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domingo, 31 de julho de 2011

O JUQUINHA, E SUA CADEIRA , por uma Educação Diferente

Imagem publicada- foto de uma sala de aula no Mato Grosso, onde estão sentadas diferentes crianças, sentados em suas carteiras enfileiradas, e onde não encontramos nenhuma criança com deficiência, à primeira vista, tendo um menino de olhar interrogativo e calçando um par de sandálias (tipo havaianas) que se destaca nessa foto de Lenine Martins (Secom-MT). Ele representa o personagem criado por meu texto abaixo, caso consigam vê-lo ou imaginá-lo sentado em uma cadeira de rodas: o Juquinha.

Em homenagem a todos e todas que persistem na luta por uma Educação Diferente, Inclusiva, Laica, Pública e como um Direito Humano, republico o texto que foi distribuído no I Encontro Interestadual por uma Educação Diferente, realizado com o apoio e no espaço da UNIRIO, na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em 1997.

Era uma das primeiras iniciativas do DefNet em prol do debate, discussão acadêmica ou não, entre os diferentes protagonistas do movimento em prol da Educação Inclusiva no Brasil. 

Tive a honra de organizar este evento, assim como de conhecer muitos e muitas que ainda estão ativamente discutindo e propagando as ideias fundamentais do processo de inclusão escolar, como, por exemplo, a Profª Drª Rosita Edler de Carvalho, que já me ajudou a colocar os pingos nos "is" da Educação Inclusiva.

O tempo passou mas nossas lutas continuam na direção do aprender a aprender, e a cada dia mais ficam claras as heterogeneidades humanas que compõem os alunos do atendimento educacional especializado, e para tanto reconhecer suas diferenças poderá nos levar àquela tão sonhada e desejada Educação Diferente. Uma Educação, fundamentada em Direitos Humanos e no Multiculturalismo, tão necessário e tão combatido agora, uma dedicada educação para todas as formas e singularidades de Diferenças.

O JUQUINHA, E SUA CADEIRA ...”

(uma singela homenagem minha a Jacques Prévert e Cora Coralina, poetas-professores)
(recriação livre de texto de H. E. Buckley)

Once upon a Time, Era uma vez um menino, o Juquinha, muito Diferente, que contrastava com a sua escola muito Igual a todas, grande, cheia de escadas, alunos, professores, e a temível Diretora. Quando, um dia a mãe do Juquinha descobriu que ele precisava ir para escola, ela procurou, e descobriu que não tinha escola para “gente diferente” como ele. 

E então ela tentou e conseguiu que esta escola igual a todas deixasse o pequeno Juquinha entrar pela porta da rua, todo feliz e inocente, porém ainda diferente.
A escola continuava grande, enorme, mas já não era tão grande como antes do Juquinha entender o que era a ESCOLA.

Um dia, numa daquelas manhãs que o Sol entra pela janela da sala de aula, a professora D. Norma, disse: “Hoje nós vamos fazer um desenho”.
Que bom!” pensou o Juquinha, que, aliás, não falava direito além de ser diferente.

Mas que sabia desenhar, e gostava de rabiscar papéis (e até paredes, quando a sua mãe não estava presente), ele desenhava bichos, brinquedos, meninos e meninas, e um ‘tal’ de ‘doutor’. Ele pegou sua caixa de giz de cera, pois isto ele conseguia pegar com a mão direita..., e começou a desenhar.

Então, de súbito, D. Norma disse: “Stop, Parem!!! Ainda não é hora de começar, eu não autorizei ninguém ainda...”. Ela olhava ‘furibunda’ para o Juquinha... E esperou todos os outros da sala ficarem ‘quietos e arrumadinhos’ para dizer: “Podem começar... e frisou, Nós iremos desenhar flores e árvores”, e começou como lápis verde, e disse (solene): 
!”Como eu os amo muito Eu vou ensinar e mostrar como deve ser feita uma Flor...”. 

E fez uma flor vermelha com pétalas amarelas e caule verde, bem certinha, e com as raízes fincadinhas no chão... TUDO muito arrumadinho e certinho como ela gostava...
Juquinha olhou, olhou e tresolhou a flor (ele ‘usa’ uma grande armação com lentes muito grossas, parecendo os antigos professores com seus óculos, os Lentes). 

E não gostou da flor. Gostou mais dos bichos e das pererecas que havia desenhado, mas não podia dizer isto, além do que ele não falava direito, né??... Virou o papel, com algum esforço e desenhou uma flor IGUAL à da professora Norma. Era vermelha e com o caule verdinho.

Outro dia, durante a aula, depois de Ter dificuldade para entrar na sala de aula, o Juquinha ouviu a professora dizer: “Hoje nós iremos fazer algumas coisas com a Argila”.

Mais uma vez, pensou o Juquinha, eis a minha oportunidade de mostrar o que sei fazer com o barro, apesar de Ter o braço meio torto...Ele gostava de criar pequenos homenzinhos com a argila, e até carrinhos e caminhões ele já conseguiu fazer (muito embora esses objetos não sejam tão perfeitinhos assim, eles ficam meio tortos, feito o braço dele...) E foi logo pondo a mão na massa, aliás no barro.

Aí ouviu a voz retumbante de D. Norma: “ESPEREM!, NÃO mandei ninguém começar ainda..!!! e após aquele silêncio terrível disse do alto de sua capacidade e poder: “Hoje nós vamos modelar um prato... E eu vou mostrar como se faz isso direito. E vocês podem começar..” Fez um prato certinho e redondinho, perfeitinho, e até parecia muito bonitinho.

E o Juquinha olhou, olhou e tresolhou (às vezes as lentes ficam sujas, ainda mais no meio de tanto barro, e com tanto descontrole das mãos...), e ele viu que começava a fazer um homenzinho, baixinho, gordinho, defeituoso por acaso, mas ele NÃO podia fazer isto. E então ele amassou a argila e fez um prato, um prato bem fundo, embora raso e igual ao da professora.

Então sentado naquela cadeira, uma cadeira que nunca desgrudava dele, ele procurou aprender que era melhor esperar a D. Norma autorizar, com o olhar e sua fala forte, a fazer exatamente como ela. Afinal quem estava ensinando naquela escola ???!!! E logo em seguida aprendeu também a ficar quietinho, arrumadinho, sentadinho e bem comportado. Afinal quem estava ali para ser educado ???!!!

UM dia ele, o Juquinha teve de mudar de Escola. Esta escola era ainda maior e mais escola que a que tinha a D. Norma. Ele tinha de subir as grandes escadarias com a sua cadeira colada no traseiro, com pessoas ajudando, e entrar por aquela porta estreitinha da sua sala...

UM dia a sua nova professora, D. Orma disse: 
“Hoje, meus pequeninos, nos vamos fazer um desenho”.
QUE maravilha !!” pensou e exultou o Juquinha, e esperou que a ‘fessora’ dissesse o que desenhar. 

E ela, como perdera “N” coisas de seus conceitos e preconceitos, não disse nada. Apenas andava calmamente pela sala. E se aproximou do Juquinha e perguntou:
Você não quer desenhar ??” E o Juquinha perguntou:
Mas desenhar o quê ??”
Eu não posso saber até que você faça” respondeu D.Orma.
Então o que posso fazer ??” retrucou o Juquinha,
O que você gostar e o que conseguir fazer...” ,
Mas eu aprendi a copiar e fazer sempre IGUAL, todo mundo deve ser igual na escola...” diz consternado, o ‘pobre” Juquinha,
Mas se todo mundo fizer sempre o mesmo desenho, e ninguém for diferente, todo mundo fizer flores vermelhas e caules verdes, ficaremos todos IGUAIS, e eu não vou poder saber quem foi o “artista” que andou pintando lindos homenzinhos, baixinhos, gordinhos e diferentes nas paredes desta sala, SEMPRE COM UM FLOR DIFERENTE NAS MÃOS...”

e o JUQUINHA DESENHOU PELA PRIMEIRA VEZ UMA CADEIRA DE RODAS, com um menininho segurando uma flor na mão...”

(Texto elaborado por mim para o I Encontro Interestadual por uma Educação Diferente promovido pelo DEFNET Centro de Informática e Informações sobre Paralisias Cerebrais, em agosto de 1997 – Rio de Janeiro- RJ)

copyright – Jorge Márcio Pereira de Andrade 1997/2012, ad infinitum (favor citar o autor em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa, todos direitos reservados) TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025

LEIA TAMBÉM NO BLOG:

A EDUCAÇÃO DE PÉS DESCALÇOS(por um educação dos diferentes pés, calçados ou não)

A AMIZADE COMO ALICERCE DA INCLUSÃO ESCOLAR - Saindo das fraldas?https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/07/amizade-como-alicerce-da-inclusao.html

A INCLUSÃO ESCOLAR AINDA USA FRALDAS? 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A AMIZADE COMO ALICERCE DA INCLUSÃO ESCOLAR - Saindo das fraldas?

imagem publicada - uma foto colorida de três meninos indianos, em Salesian, Índia, que me traduz em seus sorrisos largos e doces, assim como na mão, pousada por um deles no ombro do primeiro da foto, a captura e representação imagética de um dos mais profundos sentimentos que se constroem para e com a vida humana: a amizade. Um sentimento que D. H. Lawrence em sua poesia considerava 'mais profundo que o amor'.


'A VERDADEIRA AMIZADE É A OPOSIÇÃO'...William Blake (1757-1827)

Há um ano atrás escrevi um dos posts, texto deste blog, mais comentados e acessados até agora. Ele tratava da Inclusão Escolar. Indagava sobre a utilização de fraldas pelo processo inclusivo. Perguntava sobre os modos e meios de uso das novas tecnologias e cuidados para inventar novos e criativos modos de efetivação do direito à educação. Um ano passou, novos acontecimentos, novas descobertas, novos avanços, mas ainda permanecem questões sobre o que é e como incluir pessoas com deficiência no ensino regular.

Uma das questões que mais me atormentam é a das barreiras educacionais que ainda permanecem quanto às pessoas com Paralisias Cerebrais. Principalmente quando se trata dos chamados ''casos graves e institucionalizados''. Creio que estas são mais intensas e mais sutis que as apresentadas pelas resistências da chamada Comunidade Surda ou pelos demais sujeitos com deficiência que defendem escolas especiais.

A escola enquanto um dispositivo, seguindo o pensamento de Giorgio Agamben, é apenas uma interface entre os seres viventes e o mundo (as substâncias que nos cercam ou cerceiam) que produz, em serialização, o que chamamos de sujeitos. O processo de inclusão/exclusão não ocorre apenas 'entre os muros da escola'. 

Depois de Realengo e seus tiros reais não mais podemos crer que possamos tornar a escola e os múltiplos ambientes totalmente responsáveis pela formação de um sujeito. A educação é que precisa ampliar seu campo de atuação e de intervenção na formação de cidadãos e cidadãs, plenos, críticos e amorosos.

Há no campo educacional uma resistência maior provocada, no ato de incluir, quando se trabalha com a heterogeneidade de condições físicas, mentais e de linguagem que um sujeito com paralisia cerebral apresenta. A maioria das mensagens, comunicações ou notícias que leio, e depois retransmito, apontam para uma permanência de um modelo biomédico e reabilitador para as pessoas com paralisias cerebrais. Seja dentro de escolas, onde poucos permanecem ou têm acesso, ou nos centros de reabilitação e, principalmente, nas chamadas entidades que os mantêm em internação ad infinitum.

A mais recente notícia é: "portador de paralisia cerebral escreve livro contando sua história". È a de um homem de 40 anos, Dudu, que, segundo as descrições: " ...nasceu com paralisia cerebral grave (coreoatetóide com quadro de disartria) além de apresentar semi-dependência nas mais simples atividades do dia a dia". Ele conseguiu lançar um livro: "Minha Casa Verde", onde nos conta "ao longo de 47 páginas" a história de uma vida dentro e fora da instituição.

Este sujeito vive e é cuidado em uma entidade filantrópica. No texto diz-se sobre sua condição de paralisia cerebral: "Traduzindo: ele não sabe ler nem escrever e sua fala é desarticulada, o que dificulta a compreensão de quem ouve. Também não consegue realizar as mais simples tarefas pessoais, como tomar banho, trocar de roupa e nem mesmo se alimenta sem ajuda". 

Pergunto, então, aos 40 ele ainda usa fraldas? talvez sim ou não. Mas o mais importante é que ele é muito parecido com muitos amigos ditos P.C que conquistei. Segundo a reportagem é "dono de um carisma excepcional e de uma força de vontade inabalável, de levar adiante seu grande sonho...". Os amigos e amigas conhecidos e conquistados na minha história também o são.

Ele nessa busca de realização tem as mesmas características de Ronaldos, de Suelys, de Edgars, de Priscilas, de Sachas, de Carolinas, de Eduardos, de Malus, de mais de um amigo ou amiga que conheci ou vivo tentando re-conhecer. Todos eles e elas receberam o ''diagnóstico'' de Paralisia Cerebral. O que os diferencia de Dudu da Casa Verde?? Eles tiveram a chance de frequentar uma escola, pelo menos por um bom período, de conviver com uma família, completar um curso, terminar uma faculdade ou não, mas todos são amigos de amigos. Passaram e/ou ainda passam por processos de reabilitação, mas não ficaram 'pacientes'.

Eles e elas estiveram buscando com garra sair das imobilidades físicas geradas por seus diferentes quadros neuromotores. Fundamentalmente, também, são tão carismáticos e sonhadores como Dudu. Mas nenhum deles esteve ou está internado em uma instituição de reabilitação. Eles e elas não são menos e nem mais ''paralisados" que o Edu. São e foram apenas mantidos em plena inclusão social, com todas as barreiras e dificuldades que este processo apresenta e re-apresenta para pessoas com deficiência.

O sujeito Dudu está há muitos anos em uma Casa Verde. O mesmo nome que Machado de Assis deu ao local de confinamento dos ''alienados mentais'' do seu Alienista(1882). Ele nunca saiu de lá, pelo menos é o que nos diz a reportagem, assim como os demais 205 pacientes (internos). A sua possível melhor "amiga", Claudinha, está lá há mais de 20 anos. E o que me faz pensar que talvez possamos um dia ter espaços de desinstitucionalização que não se digam amigos de pessoas tão carismáticas, porém mantidas, filantropicamente, tão institucionalizadas como milhares de outros dudus pelo Brasil a dentro. 

Retornando a Agamben precisamos afirmar que: "O amigo não é um outro eu, mas uma alteridade imanente na 'mesmidade', um tornar-se outro do mesmo. No ponto em que eu percebo a minha existência como doce, a minha sensação é atravessado por um com-sentir que a desloca e deporta para o amigo, para o outro mesmo. A amizade é essa des-subjetivação no coração mesmo da sensação mais íntima de si."

Aqueles que só têm muitos amigos institucionalizados não "têm" nenhum amigo. Por isso é que o processo de educar para a inclusão irrestrita do Outro, da Alteridade e da Diferença de mim e do meu Eu, pode ser o devir e é o princípio de uma educação fundamentada em Direitos Humanos. 

É uma educação potencialmente instituinte que pode subverter os endurecimentos afetivos que alimentam bullyings, rejeições, escárnios, apelidos ou discriminações. É nos corações que perderam a doçura que podemos alimentar os ódios raciais, étnicos, homofóbicos, xenofóbicos ou deficiente-fóbicos. Não há nesses espaços de dis-córdia, como produção de subjetividade, a possibilidade da empatia e do re-conhecimento do Outro.

Por isso defendi, defendo a busca de uma Educação Inclusiva e Diferente da que estamos vivenciando, nesse momento macropolítico, com tantas resistências e discursos de oposição. Cada segmento buscando a defesa de suas conquistas históricas. Cada forma de ser e estar com uma deficiência afirmando suas singularidades e seus direitos. Defendo, e ,docemente, creio, que todos poderíamos aprender muito mais se frequentássemos, com 'phylia', a desinstitucionalização de nossos feudos ou espaços segregados ou segregantes. 

Quais são, então, os pilares da Educação no século XXI? Para além do aprender a aprender, há ênfase, entre estes, da amizade e o aprender a ser/estar amigo?

Uma pergunta final: quantos amigos ou amigas, mesmo que como oposição, tinha o jovem Wellington ?? Aquele jovem e futuro serial killer que denunciava o bullying em vídeo, e que aprendeu apenas o desprezo que alguns con-sentem, fanaticamente, pela vida alheia. Aquele mesmo e idêntico escolar que sacrificou 13 jovens alunos em nossa Columbine Realengo. Aquele dos tiros reais, em um local/dispositivo onde se espera que aprendamos a fazer o oposto da exclusão e da Morte: a Escola de e para a Vida.

Assinado: Dr. Simão Bacamarte

Em tempo: lembrar que Paralisia Cerebral não é uma doença, e que os sujeitos com esta condição não são doentes ou portadores de uma encefalopatia,apesar de serem tratados e diagnosticados assim, baseando-se apenas no modelo biomédico. As paralisias cerebrais são as resultantes, diferenciadas, em graus variados, de uma lesão cerebral que lhes causou uma anóxia ou hipóxia antes, durante ou após o parto, sendo um grande número consequência de toco traumatismos no momento do parto.

Hoje 07 de julho há um manifesto de apoio à Educação Inclusiva a ser apoiado, amanhã esperamos haja a manifestação de uma Sociedade indignada e crítica que se lembre desses ''diferentes'' que ainda permanecem em restrição de seu direito humano e inalienável à Educação, para além de quaisquer gravidades ou profundidades de suas sequelas ou incapacidades físicas, sensoriais ou mentais. E, teremos Dudus escrevinhadores com ponteiras eletrônicas e rastreadores de movimentos de pálpebras que se tornarão os livros digitais e acessíveis para todos e todas.


copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 e ad infinitum (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa, com todos os direitos reservados 2025)

Referência no texto:
O que é o Contemporâneo? e outros ensaios
- Giorgio Agamben, Ed.Argos/UniChapecó, Chapecó, SC, 2010.


O Alienista - Machado de Assis - http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Alienista
https://www.livrosgratis.net/download/1826/o-alienista-machado-de-assis.html

Matéria citada e fonte:
Portador de paralisia cerebral grave escreve livro contando sua
história https://www.ogirassol.com.br/paginaviver.php?idnoticia=27093


Entidades de direitos humanos manifestam apoio à educação inclusiva https://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16844

Leiam também no Blog:
A INCLUSÃO ESCOLAR AINDA USA FRALDAS?

https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/07/inclusao-escolar-ainda-usa-fraldas.html

O SURDO, O CEGO E O ELEFANTE BRANCO

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INCLUSÃO/EXCLUSÃO - duas faces da mesma moeda deficitária?
https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/02/inclusaoexclusao-duas-faces-da-mesma.html


INCLUSÃO, RACISMO E DIFERENÇA

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TIROS REAIS EM REALENGO - A Violência é uma Péssima Pedagoga

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

A EDUCAÇÃO DE PÉS DESCALÇOS

imagem publicada - capa de dvd do filme Nenhum a Menos. Este filme chinês, dirigido por Zhang Yimou (Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1999), a ser visto como uma alegoria de uma jovem, de 13 anos, que substitui o professor, determinada a não permitir que ''nenhuma criança fique fora de sua sala de aula'', custe o que custar, mesmo que tenha de caminhar milhares de quilômetros contra a evasão escolar, em um cenário ainda muito próximo das condições de educação rural em nosso país. Nesta capa aparece a menina chinesa, Whei Minzhi, no centro de uma imagem desfocada, como uma multidão, tendo abaixo um grupo de crianças chinesas sentadas, com presença de um menino, de 10 anos, está entre as letras de Nenhum a Menos (Not One Less). O menino a ser resgatado da cidade, para onde foi em busca de sobrevivência familiar, assim como milhares ainda o fazem ao sair do campo em busca de trabalho no Brasil, embora devessem estar é em escolas.

"É direito. É todos direitos que a humanidade tem, né? Os direito!" (fala de um morador de Capão Redondo, São Paulo)

Por um educação dos diferentes pés, calçados ou não...

Hoje, sentia muito frio nos meus pés. Nesse amanhecer de inverno para minhas dores, no cedo tão frio minha manhã ficou mais quente e calorosa. Era a notícia de que o Senado, no caminho para a disciplina de direitos humanos ser incluída nas escolas, está discutindo: "diretrizes nesse sentido estão sendo elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), conforme anunciou nesta quinta-feira (9) o representante do colegiado, Raimundo Feitosa, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH)...".

E estas diretrizes já se tornaram antigas máximas que repeti durante muitos encontros. Já, para além dos universalismos, publiquei em quase todos os textos que escrevi: a educação em e para os direitos humanos é a via regia para a construção de uma futura Sociedade que respeite as diferenças.

Quem já 'sabe' o que são os Direitos Humanos? As vozes e ecos populares, assim como Ícaros que vão em direção ao Sol, aprenderam uma máxima que é o contrário: ''Vixe, agora as crianças vão aprender desde cedo que o crime compensa, e que tem muita gente que viva à custa dele...", confirmando os ares penetrantes do passado dos Anos de Chumbo. A maioria da população brasileira que ainda usa os pés descalços, tanto física como educacionalmente, para caminhar acredita, piamente, que só há direitos humanos para ''bandidos''.

Como então construir um outro conhecimento sobre o que realmente são os Direitos Humanos? Há que providenciar uma outra forma de educação. Uma educação que tire as meias dos preconceitos, os coturnos da disciplina militarizada e do passado, retire os temores das pedras das intolerâncias arraigas, e, como Heráclito, acredite que os novos caminhos e estradas se construirão ao caminhar. Para além de todos os obstáculos e todos os percalços das novas estradas do conhecimento.

O território que experimentamos é, como já o disse Milton Santos, para além dos territórios conhecidos e mapeados, são os territórios banais. É nesse campo, em especial nos longíguos recantos brasileiros, que precisaremos de um persistente e contínuo desejo de educar para e com direitos humanos. Até nas metrópoles e nas cidades mais desenvolvidas há um incessante murmúrio velado sobre os Direitos Humanos. Um exemplo nos vem de uma experiência realizada em Capão Redondo, situado na região sul de São Paulo.

Esta experiência de enfrentar os "Desafios para a atuação de um Centro de Direitos Humanos e Educação Popular", é descrita por Petronella Maria Boonen. Ela nos mostra que em uma área de concentração de favelas, loteamentos clandestinos e moradias precárias, com população majoritária de migrantes, o trabalho de educar para direitos humanos fica ainda mais árduo. Esta é (ou foi) uma região conhecida pelos altos índices de homicídios e violências cotidianas.

Como então vencer preconceitos arraigados sobre o que são, a quem se destinam e como efetivar os Direitos Humanos? A pesquisadora Petronella em seu artigo nos avisa sobre as representações que os moradores destes espaços têm sobre direitos humanos. E, ao lê-la, sobre a possível 'razão' do que chamamos de 'população desfavorecida' ter resistências ao tema, como sendo o ''desenraizamento'' associado à exclusão social, ficaremos para refletir sobre as mudanças de conceitos e de representações que uma escola pode propiciar.

A afirmação dos Direitos Humanos, que passam pela profissão, pela moradia digna, pelo saneamento básico, pelo emprego, pela conquista de justiça social, tem uma velha origem: a palavra direito. Esta palavra, segundo Lèvy Bruhl, citado por Buono e Boonen, deriva de "droit, right, Recht, Diritto e direito, nas diversas línguas, provém de uma metáfora, em que a figura geométrica adquiriu sentido moral e, em seguida, jurídico: o direito é a linha reta, que se opõe à curva ou à oblíqua, e que se liga à noção de retidão, de franqueza e de lealdade nas relações humanas''.

A notícia, mesmo que tardia, da introdução de uma disciplina de direitos humanos nas escolas só acrescenta à geometria civilizatória uma dose necessária de gramática civil. O exercício, como deverá ser em uma proposta de inclusão escolar, da máxima: NENHUMA CRIANÇA A MENOS, é por si só um possível para a erradicação dos analfabetismos funcionais sobre direitos humanos.

Estaremos abrindo portas e janelas dos ambientes escolares para a ventilação de novas idéias de convívio, respeito e aprendizagem com a diferença. Por isso convoco a todos e todas para que ''politizemos'' a questão dos direitos humanos nas escolas. Principalmente nas escolas rurais, sertanejas ou reconditas, onde os pés ainda calçam chinelos ou, preferencialmente, ainda vivem do chão batido.

Peço apenas que retiremos as meias palavras e nossas protegidas meias visões sobre estes Outros em marginalização. Somente um exercício de aplicação dos nossos conhecimentos eivados de muito afeto, empatia e respeito poderão abrir e construir, com as mãos calejadas ou sem calos, juntas, singularizadas, uma estrada aberta para o futuro dos Direitos Humanos.

Direito é direito. Muito embora, na realidade brasileira, faça curvas e trace caminhos oblíquos para os que só andam de sapatos ou botas de couro, sejam nacionais ou importados, de griffe ou da 25 de Março. Entretanto, parece que seus pés, "tristemente entortados", principalmente pelas corrupções, começam a ser igualitariamente tratados pela Justiça. Eles também se dizem ''portadores'' de direitos humanos...

Os filhos de nossos filhos verão, assim desejo, um outro mundo possível: direitos humanos transversalizarão todas as vidas humanas, independentemente de quaisquer privilégios ou preconceitos, assim como a educação é e será sempre um direito fundamental. NÃO PODEMOS TEMER NEM ATEMORIZAR NOSSAS CRIANÇAS.

copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 ad infinitum , todos os direitos reservados  (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa)TODOSDIREITOSRESERVADOS 2025

Referência Bibliográfica no texto:
Direitos Humanos e Educação - Outra Palavras, Outras Práticas - Flavia Schilling (Org.) , Ed FEUSP/Cortez Editora , São Paulo, SP, 2005.

Direitos humanos deverão ser ensinados nas escolas 
https://www.senado.gov.br/noticias/direitos-humanos-deverao-ser-ensinados-nas-escolas.aspx

Direitos Humanos nas Escolas - BLOG (Ver comentários)
https://maringa.odiario.com/blogs/edsonlima/2011/06/10/direitos-humanos-nas-escolas/

Filme - NENHUM A MENOS
https://www.infoescola.com/cinema/nenhum-a-menos/
https://www.asia.cinedie.com/not_one_less.htm

LEIA TAMBÉM NO BLOG - 

DIREITOS HUMANOS COMO QUESTÃO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA-
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/05/imagem-publicadsa-uma-foto-de-tres.html

s UM PEDAÇO DE GIZ NA LOUSA DIGITAL - Pelo Dia do(a) Professor(a) 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/10/um-pedaco-de-giz-na-tela-digital-dia.html