas escolas, fábricas e hospitais...


Imagem Publicada – uma foto da publicidade do documentário BUDRUS; traz em contraluz colorido, com o sol crepuscular ao fundo, a figura de um homem entre duas cercas de arame farpado, que ele tenta destruir com um simples alicate. Esta cerca é o motivo de uma insólita união entre árabes muçulmanos e judeus, em um vilarejo entre a Cisjordânia e Israel, contra um polêmico muro que separaria palestinos e israelenses. Ele é uma realização da cineasta brasileira Julia Bacha, recebeu 15 prêmios internacionais, e nos mostra a possibilidade da Paz. Hamas e Fatah, Mulheres e Homens, Crianças e Velhos, diferentes e desiguais se unem contra a violência e a segregação.

Para os que pensam sobre a comemoração do Dia Internacional dos Direitos Humanos, dia 10, faço o convite para uma reflexão sobre os muros, as cercas e os ‘’limites’’ que, mesmos os invisíveis, nos podem cercear ou mesmo pisotear alguns direitos fundamentais.

Há momentos de nossas lutas pelos Direitos Humanos que precisamos pensar quem são os nossos verdadeiros ‘’inimigos’’. Ao assistir hoje o documentário Budrus pude refletir sobre a possibilidade de alguma ‘’sintonia’’ de interesses no atual campo das discussões sobre os retrocessos e conservadorismos que estamos enfrentando.

Nos últimos dias passamos de um plano “Viver sem Limites” para a reconstrução de institucionalizações dentro dos muros escolares ou reabilitadores. Primeiro com a proposta de um Decreto (7611/11) que retroagiu sobre os avanços conquistados da inclusão escolar.

Hoje com um Projeto de Lei 1224/2011, da Câmara do RJ que coloca outro muro como opção para a Educação Especial, de crianças e jovens, na perspectiva de sua Inclusão caso “apresentam condições de serem incluídas, bem como dos demais alunos de turma regular, por meio da ampliação de sua participação na aprendizagem, nas culturas e nos meios sociais.” Ou seja, novamente o ‘’preferencialmente’’, ou melhor, quando “possível”, ou então na “saúde e na reabilitação"...

Nesse mesmo tom brasileiro estamos também vendo discursos contraditórios sobre a Reforma Psiquiátrica e a retomada das "internações involuntárias", compulsórias, sob a alegação de epidemias, só que por "contágio social" com o uso do crack. O alcóol mata 47 pessoas por dia,e isso não é uma epidemia?

Nossas autoridades promovem uma destinação de 04 bilhões para um ‘’combate’. Mais um Plano do Ministério da Saúde. O seu principal resultado é a hospitalização ou a institucionalização forçada dos chamados ‘’craqueiros’’.

Uma “maioria” minoritária que vive à beira da sociedade e das linhas de trem. Moradores de rua e marginais que precisam ser cuidados e retirados da exclusão e desfiliação social. Onde os meios desta ação podem ser também violentadores...

Há, portanto um movimento de controle social, com novas macro e biopolíticas, anunciadas com muitos recursos públicos. Recursos que não podem ser apenas econômicos, pois a história já demonstrou o uso do dinheiro público para fins privados, tanto na Saúde, com a manicomialização, como na Educação, com a educação em espaços de clínicas de reabilitação.

Aí se encontram a Loucura e a Deficiência, as tecnologias de cuidado e pedagogia tornam-se hiper-especializadas e, consequentemente, segregadoras ou alienantes. E esta me parece ser a direção que, com as devidas contextualizações, estamos re-tomando. O caminho conservador, orientado pela macropolítica, das velhas institucionalizações "forçadas" por lei e "reforçadas" por emergências sociais. Novos muros em nossas aldeias globais.

O nome do nosso projeto para a acessibilidade, a saúde, a educação e o Viver para além dos limites pode ser comparado ao roteiro de Budrus. Estamos assistindo à uma construção de uma ‘’delimitação’’ legislativa e de práticas que violentam direitos já adquiridos.

Como os palestinos temos algumas oliveiras ou cemitérios que não devemos deixar de defender. Mas precisamos, como eles, de aliados e de um movimento de resistência. Alguns já iniciaram a defesa/combate. O que temos de cuidar é que não nos tornem nossos próprios "inimigos".

Existe um risco de mantermos nossas tradicionais divisões por força identitária. Os que não veem, os que não ouvem, os que não andam, os que são multiplamente deficitários. E, como somos diferentes em nossas necessidades e incapacidades, caímos na oposição binária.

A oposição binária ocorre quando, por exemplo, nas categorias macho/fêmea, obscurecemos as diferentes formas de ser um homem ou uma mulher, seja na sua subjetividade, nos afetos, no desejo ou no comportamento. Tendemos a homogeneização, à mesmice ou “mesmidade”. Caímos nos narcisismos das pequenas diferenças...

Essa queda é o nosso principal calcanhar de Aquiles. É nessa multiplicidade forjada como heterogeneidade de direitos que o Estado e a Sociedade justifica o uso do efeito de ‘’retorsão”. Este é um conceito de Taguieff que constitui-se quando “um contendor se coloca no terreno discursivo e ideológico do adversário e o combate com as armas deste, as quais pelo fato de serem usada contra ele, deixam de pertencer-lhe pois agora jogam pelo adversário...

Por isso disse, no início, que precisamos reconhecer que são nossos atuais amigos e inimigos. Não faço aqui a apologia da guerra ou da violência. Como em Budrus faço a afirmação de uma união pela desconstrução desses muros que nos impõem, sejam estatais ou institucionais. Os argumentos que sempre utilizamos na defesa de uma Sociedade Inclusiva agora são os mesmos que se alardeiam em discursos políticos. E ainda nos indagam do que reclamamos e por que criticamos...

Portanto, diante da possibilidade da retorsão, e, mais ainda, da acusação de ideologização das questões, é que devemos refletir, coletivamente, quais são as ações de resistência que devemos produzir.

Uma ação interessante e potencialmente criativa seria, hoje, abolirmos o uso da palavra INCLUSÃO, passemos, como nos discursos da Ordem, aceitar o retorno da INTEGRAÇÃO, do mainstreaming, como no recente Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, termo retomado para afirmar a questão do desenvolvimento, pela ONU.

Se a questão é a palavra DIVERSIDADE, como no projeto da Câmara do RJ, aceitemos que ela não representa, como nos demonstrou Homi Bhabba, a tal diversidade cultural, como um objeto do conhecimento empírico. Vamos esquecer sua advertência sobre o que significa uma DIFERENÇA cultural e os hibridismos e multiplicidades que nós vivenciamos.

Vamos aceitar "integrar" a diversidade, a partir do modelo segregador, deixando de lado quaisquer das singularidades. E as diferenças, mesmo dentro de casos, por exemplo, de Autismos nos justificarão para que estes frequentem apenas os Centros de Reabilitação ou escolas hiperespecializadas. Nunca teremos uma Temple Grandin em nossas escolas regulares...

Vamos, por exemplo, como nos tempos de ocupação da Amazônia, utilizar o slogan governamental: INTEGRAR PARA NÃO ENTREGAR. Iremos construir, diante um possível “ataque e invasão’’ de nossas fronteiras e territórios, uma grande muralha que proteja nossa maior diversidade ambiental: a floresta, sua flora, sua fauna, seus índios e seus diversos mananciais de água doce. A preservação tornar-se-ia aí o novo conservadorismo?

AÍ comparo a serialização dos eucaliptos com a heterogeneidade amazônica que podemos criar em nossas escolas ou outras instituições modelares. Podemos plantar a diferença ou mesmice, a bel prazer. Mas sempre colheremos um futuro possível ou a desertificação de nossas vidas. Por isso optemos pela busca de um além do reducionismo da integração.

Foi integrando um território pela força e pela segregação violentadora que Israel, construindo muros e distanciamentos, que viu o surgimento de uma resistência ‘’selvagem’’. E Budrus se tornou a obra de cinema, de vida, de re-existência de culturas diferenciadas, mas também um exercício de "combate pacífico".

Uma paz que se conquista com indignação, resiliência e resistência pacíficas. Um movimento que precisamos retomar para manter as conquistas que temos realizado. Nós, como uma personagem do documentário, diante de uma retroescavadeira, devemos ocupar o buraco por ela feito.

E, para além de nossas diferenças, nos fincarmos, como uma oliveira plantada com carinho, que algumas mãos oportunistas insistem em arrancar de nossos territórios da saúde e da educação de pessoas com e sem deficiência.

Só assim, com persistência e indignação, cada um e muitos de nós poderemos barrar o retrocesso atual, os “mesmos” que usam a retorsão para dizer que são as pessoas com deficiência que não se preparam para o mercado de trabalho.

Não são as empresas ou o Estado que não cumprem a Lei de Cotas. Somos os causadores de nossa própria exclusão? Afinal nossas tragédias pessoais não são o que nos torna objetos de intervenção, internação involuntária ou “integração” social?
E OS MUROS INVISÍVEIS QUANDO É QUE INICIAREMOS A SUA DEMOLIÇÃO?


Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres na Internet ou outros meios de comunicação de massa)

BUDRUS – (2009) Documentário – Direção JULIA BACHA (BR)
http://www.justvision.org/budrus

Brasileira diretora de "Budrus" fala sobre premiação em Berlim
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5286132,00.html

Budrus Trailer - 3 Min
http://www.youtube.com/watch?v=ff7rScVrbos (legendas em português)
http://www.youtube.com/watch?v=YQQ8F2W5eB0 (legendas em inglês)

Documentário 'Budrus', de Julia Bacha, é lançado em DVD http://www.estadao.com.br/noticias/artelazer,documentario-budrus-de-julia-bacha-e-lancado-em-dvd,790731,0.htm

Plano Nacional de Educação: inclusão escolar ameaçada
http://inclusaoja.com.br/

Plano de enfrentamento ao crack deve aumentar leitos para atendimento
http://www.youtube.com/watch?v=SxGRHH7NEs8

Rio de Janeiro pode servir como exemplo positivo na internação pelo crack http://www.sidneyrezende.com/noticia/155255+rio+de+janeiro+pode+servir+como+exemplo+positivo+na+internacao+pelo+crack

Lei de cotas para deficientes não deve ser flexibilizada, defende CUT
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/trabalho/2011/12/lei-de-cotas-para-deficientes-nao-deve-ser-flexibilizada-diz-cut

Leia também no BLOG:

DEFICIÊNCIAS E DIREITOS HUMANOS - MAIS UM DIA PARA COMEMORAR?
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/12/deficiencias-e-direitos-humanos-mais-um_03.html

sábado, 3 de dezembro de 2011

DEFICIÊNCIAS E DIREITOS HUMANOS - MAIS UM DIA PARA COMEMORAR?


Imagem publicada- a foto publicada no site de Christopher Reeve de um garoto sem braços e sem pernas: o Charlie. Ele é o personagem de um processo de inclusão escolar reproduzido no documentário Without Pity, A Film About Abilities (HBO-1996), exibido na TV. Charlie é incluído, para além de seu corpo diferente. Ele tem um grande amigo, sem deficiência, que o ajuda nas brincadeiras, fora da sala de aula. Este amigo fiel apenas se incomoda com ter de tirar a areia que se desprende do corpo diferente do amigo com deficiência, após seu íntimo contato com ele.


O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência é uma criação da ONU para celebrar e tentar conscientizar sobre os direitos das pessoas com deficiência? Sim, mas também é um exercício para a afirmação de uma população de mais de 700 milhões no planeta Terra.

Na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou-se - através da Resolução 473, de outubro de 1991 – o dia 3 de dezembro como o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, comemorado a partir de 1992 em todo o mundo.

Uma das ações recomendadas, desde essa época, é a máxima visibilização das pessoas com deficiência. A elas, que permaneceram durante séculos, na invisibilidade social, bem como na exclusão, foi estimulado que ocupassem todos os espaços. As ruas, os jornais, as praças e os demais meios de comunicação.

O que passou a ser também uma preocupação dos que promoveram a discussão sobre a presença de um processo de desinstitucionalização e quebra de paradigmas. Há um excelente documento publicado pela ONU em 2002: Derechos humanos y discapacidad - Uso actual y posibilidades futuras de los instrumentos de derechos humanos de las Naciones Unidas en el contexto de la discapacidad.

Este texto sobre Direitos Humanos e Deficiência, sobre o uso atual e as possibilidades futuras dos instrumentos de direitos humanos da ONU, traz as primeiras e mais importantes, na minha visão, mudanças radicais de conceituação sobre as deficiências. É o casulo donde brotou a bela borboleta: as pessoas com deficiência são uma questão de direitos humanos.

Escrito por Gerard Quinn e Theresia Degener (e colaboradores), este livro traz uma questão que devemos aplicar ainda hoje na compreensão do lugar, status, papel e realidade das pessoas com deficiência: a sua saída de objeto de intervenção e cuidados de reabilitação ou educação para o de SUJEITO de direitos.

Para os autores os direitos humanos constituem os alicerces que fundamentam um sistema das liberdades que nos protegem dos abusos de poder. Estes direitos criam um espaço propício para desenvolvimento do espírito humano. E é sobre o ‘’desenvolvimento’’ que agora se tematiza o ano de 2011: “Juntos por um Mundo Melhor: Incluindo Pessoas com Deficiência no Desenvolvimento”.

Mas esta comemoração não poderá se esquecer das diferentes interpretações que a palavra desenvolvimento ganhou nos últimos tempos. Em especial no campo macropolítico brasileiro. Aqui na Terra Brasilis é em nome do desenvolvimento que se faz a redução de investimentos da Educação, ou que se manobram verbas em outras direções mais ‘’desenvolvimentistas’’.

Por isso retomei o livro de 2002, que nos fala de ‘’valores’’ fundamentais em Direitos Humanos para que se possa construir e consolidar a desinstitucionalização e a não segregação de pessoas com deficiência. Que valores são esses que esquecemos quando, politicamente nos aferramos ao desenvolvimentismo atual?

São os que fundamentaram e são eixos da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. A mesma que está sob atual vulneração legislativa, por alguns interesses particulares e grupelhizados, a AUTONOMIA, A IGUALDADE, A SOLIDARIEDADE e, principalmente, a DIGNIDADE vem sendo deixadas de lado.

Há até quem queira em nome de uma visão ‘’empresarial’’, solicitar a culpabilização da Lei de Cotas, de 1991, como a vilã pelo cumprimento da mesma por parte do mercado de trabalho. São as pessoas com deficiência que não ‘’são encontradas’’ para serem inseridas nos empregos. 

É quando deixamos de afirmar que as pessoas com deficiência devem ser valorizadas como cidadãos e cidadãs. O seu valor é intrínseco de sua dignidade humana. Não devem e nem podem ter valor apenas porque são úteis economicamente, tornar-se-iam mais uma ‘’classe trabalhadora’’.

No livro citado encontramos a confirmação desta posição: “O reconhecimento do valor da dignidade humana nos lembra, com determinação, que as pessoas com deficiência têm um papel e um direito na sociedade, o qual deve ser atendido com total independência de toda consideração de utilidade social ou econômica...”.

Seremos e somos, portanto, enquanto pessoas, fins em si mesmas, não um meio para outros fins. E isso contrasta e conflita profundamente com a tendência atual que trata de classificar as pessoas em função de sua utilidade social. É a presença da visão imperial e de Vidas Nuas que ainda atravessam, capitalisticamente, os corpos anômalos ou deficitários para o trabalho produtivo.

Já em 1998, ao exibir/assistir/difundir o documentário da HBO – Without Pity (a film about Abilities), que traduzia como “Sem Piedade”, apontava para as imagens afirmativas e provocativas da autonomia e a independência das pessoas com deficiência. Ele termina com um protesto, uma marcha de pessoas com deficiência contra o Estado. Este documentário, narrado por Christopher Reeve, afirmava que “a vida tem muito mais possibilidades que limites”.

Vejo agora a apropriação estatal desta frase. Fomos, cidadãos e cidadãs, contemplados com um novo plano estatal: “ Viver sem limites”. A sua formulação atenderá a alguns campos de intervenção em políticas sociais, mas começam a aparecer questões sobre a aplicação dos 7,6 bilhões de reais. Quais serão os limites, ou melhor, barreiras, que realmente serão extintas com políticas estruturais? 

Não poderemos assistir, nesse Dia 03 de Dezembro, apenas a visibilização de nossas marchas ou passeatas. Precisamos também parar um pouco para refletir sobre os retrocessos que todos os avanços legais estão sofrendo. Precisamos perder o medo de uma mudança radical dos paradigmas.

Não será o desaparecimento das entidades que se fortaleceram no vácuo do Estado, seja na saúde ou na educação, que essas mudanças provocadas pelo movimento de inclusão acontecerão. O privado que depende do público, tanto em recursos materiais, humanos e econômicos terá que se ‘’desenvolver’’ e transformar, caso contrário também, como os impérios, irá ruir um dia.

A história que não tem fim irá mostrar a irreversibilidade do tempo e das transformações institucionais. Incluir não diz respeito à desingularizar ou negar as identidades a que nos aferramos, defensivamente. As atitudes, até agressivas, contra o que está em ‘’marcha’’, a quebra do modelo biomédico e reabilitador, são resultado de conservadorismos ou de falsas defesas desta ou daquela visão cultural.

A marcha das pessoas com deficiência, como a Passeata da SuperAção e outras, tem nas avenidas, hoje, outras visibilidades, outras midiatizações, outros efeitos sociais. Os tempos mudaram e mudarão. A areia da ampulheta neo-tecnológica é também nano tecnológica..., e corre por entre nossos dedos tão digitais, tão cibernéticos.

Outros tempos virão, novos, inovadores, includentes. A nós cabe, agora, para além de apenas comemorarmos, manter ativa e acesa uma chama crítica e viva de que não basta recebermos novos direitos em papel. Temos o urgente dever de construirmos, com eles e para além deles, uma re-evolução da Diferença e das diversidades.

Ainda não cumprimos nem mesmo a Convenção da Guatemala. Não erradicamos muitas das misérias e discriminações que deixam apenas 2% dos latino-americanos com deficiência recebendo alguma forma de atenção, ou cuidado, ou escola, nos mais de 85 milhões de pessoas com alguma forma de deficiência. 

E, no Brasil, mesmo crescendo em números estatísticos, ainda não temos os 45 milhões de eleitores/votos com deficiência que, ao reivindicar direitos e voz, sejam realmente ouvidos no seu lema: Nada sobre nós, sem nós...

O novo grito a ecoar, após a leitura atenta de Quinn e Degener, é: Direitos Humanos e Deficiência. Assim teremos, daqui a 09 anos, talvez a inversão do tema: Deficiências têm Direitos Humanos. E, juntos ou não, teremos alguns passos a comemorar... 

E os poderes constituídos entenderão o sentido da palavra ‘’vinculante’’, e o irlandês e a alemã, terão seu trabalho reconhecido através da realização dos artigos da atual, não sei até quando, Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU- 2006 – Decreto 6949/2009.

Vamos começar a pensar qual será o tema do Ano Novo? Ou 2012 é o fim da História?


Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

LIVRO DERECHOS HUMANOS Y DISCAPACIDAD - Uso actual y posibilidades futuras de los instrumentos de derechos humanos de las Naciones Unidas en el contexto de la discapacidad.

http://books.google.com.br/books?id=wJ_saFkDLWQC&pg=PA42&lpg=PA42&dq=gerard+quinn+%2B+ONU+%2B+DERECHOS+HUMANOS&source=bl&ots=pNxg7Oo9A7&sig=ckfAH0cx-Yad3sPKjX5l2jt-i8A&hl=pt-BR&ei=oI_ZTrTRC8j20gHI-8yXAQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CBwQ6AEwADgU#v=onepage&q&f=false

INTERNATIONAL DAY OF DISABLED PERSON – ONU
http://www.un.org/disabilities/default.asp?id=1561

Subtemas de 2011, sugeridos pela ONU no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência:
1 - “Perspectiva da deficiência na corrente principal da sociedade: incluindo essa perspectiva em todos os processos do desenvolvimento”.
2 - “Gênero: incluindo mulheres e meninas com deficiência no desenvolvimento”.
3 - “Incluindo crianças e jovens com deficiência no desenvolvimento”.
4 - “Acessibilidade: eliminando barreiras e promovendo o desenvolvimento que inclua a perspectiva da deficiência”.
5 - “Promovendo a coleta de dados e estatísticas sobre a deficiência”.
Quinn Degener study for OHCHR doc
http://ebookbrowse.com/quinn-degener-study-for-ohchr-doc-d19345561

FILME CITADO – WITHOUT PITY – A Fim About Abilities – 1996
http://www.chrisreevehomepage.com/m-withoutpity.html

OUTROS TEXTOS NO BLOG _
O Surdo, o Cego e o Elefante Branco-
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/05/o-surdo-o-cego-e-o-elefante-branco.html

A Inclusão Escolar ainda usa fraldas? -
http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/07/inclusao-escolar-ainda-usa-fraldas.html

Um dia qual será a nossa CIF? As Deficiências e sua(s) Classificação (ões)
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/um-dia-nos-seremos-qual-cif-as_28.html

Onde nascem e morrem os Direitos Humanos?
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/onde-nascem-e-morrem-os-direitos.html