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sexta-feira, 14 de junho de 2013

A PRAÇA É DO POVO? AS RUAS SÃO DOS AUTOMÓVEIS E ÔNIBUS? E DIREITOS HUMANOS SÃO DE QUEM?

Imagem publicada – uma foto que tirei de um velho cartaz dos anos 80. É o cartaz de um evento que organizei junto com o Núcleo de Psicanálise e Análise Institucional, com o título, à direita: “68: Maio-junho e depois?”, com os nomes dos coordenadores desta Mesa redonda, à esquerda: Heliana Conde Rodrigues, Maria Beatriz Sá Leitão (in memoriam), Maria Isabel Feitosa, Jorge Márcio Andrade, Vera Vital Brasil, Ronald Arendt e Cecília Coimbra. É uma montagem de uma foto que tenho de David Gerard, de 1970, em preto e branco, onde há redesenhado um menino com uma máscara de gás, como um focinho protetor, traz uma garrafa de refrigerante na mão direita, uma Coca cola, como alusão aos coquetéis Molotov que foram usados em manifestações e resistências nos anos 60, mais especificamente no ano de 1968. Hoje, após as imagens, que só assistir sem não mais participar, do dia 13 de junho de 2013, me fizeram buscar essa indagação institucionalista já tornada antiga em meu coração: os meninos e meninas, os jovens do futuro terão de continuar fazendo, como no cartaz, um grande “X” em vermelho, com caneta esferográfica, sobre a palavra Estado?

Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão  (Pra Não Dizer que Não Falei das Flores
  Geraldo Vandré)

Até onde a manifestação de milhares de pessoas nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais contra aumentos de passagens é um ato considerado legítimo?  A questão é o preço, o quanto custa ou os custos de todas as nossas indignações contra as imposturas, desgovernos e corrupções da Sociedade do Espetáculo e de Controle?

Há a necessidade de analisarmos com mais atenção, carinho e respeito esse retorno das massas às ruas, às praças e ao ato da indignação. Em todo o mundo estão ocorrendo estes movimentos públicos que expressam indignação e revolta, como dizem Michael Hardt e Antonio Negri: “.... Manifestos trabalham como os antigos profetas, que, com o poder de suas visões, criam seus próprios povos. Os movimentos sociais dos dias atuais reverteram a ordem, tornando obsoletos manifestos e profetas. Os agentes da mudança já tomaram as ruas e ocuparam as praças, não apenas ameaçando e desestabilizando governantes, mas também conjurando visões de um novo mundo. Mais importante, talvez, as multidões, através de sua lógica e de suas práticas, de seus lemas/slogans e desejos, declararam um novo conjunto de princípios e verdades...”.

Eles indagam como estas manifestações públicas, espalhadas pela Europa, pela África, pelos Estados Unidos, e , agora no Brasil, podem com as suas declarações nos ajudar na reinvenção da maneira como nos relacionamos com os Outros e o nosso mundo?

Hoje, para estes pensadores políticos raros, é preciso crer e agir para que as pessoas sejam por suas capacidades e sabedoria de se autogovernarem, ao sair para as ruas e o mundo, geradoras das novas visões de mundo desejado e de direito de todos e todas.

 Os “novos profetas” urbanos não são do Apocalipse. São os muitos jovens, como os de 68, ávidos por justiça e direitos humanos. Já entenderam que estes ditos direitos não são os deturpados e ‘mal-ditos’ como sendo apenas para os aprisionados e foras da lei. Sabem distinguir a sua extensão a toda e qualquer forma de vida sobre a Terra.  São também, mesmo que excluídos como minorias, os mais desiludidos diante do hipercapitalismo.

E as multidões vão atrapalhar o trânsito. O que não é apenas a interferência nefasta sobre o meu, o seu e o nosso direito de ir e vir. É o confronto com as instâncias instituídas de poder, que usando a força de suas polícias, na falha de suas políticas públicas, acabam tingindo com sangue suas próprias mãos.

Já disse, hoje, após assistir as manobras políticas e as policiais, muito semelhantes em suas cruentas posturas e uso de suas forças, que não existem ‘balas de borracha’. Existem, sim, as muitas formas de exercício de controle biopolítico dessas multidões que não mais se acomodam apenas em poltronas e manifestos On line.

As balas usadas hoje, junto com a cortina de fumaça dos gases lacrimogêneos e as bombas de efeito moral, não são tão flexíveis como a borracha dos seringais. O material que as compõe é tão belicoso e controlador, embora aparentemente menos letais que as balas de chumbo ou aço.

Não existem BALAS de borracha, existem os que as usam para ferir quem os ''ameaça'' e dizem que a borracha “não mata”.  Os discursos sobre os feridos da multidão, incluindo os que trabalham para as mídias, despontam como sendo “excessos pontuais” da Polícia. Serão denominados também como meros “efeitos colaterais” do exercício da governança.

Entretanto, essa Violência é parecida com as que se impõem aos manifestantes de todo o mundo. A Palestina é aqui, a Grécia é aqui, a Turquia é aqui, o Egito é aqui, e também o HAITI É AQUI. Nosso mundo não é apenas “Glocal” e globalizado, é um mundo com todos os capitalismos integrados e mesclados.

Em todos os lugares só usam BALAS os que as produzem, comercializam, exploram, promovem seu aperfeiçoamento, e, depois entregam essa munição como balas a fundo perdido, inclusive para a criminalidade. Tenhamos certeza: o próximo alvo encontrado podemos ser nós, seu vizinho ou apenas um transeunte desconhecido.

Não existem proprietários dos espaços públicos. A noção de rua como espaço de liberdade é fundamental. O que podemos lamentar é que só se exerçam poderes com por trás de máscaras da opressão, da repressão, da violência, mais grave ainda se é feita pelos discursos ou ações “legitimadas” dos nossos governantes, pois como dizia Saint Just: “... não se governa inocentemente”.

Quando jovens, sejam da Zona Leste de São Paulo ou da Zona Oeste do Rio de Janeiro, vão às ruas protestar pelos centavos, aparentemente muito pouco para os que têm muito, há uma inversão de seu ato de massa. O seu protesto vai além do valor monetário da passagem. Eles e elas estão reivindicando sua não exclusão, lutando contra a onda de desfiliação e de segregação oriunda dos desempregos e das manipulações econômico-financeiras.

O mesmo trabalhador que se queixa do jovem com uma bandeira na mão é o que poderá se sentar com mais conforto e respeito em um transporte público e digno para todos; o mesmo jovem atingido por gás pimenta e emborrachas balas bem dirigidas pode vir a ser um trabalhador do transporte público de massa sustentável e ecológico, se o seu protesto não for considerado apenas um ato de vandalismo ou baderna. Como escreveu James Baldwin, nos Anos 60, "... da próxima vez, o Fogo".

E, aquele que fardado pelo nosso dinheiro público é investido da função repressora também é e será colocado sob a linha de tiro das explorações e desqualificações, sem falar de seu real risco de matar, como dizia o Vandré: “Há soldados armados, Amados ou não, Quase todos perdidos De armas na mão, Nos quartéis lhes ensinam Uma antiga lição: De morrer pela Pátria E viver sem razão...”.

A canção que tem toda a mítica e a História de resistência aos Anos de Chumbo da Ditadura Militar afirmava a presença dos indignados nas ruas. Não eram estímulos a uma subversão apenas, não eram apenas comunistas ou anarquistas, eram as multidões que não mais aceitavam as formas duras e inflexíveis do Golpe Militar, que foi transformado em Revolução.

Nas flores que não falamos por um longo período. Flores murchas, silenciadas com Tortura, Repressão e Violência do Estado. Flores que permanecem nos nossos corações como desejo de outras subjetividades e cartografias para nossas existências.

E, como diriam Hardt e Negri, esses: “...Movimentos de revolta e rebelião, pensamos, proveem os meios não apenas para recusar os regimes repressivos sob os quais sofrem essas figuras subjetivas, mas também para reverter essas subjetividades em figuras de poder”.

Hora, portanto, de ampliação de uma escuta/olhar sensíveis e respeitosos sobre essas multidões. Elas ecoam apenas o início de revoltas contra as produções de subjetividade de Endividados, Representados e Midiatizados. Aparentemente são muito poucos, por isso é que estão a quantificar as massas nesses eventos. O futuro dirá quantos serão nas praças, nas ruas e na constituição de novos modos de ação democrática.

Não retornamos a 1789, nem mesmo a 1948, mas os direitos considerados inalienáveis, uma construção/invenção dos séculos passados, passou a operar nos subterrâneos desses movimentos sociais, indo dos índios Munduruku até os jovens cantando e desfraldando surradas bandeiras. Não importam e importarão as suas cores, defesas ou lemas, contanto que os que detêm poderes aprendam a escutar e respeitar estes desejos de massa.

O Sr. Adolf soube manipular o desejo de amor e carisma de toda uma massa, todo um povo alemão. Freud em sua obra, a “Psicologia das massas e Análise do Ego”, ao analisar duas massas ‘artificiais’, as Igrejas e os Exércitos, nota que nas duas instituições “reina a mesma ilusão: a da presença, visível ou invisível, de um chefe que ama todos os membros daquela coletividade como um igual...”. Os que não gritassem Heil estavam contra o Grande Irmão.

 Existem, inclusive nos Direitos Humanos, pastores deputados dizendo que nos amam, que Cristo nos une, mas que exigem nossa total renúncia à diferença e à heterogeneidade, inclusive dos desejos e, principalmente, dos nossos direitos inalienáveis.

Há, em tempos pastorais e fanáticos, como já escrevi, uma enorme possibilidade dos obscurantismos e dos fundamentalismos arregimentarem e arrebanharem novas hordas de intolerância, novos eleitos, novos imaculados. Estas manifestações também podem ocupar os espaços públicos. Como massas também podem gritar slogans. A principal diferença é que nelas todos têm de ser ou se tornar HOMOgêneos.

Por isso ainda não tenho a resposta do cartaz: 2013, um ano pós-Maio de 68 ou o desejo triste e mortífero de retorno a um Março de 64? E depois? Serão outras flores, outras Primaveras?

PS.- Anuncio que a FRASE que cunhei para o Concurso da SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República), em comemoração do dia 13 DE MAIO – UMA OUTRA HISTÓRIA, foi uma das três vencedoras, com o meu desejo de "Abolir as novas escravidões e os velhos racismos, um futuro possível e urgente para o Brasil"...

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013/2014 (favor citar o Autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de Massa - TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

INDICAÇÕES E FONTES NA INTERNET –


INDICAÇÕES PARA REFLEXÃO E CRÍTICA –
DECLARACIÓN – Michael Hardt & Antonio Negri, Ediciones Akal, Madrid, Espanha, 2012.

SOBRE A VIOLÊNCIA – Hanna Arendt, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2011.

AS FIGURAS DO PODER – Eugène Enriquez, Via Lettera Editora e Livraria, São Paulo, SP, 2007.

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