quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

OS NÓS E OS SEM REDE - Acesso à Banda Larga na Internet brasileira


OS NÓS E OS SEM REDE -
Acesso à Banda Larga na Internet brasileira

InfoAtivo.DefNet - 4313 - Ano 13 - 09/12/2009
imagem publicada - foto de uma Banda de música, à moda antiga, composta por diversos instrumentos, de sopro e percussão, como a famosa tuba ou trombone, com seus uniformes tradicionais, com quepes e fardas à moda das bandas militares, no início do século XX, da cidade de Florânia, RN. Foto de arquivo do Prof. Flávio José de Oliveira Silva.

Uma música que já fez sucesso, a Banda, de Chico Buarque, é uma memória agradável que fala de ficar 'á toa na vida', e poder ver uma bandinha passar, daquelas de música do interior, daquelas que a saudade ressoa na memória. A Banda, nos lembra, aos mais antigos da Internet, os coretos de praças de pequenas cidades do interior, antigas ágoras sociais. Me lembrei da música pois quando foi sucesso, nos anos 60, eu nem imaginava que um dia teria uma outra banda transversalizando minha vida: a banda larga.

A Banda do Chico era um forma alegre e viva de conviver/re-existir, em 1966, com os iniciais ares de repressão e tristeza da Ditadura Militar. A nova banda, hoje dita larga, me faz pensar em outras formas de existir, a minha, a sua, a nossa VIDA DIGITAL.

Uma importante matéria foi publicada no Jornal do Senado, Nº 3.146/275, no período de 06 a 30 de novembro, que nos informa que "ALTO PREÇO E FALTA DE REDES LIMITAM O ALCANCE DA BANDA LARGA", no Brasil. A matéria ocupa um importante debate sobre o acesso às informações e dados pela Internet, com a constatação de que: "PAÍS TEM OBSTÁCULOS PARA OFERECER CONEXÃO DE ALTA VELOCIDADE COM PADRÃO SIMILAR AO DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS. REDUÇÃO DE PREÇOS E AUMENTO DA REDE SÃO DESAFIOS PARA ATINGIR A META DE 90 MILHÕES DE ACESSOS ATÉ 2014..."

O que de início vemos é que ainda estamos, apesar de todas as propagandas, ocupando um lugar de destaque entre os 'países não desenvolvidos no campo da Internet', ao menos pela diferença entre o Brasil e países como o Japão, onde "o Mbps de banda larga sai a R$2 (DOIS REAIS)... e no Brasil o preço mínimo é de R$50 (CINQUENTA REAIS)..." E mais ainda em um país no qual somente "16% têm acesso com velocidade superior a 2 megabytes", o que revela que se "o número de acessos ainda cresce rapidamente, a velocidade de navegação cresce "timidamente", de acordo com a 12ª edição do Barômetro da Banda Larga.

E você(s) que lê(em) esta constatação, provavelmente, estão entre a maioria dos brasileiros e brasileiras que considerados "mais popular". Ou seja nossa velocidade de acesso está entre 512 kbps e 999 kbpsa . Ainda estamos ouvindo a bandinha no coreto da praça, enquanto os japoneses e japonesas interagem, em tempo real e veloz, com as suas bandas de rock no resto do mundo globalizado.
Ainda nos mantêm, na realidade global, info-excluídos, como nos interiores, pois por aqui são muitos os Brasis, onde nem mesmo o telefone chegou. Concluímos, então, que alguma coisa precisa ser feita para além de reconhecimento estatal dessa realidade de exclusão digital a que nos submetem, tanto como país 'em desenvolvimento', como ciber-cidadãos e cidadãs em crescimento.

Nós, podemos nos chamar de "navegantes com rede", mas para que nos mantenhamos nesse "bote inflável e digital", nessa condição atual, precisaremos reconhecer a existência dos 'SEM REDE'. Ainda concentramos todos os serviços de provedores no sudeste brasileiro. "Só o estado de São Paulo tem 4,5 milhões dos 10,9 milhões de pontos fíxos de banda larga", comenta a reportagem do Jornal do Senado.

Uma das saídas dessa situação caminha, dentro de um projeto legislativo, na direção dos interiores brasileiros. O projeto do Senador Aloisio Mercadante (PT-SP), de número 1.481 de 2007, está para ser votado pelo Plenário da Câmara. Este projeto de lei destina verbas do FUST (Fundo de Universalização das Telecomunicações), aquele que todo mês é aplicado em todas as nossas contas de telefone, e que já acumula 08 milhões de reais, para "oferecer conexão de todas as escolas públicas, POR BANDA LARGA, até 2013, e também promover a universalização do acesso à Internet para pessoas de baixa renda".

Já escrevi e publiquei, há 06 anos atrás, um artigo sobre a urgente necessidade de uso dos recursos do FUST, COM A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE UNIVERSALIZAÇÃO DAS TELECOMUNICAÇÕES, onde afirmava que este é: "... um campo dos recursos públicos e de possíveis políticas públicas efetivas, que pode ser um passo imprescindível para que as novas tecnologias se socializem e cheguem onde não são rentáveis e, a maioria das vezes, são urgentemente necessárias: junto dos excluídos sociais..." (1)

A Internet, nestes tempos da velocidade e da fugacidade, que gosto de chamar de IDADE MÍDIA, traz um fator potencial gerador de novas culturas, novas subjetividades, novos espaços de criatividade e invenção, por isso não pode continuar sendo o privilégio de alguns. As técnicas e tecnologias não são boas ou más, mas com certeza não são apolíticas ou neutras. Elas podem, quando aprofundam o chamado abismo digital, reforçar as desigualdades e os processos de desfiliação social.

Precisamos portanto, todos e todas, entrar/participar nessa nova BANDA, que em samba-pop-rock vamos chamar, ainda, de 'Narrow Band'. Porém essa bandinha mixuruca, de público restrito, não é igual à Bandinha da Cidade que tocava, democrativamente, para todo mundo. Era como, na musica do Chico uma banda que tocava para moços, moças, crianças, velhos e qualquer um. Talvez, "para ver a banda passar", um bom caminho seja a distribuição de tecnologias para as escolas, como prevê o projeto. O futuro urge e até voa, enquanto a chamada Inclusão Digital caminha a passos lentos, pelo menos nos bytes da banda larga.

Enfim, como sonhei/desejei no artigo, os múltiplos caminhos em direção ao que denominei de uma Sociedade do Conhecimento e das DIFERENÇAS, ainda acredito que podemos influir, usando criativamente as novas tecnologias para que, na Era do Acesso, muitos venham compartilhar de nossa rede. Mas é um sonho que só pode ser vivido coletivamente prá virar realidade.

Uma rede, assim como as de pesca, não se constroe ou tece sem os NÓS. Uma rede sem nós, sem pontos nodais infinitos, não é o que utilizamos quando tentamos 'pescar' na Internet sejam dados, sejam notícias ou amigos, sejam idéias ou divertimentos, tanto no campo das artes como dos conhecimentos, como neste Blog.

Nesse momento usamos a teia tecida de uma rede aberta, democrática e plural, cada dia mais veloz porém excludente. O que temos de, éticamente, denunciar que ela é, ainda, uma rede que não conta com as mãos mais calejadas, humildes, envelhecidas, iletradas, empobrecidas ou diferentes, de uma grande maioria, ainda considerada off-line, sem rede, sem direito à esta tessitura digital. No hipercapitalismo o preço do desenvolvimento é muito mais alto, principalmente para os países que são chamados "em desenvolvimento".

VAMOS, PARA A PRAÇA, HOJE A ÁGORA DIGITAL, BOTAR A BOCA NO TROMBONE?

Aviso aos navegantes do Brasil, pagamos mais que qualquer país do mundo para continuarmos acessando a INTERNET, enquanto japoneses pagam 0,75 dólares para cada megabite de velocidade, nós por aqui estamos pagando 34,50 dolares, segundo a matéria do Jornal do Senado, que me desaponta quando diz: "O Ministério das Comunicações sonha ter, em 2014, a banda larga popular (com 2 Mbps- megabites por segundo) ao custo mensal máximo de R$30,00..., porém anos-luz do que se cobra pelo mundo afora". E ainda temos o Marco Digital do Ministério da Justiça para encarar e opinar...

Eu que agora não estou à toa na vida, mas preocupado com a exclusão digital, pela passagem e o preço do tempo, e por não ver tantas mudanças como apregoam os órgãos oficiais, declaro:
"Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou ..."


(copyright jorgemarciopereiradeandrade 2009-2010 - favor citar a fonte em caso de difusão na Internet, com envio especial aos nossos gestores, senadores, deputados, etc...)

FONTES-
JORNAL DO SENADO - para acessar via INTERNET - http://www.senado.gov.br/jornal/iNoticia.asp?codNoticia=91827

Artigo publicado sobre o tema:
(1) Para além das Exclusões: Por uma Sociedade da Informação rumo à Sociedade do Conhecimento e das Diferenças- Andrade, Jorge Márcio Pereira, in Políticas Públicas: Educação, Tecnologias e Pessoas com Deficiências, Silva, Shirley & Vizim, Marli, Editora Mercado de Letras/ALB, Campinas, SP, 2003 (págs.175-217)


Para ler a letra da Música do Chico Buarque: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45099/
Para a história da Banda de Música da Cidade de Florânia: http://www.inforside.com.br/noticias.aspx?id=12&sectionID=4

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