segunda-feira, 28 de novembro de 2011

UM DIA NÓS SEREMOS QUAL CIF? As Deficiências e sua(s) Classificação(ões)


Imagem publicada – uma gravura antiga com um cérebro que tem múltiplas divisões, como um mapa de classificação de comportamentos humanos desviantes, que era utilizado “cientificamente” para classificar, de acordo com a Frenologia, as alterações de conduta humana que decorreriam de ‘’lesões do caráter” e nossas características de personalidade, inclusive sobre sua/nossa propensão à criminalidade, pela forma de nosso crâneo (cabeça). Desenvolvido por médico alemão Franz Joseph Gall por volta de 1800, e muito popular no século XIX, está agora desacreditada e classificada como uma pseudociência.

Como parte de uma videoconferência a ser realizada estou retomando o tema da Classificação Internacional sobre Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, a CIF, criada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), lançada em 2001. Mais uma classificação que tem por objetivo: “proporcionar uma linguagem unificada e padronizada, e uma estrutura que descreva a saúde e os estados relacionados à saúde”.

Se nos preocuparmos com sua utilização, em complementação a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde), poderemos entrar no campo do futuro das mudanças de paradigmas quanto às Deficiências.

As diversas e diferentes formas de ser e estar com uma ou mais deficiências têm gerado, há muito tempo, a construção de meios de codificação e quantificação estatística de suas realidades no mundo. Nosso último Censo do IBGE nos deu mais um empurrão para que retomemos a discussão sobre o que é, ou melhor, o que são as deficiências (?).

A "gestação" e construção da CIF se deram pela incompletude e pela visão puramente biomédica e fisicalista da sua antecessora classificação de pessoas com deficiência: a CIDID (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens). Este manual foi publicado originalmente em inglês, em 1980 e, subsequentemente, traduzido em mais de doze línguas.

Encontramos na CIDID a referência a três classificações distintas, cada qual relacionada com uma consequência diferente de doença. Está aí a concepção que ainda atravessa milhares de mentes, de instituições e de práticas do cuidado e das tecnologias para pessoas com deficiência.

Estas construções de conceitos foram: (1) - Deficiências (em inglês ‘impairments’) que dizem respeito à perda ou anormalidade de estrutura de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. Em princípio, as deficiências representariam distúrbios no nível do órgão.

O código a classificava apenas com dois dígitos antes e um dígito após um ponto decimal. Era a aplicação do mesmo modo classificatório já existente na CID. E seu fundamento era da pré-existência indispensável de uma doença que levasse à deficiência. Eis a base do modelo reabilitador.O defeito está e era do sujeito.

O segundo conceito (2) era o das Incapacidades (em inglês, ‘disabilities’) que refletiriam, segundo o CIDID, as consequências das deficiências em termos de restrição ou falta de habilidade para realizar uma atividade de uma maneira ou dentro da amplitude normal para o ser humano. Nesta visão as incapacidades refletem distúrbios no nível da pessoa.

O terceiro conceito (3) era o das Desvantagens (em inglês, ‘handicaps’) que seriam as resultantes ou de uma deficiência ou de uma incapacidade, dentro de uma linearidade de resultados. Estas chamadas desvantagens limitariam ou impediriam o cumprimento de um papel que é ‘’normal’’ (dependendo da idade, do sexo e de fatores sociais e culturais) para um indivíduo.

Os chamados ‘’handicaps’’ foram uma construção a partir de uma visão preconceituosa. O termo deriva da sua colagem, em inglês, com o termo ‘’deficiente’’ (carente, imperfeito, defeituoso, insuficiente, inválido), como uma provável perda de capacidade ou função do corpo.

Corresponde ao termo ‘’hand in cap’’, com a mão no boné, um costume dos países anglo-saxões. Os cavaleiros ou jóqueis mais cotados, em corridas de cavalos, eram obrigados a correr com o boné na mão, portanto tinham de competir com uma (1) só mão. Era a desvantagem...

Daí derivou, há alguns anos atrás, as concepções que nos tornava ‘’portadores’’. Segundo Elio Sgreccia, em seu Manual de Bioética: “A desvantagem no campo médico significa que o portador de deficiência, física ou mental, é considerado como um usuário a meio caminho dos serviços médicos...”. O autor completa ainda que serão considerados doentes apenas nas fases agudas ou por causa de outras doenças específicas.

Essa concepção ainda permanece atravessando a ruptura e a transição de paradigmas que vivenciamos. Ainda muitos serão chamados de “portadores”, “pessoas com necessidades especiais”, “excepcionais”, “incapazes”, “inválidos”. Estas terminologias trazem subjacentes as ideologias que fundamentaram o modelo biomédico e o modelo reabilitador. É preciso que existam os ‘’doentes e seus corpos’’ para que possamos então ‘’classificá-los’’, identificando sua diferença como doença.

Como ultrapassar o modelo biomédico de deficiência? A possível mudança radical, em processo desde 2001, é a aplicação da nova Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, que traz uma ênfase na saúde.

A afirmação de sua mudança de paradigmas, radicalmente, será sair dos modelos que, ainda são puramente médicos e centrados na doença e nos sujeitos considerados doentes. Mas, mesmo ela carecerá de uma vigilância ética e bioética de sua a aplicação.

No próprio manual editado pela OMS há a indicação desta questão. Estabelecem as seguintes diretrizes éticas para a utilização da CIF:
1) A CIF deve ser utilizada sempre de maneira a respeitar o valor inerente e a autonomia dos indivíduos.
2) A CIF NUNCA deve ser utilizada para ROTULAR AS PESSOAS ou identifica-las em termos de uma ou mais categorias de incapacidade (aí prefiro o termo Deficiência).
3) Na clínica, a CIF deve ser sempre utilizada com o conhecimento pleno, cooperação e consentimento das pessoas cujos níveis de funcionalidade estão sendo classificados. Se as limitações da capacidade cognitiva de um indivíduo impedirem este envolvimento, as instituições de apoio ao indivíduo devem ter participação ativa.
4) As informações codificadas pela CIF devem ser consideradas informações pessoais e sujeitas às regras reconhecidas de confidencialidade apropriadas segundo a forma como utilizados.

Por estas diretrizes é que esta “nova” classificação deverá ser tornada motivo de ampla e imprescindível discussão, debate, apropriação e difusão. Ainda é uma forma de classificação que precisa de muitas reflexões, principalmente na sua aplicação na formulação de políticas públicas para pessoas com deficiência. Afinal, somos agora mais de 45 milhões de brasileiros e brasileiras (Censo IBGE).

Os campos da Saúde, da Educação e da Assistência Social estão, aqui e em outros países, fazendo a progressiva capacitação de seus peritos médicos, assistentes sociais e educadores. Porém, como já foi alertado temos de cuidar para que não se torne apenas uma extensão da aplicação ‘’numerológica’’ que se faz da CID. Tornou-se uma naturalização darmos um número às doenças e aos doentes.

É muito mais fácil, menos complicado, menos complexo, e, quem sabe sem muitas implicações éticas, a aplicação de um código ao mal-estar, sofrimento ou enfermidade desses Outros. Nomeamos um número e uma doença. Não teremos de cuidar de todas as questões de seu contexto sócio, politico e econômico com os principais geradores de seu quadro.

Para a aplicação da CIF é lembrado que “todo ser humano pode experimentar problemas de saúde e, consequentemente, alguma incapacidade, (dentro dela alguma deficiência, limitação ou restrição de atividade), delas decorrentes...”.

Esta mudança sai do modelo que busca só as causas (etiologias) para o surgimento de incapacidades, busca também a presença de seu impacto e dos fatores contextuais que se modificam com os múltiplos e plurais estados de saúde.

Saímos da CID em direção a CIF, que, com certeza, também será ultrapassada um dia. E, aí quem sabe, qual será minha nova codificação, minha nova ‘’patologia’’, ‘’defeito’’, ou, quiçá ‘’diversidade funcional’’?

Porém tudo isso dependerá de uma mudança de nossos paradigmas. E, apesar de todas as ‘’revoluções’’ e ‘’primaveras’’, há sempre novas barreiras em construção. As mais recentes dizem respeito à Educação Inclusiva, onde um novo decreto retrocede alguns anos de conquista, saindo do ‘’forno legislativo’’ antes mesmo de ser mais bem apresentado para as massas que por ele podem ser afetadas.

Por isso, pela afirmação de que não bastam termos novas formas de classificar as deficiências, é que teremos de romper com a visão medicalizada, reabilitadora e assistencialista das pessoas com deficiência e seus direitos. A eficácia de normas ou de políticas públicas depende também de mudanças culturais e de mentalidade. Caso contrário mantemos, com re-institucionalização, o passado que pretendemos deixar para trás.

Houve um tempo, desde os séculos XVIII e XIX, que o chamado biopoder com suas práticas disciplinares, buscava a docilização e o adestramento dos corpos. Nascia a biopolítica, segundo Foucault, em consequência das instituições (hospitais, escolas, prisões, fábricas, casernas, etc..) com a visão do corpo como ‘’máquina’’. A mesma máquina, a ser aperfeiçoada, segundo as visões “científicas” da Frenologia e da Eugenia...

Hoje já temos os nossos corpos capazes de serem movidos por exoesqueletos. Somos trans-humanos? Nossas incapacidades, deficiências ou limitações de participação podem simplesmente desaparecer. São as biotecnologias em pleno avanço, tanto para o bem como para o mal...

Estamos no tempo das células tronco que podem mover, mesmo que 100 metros, um paraplégico na Bahia. Estamos na nova Era da Idade Mídia. Mas, sem ruptura dos velhos paradigmas podemos nos tornar tão engessados como os cruzados em sua guerra santa, acreditando, mistificadamente, que os nossos castelos ideológicos são inexpugnáveis e indestrutíveis.

Retomo, então, a necessidade de uma ampliação de conceitos, terminologias ou de classificações acerca e dentro das deficiências. E, nessa busca crítica, poderemos aprender a refletir e ampliar o uso de todas as ferramentas, todas as legislações, todos os instrumentos de poder.

Há sempre a possibilidade de ir além, de subverter e de transformar, individual e coletivamente, o que se considerar nossa atual realidade, principalmente no campo das políticas sociais. Nesse campo a CIF pode ir além de todas as CIDs.
Nessa ação micro e macropolitica podemos afirmar a nova visão em Direitos Humanos que embasa nossa melhor conquista do século XXI: a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Para que, enfim, possamos ter uma real e efetiva mudança de paradigmas, com a perspectiva de que dois modelos de deficiência podem coexistir, um tradicional (biomédico/reabilitador) e pelo menos um novo (social e biopsicossocial), vamos propor revoluções ‘moleculares’. Elas, que ainda estão se processando, devem ser estimuladas para que continuemos sonhando com uma grande revolução molar dos conceitos e preconceitos sobre a deficiência.

Continuo, continuemos, interrogando: um dia, no futuro, qual será o meu número na CIF? E o seu? Será que, com as multidões e massas que revolucionam todos os dias as redes sociais, produzindo novas e intrigantes cartografias, conflitando os discursos totalizantes ou universais, haverá o nascimento de um para além de todas as classificações?

Então, os nossos olhos não serão mais que olhos. Veremos também pelas janelas da alma. As estruturas do olho, como na CIF pelos códigos de s 210 a s 230, serão muito úteis para outro Censo. O senso da sensibilidade das diferenças, das heterogeneidades, das multiplicidades e das pluralidades do que se chama de ser humano, ESSA ALTERIDADE INDIZÍVEL E INCOMENSURÁVEL, SEM CLASSIFICAÇÃO POSSÍVEL.


(Este texto foi escrito especialmente para ser difundido no SEMINARIO OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, promovido pelo GEDEF – Ministério Público da Bahia, Salvador, BA, nos dias 28 e 29 de novembro de 2011, com minha participação, à distância, por videoconferência com o tema: “A importância da adoção da Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF, para classificação das deficiências e inclusão social das pessoas com deficiências.”)

“Los derechos que no se garantizan igualmente para todos y todas, se convierten en privilégios”
(frase no livro de Pilar de Samaniego Garcia Capítulo VI- Hacia una Educación Inclusiva – resultado de uma séria pesquisa na América Latina sobre a inclusão escolar de pessoas com deficiência).

Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa)

FILME citado no texto-

JANELA DA ALMA – (2001) – João Jardim e Walter Carvalho (Direção) – Sobre o olhar, o ver, o enxergar e o ir além desta janela..., e além de nossas ‘’cegueiras brancas’’.
http://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg (sem legendas)
http://video.google.com/videoplay?docid=1046435147561692538# (com legendas em francês)
http://www.interfilmes.com/filme_13649_janela.da.alma.html (dvd sinopse)

Sobre FRENOLOGIA - http://pt.wikipedia.org/wiki/Frenologia

Livros indicados:

Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2003.

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (Décima Revisão) – Volume 2 - Manual de Instrução (OMS – Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português – Universidade de São Paulo) EDUSP, São Paulo, SP, 2001.

Manual de Bioética – II – Aspectos Médico-Sociais, Elio Sgreccia, Edições Loyola, São Paulo, SP, 1997 (2ª Ed 2004).

Leia também no BLOG
AS DEFICIÊNCIAS E O KAMA SUTRA - Algumas aproximações e distanciamentos
http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/12/imagem-foto-de-evgen-bavcar-fotografo.html

UMA LUZ NO FIM DO LIVRO
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O MELHOR É A JAULA OU O GALINHEIRO? Deficientes intelectuais e o seu encarceramento
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INCLUSÃO/EXCLUSÃO - duas faces da mesma moeda deficitária?
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/02/inclusaoexclusao-duas-faces-da-mesma.html

domingo, 20 de novembro de 2011

A CONSCIÊNCIA INCLUSIVA E O RACISMO NA ESCOLA


Imagem Publicada - Alunos da Escola Municipal de Educação Infantil(Emei) Guia Lopes, no Limão, na Zona Norte de São Paulo, fizeram desenhos contra a discriminação racial sobre uma pichação feita durante um fim de semana de outubro no muro da unidade.
A frase "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas" foi escrita pelos pichadores acompanhada da suástica nazista. A Emei tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil 1 e 2 (pré-escola) (Foto: Filipe Araújo/Agência Estado)

Estamos em um momento histórico para o mundo e país. Muitas re-voluções estão em ação. E, na comemoração do Dia de Zumbi, o resistente negro dos Palmares, o quilombola, reinvoco a sua potência para algumas interrogações/opiniões.

Primeiramente, precisamos interrogar quantos dos que lerão este texto experimentou, na pele, alguma forma de discriminação, ou não? Você(s) já se viu discriminado ou tratado com diferenciais modos de atenção ou exclusão em espaços públicos? Já vivenciaram a sensação de serem os ‘’estranhos no ninho’’ por quaisquer de suas condições humanas? Ou por serem mulher, ou gay, ou gordo (a) ou uma pessoa com
deficiência?

Há alguns dias comemorou-se o Dia Internacional da Tolerância. Mas muito poucas pessoas se deram conta dessa ‘’comemoração’’ da UNESCO.Por quê? Esta palavra não é parte ativa de nosso Cotidiano e das Violências?. A palavra que confirma o sofrimento e o suportar o Outro e suas diferenças...

Interrogo-me sobre sua presença e negação, se o que mais estamos assistindo e tele-visando são, quando falamos das atuais massas em movimento, as resistências aos regimes intolerantes, aos tiranos de aldeia ou mesmo os que se engessam nos poderes.

São as revoltas contra todas as formas de perpetuação das violações de Direitos Humanos..., principalmente dos chamados regimes autoritários ou ditatoriais, e, inclusive, o ditos democráticos e, economicamente,hegemônicos.

Em minha opinião, podemos dizer que somente a revolta e a derrubada de tiranos ou velhos ditadores não é e nem será suficiente para uma mudança radical de paradigmas e culturas sobre os diferentes racismos.Muitas vezes, no hipercapitalismo atual, tornam-se as legitimadoras de outras formas sutis de segregação ou discriminação.

Primeiramente, portanto, precisamos lembrar o que foi descrito com sendo o racismo, e os atos que o alimentam: a Discriminação Racial.Segundo o conceito estabelecido pelas Nações Unidas (Convenção da ONU/1966, Sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial):
Significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferências baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou exercício, em condições de igualdade, osdireitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, social
ou cultural, ou em qualquer outro domínio da vida pública (Idem,Ibidem)”.


Em outubro foi difundido um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil- de forma inédita, mostrava que mais de 50%desta população é composta por homens com até 30 anos e em sua maioria migrante do Nordeste. 80% são de raça negra!

Um dia em um quilombo, há alguns séculos atrás, um homem negro desafiou por alguns anos, na Serra da Barriga, em Alagoas, acolonização opressora e seu trabalho escravizador. Quantos são os Zumbis que hoje resistem nos canaviais, nas fazendas, nos latifúndios,nas madeireiras, nos diferentes espaços rurais, e, inclusive urbanos,
onde seus corpos são apenas Vidas Nuas em exploração e cativeiro?

E, por haver ainda o trabalho indigno e escravo é que diante das atuais manifestações de júbilo ou de conquista de direitos para apopulação negra é que afirmo: ainda estamos muito longe de uma derrocada definitiva dos racismos.

Ainda estamos no caminho, ainda estamos a passos muito lentos nessa direção. Não farei as tradicionais alegações de diferenças salariais,econômicas ou de classe social, para falar da brecha que separa os cidadãos e cidadãs negros de outras ‘’raças’’. O IBGE tem sido suficientemente competente para nos mostrar em números escandalosos este abismo que nos distancia ou segrega.

Por estarmos assim ainda tão distanciados é que proponho que nossas maiores ênfases e dedicações, nesse momento atual, no combate aos racismos se deem através da Educação Inclusiva. A mesma que recebeu recentemente, no campo das deficiências, um duro golpe legislativo para se manter a institucionalização das diferenças. Cada um no seu quadrado... Enquadrado.

No mesmo Diário Oficial de nosso Governo Federal, do dia 17/11/11,estão o Decreto 7611 e o 7612. O primeiro tratando da Educação Especial e apagando da história as conquistas do Decreto 6571 de 2008,e o segundo que deveria ser o primeiro, o Plano Nacional para as Pessoas com Deficiência.

E o VIVER SEM LIMITES torna-se a nova meta governamental até o ano de 2014, com uma verba de R$ 7,6 bilhões, nos campos da educação, da acessibilidade, da mobilidade e da saúde. Um plano que ainda mantêm alguns campos das heterogêneas e singulares formas de ser e estar comuma deficiência sob velhos paradigmas e antigas instituições.Desejamos que seja avanço, mas já foi antecedido por um retrocesso...
É no retrocesso que mantemos sob vigilância todas as formas instituintes.

É no conservadorismo que muitos resistiram aos abolicionistas. Temiam perder suas propriedades e senzalas, perdendo sua mão de obra escrava. Há os que ainda acreditam em privilégios, ou seja, leis para alguns poucos.

Mas a história nos mostrou que apenas trocamos de senhores e de capitães do mato. Ainda temos milhares em situação de trabalho escravo. Não temos mais Zumbis, perdemos nossas potências de resistência e revolta civil?

Hoje, assistindo um filme de Denzel Washington, O Grande Desafio, pude ver uma nova centelha de luz. É a história de um homem que crê na possibilidade de ‘’incluir’’ os estudantes negros em um debate com outros estudantes da Harvard. Baseou-se em uma história real, uma história que gostaria de ver milhares de vezes repetidas em nossas
escolas.

Ele, como o professor Tolson, acredita no poder das palavras. Inspira-se em Gandhi e na desobediência civil. Ele, com sua determinação, escolhe três discípulos que nos mostrarão o quanto a cor da pele pode falar, quando é incluída e respeitada.

Creio que, somente, sob o estímulo de um bom professor, em um espaço de ensino aprendizagem mútua, no máximo respeito às singularidades e individualidades, como deve ser uma escola rumo à Inclusão, que podemos, juntos, acreditar em nossos direitos fundamentais e humanos de nos incluirmos entre nossos pares, sejam de que cores de pele forem.

Imaginemos uma criança negra, gorda, com síndrome de down, e pobre.Esta criança pode e deve frequentar nossas escolas regulares? Segundo novas determinações legais haverá uma possibilidade, dependendo da escola, de que sua inclusão esteja sob condicionais. Precisamos continuar tendo a sua possível diferença como transformadora e instituinte. O banco mais comum de escola, com todas as adaptações
razoáveis, é o seu melhor lugar para a quebra de todos os preconceitos.

Bastaria lembrar, como a Convenção de 1966, que não podemos, sob nenhuma alegação, restringir seu direito, se nós a discriminamos por ser negra. E, para “complicar” o estereótipo, podemos dizer que essa aluna potencial poderia ser uma menina.

O gênero é e pode ser motivo de outra forma de exclusão, já que meninas negras são ainda mais segregadas. Assim, então, como nos afirmou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em relação às meninas com deficiências, em seu artigo 3º sobre os seus Princípios:
g A igualdade entre o homem e a mulher;
h)O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças comdeficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade.


Portanto se pudermos, coletivamente, pensar em um “debate”, como os alunos do Professor Tolson, é a hora de reunirmos as forças instituintes e resilientes, que defendem direitos humanos, para que tanto os racismos, as homofobias ou quaisquer forma de preconceitos tornem-se discussão contínua e parte das diretrizes curriculares,urgentemente.

É preciso reconhecer que, para além dos bullyings, há um campo fértil para estas discriminações dentro dos muros (assim como fora) das escolas. É preciso reconhecer, assim como o fez o Projeto de Lei256/11, que se deve incluir a educação em e para os direitos humanos já no ensino fundamental.

Somente a sua apropriação por nossos filhos,e os filhos de nossos filhos, é a abertura para as necessárias e possíveis mudanças culturais e antirracistas, para além de todos os preconceitos, estigmas ou estereótipos.

Sim, poderemos ainda um dia VIVER SEM LIMITES, ou melhor, sem as limitações impostas, mas precisaremos antes da remoção de muitas barreiras, muitos ressentimentos identitários, muitos narcisismos das pequenas diferenças, muitos sectarismos, muitos exclusivismos e muitas negações do Outro e suas diferenças. Diferenças que espelham a suaafirmação contra toda forma de discriminação.

Vamos então reconhecer, diante das atuais macropolíticas, o quanto ainda temos de lutar por políticas públicas estruturais, o quanto ainda temos de, molecularmente, aprender a aprender a consciência inclusiva, que pode ser antirracista ou antihomofóbica, por exemplo,mas que só germina quando reconhecemos que ela é também o motivo de nossa vida, e, como disse Saint Exupéry, também o motivo de nossa
morte...

Houve um tempo para que pudéssemos aprender que os bárbaros podem pichar nossos muros escolares. Nós não podemos é deixar de pintar,como as crianças da Emei Guia Lopes, com todas as cores, ideias e etnias, um arco-íris de direitos humanos dentro de nossas mentes e corações...

Pela Potência Zumbi, Maria Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento,Milton Santos e todas as negritudes que estão surgindo por aí...


Copyright e copyleft jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Para conhecimento e difusão na Internet

LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. 
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm

OIT divulga dados do trabalho escravo rural no Brasil
http://www.palmares.gov.br/?p=15391

DECRETO No- 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011 Dispõe sobre a educação especial
http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=12&data=18%2F11%2F2011

DECRETO 6949/2009 - Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm

COMBATE AO RACISMO Dia reforça luta contra preconceito na rede pública http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/3288/162/dia-reforca-luta-contra-preconceito-na-rede-publica.html

Direitos humanos devem integrar diretrizes da educação, decide comissão
http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/205450-DIREITOS-HUMANOS-DEVEM-INTEGRAR-DIRETRIZES-DA-EDUCACAO,-DECIDE-COMISSAO.html

Alunos fazem desenhos sobre pichação com frase racista em escola
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/11/alunos-fazem-desenhos-sobre-pichacao-com-frase-racista-em-escola.html

INDICAÇÕES PARA LEITURA –
Superando o Racismo na Escola
 Kabengele Munanga (Org.)-http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4575.pdf

Filmes indicados:

O GRANDE DESAFIO – Denzel Washington (2007) -
- Trailer www.premiereonline.com.br
http://cinezencultural.com.br/site/2010/03/14/o-grande-desafio/

Leia também no BLOG –

Onde Nascem e Morrem os Direitos Humanos –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/onde-nascem-e-morrem-os-direitos.html

Direitos Humanos como uma questão para a Educação Inclusiva –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/05/imagem-publicada-uma-foto-de-tres.html

Como fazer a Cabeça com Beatriz Nascimento?
https://infoativodefnet.blogspot.com/2009/11/infoativo_19.html

Qual é a SUA RAÇA? Nada a Declarar –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/11/imagem-publicada-uma-foto-em-preto-e.html

NA NOITE GLOBAL TODOS OS SERES TORNAM-SE PARDOS
https://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Frantz%20Fanon

terça-feira, 15 de novembro de 2011

ASPERGER, UMA SÍNDROME DE MENTES BRILHANTES OU NÃO?


Imagem Publicada - A capa da Revista Ciranda da Inclusão, nº22, outubro 2011, escrito Incl em azul, com o U sendo representado por duas figuras, e São em rosa. Tem a foto de uma criança que ilustra o tema principal deste número: A síndrome de Asperger, que traz sob seu título: a Revista do Educador. À direita indica os temas da revista: Asperger, como um transtorno do espectro autista, Deficiência Visual - espaço é referência no ensino do sistema Braille,Juntos pela Inclusão - Assistência Especializada faz a diferença. No rodapé traz as imagens de encartes grátis em Braille. São fotos de uma das maiores diversidades da natureza: as flores e suas múltiplas formas e cores que tanto nos encantam. Aquelas que nunca nos excluem ou decepcionam, principalmente se são cuidadas com carinho e amor.

ASPERGER OU NÃO ASPERGER? normal ou a-normal?

Em confirmação das possibilidades de ir além com as pessoas com e sem deficiência reproduzo o texto sobre Síndrome de Asperger que foi publicado na edição de Outubro da Revista Ciranda da Inclusão, após sua edição, e que reafirma a necessidade de sua inclusão social e escolar, indo além de qualquer noção de anormalidade ou normalidade.

Excentricidade. Uma palavra que poderia resumir o que é vivenciado e sentido pelos que são diagnosticados com a Síndrome de Asperger. Primeiramente por sua condição de inclusão no amplo espectro das síndromes autísticas. Depois por estarem em um diagnóstico que afirma uma possibilidade ambígua tanto de inclusão como de exclusão. Sim são, ou tornam-se, pessoas excêntricas, se considerarmos os nossos padrões rígidos da chamada ‘’normalidade’’.

Mas não ficam fora do centro apenas por suas diferenças. Eles também ficam em situação de um ‘’mundo’’ próprio e com muitas singularidades. Eis seu maior risco ou possibilidade de sofrimento: o isolamento social. Mais ainda sua estigmatização.
As pessoas que recebem este diagnóstico são incluídas nos Transtornos Globais do Desenvolvimento.

São as que apresentem distúrbios, não evolução ou desenvolvimento alterado nos campos das habilidades sociais, da comunicação e, da linguagem. Podem, por suas singularidades, serem, como os demais autistas, ser excluídos ou segregados, por exemplo, no campo educacional. E, hoje, sua condição reconhecida de ‘’alto funcionamento’’ intelectual pode ser melhor abordada pela educação inclusiva.

O que diríamos se nos fossem apresentados algumas mentes brilhantes, seja nas ciências, nas artes ou nas filosofias, que foram e são colocados sob o diagnóstico de Síndrome de Asperger?

Foram assim “diagnosticados, postumamente, alguns ‘‘gênios”, como Mozart, Einstein, o compositor Bela Bartók, o músico Glenn Gould ou o filósofo Wittgenstein. Restará nos perguntarmos eram: Asperger ou não Asperger, eis a questão?

O próprio Dr. Hans Asperger, criador do termo é descrito, em sua infância, com algumas das características, sintomas ou peculiaridades que são motivo de diagnóstico de Asperger. Ele foi um pediatra austríaco que denominou um quadro inicialmente denominado de ‘psicopatia autística infantil’, em 1944. Ele observou quatro crianças em sua clínica que tinha dificuldade de integração social.

Embora com uma inteligência considerada, á época, normal estas crianças tinha uma dificuldade de empatia, com desvio do olhar e o encarar aos outros. E eram consideradas grosseiras em suas comunicações. Ou seja, tinham alterações de comportamento social e de seus interesses.

Somente em 1981, a psiquiatra infantil britânica Lorna Wing denominou esta perturbação como Síndrome de As¬perger, em homenagem ao insigne pediatra vienense. Esta entidade faz parte das perturbações globais (ou pervasivas, do inglês pervasive, sem tradução consensual para português) do desenvolvimento.

Os estudos de Wing foram, então, popularizados e difundidos amplamente. A síndrome só veio a se tornar uma ‘’enfermidade’’ em 1992, quando foi incluída na 10ª edição do Manual de diagnósticos da OMS (Organização Mundial da Saúde), a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), e em 1994 foi agregada à DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o livro de referência diagnóstica da Associação Psiquiátrica Americana (EUA).

Em contraposição à esta visão diagnóstica surgiram, alguns anos depois, os movimentos criados pelos próprios portadores da Síndrome. Eles fundamentados nos Estudos sobre Deficiência, questionando a patologização de suas ‘’excentricidades’’ comportamentais, como a chamada ‘’cegueira mental’’, que os faz terem um maior distanciamento denominar de ‘’Aspies’’ e, reforçando sua singularidade, conectam-se via internet, afirmando que todos os ‘’cérebros são lindos’’, apesar de suas diferentes formas de funcionamento e cognição.

Sabemos hoje que o espectro autístico é multifacetado, e, dependendo das condições onde se encontram as pessoas assim diagnosticadas, os seus distúrbios de desenvolvimento serão mais bem compreendidos, cuidados e respeitados seus direitos. Mas há que reconhecer que nem sempre nossos ‘’aspies’’ estão e estarão nos mesmos ambientes socioeconômicos e familiares que os ajudem a superar suas vulnerabilidades.
Em recente pesquisa desenvolvida na USP apontou-se que faltam estudos dedicados sobre adolescentes que apresentem um quadro do espectro autístico.

Segundo o levantamento da Profª Fernanda Dreux M Fernandes, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Usp, dos 3.065 artigos publicados em revistas internacionais e nacionais sobre fonoaudiologia e autismo, apenas 56 versam sobre adolescentes, sendo somente 03 artigos brasileiros. E dos 1.356 estudos referentes ao autismo, só 43 eram sobre adolescentes.

Sabe-se que entre 1% a 1,5% da população mundial apresenta características relacionadas com o espectro do autismo. Daí ter a preferência pessoal de me referir ao autismo no plural, ou seja, vivenciam-se múltiplos, heterogêneos e plurais transtornos ou distúrbios do desenvolvimento. Não há o autismo e sim os autistas. Cada um com uma forma singular e única de desenvolvimento de suas dificuldades nas áreas de socialização, linguagem e comunicação, assim como em atividade imaginativa e cognição.

Hoje sabemos que os chamados Aspies são possíveis ‘’mentes que brilham’’, apenas no escuro, quando nós, dito normais, não compreendemos seu ‘’brilhantismo’’ obsessivo por determinados temas ou assuntos. Por se tratarem de modos de funcionamento neuro-cognitivo hiper diferenciado, e, principalmente, por seu relacionamento com o mundo ‘’normal’’, tornam-se mentes que se ofuscam ou podem ser ofuscadas pelo seu enquadramento nosológico, como uma ‘’doença’’.

Não devemos apenas enquadrá-los no campo dos transtornos invasivos do desenvolvimento, pois que enquadrados, de forma reducionista e simplista, como uma das formas de Autismo, deixam os que têm baixo funcionamento intelectual como uma extremidade. Não serão, portanto reconhecidos em suas diferenças, respeitados em suas singularidades, mas homogeneizados nas formas de tratamento ou ‘’cura’’.

A interrogação que nos trazem os mais recentes filmes e documentários sobre a Síndrome de Asperger, podem nos ajudar a formular uma interrogação sobre estas múltiplas formas de ser e estar com a SA: toda mente Aspie é brilhante?

Esta pergunta nos foi primeiramente apresentada, em 1988, pelo filme Rain Man. Nesta obra ‘’brilhante’’ de Barry Levinson, temos o astro Dustin Hoffman com um desempenho digno e fidedigno do que uma pessoa com ASPERGER, em tom maiúsculo, pode vivenciar. Ele é o irmão institucionalizado para o qual o irmão, considerado normal, interpretado por Tom Cruise, se volta na busca de uma partilha de herança deixada por seu pai.

Mas o mesmo brilhante Aspie que consegue dizer, com precisão, quantos palitos de fósforo estão dentro de uma caixa, torna-se um sujeito incapaz de reconhecer-se amando e sendo amado em outras cenas do filme. Recomendo que assistam esta película, pois ela é contemporânea dos anos de ‘’descoberta’’ e diagnose das Síndromes de Asperger. E aviso que o brilhante ator não deverá ser tomado como um padrão para todos os ‘’aspies’’.

Há os que têm comprometimentos que não lhes permitem uma real socialização ou mesmo uma efetiva inclusão social. Para estes é que uma distinção e diferenciação diagnóstica poderá vir a ser uma solução para que sejam cuidados e respeitados em seus direitos fundamentais, em especial o da inclusão escolar e a sua não vulneração social.

Outro filme que nos mostra uma das múltiplas facetas da Síndrome de Asperger é Adam, de Max Mayer. Nele um jovem com Síndrome de Asperger é um vizinho apaixonante de uma jovem professora. É uma história sobre as possibilidades e os entraves para a ruptura do isolamento que a síndrome pode provocar. Os isolamentos apontados no filme são principalmente, pela perda paterna, pois o personagem vive como um adulto solitário, como seu trabalho obsessivo, e suas persistentes fixações na vida social.

É um jovem obcecado por estrelas, pelo Universo e pelos planetários, mas que precisava de uma pessoa, capaz da empatia e do apaixonar-se, para a tentativa de rompimento de sua tele-visão do mundo que o cercava, alguém disposta para ensinar/aprender a amar a diferença.

Melhor ainda para compreender e se questionar sobre o brilho das mentes aspies é o filme, quase documentário, sobre Temple Grandin. Este filme exibido pela HBO na TV ganhou o Emmy de 2010, e retratou com fidedignidade uma mulher que se tornou emblemática para a Síndrome de Asperger. A atriz Claire Danes consegue nos mostrar o quanto precisamos aprender sobre a sua ‘’máquina do abraço’’, uma criação de Temple Grandin para o alívio de suas tensões e angústias diante das relações com outros seres humanos. A história é verídica e mostra todos os percalços e barreiras impostas a quem vive em um mundo autísticamente distanciado.

A própria Temple nos ensina: “Você não sabe que a maneira que você pensa é diferente até que você começa a questionar as pessoas sobre como você pensa”. Ela é hoje uma doutora universitária, que aplicou a sua máquina do abraço no processo de mudança do abate cruel do gado. O filme é merecedor dos prêmios pelo despertar de uma outra visão sobre quem vive com a síndrome.

Portanto temos de responder que nem todas as mentes ‘’ASPIES’’ devem ser, mesmo cinematográficamente, vistas como brilhantes. As suas capacidades e habilidades merecem ser reconhecidas, mas as possibilidades de apresentarem as alterações do espectro dos autismos é muito grande.

Um estudo realizado sobre sua visão e compreensão sobre a Morte é um bom exemplo. Em pesquisa realizada no Instituto de Psicologia da USP, por Leticia C. Drummond Amorim, sobre o conceito de morte em indivíduos com o espectro autístico, e, em especial, na Síndrome de Asperger, onde os pesquisados revelam que para eles a morte é vivenciada de modo impessoal e concreta.

Eles a interpretam de uma forma literal, e, caso quando comparados com pessoas com deficiência intelectual, estes se diferenciam pela forma estereotipada e formal de conceituar a morte e o morrer.

O que não podemos perder de vista e de reflexão é que ambos, tantos os ‘’aspies’’ quanto as pessoas com deficiência intelectual, para além de suas limitações ou habilidades, devem ser reconhecidos como cidadãos de direito, como pessoas que podem ter fragilidades maiores que a média dos outros sujeitos, do ponto de vista evolutivo, porque sua dificuldade pode ser a compreensão do pensamento dos outros, tornando-se mais vulneráveis.

Lembrem-se, portanto, que há os diagnósticos, principalmente para as crianças com alterações graves de comportamento, linguagem ou de interação social dentro do espectro dos autismo(s). Há porém um grupo que tem afirmado que: Every Brain is Beatiful (Toda Mente é bela), com um cérebro multicolorido que vem sendo utilizado no Dia do Orgulho Autista. Nesse dia alguns autistas norte-americanos, em 18 de junho de 2005, afirmaram: “Não nos tratem como ‘’doentes’’.Somos diferentes, sim. Mas não precisamos de remédio ou de cura, mas de uma chance de sermos nós mesmos...”

Enfim, tendo a atualização de sua nova constituição legal, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto 6949/2009), devem ser mais que mentes que brilham ou se ofuscam, são, em uma sociedade igualitária, diferenças e diversidades do modo humano de ser e estar. São, enfim, mais que um diagnóstico, um rótulo ou um estigma, e, com equiparação de suas oportunidades, podem brilhar, mesmo que singelamente, cada um a sua própria luz.


copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 (favor citar o autor em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa)

Meus textos sobre Autismo – Blog INFOATIVO.DEFNET

Um Autista pode vir a ser um Artista da água-
http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/04/um-autista-pode-vir-ser-um-artista-com.html

Orgulhos ‘múltiplos’ – no combate a todos os preconceitos
-http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/06/orgulhos-multiplos-no-combate-todos-os.html

A Terra é Azul e o Autismo também -
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/03/terra-e-azul-e-o-autismo-tambem.html

FILMES sobre a Síndrome de Asperger
• RAIN MAN – (1988) Filme de Barry Levinson - 1988 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rain_Man
• ADAM – (2009) – Filme de Max Mayer
• http://caminhosdoautismo.blogspot.com/2011/02/filme-adam-2009-sindrome-de-asperger.html
• TEMPLE GRANDIN (2010) – Filme de Mick Jackson
http://caminhosdoautismo.blogspot.com/2010/05/temple-grandin-o-filme-download.html


VIDEOS SOBRE ASPERGER na INTERNET

Mary&Max – desenho animado (dublado)
Max escreve uma carta a Mary depois de anos sem mandar notícias devido ao seu problema de saúde, que logo saberia que é Síndrome de Asperger
http://www.youtube.com/watch?v=6iNcAOoeXwY&feature=related

LIVROS sobre a Síndrome de Asperger
Autismo e Morte – Letícia C. Drummond Amorin – Ed. Rubio, Rio de Janeiro, RJ, 2011.
Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger – estratégias práticas para país e profissionais – Chris Williams e Barry Wright – Ed. M. Books do Brasil, SP, 2008.

Indicação de ARTIGO
DEFICIÊNCIA, AUTISMO E NEURODIVERSIDADE – Francisco Ortega
http://redalyc.uaemex.mx/pdf/630/63014108.pdf

LINKS – Faltam Estudos sobre adolescente do espectro autista
http://www.usp.br/agen/?p=69341

REVISTA CIRANDA DA INCLUSÃO

http://www.principis.com.br/revistainterativa/Mainm_ciranda.php?MagID=3&MagNo=4

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CIBERATIVISMO - 02 ANOS - Outras Línguas, Outros Sentidos e a busca do OUTRO


Imagem Publicada – um encontro entre o passado e o presente no campo da vida digital. É uma foto tirada na Tailândia onde um monge vestido de sua cor laranja, dialoga com um menino que traz um laptop do programa One Laptop per Child(um computador para cada criança...), de Nicholas Negroponte, tendo outro jovem olhando a cena. O laptop tem a cor verde, e uma manivela que é o meio pelo qual sua bateria interna irá funcionar, demonstrando-se na máquina o reencontro das tecnologias em que o passado ajuda o futuro. É o caminho para a Era da pós-informação, para além da Idade Mídia atual....

CIBERATIVISMO EM AÇÃO
Edição comemorativa 
dos 02 anos do Blog INFOATIVO DEFNET

CADA HOMEM É, sozinho, 
A casa da humanidade.

Não tenho nada na cabeça

A não ser o céu.

Não tenho sapato
A não ser o passo,
Não faço nada com o passo, 
Só traço a linha do futuro.
E o futuro tem caminho
na UNIMULTIPLICIDADE,
pois cada homem é, sozinho,
A CASA DA HUMANIDADE. (Tom Zé, compositor, Fórum Mundial, março 2001)


Hoje às onze horas e onze minutos, segundo os numerólogos e os matemáticos, uma sincronia de tempo e da vida se realizou. Um dia a mais no calendário? Ou um dia para celebrar a grande e importante descoberta da ‘’liberdade sem fio’’? Ou apenas mais um dia, um dia para que mais de 4.000 chineses busquem afirmar a sorte e se casem jurando o amor eterno?


Eu aqui, usando uma "velha máquina de escrever, agora mais digital do que nunca", ainda com o Windows XP, estou comemorando o que há dois anos atrás se tornou um espaço de vivências, idéias e de minha própria super-vivência. Em 14 de novembro de 2009 foi ao ciberespaço o Blog INFOATIVO.DEFNET.



Estava eu me recuperando de um duplo trauma físico e psíquico. Primeiro tinha feio uma neurocirurgia e implantado 06 parafusos e 02 hastes de titânio dentro de meu corpo. Uma experiência da tentativa de supressão total da dor e da minha marcha prejudicada e claudicante. Já escrevia e publicava, via e-mail, o boletim eletrônico do DefNet. Entretanto, como meus passos e caminhada, ainda era muito pouco neste universo de comunicação e inteligência coletiva. 

Ao vivenciar, no corpo e na mente, a desagradável experiência pós-operatória de ser “largado’’, ou melhor não sustentado apropriadamente, pelos profissionais de saúde de um hospital universitário, descobri como sair desta queda. Novas dores aprendi em 11 de outubro de 2009. As mesmas que hoje busco re-aprender com elas...

Um mês após já tentava encontrar um caminho para resolução de minha imobilização física parcial. Precisava sair e ao mesmo tempo "ficar de cama". Como dar vazão ao mundo de emoções e sentidos que experimentava? Como não interromper meu ativismo na Internet? Como me levantar para além de quaiquer limitações de meu corpo?. 

Eis que uma adaptação de uma mesa dobrável e um laptop (o mesmo que pifou antes da cirurgia, e mais uma vez me deixou na mão estes dias) tornaram-se os meios tecnológicos de redenção de minhas dores físicas. Mas principalmente o melhor antídoto de uma possível depressão ou isolamento. Escrever tornou-se meu melhor remédio.

Hoje após 02 anos de luta e de tratamentos os mais variados ainda sobram muitas dores. Para além delas, hoje o blog já se tornou meu maior espaço de combate e afirmação dos direitos humanos. Entre eles afirmo o direito do alívio da dor humana. Por todos os meios, por todas as mídias, sem fronteiras ou limites.

São mais de 51.000 visitas e múltiplas difusões e retransmissões de meus textos pela Internet. São agora 90 posts. Espero possam ser 90.000.Escrever tornou-se um ato criativo de livre comunicação.Retomei o meu ciberativismo. Reafirmei minha esperança de uma socialização irrestrita do saber...

Neste dia 11 de novembro de 2011 lanço, no ciberespaço, hoje uma nuvem, este texto comemorativo dos 02 anos, antecipando os dois dias que antecederam a criação do blog, pois ele esteve nesse período em gestação no ano de 2009.Estou agora em busca de Outras Línguas, Outros Sentidos e, principalmente do Outro que me re-conheça e re-transmita...

Recentemente retomei um texto que escrevi em 2003. Trata-se do artigo: PARA ALÉM DAS EXCLUSÕES: POR UMA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO RUMO Á UMA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E DAS DIFERENÇAS. Estava relembrando uma pesquisa sobre a hegemonia linguística na Internet em pesquisa da FUNREDES. Ainda hoje somente 10% das línguas estão na Internet (Daniel Pimenta).

É um artigo escrito para o livro: Políticas Públicas: Educação, Tecnologias e Pessoas com Deficiência (veja em leituras indicadas abaixo). Foi uma resultante de um trabalho junto ao Congresso de Leitura do Brasil. Nele eu já afirmava minha necessidade de crer em um outro modo de incluir: a inclusão digital, combatendo, com urgência, a real exclusão digital.

Em 2003, para a construção dos cibercidadãos e cidadãs, trazia, em meu texto, a afirmação do Livro Verde que propunha:
. Aumentar drasticamente o número de pessoas com acesso direto e indireto à Internet.
. Popularizar o acesso à Internet em todo País (hoje com redução de valor da Banda Larga e pulverização de telecentros, por exemplo)
. Produzir e disponibilizar hardware e software de baixo custo;
. Promover a implantação de serviços públicos de acesso universalizado e sem discriminações;
. Oferecer mecanismos de aprendizagem em informática e treinamento no uso da Internet em larga escala.

Talvez alguns destes avanços foram concretizados, outros estão a caminho. O que ainda interrogo é que Inclusão Digital estamos produzindo? E, vendo-nos incluídos já conseguimos incluir o acesso à informação como direito humano essencial e fundamental para a cidadania? A Sociedade da Informação, na Idade Mídia, tem produzido novos modos de subjetivação? Esta produção de subjetividades caminha na direção de um paradigma ético, estético e político?

Por estas e muitas outras interrogações, como em uma torre de Babel atualizada, é que precisamos aprender as outras línguas, os outros sentidos. Há um novo horizonte aberto com as crises do capitalismo mundial integrado (Guattari). Segundo Zizek: "...Mas você conhece aquela praga, o que dizem os chineses quando detestam alguém: 'Que você viva tempos interessantes'. É isso. Nos aproximamos de tempos interessantes..."

Nesse mês será lançado um Plano Nacional para as Pessoas com Deficiência, no dia 17, e espero que possamos encontrar, para além de toda transversalidade do Decreto 6949/09 (a legitimização e implementação da nossa Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência), a indispensável concretização de políticas públicas de INCLUSÃO DIGITAL de toda a heterogeneidade que são as deficiências e os que se encontram nessa condição.

Nessa comemoração do InfoAtivo. DefNet, ainda em seus primeiros passos, espero que os tempos sejam mais que interessantes. Espero, desejo e trabalharei, com suas opinões e sugestões, para que possamos ver/produzir e sentir outras saídas, outros caminhos sábios e novas suavidades para o viver. Venham comigo! E multipliquemos nossas conexões com o futuro...

MEU MAIS DOCE ABRAÇO A TODOS E TODAS, Leitores, seguidores, comentaristas, amigos e amigas, com meu profundo e intenso desejo de que possamos chegar a casa dos 1.000...a cada dia em nossas interações e trocas "ciber-afetivas".
E que o CIBERATIVISMO nos contamine e nos apaixone para que, para além de nossas grupelhizações ou processos identitários defensivos, multipliquemos, também a mil, molecular e micropoliticamente todas as novas e surpreendentes cartografias coletivas.

ASSIM, intensos e desejantes, sejamos as novas revoluções por uma INTERNET LIVRE, ACESSÍVEL e PLURAL, com ou sem suas novas massas, sempre como cibercidadãos e cibercidadãs implicados com a mudança dos paradigmas... EM TODAS AS LÍNGUAS E EM TODOS OS SENTIDOS.

copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Leitura Indicada no texto:
Para Além das Exclusões: por uma Sociedade da Informação Rumo à Sociedade do Conhecimento e das Diferenças - Jorge Márcio Pereira de Andrade - 
In Políticas Públicas: Educação, Tecnologias e Pessoas com Deficiência, Shirley Silva & Marli Vizim (Orgs.) - Editora Mercado de Letras/ALB, Campinas, SP, 2003. (www.alb.com.br)

A Vida Digital – Nicholas Negroponte, Editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 1995.http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicholas_Negroponte

Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil - programa do Governo Federal na promoção de um planejamento para a INCLUSÃO DIGITAL
http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/18878.html

Informações na INTERNET

ONE LAPTOP PER CHILD - http://www.olpc.org.br/
Profesor de la UnB afirma que menos del 10% de las lenguas del mundo están en la Web
http://noticias.universia.com.br/translate/pt-es/vida-universitaria/noticia/2011/11/10/887414/professor-da-unb-afirma-menos-10-das-linguas-do-mundo-esto-na-web.html

O Horizonte está aberto - http://www.outraspalavras.net (entrevista a Tom Ackerman com Slavov Zizek)

Sobre Ciberativismo - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciberativismo

Leia também no Blog (entre os primeiros textos publicados):

OS NÓS E OS SEM REDE – Acesso à Banda Larga na Internet Brasileira
http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/12/os-nos-e-os-sem-rede-acesso-banda-larga.html

SEREMOS 300? 01 pc para cada PC – do LIMÓGRAFO AO COMPUTADOR
http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/11/infoativo.html

UMA LUZ NO FIM DO LIVRO - http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/09/uma-luz-no-fim-do-livro.html

ENTRE O MARCO E A BENGALA - NA INTERNET O QUE É LEGAL? http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2009/11/infoativo_26.html

domingo, 6 de novembro de 2011

ONDE NASCEM E MORREM OS DIREITOS HUMANOS?


imagem publicada - A capa do livro A Invenção dos Direitos Humanos, onde dois grupos humanos, em plena batalha se enfrentam. Ao fundo temos um céu azul que é cheio de fumaça branca, talvez produzida pelas armas ou canhões, há homens fardados, de azul e calças brancas, com o vermelho nos ombros. Soldados, que trazem suas armas em riste, ou montados a cavalo ao fundo, representantes do Rei. E há os oponentes, os revolucionários que sustentam uma bandeira, as cores da França, e lutam bravamente pelo que acreditam ser seu lema, sua nova bandeira: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. É a Revolução Francesa e o povo nas ruas.


O Pássaro e o Ovo
"Era uma vez um pássaro que não tinha o poder de voar. Como uma galinha, ele andava pelo chão, embora soubesse que alguns pássaros voavam..." (História dos Dervixes - Idries Shah)


Me vi surpreendido há dois dias pela mensagem de Claudia Grabois (Inclusão Já!) que meu nome já circulava na Internet, novamente ligado aos Direitos Humanos. Era sua indicação para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, hoje um Ministério, de minha história e trajetória nesse campo da defesa e garantia dos direitos humanos de pessoas com deficiência. Era e é a indicação para o 17º Prêmio Nacional de Direitos Humanos. Retomo então um recuo no tempo para me re-conhecer e re-aprender sobre o que foram, são e serão os direitos humanos, que tanto defendi e defendo.

Digo que fiquei muito emocionado. Estava refletindo sobre um outro tema, estava me preparando para escrever sobre a Dor novamente. Eis que fui tirado de minha imobilização pelas minhas dores, fui novamente arrastado passionalmente para um novo ''combate'', muito mais prazeiroso. Essa indicação me tomou e afetou levando-me à reflexão sobre o tema que me debruço agora: onde nascem e morrem os Direitos Humanos? em mim, em nós?

A sua gênese e genealogia sempre é associada com o pós-2ª Guerra Mundial. Porém há um autora que me despertou para as outras nascentes histórico- literárias dos chamados direitos humanos. Principalmente aqueles que nasceram da "barriga imperialista" com a Revolução Francesa. É o livro de Lynn Hunt: A Invenção dos Direitos Humanos- uma história.

Ele traz já em sua capa, apresentada lá em cima, um preâmbulo visual de seu conteúdo: é a batalha entre as forças imperiais e o povo nas ruas de Paris, em 1789. Sim é a eterna oposição entre o Estado e o seu povo, quase sempre submetido, muitas vezes submisso, e, nos direitos humanos, rotineiramente omisso e violentado. Nele se percorre pelos primeiros passos da Independência dos EUA ( 1776), o engatinhar da Revolução Francesa (1789) para o colocar-se sobre os pés na Declaração Universal em 1948.

Segundo Lynn Hunt, em sua tese, a nascente dos direitos humanos está intrínsicamente ligada à formação cultural e ao nosso cérebro, individual e coletivamente, no século XVIII. Os anos antecedentes da Revolução foram plenos de literatura e romances epistolares. Já se construiam aí, segundo os estudos da autora, uma mudança: os jornais e os romances criaram a "comunidade imaginada" que o nacionalismo requer para florescer. Para ela: "o que poderia ser denominado de "empatia imaginada" antes serve como fundamento dos direitos humanos que do nacionalismo".

O que gerou essa empatia? É que os relatos de tortura e sofrimento, mesmo os mais sutis, nos romances ou contos, geravam a imaginação de que alguma outra pessoa seria como você. É quando se produzia uma empatia imaginada, muito mais que inventada, pois que a crueldade imperial/ditatorial era, é e será o melhor meio de controle das populações. Kadafi que o diga, de seu tempo vivo ou sua morte cruenta.

A violência naturalizada em textos, hoje midiatizada, tratava da dor dos outros,sempre distante. Por exemplo, foi através da idéia de dor e sofrimento, como o que o Estado Inquisidor impôs às mulheres, tornadas "bruxas maléficas e heréticas'', alguns séculos antes dessas "revoluções", que se produziu a domesticação e a ''industrialização'' dos corpos femininos (veja o Martelo nas Bruxas).

Portanto os chamados direitos humanos, hoje universalmente indiscutíveis como valores e princípios, não são provenientes da Natureza. Não nascem apenas da desobediência civil de um Thoreau ou outro pré-ecologista. Estes direitos estiveram em gestação por um processo histórico que atravessou, transversalizou e ''contaminou'' as mentes e os corpos por alguns séculos. Hoje ainda trazem estes traços históricos. Basta pensarmos sobre a involabilidade dos corpos, hoje atravessando um outro modo de legislar, controlar e, biopoliticamente, torná-los Vidas Nuas (Giorgio Aganbem).

Assim nos apresentam o nascimento dos direitos humanos como o ovo de um pássaro que não têm o poder de voar. Repetem que eles precisam da incubação em nossos inconscientes coletivos através da História. Então, o que pensar sobre a sua provável Morte? Digo que, como no sábio conto dos Dervixes, há de aprender que: "Alguém que pode me incubar certamente pode me ensinar a voar.".

Por isso, digo que o antídoto do medo e da dor que paralisa nossos tempos atuais é e será o reconhecimento dos novos direitos humanos que nós podemos incubar e gestar e parir/cuidar/proteger. Principalmente os chamados direitos de 3ª geração. Os direitos que se fundamentem, por exemplo, no caso das deficiências, no re-conhecimento das diferenças. No respeito imprescindível das diversidades, sejam linguísticas, culturais ou étnicas.

Escrevi, junto com afetuosas amigas psicólogas e ativistas, um artigo "Dor ou Ardor nas políticas do cotidiano", publicado em 2002, mas de 1992, onde já me conectava com as idéias de Lynn. Um texto que foi levado para o VI Simpósio Internacional Tortura: um desafio profissional para os médicos e outros profissionais de saúde, promovido pela IRCT (Dinamarca) e a EATIP (Argentina), ocorrido em Buenos Aires ( 20 a 23 de outubro de 1993).

Nesse texto, incluído em livro sobre a subjetividade e a violação de Direitos Humanos, apresentavámos um cenário que parece ainda ocorrer hoje: "As pseudo modernizações neoliberais há muito começaram a ruir concretamente. (vejamos a última Reunião do G20). A manipulação artificial dos índices da inflação emerge, já não como forma de esperança, mas como sinôninmo de produção de mortes. Mortes de variados tipos: por fome, doenças endêmicas e/ou epidêmicas, racismo, exploração do trabalh em condições, não raro, de discutível salubridade e inquestionável escravidão, "Angras" (hoje Fukushimas), filas do INSS (hoje no SUS), desemprego (hoje subemprego) , "denúncia vazia'' (hoje des-ocupação dos sem-teto), assassinato (inclusive de juiza ou qualquer 'autoridade'), crime organizado (hoje milícias e poderes paralelos do próprio Estado), suicídios(como dos Wellington de Realengo)..., formas de desrespeito que explodem megalópoles..." (pág. 73)

Como atravessamos mais de 19 anos e continuamos escrevendo sobre as mesmas violações de Direitos Humanos? De que morte ou desaparecimento nos aproximamos? Porém,não vamos cair no modelo apocalíptico. Devemos reconhecer que, atualmente, as nossas políticas do cotidiano estão mais próximas da dor do que do ardor. Esse ardor que nem mesmo o tempo arrefeceu em meu âmago. Um fluxo à frente na busca de outras formas de viver e re-existir. Um desejo que alimento desde a ECO-92 de novas suavidades e novas alianças, que continuo, como pássaro prenhe de liberdade buscando, nas múltiplas companhias. Um novo jeito para voar.

A morte anunciada/desejada de quaisquer direitos humanos só pode servir, como já diziamos lá trás, às técnicas e discursos que querem armar a sociedade, fomentar preconceitos, como a homofobia, o racismo, o fundamentalismo ou os narciscimos das pequenas diferenças. As formas hegemônicas de exercício da governamentabilidade social estão ainda, no seu âmago, imperialistas de gestão da vida. Falamos e produzimos novos discursos. Hoje fala-se em sustentabilidade, mas não podemos perder de vista que princípios e que formas de viver a alimentam.

Os tempos atuais não deixaram para trás tudo o que escrevemos em 1992. Caberá a cada um reconhecer que urge abalar, nos que não sabem que podem voar, as sua convicções. Afinal a violentação ou vulneração que promovemos dos Direitos Humanos não vive lá longe, no Himalaia ou nos Alpes Suíços, em países longíquos, mora dentro do mais íntimo de cada um de nós.

Eu aqui, que, humanamente, não me considero puro e nem pendendo para o lados anjos, reconheço apenas que já ganhei um estímulo a mais para manter meu ativismo em direitos humanos. Agradeço aos que, reconhecendo minha implicação, me indicaram para um prêmio, que consta de um diploma e uma obra de arte, mas que gera em mim a certeza de que ainda não aprendi realmente a voar. Sozinho.... Em mim e em todos nós espero os direitos humanos/fênix possam sempre re-nascer.

PELA COMISSÃO DA MEMÓRIA e o resgate histórico que nos fará reacender a esperança de longa vida para os Direitos Humanos.


copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Leitura sugerida -
A INVENÇAO DOS DIREITOS HUMANOS - uma história - Lynn Hunt - Editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 2009.
HISTÓRIA SOCIAL DOS DIREITOS HUMANOS - José Damião de Lima Trindade - Editora Peirópolis, São Paulo, SP, 2002.
HISTÓRIAS DOS DERVIXES - Idries Shah - Editora Roça Nova, Rio de Janeiro, RJ, 2010.

Texto citado -
-CLÍNICA E POLÍTICA - SUBJETIVIDADE E VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS, Cristina Rauter, Eduardo Passos e Regina Benevides (Orgs) - Editora Te Corá/IFB, Riode Janeiro, RJ, 2002 (Artigo DOR OU ARDOR NAS POLÍTICAS DO COTIDIANO? - Ana Paula Jesus de Melo, Heliana de Barros Conde Rodrigues, Jorge Márcio Pereira de Andrade, Maria Beatriz Sá Leitão (in memoriam), Cecília Maria Bouças Coimbra (todos ligados e implicados com o GTNM-RJ)

Leia também nos BLOGs

INCLUSÃO JÁ - http://inclusaoja.com.br


A DIFERENÇA NOSSA DE CADA DIA, SEMEANDO A IGUALDADE DE DIREITOS
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NOSSAS IN-DEPENDÊNCIAS DA DONA MORTE EM 11/09/11
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/09/nossas-in-dependencias-da-dona-morte-em.html

DIREITOS HUMANOS COMO QUESTÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
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SAUDE MENTAL E DIREITOS HUMANOS COMO DESAFIO ÉTICO PARA A CIDADANIA 
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TIROS REAIS EM REALENGO - A VIOLÊNCIA É UMA PÉSSIMA PEDAGOGA?
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terça-feira, 1 de novembro de 2011

O MARTELO NAS BRUXAS - COMO "QUEIMAR", HOJE, AS DIFERENÇAS FEMININAS?

Imagem Publicada - uma gravura de tempos medievais onde, em primeiro plano, duas mulheres são mantidas em fogueiras, sendo alimentadas por um homem, vestido em azul e vermelho conforme vestimentas de autoridades, com outro homem em azul lhe auxiliando alimentar o fogo que queima estas ''bruxas''. Ao alto está representado um dragão com tetas que sufoca uma das mulheres condenadas a arder em chamas. Há outras figuras à distância e por um pórtico vê-se uma outra fogueira onde devem estar sendo eliminadas outras feiticeiras. Bem lá no fundo estão os magistrados, os fidalgos e os inquisidores, que mesmo não totalmente representados nessa gravura compõem o cenário para este genocídio feminino, por mais de 03 séculos.

"Se deseja saber se a acusada possui o poder maléfico de preservar o silêncio, que repare se ela é capaz de soltar lágrimas ao ficar em sua presença, ou quando estiver sendo torturada. Pois aprendemos tanto pelas palavras de velhos sábios quanto pela própria experiência que este é sinal inequívoco: verifica-se que mesmo quando a acusada é premida e exortada por conjurações solenes a derramar lágrimas, se for de fato uma bruxa não vai chorar..." (Malleus Maleficarum - Questão XV - Do prosseguimento da Tortura, e dos Meios e Sinais pelos quais um Juiz é capaz de identificar uma Bruxa... pág. 434)

Ontem estavam voando em vassouras, fálicas e poderosas, espalhando feitiços. Por isso sendo amaldiçoadas. Por isso muitas foram queimadas em praça pública. Hoje quem são e quais são seus encantos, filtros do amor ou ameaças que justificam sua condenação? São apenas as novas Liliths e outras que ainda são chamadas de bruxas, principalmente quando passam a ocupar espaços antes de total domínio masculino.

Ontem, quando nos perguntaram: travessuras ou guloseimas, pensamos nelas? No passado eram apenas as suas ''transgressões'' que contavam, preconceituosamente, para seu extermínio. A elas se destinavam as mais sutis formas de extração de todos os males de seu corpo feminino.

Por essa história é que 31 de Outubro é o All Hallows' Eve? E o que a Eva está fazendo nesse meio? Este novo nome de um "encontro secreto'' das Evas é que resultou na sua repressão? ou foi apenas uma tentativa da supressão de uma festa pagã antes de um feriado considerado ''cristão''? Eis o que encontrei ao procurar responder: por que 31 de outubro foi escolhido para comemorar o 'dia das Bruxas'? 

Uma das explicações históricas é a tentativa da Igreja Católica de erradicar o "Samhain", como a instituição de restrições na véspera do Dia de Todos os Santos. Mas, a meu ver, ao ser traduzido no Hallowen tornou-se apenas uma "festa", com abóboras que não assustam, principalmente as crianças em suas fantasias de terror. O verdadeiro horror foi edulcorado, adocicado, tornou-se um simulacro. E ainda dizemos: não acreditamos nas bruxas, mas que ''las hay, hay.''

Enquanto brincamos com vassouras de plástico e chapéus de magos, podemos nos "esquecer" das mais de 100 mil mulheres que, submetidas à tortura e à os ''autos de fé'' da Inquisição, foram queimadas para o exorcismo de seu desejo ora do conhecimento, privilégio do clero, ora por introduzirem brechas nos tabus sexuais como em o "Nome da Rosa". Ensinamos a magia de transformação das perigosas feiticeiras medievais em modernas babás: "Nanny Macphee".

Precisamos buscar outras fontes e respostas para as bruxas e as feiticeiras do passado? como estímulo para refrescar algumas memórias é preciso lembrar "o mais importante livro jamais escrito sobre o feminino" (conforme sua contracapa). O livro é o Malleus Malleus Maleficarum, ou melhor o "Martelo das Feiticeiras".

Também é conhecido com o "Martelo das Bruxas", daí trazê-lo para este texto e as indagações sobre as ''nossas bruxas que andam soltas por aí"... E também sabermos diferenciar as bruxas das feiticeiras, as segundas devem ter mais proximidade com a beleza e o seu enfeitiçamento para os homens...

Ele foi escrito em 1484, que lhe dá uma antecedência de 04 séculos ao Orwell com 1984 e o controle dos corpos desviantes. Ele, nasce na chamada alta Idade Média, como um manual escrito pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger. 

Tenho o meu exemplar desde 1990, e, à época, já estava na 7ª Edição pela Rosa dos Ventos, com um brilhante texto de apresentação histórica de Rose Marie Muraro, que se complementa pelo prefácio de Dr. Carlos Byington, que o ilustra com sua leitura simbólica e de fundamentação junguiana.

Considero este "manual" um aprendizado crítico sobre as manobras políticas e biopolíticas que já estavam em germinação no século XV. Basta lembrar que nosso ''descobrimento e/ou descoberta'' por Portugal vem a ocorrer apenas 06 anos após seu lançamento para toda a Europa cristã. 

Com ele se fundamentaram as idéias pré-cartesianas assim como os primeiros passos de uma tentativa de controle pelo Estado Teocrático de corpos a serem docilizados e domesticados: os corpos femininos, plenos da sexualidade, assim como dos perigosos úteros, a maior potência invejada pelos homens. Naquele tempo e ainda hoje.

Elas, as feiticeiras, possuiam e possuem uma potência que ainda continuará sendo, por mais que avancemos cientificamente, motivo da chamada ''inveja do útero". Ainda são consideradas capazes de heresias e blasfêmias, ou melhor ''blas-fêmeas", pois sua perseguição foi mais um ato eclesiástico de imputar às mulheres, geralmente as mais ousadas ou as mais ''defeituosas'', com suas deficiências físicas ou mesmo o crime da ''feiúra''. 

Mudamos as fogueiras e os métodos de violentação do corpo feminino, mas suas exclusões permanecem ativas, desde o Papa Gregório IX, que condenou seus ''sabbats", em 1233.

O corpo feminino, assim como a subjetividade produzida sutilmente, ainda é mantida no campo da repressão. Seja o Estado hipercapitalista ou a Nova Igreja, ou mesmo os fundamentalistas, continuam caçando bruxas em seus interiores. Mesmo quando tornado um objeto de exploração ou apelo sexual. Os novos-velhos inquisidores procuram em outros orifícios de seu corpo a presença do Mal ou do Demônio. Sejam Rosas, Salomés, de Salem, de Eastwick ou apenas submissas.

Em tempos de mulheres incluídas nas massas de revolução, há as que sofreram violências no Cairo ou ainda sofrem na Síria. Mas seu papel e gênero continua sendo submetido à visão ''familiar''. Devem abandonar as vassouras que voam na imaginação. Retroceder ao modelo meramente reprodutivo e sem direitos sobre o próprio corpo, eis a norma em atualização.

Não há apenas o reforço de seu papel no ''planejamento familiar", como foi abordado em recente Congresso Nacional promovido pela Igreja. O seu corpo, ora violentado, ora sacralizado, é ainda, apesar de avanços como a Lei Maria da Penha, um campo das diferenças que transgridem algumas normas ou leis. 

Não bastou, nem basta, domesticá-lo. É e era necessário ''purificá-lo'' e dele extrair os direitos, principalmente os sexuais e reprodutivos. Para tal lembremos as questões bioéticas ligadas às antecipações de parto por fetos anencefálicos e as moralizações sobre o aborto. 

Penso que as raízes preconceituosas do Malleus Maleficarum ainda persistem nos discursos moralistas ou conservadores. Em seu Capítulo XIII as orientações dos inquisidores sobre: "De que modo as parteiras cometem o mais hórrido dos crimes. O de matar e oferecer aos demônios crianças de forma execrável", há tantos séculos, ainda as condena como criminosas quando decidem abortar.

O que vivemos hoje é a substituição biomédica das parteiras, mulheres sempre meio bruxas do passado. Em pesquisa sobre os novos padrões para o nascer e o parto no Brasil, publicada pela USP, fica claro que, as mulheres, na atualidade brasileira, se não são cortadas por cima (cesarianas) ainda são cortadas por baixo (episiotomia). Os argumentos, agora re-encarnados sobre seu corpo, são de demanda estética(das próprias mulheres) ou de programação do parto, principalmente para fins privados. 

Mas há também a idéia de que o parto natural e vaginal provoca flacidez dos músculos, e compromete a vida sexual das mulheres. Elas precisam permanecer hipererotizadas. E a mortalidade materno-infantil continua sendo estatística, os traumas de parto naturalizados, os abortamentos clandestinos a norma, tornando a humanização do nascimento e do parto uma urgência e um direito humano imprescindível.

A releitura do Malleus Maleficarum, diante das mudanças que os úteros femininos nos impõem, é e deve ser compartilhada com as neo-bruxas que não podem mais ser queimadas vivas. Não nos esqueçamos das que arderam no passado. Precisamos hoje, refletindo sobre e para o futuro, re-conhecer seus direitos sexuais e reprodutivos. Há uma inserção do feminino em cada mínimo espaço da nossa Gaia. 

O Planeta Terra, que é feminino no nome, precisa de um resgate do prazer, da solidariedade, e de um re-encantamento com o corpo e o devir-mulher. Sem a paranóia e o temor dos inquisidores das Idade Média ou Mídia. Com elas podemos, suavemente, experimentar as revoluções moleculares e a criação de novas cartografias, novos vôos do imaginário, novas poesias, novas e doces amorosidades...

Não acreditamos nas bruxas, mas que elas re-existem, todos e todas, já sabemos...

Em vésperas de Finados não poderia deixar de pensar em mais uma Carta (missiva) para a Dona Morte, mas acho que ainda terei algum tempo para escrevê-la, afinal ela também é uma mulher, muitas vezes bruxa, quase sempre uma feiticeira irresistível... Outro dia, ou noite insone e de lua cheia lhe escrevo.

copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet, ou em outros meios de comunicação de massa, todos direitos reservados ad infinitum, para além de todas as Pandemias)

Sites para consulta e consultados sobre o texto:
Dia das bruxas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_das_bruxas

- Malleus Maleficarum (o Martelo das Bruxas )
http://pt.wikipedia.org/wiki/Malleus_Maleficarum

Bruxa https://pt.wikipedia.org/wiki/Bruxa

"O status moral do embrião está acima da vida da mulher?” (Dr. Cláudio Lorenzo)
http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/10/31/campanhas-antidrogas-mentem/

Brasília: Congresso Nacional de Planejamento Familiar https://www.oecumene.radiovaticana.org/bra/articolo.asp?c=533880

PESQUISA NASCER NO BRASIL: Inquérito Nacional sobre o Parto e o Nascimento - www.ensp.fiocruz.br/nascernobrasil

Livro analisa resultados da enquete “Sexualidade, reprodução e desigualdades de gênero”

https://correiodobrasil.com.br/livro-analisa-resultados-da-enquete-%E2%80%9Csexualidade-reproducao-e-desigualdades-de-genero%E2%80%9D/321340/

Filmes Indicados:
O NOME DA ROSA - livro e filme (1986) - Jean Jacques Annaud - https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Nome_da_Rosa http://www.adorocinema.com/filmes/nome-da-rosa/

AS BRUXAS DE SALEM - (2003) - Joseph Sargent -
https://www.adorocinema.com/filmes/bruxas-de-salem-2003/

AS BRUXAS DE EASTWICK (1987) - http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Bruxas_de_Eastwick

Nanny MacPhee (2005) - http://pt.wikipedia.org/wiki/Nanny_McPhee

LEIA TAMBÉM NO BLOG:

AS BRUXAS RE- EXISTEM? Como manter ou demolir um preconceito - https://infoativodefnet.blogspot.com/2013/11/as-bruxas-re-existem-como-manter-ou.html