domingo, 18 de dezembro de 2011

A ARTE DE RE-VIVER - Quando morrem o Teatro, o Carnaval e a Música? Nunca...



Imagem publicada - a capa do livro A ARTE DA VIDA, de Zygmunt Bauman, com uma imagem esmaecida de um rosto feminino que se apoia em um ombro de um homem com um cigarro à boca, sendo sobrepostos por um ponteiro e um relógio, havendo sombras humanas ao fundo. Uma alegoria da nossa passagem pelo ‘’túnel ou máquina’’ do tempo da modernidade líquida e veloz. O fundo é como uma pintura onde o branco predomina, o mesmo que pensamos vestir quando passamos pelo Ano Novo... (Autoria Sérgio Campante sobre fotos de Steve Woods, Leroy Skalstad e Jay Simmons)

Quando é que aprenderemos que sem a Arte a vida é vazia de sentido? E quando é que ela fica vazia de sentido quando perdemos nossos artistas? E quando é que nos descobrimos precisando ser artífices de nossas próprias artes de viver e morrer?

Estas interrogações não parecem combinar com os tempos pré-natalinos e festivos para alguns. Mas o fim de um ano pode trazer um pouco de reflexão... Principalmente se a Senhora Dona Morte nos ceifar alguns intensificadores da alegria do viver...
Nesse pré-Natal de 2011, Dona Morte, mais três poderão alegrar, encantar e musicalizar o chamado “outro mundo”. Morreram Sergio Britto, Joãozinho Trinta e Cesária Évora.

Mas não devemos lamentar ou lamuriar. Devemos evocar e homenagear, pois o que deixaram por aqui é muito diferente do que alguns andam provocando e criando. E esses, também midiatizados e midiatizáveis, parecem imortais como o que causam.


Hoje custosa e cara Senhora mais uma carta tenho de escrever-lhe. A missiva (carta em português arcaico) é para lhe lembrar de que nesse fim de ano muitas coisas andaram mortais pelo Planeta Terra. Muita propaganda, muito estímulo ao consumo e as velhas promessas macropolíticas de erradicação da miséria, ou será dos miseráveis?

A Caríssima Senhora e seu amigo Cronos (o Tempo) nos arrebataram três grandes seres humanos. O Joãozinho, revolucionário e lúcido, que valia por trinta outros. Mostrou-nos, sem destemor, no Reinado de Momo, que a alegria para os excluídos é imprescindível, principalmente na miséria impingida. Agora é carnavalesco em outras bandas... Devia estar faltando humor, beleza e criatividade no seu reinado, Dona obscura e repentina?

A digníssima se lembra de quando ele teve de cobrir o Cristo Redentor? Ainda continuamos tapando com panos quentes as nossas desigualdades... Agora estamos em plena higienização social pré-Copa e Olimpíadas. Nossas periferias e seus diferentes marginais estão ficando “clean”. Nem se parecem com o seu enredo dos “Ratos e Urubus, Larguem a minha fantasia”.

Precisamos, por isso, sim das fantasias, como nos palcos dos teatros. Ali, usando personas (máscaras), escancaram-se para poucos o desnudamento de nossas tristes e confusas humanidades tropicais. Houve este homem teatral, de dedicação ímpar a esta arte: Sérgio Britto.

O Sérgio deverá cuidar agora de outra peça, outro palco, outra plateia, sob sua direção e ato. Talvez agora nos apresente um magnifico espetáculo pós- futurista, com voz tonitruante avisará: na Sociedade do Espetáculo agora vale a verdade e a ética, todas as farsas, principalmente, as políticas não mais nos iludem.

Nesse mesmo instante sonhado e futuro, a Cesária nos lembrará de que a Somália foi liberada da fome e dos mercenários, pois seu sangue é africano. A moda do Cabo Verde, e com seu português típico nos cantará, destoando dos cantos hiperindustrializados, que a ‘sodade’ não é nostalgia, muito menos desejo de viver sempre no passado. É o desejo de lembrar que ainda sonhamos, de pés descalços, com outras formas de amar, existir e re-viver.

Para quem aproveitar estas perdas para uma breve reflexão, a arte do re-viver se tornará um bom aprendizado. Eu, aqui nessas conversas sem resposta com a Senhora Dona Morte ainda não desisti de suas devoluções. Agora mesmo estou lendo e relendo A ARTE DA VIDA do Zygmunt Bauman... É a hora de repensar que ‘’presentes’’ estamos vendendo/comprando?

Para este autor, refletindo sobre nossa incansável indagação, o que é há de errado com a felicidade hoje (?), nos provoca e responde que: - “O caminho para a felicidade passa pelas lojas e, quanto mais exclusivas, maior a felicidade alcançada. Atingir a felicidade significa a aquisição de coisas que outras pessoas não têm chance nem perspectivas de adquirir. A felicidade exige que se pareça estar à frente dos competidores...” (p. 36).

Nós, por aqui como telespectadores, ainda estamos assistindo as Primaveras, e nossas massas povoam os shoppings, vez por outra algumas praças ou linhas de trem. Acho, olhando para o céu das minhas Minas Gerais que entramos em um Verão, a ser mais caudaloso do que o já visto. Não quero rever as velhas enxurradas de explicações sobre os nossos desmoronamentos, ainda mais quando os montes não são mais belos, todos são inundáveis.

Esquecemo-nos depressa demais de nossas tragédias pessoais ou coletivas. Os tempos tão velozes que nos assustam são também nossos melhores lenitivos ou anestésicos para as dores que não se calam ou silenciam rápido demais. A Senhora, Dona Morte, é que se regala e banqueteia com muitos novos corpos, novas Vidas Nuas de tragédias anunciadas.

Novamente Bauman nos abre os olhos, com a liquidez dos tempos em que a arte da vida deveria ser a afirmação de nosso desejo de sermos mais felizes. Ele diz que: -“Num tom um pouco mais sério, o mundo líquido-moderno está num estado de revolução permanente, um estado que não admite as revoluções de uma só vez, os “eventos singulares” que constituem lembranças dos tempos da modernidade “sólida”... (p. 87)

Qual seria, então, o presente ‘’revolucionário’’ singular que nos legaram estes artistas que nos deixaram: Évora, Britto e Trinta?

Talvez uma advertência para além dos comerciais e das propagandas, onde as inovações são sempre “revolucionárias”. Como Bauman nos avisaram com festa, música, teatro e alegorias, que só uma renovada intensidade amorosa em busca do Outro e dos Outros pode alicerçar as mais sinceras criações.

Somos assim artistas do re-viver e da vida, organizando o Caos e sendo organizados pelo Tao. Desiguais, diferentes, diversos, heterogêneos, plurais e múltiplos, mas, singularmente criativos e empáticos. E, lamento informa-la, Dona Morte, que assim nos tornamos artistas como eles.

Eles partiram bem perto de outras festas, como também o fazem poetas e filósofos, e nos deixam mais indagações do que respostas. Em sua memória é que podemos nos tornar verdadeiros artífices de vida, ou melhor, grandes artistas da vida privada ou coletiva.

Para uma parábola zen budista ao ser instigado um homem para que pinte um dragão em um mosteiro, como desafio, um mestre lhe responde:"Torne-se um dragão"... Para nós talvez nesse desejo apenas de alegria, sem encarar também os sofrimentos ou dores, fica um desafio para que, cada um e todos/todas juntos, nos tornemos o ‘’fogo” que alimente nossos Teatros, nossas Músicas e os nossos futuros Carnavais.

Eles morreram, mas seu espírito continua soprando sobre nossas argilas...

QUE O NOVO ANO SEJA REALMENTE INSPIRADOR E CRIATIVO, e que nossas misérias sejam realmente combatidas, com justiça, ética, alegria e determinação... tendo sempre como fundamento os direitos humanos, e o desejo de sermos TRANSMISSORES DE VIDA.


Copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011-2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Notícias sobre os Três e suas artes da vida
:

Morre Joãosinho Trinta, carnavalesco polêmico e revolucionário
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/12/17/morre-joaosinho-trinta-carnavalesco-polemico-e-revolucionario.jhtm

Morreu Cesária Évora 
http://aeiou.expresso.pt/morreu-cesaria-evora=f694993

Morre aos 88 anos o ator e diretor Sérgio Britto -
http://diversao.terra.com.br/gente/noticias/0,,OI5523165-EI13419,00-Morre+aos+anos+o+ator+e+diretor+Sergio+Britto.html

Indicação de leitura e reflexão: A Arte da Vida - (Zygmunt Bauman) – Download do livro: http://www.baixedetudo.net/livro-a-arte-da-vida Em papel - Editora Zahar, Rio de Janeiro, RJ, 2009.

Leia também no BLOG:
A MÚSICA QUE ENCANTA DEPENDE DOS OLHOS? http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/03/musica-que-encanta-depende-dos-olhos.html

SEREMOS TRANSMISSORES EM 2011?  http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/12/seremos-transmissores-em-2011.html

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O RETORNO DA INTEGRAÇÃO PELA INCLUSÃO: novos muros nas escolas, fábricas e hospitais...


Imagem Publicada – uma foto da publicidade do documentário BUDRUS; traz em contraluz colorido, com o sol crepuscular ao fundo, a figura de um homem entre duas cercas de arame farpado, que ele tenta destruir com um simples alicate. Esta cerca é o motivo de uma insólita união entre árabes muçulmanos e judeus, em um vilarejo entre a Cisjordânia e Israel, contra um polêmico muro que separaria palestinos e israelenses. Ele é uma realização da cineasta brasileira Julia Bacha, recebeu 15 prêmios internacionais, e nos mostra a possibilidade da Paz. Hamas e Fatah, Mulheres e Homens, Crianças e Velhos, diferentes e desiguais se unem contra a violência e a segregação.

Para os que pensam sobre a comemoração do Dia Internacional dos Direitos Humanos, dia 10, faço o convite para uma reflexão sobre os muros, as cercas e os ‘’limites’’ que, mesmos os invisíveis, nos podem cercear ou mesmo pisotear alguns direitos fundamentais.

Há momentos de nossas lutas pelos Direitos Humanos que precisamos pensar quem são os nossos verdadeiros ‘’inimigos’’. Ao assistir hoje o documentário Budrus pude refletir sobre a possibilidade de alguma ‘’sintonia’’ de interesses no atual campo das discussões sobre os retrocessos e conservadorismos que estamos enfrentando.

Nos últimos dias passamos de um plano “Viver sem Limites” para a reconstrução de institucionalizações dentro dos muros escolares ou reabilitadores. Primeiro com a proposta de um Decreto (7611/11) que retroagiu sobre os avanços conquistados da inclusão escolar.

Hoje com um Projeto de Lei 1224/2011, da Câmara do RJ que coloca outro muro como opção para a Educação Especial, de crianças e jovens, na perspectiva de sua Inclusão caso “apresentam condições de serem incluídas, bem como dos demais alunos de turma regular, por meio da ampliação de sua participação na aprendizagem, nas culturas e nos meios sociais.” Ou seja, novamente o ‘’preferencialmente’’, ou melhor, quando “possível”, ou então na “saúde e na reabilitação"...

Nesse mesmo tom brasileiro estamos também vendo discursos contraditórios sobre a Reforma Psiquiátrica e a retomada das "internações involuntárias", compulsórias, sob a alegação de epidemias, só que por "contágio social" com o uso do crack. O alcóol mata 47 pessoas por dia,e isso não é uma epidemia?

Nossas autoridades promovem uma destinação de 04 bilhões para um ‘’combate’. Mais um Plano do Ministério da Saúde. O seu principal resultado é a hospitalização ou a institucionalização forçada dos chamados ‘’craqueiros’’.

Uma “maioria” minoritária que vive à beira da sociedade e das linhas de trem. Moradores de rua e marginais que precisam ser cuidados e retirados da exclusão e desfiliação social. Onde os meios desta ação podem ser também violentadores...

Há, portanto um movimento de controle social, com novas macro e biopolíticas, anunciadas com muitos recursos públicos. Recursos que não podem ser apenas econômicos, pois a história já demonstrou o uso do dinheiro público para fins privados, tanto na Saúde, com a manicomialização, como na Educação, com a educação em espaços de clínicas de reabilitação.

Aí se encontram a Loucura e a Deficiência, as tecnologias de cuidado e pedagogia tornam-se hiper-especializadas e, consequentemente, segregadoras ou alienantes. E esta me parece ser a direção que, com as devidas contextualizações, estamos re-tomando. O caminho conservador, orientado pela macropolítica, das velhas institucionalizações "forçadas" por lei e "reforçadas" por emergências sociais. Novos muros em nossas aldeias globais.

O nome do nosso projeto para a acessibilidade, a saúde, a educação e o Viver para além dos limites pode ser comparado ao roteiro de Budrus. Estamos assistindo à uma construção de uma ‘’delimitação’’ legislativa e de práticas que violentam direitos já adquiridos.

Como os palestinos temos algumas oliveiras ou cemitérios que não devemos deixar de defender. Mas precisamos, como eles, de aliados e de um movimento de resistência. Alguns já iniciaram a defesa/combate. O que temos de cuidar é que não nos tornem nossos próprios "inimigos".

Existe um risco de mantermos nossas tradicionais divisões por força identitária. Os que não veem, os que não ouvem, os que não andam, os que são multiplamente deficitários. E, como somos diferentes em nossas necessidades e incapacidades, caímos na oposição binária.

A oposição binária ocorre quando, por exemplo, nas categorias macho/fêmea, obscurecemos as diferentes formas de ser um homem ou uma mulher, seja na sua subjetividade, nos afetos, no desejo ou no comportamento. Tendemos a homogeneização, à mesmice ou “mesmidade”. Caímos nos narcisismos das pequenas diferenças...

Essa queda é o nosso principal calcanhar de Aquiles. É nessa multiplicidade forjada como heterogeneidade de direitos que o Estado e a Sociedade justifica o uso do efeito de ‘’retorsão”. Este é um conceito de Taguieff que constitui-se quando “um contendor se coloca no terreno discursivo e ideológico do adversário e o combate com as armas deste, as quais pelo fato de serem usada contra ele, deixam de pertencer-lhe pois agora jogam pelo adversário...

Por isso disse, no início, que precisamos reconhecer que são nossos atuais amigos e inimigos. Não faço aqui a apologia da guerra ou da violência. Como em Budrus faço a afirmação de uma união pela desconstrução desses muros que nos impõem, sejam estatais ou institucionais. Os argumentos que sempre utilizamos na defesa de uma Sociedade Inclusiva agora são os mesmos que se alardeiam em discursos políticos. E ainda nos indagam do que reclamamos e por que criticamos...

Portanto, diante da possibilidade da retorsão, e, mais ainda, da acusação de ideologização das questões, é que devemos refletir, coletivamente, quais são as ações de resistência que devemos produzir.

Uma ação interessante e potencialmente criativa seria, hoje, abolirmos o uso da palavra INCLUSÃO, passemos, como nos discursos da Ordem, aceitar o retorno da INTEGRAÇÃO, do mainstreaming, como no recente Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, termo retomado para afirmar a questão do desenvolvimento, pela ONU.

Se a questão é a palavra DIVERSIDADE, como no projeto da Câmara do RJ, aceitemos que ela não representa, como nos demonstrou Homi Bhabba, a tal diversidade cultural, como um objeto do conhecimento empírico. Vamos esquecer sua advertência sobre o que significa uma DIFERENÇA cultural e os hibridismos e multiplicidades que nós vivenciamos.

Vamos aceitar "integrar" a diversidade, a partir do modelo segregador, deixando de lado quaisquer das singularidades. E as diferenças, mesmo dentro de casos, por exemplo, de Autismos nos justificarão para que estes frequentem apenas os Centros de Reabilitação ou escolas hiperespecializadas. Nunca teremos uma Temple Grandin em nossas escolas regulares...

Vamos, por exemplo, como nos tempos de ocupação da Amazônia, utilizar o slogan governamental: INTEGRAR PARA NÃO ENTREGAR. Iremos construir, diante um possível “ataque e invasão’’ de nossas fronteiras e territórios, uma grande muralha que proteja nossa maior diversidade ambiental: a floresta, sua flora, sua fauna, seus índios e seus diversos mananciais de água doce. A preservação tornar-se-ia aí o novo conservadorismo?

AÍ comparo a serialização dos eucaliptos com a heterogeneidade amazônica que podemos criar em nossas escolas ou outras instituições modelares. Podemos plantar a diferença ou mesmice, a bel prazer. Mas sempre colheremos um futuro possível ou a desertificação de nossas vidas. Por isso optemos pela busca de um além do reducionismo da integração.

Foi integrando um território pela força e pela segregação violentadora que Israel, construindo muros e distanciamentos, que viu o surgimento de uma resistência ‘’selvagem’’. E Budrus se tornou a obra de cinema, de vida, de re-existência de culturas diferenciadas, mas também um exercício de "combate pacífico".

Uma paz que se conquista com indignação, resiliência e resistência pacíficas. Um movimento que precisamos retomar para manter as conquistas que temos realizado. Nós, como uma personagem do documentário, diante de uma retroescavadeira, devemos ocupar o buraco por ela feito.

E, para além de nossas diferenças, nos fincarmos, como uma oliveira plantada com carinho, que algumas mãos oportunistas insistem em arrancar de nossos territórios da saúde e da educação de pessoas com e sem deficiência.

Só assim, com persistência e indignação, cada um e muitos de nós poderemos barrar o retrocesso atual, os “mesmos” que usam a retorsão para dizer que são as pessoas com deficiência que não se preparam para o mercado de trabalho.

Não são as empresas ou o Estado que não cumprem a Lei de Cotas. Somos os causadores de nossa própria exclusão? Afinal nossas tragédias pessoais não são o que nos torna objetos de intervenção, internação involuntária ou “integração” social?
E OS MUROS INVISÍVEIS QUANDO É QUE INICIAREMOS A SUA DEMOLIÇÃO?


Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres na Internet ou outros meios de comunicação de massa)

BUDRUS – (2009) Documentário – Direção JULIA BACHA (BR)
http://www.justvision.org/budrus

Brasileira diretora de "Budrus" fala sobre premiação em Berlim
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5286132,00.html

Budrus Trailer - 3 Min
http://www.youtube.com/watch?v=ff7rScVrbos (legendas em português)
http://www.youtube.com/watch?v=YQQ8F2W5eB0 (legendas em inglês)

Documentário 'Budrus', de Julia Bacha, é lançado em DVD http://www.estadao.com.br/noticias/artelazer,documentario-budrus-de-julia-bacha-e-lancado-em-dvd,790731,0.htm

Plano Nacional de Educação: inclusão escolar ameaçada
http://inclusaoja.com.br/

Plano de enfrentamento ao crack deve aumentar leitos para atendimento
http://www.youtube.com/watch?v=SxGRHH7NEs8

Rio de Janeiro pode servir como exemplo positivo na internação pelo crack http://www.sidneyrezende.com/noticia/155255+rio+de+janeiro+pode+servir+como+exemplo+positivo+na+internacao+pelo+crack

Lei de cotas para deficientes não deve ser flexibilizada, defende CUT
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/trabalho/2011/12/lei-de-cotas-para-deficientes-nao-deve-ser-flexibilizada-diz-cut

Leia também no BLOG:

DEFICIÊNCIAS E DIREITOS HUMANOS - MAIS UM DIA PARA COMEMORAR?
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/12/deficiencias-e-direitos-humanos-mais-um_03.html

sábado, 3 de dezembro de 2011

DEFICIÊNCIAS E DIREITOS HUMANOS - MAIS UM DIA PARA COMEMORAR?


Imagem publicada- a foto publicada no site de Christopher Reeve de um garoto sem braços e sem pernas: o Charlie. Ele é o personagem de um processo de inclusão escolar reproduzido no documentário Without Pity, A Film About Abilities (HBO-1996), exibido na TV. Charlie é incluído, para além de seu corpo diferente. Ele tem um grande amigo, sem deficiência, que o ajuda nas brincadeiras, fora da sala de aula. Este amigo fiel apenas se incomoda com ter de tirar a areia que se desprende do corpo diferente do amigo com deficiência, após seu íntimo contato com ele.


O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência é uma criação da ONU para celebrar e tentar conscientizar sobre os direitos das pessoas com deficiência? Sim, mas também é um exercício para a afirmação de uma população de mais de 700 milhões no planeta Terra.

Na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou-se - através da Resolução 473, de outubro de 1991 – o dia 3 de dezembro como o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, comemorado a partir de 1992 em todo o mundo.

Uma das ações recomendadas, desde essa época, é a máxima visibilização das pessoas com deficiência. A elas, que permaneceram durante séculos, na invisibilidade social, bem como na exclusão, foi estimulado que ocupassem todos os espaços. As ruas, os jornais, as praças e os demais meios de comunicação.

O que passou a ser também uma preocupação dos que promoveram a discussão sobre a presença de um processo de desinstitucionalização e quebra de paradigmas. Há um excelente documento publicado pela ONU em 2002: Derechos humanos y discapacidad - Uso actual y posibilidades futuras de los instrumentos de derechos humanos de las Naciones Unidas en el contexto de la discapacidad.

Este texto sobre Direitos Humanos e Deficiência, sobre o uso atual e as possibilidades futuras dos instrumentos de direitos humanos da ONU, traz as primeiras e mais importantes, na minha visão, mudanças radicais de conceituação sobre as deficiências. É o casulo donde brotou a bela borboleta: as pessoas com deficiência são uma questão de direitos humanos.

Escrito por Gerard Quinn e Theresia Degener (e colaboradores), este livro traz uma questão que devemos aplicar ainda hoje na compreensão do lugar, status, papel e realidade das pessoas com deficiência: a sua saída de objeto de intervenção e cuidados de reabilitação ou educação para o de SUJEITO de direitos.

Para os autores os direitos humanos constituem os alicerces que fundamentam um sistema das liberdades que nos protegem dos abusos de poder. Estes direitos criam um espaço propício para desenvolvimento do espírito humano. E é sobre o ‘’desenvolvimento’’ que agora se tematiza o ano de 2011: “Juntos por um Mundo Melhor: Incluindo Pessoas com Deficiência no Desenvolvimento”.

Mas esta comemoração não poderá se esquecer das diferentes interpretações que a palavra desenvolvimento ganhou nos últimos tempos. Em especial no campo macropolítico brasileiro. Aqui na Terra Brasilis é em nome do desenvolvimento que se faz a redução de investimentos da Educação, ou que se manobram verbas em outras direções mais ‘’desenvolvimentistas’’.

Por isso retomei o livro de 2002, que nos fala de ‘’valores’’ fundamentais em Direitos Humanos para que se possa construir e consolidar a desinstitucionalização e a não segregação de pessoas com deficiência. Que valores são esses que esquecemos quando, politicamente nos aferramos ao desenvolvimentismo atual?

São os que fundamentaram e são eixos da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. A mesma que está sob atual vulneração legislativa, por alguns interesses particulares e grupelhizados, a AUTONOMIA, A IGUALDADE, A SOLIDARIEDADE e, principalmente, a DIGNIDADE vem sendo deixadas de lado.

Há até quem queira em nome de uma visão ‘’empresarial’’, solicitar a culpabilização da Lei de Cotas, de 1991, como a vilã pelo cumprimento da mesma por parte do mercado de trabalho. São as pessoas com deficiência que não ‘’são encontradas’’ para serem inseridas nos empregos. 

É quando deixamos de afirmar que as pessoas com deficiência devem ser valorizadas como cidadãos e cidadãs. O seu valor é intrínseco de sua dignidade humana. Não devem e nem podem ter valor apenas porque são úteis economicamente, tornar-se-iam mais uma ‘’classe trabalhadora’’.

No livro citado encontramos a confirmação desta posição: “O reconhecimento do valor da dignidade humana nos lembra, com determinação, que as pessoas com deficiência têm um papel e um direito na sociedade, o qual deve ser atendido com total independência de toda consideração de utilidade social ou econômica...”.

Seremos e somos, portanto, enquanto pessoas, fins em si mesmas, não um meio para outros fins. E isso contrasta e conflita profundamente com a tendência atual que trata de classificar as pessoas em função de sua utilidade social. É a presença da visão imperial e de Vidas Nuas que ainda atravessam, capitalisticamente, os corpos anômalos ou deficitários para o trabalho produtivo.

Já em 1998, ao exibir/assistir/difundir o documentário da HBO – Without Pity (a film about Abilities), que traduzia como “Sem Piedade”, apontava para as imagens afirmativas e provocativas da autonomia e a independência das pessoas com deficiência. Ele termina com um protesto, uma marcha de pessoas com deficiência contra o Estado. Este documentário, narrado por Christopher Reeve, afirmava que “a vida tem muito mais possibilidades que limites”.

Vejo agora a apropriação estatal desta frase. Fomos, cidadãos e cidadãs, contemplados com um novo plano estatal: “ Viver sem limites”. A sua formulação atenderá a alguns campos de intervenção em políticas sociais, mas começam a aparecer questões sobre a aplicação dos 7,6 bilhões de reais. Quais serão os limites, ou melhor, barreiras, que realmente serão extintas com políticas estruturais? 

Não poderemos assistir, nesse Dia 03 de Dezembro, apenas a visibilização de nossas marchas ou passeatas. Precisamos também parar um pouco para refletir sobre os retrocessos que todos os avanços legais estão sofrendo. Precisamos perder o medo de uma mudança radical dos paradigmas.

Não será o desaparecimento das entidades que se fortaleceram no vácuo do Estado, seja na saúde ou na educação, que essas mudanças provocadas pelo movimento de inclusão acontecerão. O privado que depende do público, tanto em recursos materiais, humanos e econômicos terá que se ‘’desenvolver’’ e transformar, caso contrário também, como os impérios, irá ruir um dia.

A história que não tem fim irá mostrar a irreversibilidade do tempo e das transformações institucionais. Incluir não diz respeito à desingularizar ou negar as identidades a que nos aferramos, defensivamente. As atitudes, até agressivas, contra o que está em ‘’marcha’’, a quebra do modelo biomédico e reabilitador, são resultado de conservadorismos ou de falsas defesas desta ou daquela visão cultural.

A marcha das pessoas com deficiência, como a Passeata da SuperAção e outras, tem nas avenidas, hoje, outras visibilidades, outras midiatizações, outros efeitos sociais. Os tempos mudaram e mudarão. A areia da ampulheta neo-tecnológica é também nano tecnológica..., e corre por entre nossos dedos tão digitais, tão cibernéticos.

Outros tempos virão, novos, inovadores, includentes. A nós cabe, agora, para além de apenas comemorarmos, manter ativa e acesa uma chama crítica e viva de que não basta recebermos novos direitos em papel. Temos o urgente dever de construirmos, com eles e para além deles, uma re-evolução da Diferença e das diversidades.

Ainda não cumprimos nem mesmo a Convenção da Guatemala. Não erradicamos muitas das misérias e discriminações que deixam apenas 2% dos latino-americanos com deficiência recebendo alguma forma de atenção, ou cuidado, ou escola, nos mais de 85 milhões de pessoas com alguma forma de deficiência. 

E, no Brasil, mesmo crescendo em números estatísticos, ainda não temos os 45 milhões de eleitores/votos com deficiência que, ao reivindicar direitos e voz, sejam realmente ouvidos no seu lema: Nada sobre nós, sem nós...

O novo grito a ecoar, após a leitura atenta de Quinn e Degener, é: Direitos Humanos e Deficiência. Assim teremos, daqui a 09 anos, talvez a inversão do tema: Deficiências têm Direitos Humanos. E, juntos ou não, teremos alguns passos a comemorar... 

E os poderes constituídos entenderão o sentido da palavra ‘’vinculante’’, e o irlandês e a alemã, terão seu trabalho reconhecido através da realização dos artigos da atual, não sei até quando, Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU- 2006 – Decreto 6949/2009.

Vamos começar a pensar qual será o tema do Ano Novo? Ou 2012 é o fim da História?


Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

LIVRO DERECHOS HUMANOS Y DISCAPACIDAD - Uso actual y posibilidades futuras de los instrumentos de derechos humanos de las Naciones Unidas en el contexto de la discapacidad.

http://books.google.com.br/books?id=wJ_saFkDLWQC&pg=PA42&lpg=PA42&dq=gerard+quinn+%2B+ONU+%2B+DERECHOS+HUMANOS&source=bl&ots=pNxg7Oo9A7&sig=ckfAH0cx-Yad3sPKjX5l2jt-i8A&hl=pt-BR&ei=oI_ZTrTRC8j20gHI-8yXAQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CBwQ6AEwADgU#v=onepage&q&f=false

INTERNATIONAL DAY OF DISABLED PERSON – ONU
http://www.un.org/disabilities/default.asp?id=1561

Subtemas de 2011, sugeridos pela ONU no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência:
1 - “Perspectiva da deficiência na corrente principal da sociedade: incluindo essa perspectiva em todos os processos do desenvolvimento”.
2 - “Gênero: incluindo mulheres e meninas com deficiência no desenvolvimento”.
3 - “Incluindo crianças e jovens com deficiência no desenvolvimento”.
4 - “Acessibilidade: eliminando barreiras e promovendo o desenvolvimento que inclua a perspectiva da deficiência”.
5 - “Promovendo a coleta de dados e estatísticas sobre a deficiência”.
Quinn Degener study for OHCHR doc
http://ebookbrowse.com/quinn-degener-study-for-ohchr-doc-d19345561

FILME CITADO – WITHOUT PITY – A Fim About Abilities – 1996
http://www.chrisreevehomepage.com/m-withoutpity.html

OUTROS TEXTOS NO BLOG _
O Surdo, o Cego e o Elefante Branco-
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/05/o-surdo-o-cego-e-o-elefante-branco.html

A Inclusão Escolar ainda usa fraldas? -
http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/07/inclusao-escolar-ainda-usa-fraldas.html

Um dia qual será a nossa CIF? As Deficiências e sua(s) Classificação (ões)
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/um-dia-nos-seremos-qual-cif-as_28.html

Onde nascem e morrem os Direitos Humanos?
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/onde-nascem-e-morrem-os-direitos.html

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

UM DIA NÓS SEREMOS QUAL CIF? As Deficiências e sua(s) Classificação(ões)


Imagem publicada – uma gravura antiga com um cérebro que tem múltiplas divisões, como um mapa de classificação de comportamentos humanos desviantes, que era utilizado “cientificamente” para classificar, de acordo com a Frenologia, as alterações de conduta humana que decorreriam de ‘’lesões do caráter” e nossas características de personalidade, inclusive sobre sua/nossa propensão à criminalidade, pela forma de nosso crâneo (cabeça). Desenvolvido por médico alemão Franz Joseph Gall por volta de 1800, e muito popular no século XIX, está agora desacreditada e classificada como uma pseudociência.

Como parte de uma videoconferência a ser realizada estou retomando o tema da Classificação Internacional sobre Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, a CIF, criada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), lançada em 2001. Mais uma classificação que tem por objetivo: “proporcionar uma linguagem unificada e padronizada, e uma estrutura que descreva a saúde e os estados relacionados à saúde”.

Se nos preocuparmos com sua utilização, em complementação a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde), poderemos entrar no campo do futuro das mudanças de paradigmas quanto às Deficiências.

As diversas e diferentes formas de ser e estar com uma ou mais deficiências têm gerado, há muito tempo, a construção de meios de codificação e quantificação estatística de suas realidades no mundo. Nosso último Censo do IBGE nos deu mais um empurrão para que retomemos a discussão sobre o que é, ou melhor, o que são as deficiências (?).

A "gestação" e construção da CIF se deram pela incompletude e pela visão puramente biomédica e fisicalista da sua antecessora classificação de pessoas com deficiência: a CIDID (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens). Este manual foi publicado originalmente em inglês, em 1980 e, subsequentemente, traduzido em mais de doze línguas.

Encontramos na CIDID a referência a três classificações distintas, cada qual relacionada com uma consequência diferente de doença. Está aí a concepção que ainda atravessa milhares de mentes, de instituições e de práticas do cuidado e das tecnologias para pessoas com deficiência.

Estas construções de conceitos foram: (1) - Deficiências (em inglês ‘impairments’) que dizem respeito à perda ou anormalidade de estrutura de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. Em princípio, as deficiências representariam distúrbios no nível do órgão.

O código a classificava apenas com dois dígitos antes e um dígito após um ponto decimal. Era a aplicação do mesmo modo classificatório já existente na CID. E seu fundamento era da pré-existência indispensável de uma doença que levasse à deficiência. Eis a base do modelo reabilitador.O defeito está e era do sujeito.

O segundo conceito (2) era o das Incapacidades (em inglês, ‘disabilities’) que refletiriam, segundo o CIDID, as consequências das deficiências em termos de restrição ou falta de habilidade para realizar uma atividade de uma maneira ou dentro da amplitude normal para o ser humano. Nesta visão as incapacidades refletem distúrbios no nível da pessoa.

O terceiro conceito (3) era o das Desvantagens (em inglês, ‘handicaps’) que seriam as resultantes ou de uma deficiência ou de uma incapacidade, dentro de uma linearidade de resultados. Estas chamadas desvantagens limitariam ou impediriam o cumprimento de um papel que é ‘’normal’’ (dependendo da idade, do sexo e de fatores sociais e culturais) para um indivíduo.

Os chamados ‘’handicaps’’ foram uma construção a partir de uma visão preconceituosa. O termo deriva da sua colagem, em inglês, com o termo ‘’deficiente’’ (carente, imperfeito, defeituoso, insuficiente, inválido), como uma provável perda de capacidade ou função do corpo.

Corresponde ao termo ‘’hand in cap’’, com a mão no boné, um costume dos países anglo-saxões. Os cavaleiros ou jóqueis mais cotados, em corridas de cavalos, eram obrigados a correr com o boné na mão, portanto tinham de competir com uma (1) só mão. Era a desvantagem...

Daí derivou, há alguns anos atrás, as concepções que nos tornava ‘’portadores’’. Segundo Elio Sgreccia, em seu Manual de Bioética: “A desvantagem no campo médico significa que o portador de deficiência, física ou mental, é considerado como um usuário a meio caminho dos serviços médicos...”. O autor completa ainda que serão considerados doentes apenas nas fases agudas ou por causa de outras doenças específicas.

Essa concepção ainda permanece atravessando a ruptura e a transição de paradigmas que vivenciamos. Ainda muitos serão chamados de “portadores”, “pessoas com necessidades especiais”, “excepcionais”, “incapazes”, “inválidos”. Estas terminologias trazem subjacentes as ideologias que fundamentaram o modelo biomédico e o modelo reabilitador. É preciso que existam os ‘’doentes e seus corpos’’ para que possamos então ‘’classificá-los’’, identificando sua diferença como doença.

Como ultrapassar o modelo biomédico de deficiência? A possível mudança radical, em processo desde 2001, é a aplicação da nova Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, que traz uma ênfase na saúde.

A afirmação de sua mudança de paradigmas, radicalmente, será sair dos modelos que, ainda são puramente médicos e centrados na doença e nos sujeitos considerados doentes. Mas, mesmo ela carecerá de uma vigilância ética e bioética de sua a aplicação.

No próprio manual editado pela OMS há a indicação desta questão. Estabelecem as seguintes diretrizes éticas para a utilização da CIF:
1) A CIF deve ser utilizada sempre de maneira a respeitar o valor inerente e a autonomia dos indivíduos.
2) A CIF NUNCA deve ser utilizada para ROTULAR AS PESSOAS ou identifica-las em termos de uma ou mais categorias de incapacidade (aí prefiro o termo Deficiência).
3) Na clínica, a CIF deve ser sempre utilizada com o conhecimento pleno, cooperação e consentimento das pessoas cujos níveis de funcionalidade estão sendo classificados. Se as limitações da capacidade cognitiva de um indivíduo impedirem este envolvimento, as instituições de apoio ao indivíduo devem ter participação ativa.
4) As informações codificadas pela CIF devem ser consideradas informações pessoais e sujeitas às regras reconhecidas de confidencialidade apropriadas segundo a forma como utilizados.

Por estas diretrizes é que esta “nova” classificação deverá ser tornada motivo de ampla e imprescindível discussão, debate, apropriação e difusão. Ainda é uma forma de classificação que precisa de muitas reflexões, principalmente na sua aplicação na formulação de políticas públicas para pessoas com deficiência. Afinal, somos agora mais de 45 milhões de brasileiros e brasileiras (Censo IBGE).

Os campos da Saúde, da Educação e da Assistência Social estão, aqui e em outros países, fazendo a progressiva capacitação de seus peritos médicos, assistentes sociais e educadores. Porém, como já foi alertado temos de cuidar para que não se torne apenas uma extensão da aplicação ‘’numerológica’’ que se faz da CID. Tornou-se uma naturalização darmos um número às doenças e aos doentes.

É muito mais fácil, menos complicado, menos complexo, e, quem sabe sem muitas implicações éticas, a aplicação de um código ao mal-estar, sofrimento ou enfermidade desses Outros. Nomeamos um número e uma doença. Não teremos de cuidar de todas as questões de seu contexto sócio, politico e econômico com os principais geradores de seu quadro.

Para a aplicação da CIF é lembrado que “todo ser humano pode experimentar problemas de saúde e, consequentemente, alguma incapacidade, (dentro dela alguma deficiência, limitação ou restrição de atividade), delas decorrentes...”.

Esta mudança sai do modelo que busca só as causas (etiologias) para o surgimento de incapacidades, busca também a presença de seu impacto e dos fatores contextuais que se modificam com os múltiplos e plurais estados de saúde.

Saímos da CID em direção a CIF, que, com certeza, também será ultrapassada um dia. E, aí quem sabe, qual será minha nova codificação, minha nova ‘’patologia’’, ‘’defeito’’, ou, quiçá ‘’diversidade funcional’’?

Porém tudo isso dependerá de uma mudança de nossos paradigmas. E, apesar de todas as ‘’revoluções’’ e ‘’primaveras’’, há sempre novas barreiras em construção. As mais recentes dizem respeito à Educação Inclusiva, onde um novo decreto retrocede alguns anos de conquista, saindo do ‘’forno legislativo’’ antes mesmo de ser mais bem apresentado para as massas que por ele podem ser afetadas.

Por isso, pela afirmação de que não bastam termos novas formas de classificar as deficiências, é que teremos de romper com a visão medicalizada, reabilitadora e assistencialista das pessoas com deficiência e seus direitos. A eficácia de normas ou de políticas públicas depende também de mudanças culturais e de mentalidade. Caso contrário mantemos, com re-institucionalização, o passado que pretendemos deixar para trás.

Houve um tempo, desde os séculos XVIII e XIX, que o chamado biopoder com suas práticas disciplinares, buscava a docilização e o adestramento dos corpos. Nascia a biopolítica, segundo Foucault, em consequência das instituições (hospitais, escolas, prisões, fábricas, casernas, etc..) com a visão do corpo como ‘’máquina’’. A mesma máquina, a ser aperfeiçoada, segundo as visões “científicas” da Frenologia e da Eugenia...

Hoje já temos os nossos corpos capazes de serem movidos por exoesqueletos. Somos trans-humanos? Nossas incapacidades, deficiências ou limitações de participação podem simplesmente desaparecer. São as biotecnologias em pleno avanço, tanto para o bem como para o mal...

Estamos no tempo das células tronco que podem mover, mesmo que 100 metros, um paraplégico na Bahia. Estamos na nova Era da Idade Mídia. Mas, sem ruptura dos velhos paradigmas podemos nos tornar tão engessados como os cruzados em sua guerra santa, acreditando, mistificadamente, que os nossos castelos ideológicos são inexpugnáveis e indestrutíveis.

Retomo, então, a necessidade de uma ampliação de conceitos, terminologias ou de classificações acerca e dentro das deficiências. E, nessa busca crítica, poderemos aprender a refletir e ampliar o uso de todas as ferramentas, todas as legislações, todos os instrumentos de poder.

Há sempre a possibilidade de ir além, de subverter e de transformar, individual e coletivamente, o que se considerar nossa atual realidade, principalmente no campo das políticas sociais. Nesse campo a CIF pode ir além de todas as CIDs.
Nessa ação micro e macropolitica podemos afirmar a nova visão em Direitos Humanos que embasa nossa melhor conquista do século XXI: a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Para que, enfim, possamos ter uma real e efetiva mudança de paradigmas, com a perspectiva de que dois modelos de deficiência podem coexistir, um tradicional (biomédico/reabilitador) e pelo menos um novo (social e biopsicossocial), vamos propor revoluções ‘moleculares’. Elas, que ainda estão se processando, devem ser estimuladas para que continuemos sonhando com uma grande revolução molar dos conceitos e preconceitos sobre a deficiência.

Continuo, continuemos, interrogando: um dia, no futuro, qual será o meu número na CIF? E o seu? Será que, com as multidões e massas que revolucionam todos os dias as redes sociais, produzindo novas e intrigantes cartografias, conflitando os discursos totalizantes ou universais, haverá o nascimento de um para além de todas as classificações?

Então, os nossos olhos não serão mais que olhos. Veremos também pelas janelas da alma. As estruturas do olho, como na CIF pelos códigos de s 210 a s 230, serão muito úteis para outro Censo. O senso da sensibilidade das diferenças, das heterogeneidades, das multiplicidades e das pluralidades do que se chama de ser humano, ESSA ALTERIDADE INDIZÍVEL E INCOMENSURÁVEL, SEM CLASSIFICAÇÃO POSSÍVEL.


(Este texto foi escrito especialmente para ser difundido no SEMINARIO OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, promovido pelo GEDEF – Ministério Público da Bahia, Salvador, BA, nos dias 28 e 29 de novembro de 2011, com minha participação, à distância, por videoconferência com o tema: “A importância da adoção da Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF, para classificação das deficiências e inclusão social das pessoas com deficiências.”)

“Los derechos que no se garantizan igualmente para todos y todas, se convierten en privilégios”
(frase no livro de Pilar de Samaniego Garcia Capítulo VI- Hacia una Educación Inclusiva – resultado de uma séria pesquisa na América Latina sobre a inclusão escolar de pessoas com deficiência).

Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa)

FILME citado no texto-

JANELA DA ALMA – (2001) – João Jardim e Walter Carvalho (Direção) – Sobre o olhar, o ver, o enxergar e o ir além desta janela..., e além de nossas ‘’cegueiras brancas’’.
http://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg (sem legendas)
http://video.google.com/videoplay?docid=1046435147561692538# (com legendas em francês)
http://www.interfilmes.com/filme_13649_janela.da.alma.html (dvd sinopse)

Sobre FRENOLOGIA - http://pt.wikipedia.org/wiki/Frenologia

Livros indicados:

Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2003.

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (Décima Revisão) – Volume 2 - Manual de Instrução (OMS – Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português – Universidade de São Paulo) EDUSP, São Paulo, SP, 2001.

Manual de Bioética – II – Aspectos Médico-Sociais, Elio Sgreccia, Edições Loyola, São Paulo, SP, 1997 (2ª Ed 2004).

Leia também no BLOG
AS DEFICIÊNCIAS E O KAMA SUTRA - Algumas aproximações e distanciamentos
http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/12/imagem-foto-de-evgen-bavcar-fotografo.html

UMA LUZ NO FIM DO LIVRO
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O MELHOR É A JAULA OU O GALINHEIRO? Deficientes intelectuais e o seu encarceramento
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INCLUSÃO/EXCLUSÃO - duas faces da mesma moeda deficitária?
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/02/inclusaoexclusao-duas-faces-da-mesma.html

domingo, 20 de novembro de 2011

A CONSCIÊNCIA INCLUSIVA E O RACISMO NA ESCOLA


Imagem Publicada - Alunos da Escola Municipal de Educação Infantil(Emei) Guia Lopes, no Limão, na Zona Norte de São Paulo, fizeram desenhos contra a discriminação racial sobre uma pichação feita durante um fim de semana de outubro no muro da unidade.
A frase "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas" foi escrita pelos pichadores acompanhada da suástica nazista. A Emei tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil 1 e 2 (pré-escola) (Foto: Filipe Araújo/Agência Estado)

Estamos em um momento histórico para o mundo e país. Muitas re-voluções estão em ação. E, na comemoração do Dia de Zumbi, o resistente negro dos Palmares, o quilombola, reinvoco a sua potência para algumas interrogações/opiniões.

Primeiramente, precisamos interrogar quantos dos que lerão este texto experimentou, na pele, alguma forma de discriminação, ou não? Você(s) já se viu discriminado ou tratado com diferenciais modos de atenção ou exclusão em espaços públicos? Já vivenciaram a sensação de serem os ‘’estranhos no ninho’’ por quaisquer de suas condições humanas? Ou por serem mulher, ou gay, ou gordo (a) ou uma pessoa com
deficiência?

Há alguns dias comemorou-se o Dia Internacional da Tolerância. Mas muito poucas pessoas se deram conta dessa ‘’comemoração’’ da UNESCO.Por quê? Esta palavra não é parte ativa de nosso Cotidiano e das Violências?. A palavra que confirma o sofrimento e o suportar o Outro e suas diferenças...

Interrogo-me sobre sua presença e negação, se o que mais estamos assistindo e tele-visando são, quando falamos das atuais massas em movimento, as resistências aos regimes intolerantes, aos tiranos de aldeia ou mesmo os que se engessam nos poderes.

São as revoltas contra todas as formas de perpetuação das violações de Direitos Humanos..., principalmente dos chamados regimes autoritários ou ditatoriais, e, inclusive, o ditos democráticos e, economicamente,hegemônicos.

Em minha opinião, podemos dizer que somente a revolta e a derrubada de tiranos ou velhos ditadores não é e nem será suficiente para uma mudança radical de paradigmas e culturas sobre os diferentes racismos.Muitas vezes, no hipercapitalismo atual, tornam-se as legitimadoras de outras formas sutis de segregação ou discriminação.

Primeiramente, portanto, precisamos lembrar o que foi descrito com sendo o racismo, e os atos que o alimentam: a Discriminação Racial.Segundo o conceito estabelecido pelas Nações Unidas (Convenção da ONU/1966, Sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial):
Significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferências baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou exercício, em condições de igualdade, osdireitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, social
ou cultural, ou em qualquer outro domínio da vida pública (Idem,Ibidem)”.


Em outubro foi difundido um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil- de forma inédita, mostrava que mais de 50%desta população é composta por homens com até 30 anos e em sua maioria migrante do Nordeste. 80% são de raça negra!

Um dia em um quilombo, há alguns séculos atrás, um homem negro desafiou por alguns anos, na Serra da Barriga, em Alagoas, acolonização opressora e seu trabalho escravizador. Quantos são os Zumbis que hoje resistem nos canaviais, nas fazendas, nos latifúndios,nas madeireiras, nos diferentes espaços rurais, e, inclusive urbanos,
onde seus corpos são apenas Vidas Nuas em exploração e cativeiro?

E, por haver ainda o trabalho indigno e escravo é que diante das atuais manifestações de júbilo ou de conquista de direitos para apopulação negra é que afirmo: ainda estamos muito longe de uma derrocada definitiva dos racismos.

Ainda estamos no caminho, ainda estamos a passos muito lentos nessa direção. Não farei as tradicionais alegações de diferenças salariais,econômicas ou de classe social, para falar da brecha que separa os cidadãos e cidadãs negros de outras ‘’raças’’. O IBGE tem sido suficientemente competente para nos mostrar em números escandalosos este abismo que nos distancia ou segrega.

Por estarmos assim ainda tão distanciados é que proponho que nossas maiores ênfases e dedicações, nesse momento atual, no combate aos racismos se deem através da Educação Inclusiva. A mesma que recebeu recentemente, no campo das deficiências, um duro golpe legislativo para se manter a institucionalização das diferenças. Cada um no seu quadrado... Enquadrado.

No mesmo Diário Oficial de nosso Governo Federal, do dia 17/11/11,estão o Decreto 7611 e o 7612. O primeiro tratando da Educação Especial e apagando da história as conquistas do Decreto 6571 de 2008,e o segundo que deveria ser o primeiro, o Plano Nacional para as Pessoas com Deficiência.

E o VIVER SEM LIMITES torna-se a nova meta governamental até o ano de 2014, com uma verba de R$ 7,6 bilhões, nos campos da educação, da acessibilidade, da mobilidade e da saúde. Um plano que ainda mantêm alguns campos das heterogêneas e singulares formas de ser e estar comuma deficiência sob velhos paradigmas e antigas instituições.Desejamos que seja avanço, mas já foi antecedido por um retrocesso...
É no retrocesso que mantemos sob vigilância todas as formas instituintes.

É no conservadorismo que muitos resistiram aos abolicionistas. Temiam perder suas propriedades e senzalas, perdendo sua mão de obra escrava. Há os que ainda acreditam em privilégios, ou seja, leis para alguns poucos.

Mas a história nos mostrou que apenas trocamos de senhores e de capitães do mato. Ainda temos milhares em situação de trabalho escravo. Não temos mais Zumbis, perdemos nossas potências de resistência e revolta civil?

Hoje, assistindo um filme de Denzel Washington, O Grande Desafio, pude ver uma nova centelha de luz. É a história de um homem que crê na possibilidade de ‘’incluir’’ os estudantes negros em um debate com outros estudantes da Harvard. Baseou-se em uma história real, uma história que gostaria de ver milhares de vezes repetidas em nossas
escolas.

Ele, como o professor Tolson, acredita no poder das palavras. Inspira-se em Gandhi e na desobediência civil. Ele, com sua determinação, escolhe três discípulos que nos mostrarão o quanto a cor da pele pode falar, quando é incluída e respeitada.

Creio que, somente, sob o estímulo de um bom professor, em um espaço de ensino aprendizagem mútua, no máximo respeito às singularidades e individualidades, como deve ser uma escola rumo à Inclusão, que podemos, juntos, acreditar em nossos direitos fundamentais e humanos de nos incluirmos entre nossos pares, sejam de que cores de pele forem.

Imaginemos uma criança negra, gorda, com síndrome de down, e pobre.Esta criança pode e deve frequentar nossas escolas regulares? Segundo novas determinações legais haverá uma possibilidade, dependendo da escola, de que sua inclusão esteja sob condicionais. Precisamos continuar tendo a sua possível diferença como transformadora e instituinte. O banco mais comum de escola, com todas as adaptações
razoáveis, é o seu melhor lugar para a quebra de todos os preconceitos.

Bastaria lembrar, como a Convenção de 1966, que não podemos, sob nenhuma alegação, restringir seu direito, se nós a discriminamos por ser negra. E, para “complicar” o estereótipo, podemos dizer que essa aluna potencial poderia ser uma menina.

O gênero é e pode ser motivo de outra forma de exclusão, já que meninas negras são ainda mais segregadas. Assim, então, como nos afirmou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em relação às meninas com deficiências, em seu artigo 3º sobre os seus Princípios:
g A igualdade entre o homem e a mulher;
h)O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças comdeficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade.


Portanto se pudermos, coletivamente, pensar em um “debate”, como os alunos do Professor Tolson, é a hora de reunirmos as forças instituintes e resilientes, que defendem direitos humanos, para que tanto os racismos, as homofobias ou quaisquer forma de preconceitos tornem-se discussão contínua e parte das diretrizes curriculares,urgentemente.

É preciso reconhecer que, para além dos bullyings, há um campo fértil para estas discriminações dentro dos muros (assim como fora) das escolas. É preciso reconhecer, assim como o fez o Projeto de Lei256/11, que se deve incluir a educação em e para os direitos humanos já no ensino fundamental.

Somente a sua apropriação por nossos filhos,e os filhos de nossos filhos, é a abertura para as necessárias e possíveis mudanças culturais e antirracistas, para além de todos os preconceitos, estigmas ou estereótipos.

Sim, poderemos ainda um dia VIVER SEM LIMITES, ou melhor, sem as limitações impostas, mas precisaremos antes da remoção de muitas barreiras, muitos ressentimentos identitários, muitos narcisismos das pequenas diferenças, muitos sectarismos, muitos exclusivismos e muitas negações do Outro e suas diferenças. Diferenças que espelham a suaafirmação contra toda forma de discriminação.

Vamos então reconhecer, diante das atuais macropolíticas, o quanto ainda temos de lutar por políticas públicas estruturais, o quanto ainda temos de, molecularmente, aprender a aprender a consciência inclusiva, que pode ser antirracista ou antihomofóbica, por exemplo,mas que só germina quando reconhecemos que ela é também o motivo de nossa vida, e, como disse Saint Exupéry, também o motivo de nossa
morte...

Houve um tempo para que pudéssemos aprender que os bárbaros podem pichar nossos muros escolares. Nós não podemos é deixar de pintar,como as crianças da Emei Guia Lopes, com todas as cores, ideias e etnias, um arco-íris de direitos humanos dentro de nossas mentes e corações...

Pela Potência Zumbi, Maria Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento,Milton Santos e todas as negritudes que estão surgindo por aí...


Copyright e copyleft jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Para conhecimento e difusão na Internet

LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. 
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm

OIT divulga dados do trabalho escravo rural no Brasil
http://www.palmares.gov.br/?p=15391

DECRETO No- 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011 Dispõe sobre a educação especial
http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=12&data=18%2F11%2F2011

DECRETO 6949/2009 - Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm

COMBATE AO RACISMO Dia reforça luta contra preconceito na rede pública http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/3288/162/dia-reforca-luta-contra-preconceito-na-rede-publica.html

Direitos humanos devem integrar diretrizes da educação, decide comissão
http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/205450-DIREITOS-HUMANOS-DEVEM-INTEGRAR-DIRETRIZES-DA-EDUCACAO,-DECIDE-COMISSAO.html

Alunos fazem desenhos sobre pichação com frase racista em escola
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/11/alunos-fazem-desenhos-sobre-pichacao-com-frase-racista-em-escola.html

INDICAÇÕES PARA LEITURA –
Superando o Racismo na Escola
 Kabengele Munanga (Org.)-http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4575.pdf

Filmes indicados:

O GRANDE DESAFIO – Denzel Washington (2007) -
- Trailer www.premiereonline.com.br
http://cinezencultural.com.br/site/2010/03/14/o-grande-desafio/

Leia também no BLOG –

Onde Nascem e Morrem os Direitos Humanos –
https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/11/onde-nascem-e-morrem-os-direitos.html

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Como fazer a Cabeça com Beatriz Nascimento?
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Qual é a SUA RAÇA? Nada a Declarar –
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NA NOITE GLOBAL TODOS OS SERES TORNAM-SE PARDOS
https://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Frantz%20Fanon

terça-feira, 15 de novembro de 2011

ASPERGER, UMA SÍNDROME DE MENTES BRILHANTES OU NÃO?


Imagem Publicada - A capa da Revista Ciranda da Inclusão, nº22, outubro 2011, escrito Incl em azul, com o U sendo representado por duas figuras, e São em rosa. Tem a foto de uma criança que ilustra o tema principal deste número: A síndrome de Asperger, que traz sob seu título: a Revista do Educador. À direita indica os temas da revista: Asperger, como um transtorno do espectro autista, Deficiência Visual - espaço é referência no ensino do sistema Braille,Juntos pela Inclusão - Assistência Especializada faz a diferença. No rodapé traz as imagens de encartes grátis em Braille. São fotos de uma das maiores diversidades da natureza: as flores e suas múltiplas formas e cores que tanto nos encantam. Aquelas que nunca nos excluem ou decepcionam, principalmente se são cuidadas com carinho e amor.

ASPERGER OU NÃO ASPERGER? normal ou a-normal?

Em confirmação das possibilidades de ir além com as pessoas com e sem deficiência reproduzo o texto sobre Síndrome de Asperger que foi publicado na edição de Outubro da Revista Ciranda da Inclusão, após sua edição, e que reafirma a necessidade de sua inclusão social e escolar, indo além de qualquer noção de anormalidade ou normalidade.

Excentricidade. Uma palavra que poderia resumir o que é vivenciado e sentido pelos que são diagnosticados com a Síndrome de Asperger. Primeiramente por sua condição de inclusão no amplo espectro das síndromes autísticas. Depois por estarem em um diagnóstico que afirma uma possibilidade ambígua tanto de inclusão como de exclusão. Sim são, ou tornam-se, pessoas excêntricas, se considerarmos os nossos padrões rígidos da chamada ‘’normalidade’’.

Mas não ficam fora do centro apenas por suas diferenças. Eles também ficam em situação de um ‘’mundo’’ próprio e com muitas singularidades. Eis seu maior risco ou possibilidade de sofrimento: o isolamento social. Mais ainda sua estigmatização.
As pessoas que recebem este diagnóstico são incluídas nos Transtornos Globais do Desenvolvimento.

São as que apresentem distúrbios, não evolução ou desenvolvimento alterado nos campos das habilidades sociais, da comunicação e, da linguagem. Podem, por suas singularidades, serem, como os demais autistas, ser excluídos ou segregados, por exemplo, no campo educacional. E, hoje, sua condição reconhecida de ‘’alto funcionamento’’ intelectual pode ser melhor abordada pela educação inclusiva.

O que diríamos se nos fossem apresentados algumas mentes brilhantes, seja nas ciências, nas artes ou nas filosofias, que foram e são colocados sob o diagnóstico de Síndrome de Asperger?

Foram assim “diagnosticados, postumamente, alguns ‘‘gênios”, como Mozart, Einstein, o compositor Bela Bartók, o músico Glenn Gould ou o filósofo Wittgenstein. Restará nos perguntarmos eram: Asperger ou não Asperger, eis a questão?

O próprio Dr. Hans Asperger, criador do termo é descrito, em sua infância, com algumas das características, sintomas ou peculiaridades que são motivo de diagnóstico de Asperger. Ele foi um pediatra austríaco que denominou um quadro inicialmente denominado de ‘psicopatia autística infantil’, em 1944. Ele observou quatro crianças em sua clínica que tinha dificuldade de integração social.

Embora com uma inteligência considerada, á época, normal estas crianças tinha uma dificuldade de empatia, com desvio do olhar e o encarar aos outros. E eram consideradas grosseiras em suas comunicações. Ou seja, tinham alterações de comportamento social e de seus interesses.

Somente em 1981, a psiquiatra infantil britânica Lorna Wing denominou esta perturbação como Síndrome de As¬perger, em homenagem ao insigne pediatra vienense. Esta entidade faz parte das perturbações globais (ou pervasivas, do inglês pervasive, sem tradução consensual para português) do desenvolvimento.

Os estudos de Wing foram, então, popularizados e difundidos amplamente. A síndrome só veio a se tornar uma ‘’enfermidade’’ em 1992, quando foi incluída na 10ª edição do Manual de diagnósticos da OMS (Organização Mundial da Saúde), a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), e em 1994 foi agregada à DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o livro de referência diagnóstica da Associação Psiquiátrica Americana (EUA).

Em contraposição à esta visão diagnóstica surgiram, alguns anos depois, os movimentos criados pelos próprios portadores da Síndrome. Eles fundamentados nos Estudos sobre Deficiência, questionando a patologização de suas ‘’excentricidades’’ comportamentais, como a chamada ‘’cegueira mental’’, que os faz terem um maior distanciamento denominar de ‘’Aspies’’ e, reforçando sua singularidade, conectam-se via internet, afirmando que todos os ‘’cérebros são lindos’’, apesar de suas diferentes formas de funcionamento e cognição.

Sabemos hoje que o espectro autístico é multifacetado, e, dependendo das condições onde se encontram as pessoas assim diagnosticadas, os seus distúrbios de desenvolvimento serão mais bem compreendidos, cuidados e respeitados seus direitos. Mas há que reconhecer que nem sempre nossos ‘’aspies’’ estão e estarão nos mesmos ambientes socioeconômicos e familiares que os ajudem a superar suas vulnerabilidades.
Em recente pesquisa desenvolvida na USP apontou-se que faltam estudos dedicados sobre adolescentes que apresentem um quadro do espectro autístico.

Segundo o levantamento da Profª Fernanda Dreux M Fernandes, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Usp, dos 3.065 artigos publicados em revistas internacionais e nacionais sobre fonoaudiologia e autismo, apenas 56 versam sobre adolescentes, sendo somente 03 artigos brasileiros. E dos 1.356 estudos referentes ao autismo, só 43 eram sobre adolescentes.

Sabe-se que entre 1% a 1,5% da população mundial apresenta características relacionadas com o espectro do autismo. Daí ter a preferência pessoal de me referir ao autismo no plural, ou seja, vivenciam-se múltiplos, heterogêneos e plurais transtornos ou distúrbios do desenvolvimento. Não há o autismo e sim os autistas. Cada um com uma forma singular e única de desenvolvimento de suas dificuldades nas áreas de socialização, linguagem e comunicação, assim como em atividade imaginativa e cognição.

Hoje sabemos que os chamados Aspies são possíveis ‘’mentes que brilham’’, apenas no escuro, quando nós, dito normais, não compreendemos seu ‘’brilhantismo’’ obsessivo por determinados temas ou assuntos. Por se tratarem de modos de funcionamento neuro-cognitivo hiper diferenciado, e, principalmente, por seu relacionamento com o mundo ‘’normal’’, tornam-se mentes que se ofuscam ou podem ser ofuscadas pelo seu enquadramento nosológico, como uma ‘’doença’’.

Não devemos apenas enquadrá-los no campo dos transtornos invasivos do desenvolvimento, pois que enquadrados, de forma reducionista e simplista, como uma das formas de Autismo, deixam os que têm baixo funcionamento intelectual como uma extremidade. Não serão, portanto reconhecidos em suas diferenças, respeitados em suas singularidades, mas homogeneizados nas formas de tratamento ou ‘’cura’’.

A interrogação que nos trazem os mais recentes filmes e documentários sobre a Síndrome de Asperger, podem nos ajudar a formular uma interrogação sobre estas múltiplas formas de ser e estar com a SA: toda mente Aspie é brilhante?

Esta pergunta nos foi primeiramente apresentada, em 1988, pelo filme Rain Man. Nesta obra ‘’brilhante’’ de Barry Levinson, temos o astro Dustin Hoffman com um desempenho digno e fidedigno do que uma pessoa com ASPERGER, em tom maiúsculo, pode vivenciar. Ele é o irmão institucionalizado para o qual o irmão, considerado normal, interpretado por Tom Cruise, se volta na busca de uma partilha de herança deixada por seu pai.

Mas o mesmo brilhante Aspie que consegue dizer, com precisão, quantos palitos de fósforo estão dentro de uma caixa, torna-se um sujeito incapaz de reconhecer-se amando e sendo amado em outras cenas do filme. Recomendo que assistam esta película, pois ela é contemporânea dos anos de ‘’descoberta’’ e diagnose das Síndromes de Asperger. E aviso que o brilhante ator não deverá ser tomado como um padrão para todos os ‘’aspies’’.

Há os que têm comprometimentos que não lhes permitem uma real socialização ou mesmo uma efetiva inclusão social. Para estes é que uma distinção e diferenciação diagnóstica poderá vir a ser uma solução para que sejam cuidados e respeitados em seus direitos fundamentais, em especial o da inclusão escolar e a sua não vulneração social.

Outro filme que nos mostra uma das múltiplas facetas da Síndrome de Asperger é Adam, de Max Mayer. Nele um jovem com Síndrome de Asperger é um vizinho apaixonante de uma jovem professora. É uma história sobre as possibilidades e os entraves para a ruptura do isolamento que a síndrome pode provocar. Os isolamentos apontados no filme são principalmente, pela perda paterna, pois o personagem vive como um adulto solitário, como seu trabalho obsessivo, e suas persistentes fixações na vida social.

É um jovem obcecado por estrelas, pelo Universo e pelos planetários, mas que precisava de uma pessoa, capaz da empatia e do apaixonar-se, para a tentativa de rompimento de sua tele-visão do mundo que o cercava, alguém disposta para ensinar/aprender a amar a diferença.

Melhor ainda para compreender e se questionar sobre o brilho das mentes aspies é o filme, quase documentário, sobre Temple Grandin. Este filme exibido pela HBO na TV ganhou o Emmy de 2010, e retratou com fidedignidade uma mulher que se tornou emblemática para a Síndrome de Asperger. A atriz Claire Danes consegue nos mostrar o quanto precisamos aprender sobre a sua ‘’máquina do abraço’’, uma criação de Temple Grandin para o alívio de suas tensões e angústias diante das relações com outros seres humanos. A história é verídica e mostra todos os percalços e barreiras impostas a quem vive em um mundo autísticamente distanciado.

A própria Temple nos ensina: “Você não sabe que a maneira que você pensa é diferente até que você começa a questionar as pessoas sobre como você pensa”. Ela é hoje uma doutora universitária, que aplicou a sua máquina do abraço no processo de mudança do abate cruel do gado. O filme é merecedor dos prêmios pelo despertar de uma outra visão sobre quem vive com a síndrome.

Portanto temos de responder que nem todas as mentes ‘’ASPIES’’ devem ser, mesmo cinematográficamente, vistas como brilhantes. As suas capacidades e habilidades merecem ser reconhecidas, mas as possibilidades de apresentarem as alterações do espectro dos autismos é muito grande.

Um estudo realizado sobre sua visão e compreensão sobre a Morte é um bom exemplo. Em pesquisa realizada no Instituto de Psicologia da USP, por Leticia C. Drummond Amorim, sobre o conceito de morte em indivíduos com o espectro autístico, e, em especial, na Síndrome de Asperger, onde os pesquisados revelam que para eles a morte é vivenciada de modo impessoal e concreta.

Eles a interpretam de uma forma literal, e, caso quando comparados com pessoas com deficiência intelectual, estes se diferenciam pela forma estereotipada e formal de conceituar a morte e o morrer.

O que não podemos perder de vista e de reflexão é que ambos, tantos os ‘’aspies’’ quanto as pessoas com deficiência intelectual, para além de suas limitações ou habilidades, devem ser reconhecidos como cidadãos de direito, como pessoas que podem ter fragilidades maiores que a média dos outros sujeitos, do ponto de vista evolutivo, porque sua dificuldade pode ser a compreensão do pensamento dos outros, tornando-se mais vulneráveis.

Lembrem-se, portanto, que há os diagnósticos, principalmente para as crianças com alterações graves de comportamento, linguagem ou de interação social dentro do espectro dos autismo(s). Há porém um grupo que tem afirmado que: Every Brain is Beatiful (Toda Mente é bela), com um cérebro multicolorido que vem sendo utilizado no Dia do Orgulho Autista. Nesse dia alguns autistas norte-americanos, em 18 de junho de 2005, afirmaram: “Não nos tratem como ‘’doentes’’.Somos diferentes, sim. Mas não precisamos de remédio ou de cura, mas de uma chance de sermos nós mesmos...”

Enfim, tendo a atualização de sua nova constituição legal, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto 6949/2009), devem ser mais que mentes que brilham ou se ofuscam, são, em uma sociedade igualitária, diferenças e diversidades do modo humano de ser e estar. São, enfim, mais que um diagnóstico, um rótulo ou um estigma, e, com equiparação de suas oportunidades, podem brilhar, mesmo que singelamente, cada um a sua própria luz.


copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 (favor citar o autor em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa)

Meus textos sobre Autismo – Blog INFOATIVO.DEFNET

Um Autista pode vir a ser um Artista da água-
http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/04/um-autista-pode-vir-ser-um-artista-com.html

Orgulhos ‘múltiplos’ – no combate a todos os preconceitos
-http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/06/orgulhos-multiplos-no-combate-todos-os.html

A Terra é Azul e o Autismo também -
http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/03/terra-e-azul-e-o-autismo-tambem.html

FILMES sobre a Síndrome de Asperger
• RAIN MAN – (1988) Filme de Barry Levinson - 1988 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rain_Man
• ADAM – (2009) – Filme de Max Mayer
• http://caminhosdoautismo.blogspot.com/2011/02/filme-adam-2009-sindrome-de-asperger.html
• TEMPLE GRANDIN (2010) – Filme de Mick Jackson
http://caminhosdoautismo.blogspot.com/2010/05/temple-grandin-o-filme-download.html


VIDEOS SOBRE ASPERGER na INTERNET

Mary&Max – desenho animado (dublado)
Max escreve uma carta a Mary depois de anos sem mandar notícias devido ao seu problema de saúde, que logo saberia que é Síndrome de Asperger
http://www.youtube.com/watch?v=6iNcAOoeXwY&feature=related

LIVROS sobre a Síndrome de Asperger
Autismo e Morte – Letícia C. Drummond Amorin – Ed. Rubio, Rio de Janeiro, RJ, 2011.
Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger – estratégias práticas para país e profissionais – Chris Williams e Barry Wright – Ed. M. Books do Brasil, SP, 2008.

Indicação de ARTIGO
DEFICIÊNCIA, AUTISMO E NEURODIVERSIDADE – Francisco Ortega
http://redalyc.uaemex.mx/pdf/630/63014108.pdf

LINKS – Faltam Estudos sobre adolescente do espectro autista
http://www.usp.br/agen/?p=69341

REVISTA CIRANDA DA INCLUSÃO

http://www.principis.com.br/revistainterativa/Mainm_ciranda.php?MagID=3&MagNo=4

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CIBERATIVISMO - 02 ANOS - Outras Línguas, Outros Sentidos e a busca do OUTRO


Imagem Publicada – um encontro entre o passado e o presente no campo da vida digital. É uma foto tirada na Tailândia onde um monge vestido de sua cor laranja, dialoga com um menino que traz um laptop do programa One Laptop per Child(um computador para cada criança...), de Nicholas Negroponte, tendo outro jovem olhando a cena. O laptop tem a cor verde, e uma manivela que é o meio pelo qual sua bateria interna irá funcionar, demonstrando-se na máquina o reencontro das tecnologias em que o passado ajuda o futuro. É o caminho para a Era da pós-informação, para além da Idade Mídia atual....

CIBERATIVISMO EM AÇÃO
Edição comemorativa 
dos 02 anos do Blog INFOATIVO DEFNET

CADA HOMEM É, sozinho, 
A casa da humanidade.

Não tenho nada na cabeça

A não ser o céu.

Não tenho sapato
A não ser o passo,
Não faço nada com o passo, 
Só traço a linha do futuro.
E o futuro tem caminho
na UNIMULTIPLICIDADE,
pois cada homem é, sozinho,
A CASA DA HUMANIDADE. (Tom Zé, compositor, Fórum Mundial, março 2001)


Hoje às onze horas e onze minutos, segundo os numerólogos e os matemáticos, uma sincronia de tempo e da vida se realizou. Um dia a mais no calendário? Ou um dia para celebrar a grande e importante descoberta da ‘’liberdade sem fio’’? Ou apenas mais um dia, um dia para que mais de 4.000 chineses busquem afirmar a sorte e se casem jurando o amor eterno?


Eu aqui, usando uma "velha máquina de escrever, agora mais digital do que nunca", ainda com o Windows XP, estou comemorando o que há dois anos atrás se tornou um espaço de vivências, idéias e de minha própria super-vivência. Em 14 de novembro de 2009 foi ao ciberespaço o Blog INFOATIVO.DEFNET.



Estava eu me recuperando de um duplo trauma físico e psíquico. Primeiro tinha feio uma neurocirurgia e implantado 06 parafusos e 02 hastes de titânio dentro de meu corpo. Uma experiência da tentativa de supressão total da dor e da minha marcha prejudicada e claudicante. Já escrevia e publicava, via e-mail, o boletim eletrônico do DefNet. Entretanto, como meus passos e caminhada, ainda era muito pouco neste universo de comunicação e inteligência coletiva. 

Ao vivenciar, no corpo e na mente, a desagradável experiência pós-operatória de ser “largado’’, ou melhor não sustentado apropriadamente, pelos profissionais de saúde de um hospital universitário, descobri como sair desta queda. Novas dores aprendi em 11 de outubro de 2009. As mesmas que hoje busco re-aprender com elas...

Um mês após já tentava encontrar um caminho para resolução de minha imobilização física parcial. Precisava sair e ao mesmo tempo "ficar de cama". Como dar vazão ao mundo de emoções e sentidos que experimentava? Como não interromper meu ativismo na Internet? Como me levantar para além de quaiquer limitações de meu corpo?. 

Eis que uma adaptação de uma mesa dobrável e um laptop (o mesmo que pifou antes da cirurgia, e mais uma vez me deixou na mão estes dias) tornaram-se os meios tecnológicos de redenção de minhas dores físicas. Mas principalmente o melhor antídoto de uma possível depressão ou isolamento. Escrever tornou-se meu melhor remédio.

Hoje após 02 anos de luta e de tratamentos os mais variados ainda sobram muitas dores. Para além delas, hoje o blog já se tornou meu maior espaço de combate e afirmação dos direitos humanos. Entre eles afirmo o direito do alívio da dor humana. Por todos os meios, por todas as mídias, sem fronteiras ou limites.

São mais de 51.000 visitas e múltiplas difusões e retransmissões de meus textos pela Internet. São agora 90 posts. Espero possam ser 90.000.Escrever tornou-se um ato criativo de livre comunicação.Retomei o meu ciberativismo. Reafirmei minha esperança de uma socialização irrestrita do saber...

Neste dia 11 de novembro de 2011 lanço, no ciberespaço, hoje uma nuvem, este texto comemorativo dos 02 anos, antecipando os dois dias que antecederam a criação do blog, pois ele esteve nesse período em gestação no ano de 2009.Estou agora em busca de Outras Línguas, Outros Sentidos e, principalmente do Outro que me re-conheça e re-transmita...

Recentemente retomei um texto que escrevi em 2003. Trata-se do artigo: PARA ALÉM DAS EXCLUSÕES: POR UMA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO RUMO Á UMA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E DAS DIFERENÇAS. Estava relembrando uma pesquisa sobre a hegemonia linguística na Internet em pesquisa da FUNREDES. Ainda hoje somente 10% das línguas estão na Internet (Daniel Pimenta).

É um artigo escrito para o livro: Políticas Públicas: Educação, Tecnologias e Pessoas com Deficiência (veja em leituras indicadas abaixo). Foi uma resultante de um trabalho junto ao Congresso de Leitura do Brasil. Nele eu já afirmava minha necessidade de crer em um outro modo de incluir: a inclusão digital, combatendo, com urgência, a real exclusão digital.

Em 2003, para a construção dos cibercidadãos e cidadãs, trazia, em meu texto, a afirmação do Livro Verde que propunha:
. Aumentar drasticamente o número de pessoas com acesso direto e indireto à Internet.
. Popularizar o acesso à Internet em todo País (hoje com redução de valor da Banda Larga e pulverização de telecentros, por exemplo)
. Produzir e disponibilizar hardware e software de baixo custo;
. Promover a implantação de serviços públicos de acesso universalizado e sem discriminações;
. Oferecer mecanismos de aprendizagem em informática e treinamento no uso da Internet em larga escala.

Talvez alguns destes avanços foram concretizados, outros estão a caminho. O que ainda interrogo é que Inclusão Digital estamos produzindo? E, vendo-nos incluídos já conseguimos incluir o acesso à informação como direito humano essencial e fundamental para a cidadania? A Sociedade da Informação, na Idade Mídia, tem produzido novos modos de subjetivação? Esta produção de subjetividades caminha na direção de um paradigma ético, estético e político?

Por estas e muitas outras interrogações, como em uma torre de Babel atualizada, é que precisamos aprender as outras línguas, os outros sentidos. Há um novo horizonte aberto com as crises do capitalismo mundial integrado (Guattari). Segundo Zizek: "...Mas você conhece aquela praga, o que dizem os chineses quando detestam alguém: 'Que você viva tempos interessantes'. É isso. Nos aproximamos de tempos interessantes..."

Nesse mês será lançado um Plano Nacional para as Pessoas com Deficiência, no dia 17, e espero que possamos encontrar, para além de toda transversalidade do Decreto 6949/09 (a legitimização e implementação da nossa Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência), a indispensável concretização de políticas públicas de INCLUSÃO DIGITAL de toda a heterogeneidade que são as deficiências e os que se encontram nessa condição.

Nessa comemoração do InfoAtivo. DefNet, ainda em seus primeiros passos, espero que os tempos sejam mais que interessantes. Espero, desejo e trabalharei, com suas opinões e sugestões, para que possamos ver/produzir e sentir outras saídas, outros caminhos sábios e novas suavidades para o viver. Venham comigo! E multipliquemos nossas conexões com o futuro...

MEU MAIS DOCE ABRAÇO A TODOS E TODAS, Leitores, seguidores, comentaristas, amigos e amigas, com meu profundo e intenso desejo de que possamos chegar a casa dos 1.000...a cada dia em nossas interações e trocas "ciber-afetivas".
E que o CIBERATIVISMO nos contamine e nos apaixone para que, para além de nossas grupelhizações ou processos identitários defensivos, multipliquemos, também a mil, molecular e micropoliticamente todas as novas e surpreendentes cartografias coletivas.

ASSIM, intensos e desejantes, sejamos as novas revoluções por uma INTERNET LIVRE, ACESSÍVEL e PLURAL, com ou sem suas novas massas, sempre como cibercidadãos e cibercidadãs implicados com a mudança dos paradigmas... EM TODAS AS LÍNGUAS E EM TODOS OS SENTIDOS.

copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Leitura Indicada no texto:
Para Além das Exclusões: por uma Sociedade da Informação Rumo à Sociedade do Conhecimento e das Diferenças - Jorge Márcio Pereira de Andrade - 
In Políticas Públicas: Educação, Tecnologias e Pessoas com Deficiência, Shirley Silva & Marli Vizim (Orgs.) - Editora Mercado de Letras/ALB, Campinas, SP, 2003. (www.alb.com.br)

A Vida Digital – Nicholas Negroponte, Editora Companhia das Letras, São Paulo, SP, 1995.http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicholas_Negroponte

Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil - programa do Governo Federal na promoção de um planejamento para a INCLUSÃO DIGITAL
http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/18878.html

Informações na INTERNET

ONE LAPTOP PER CHILD - http://www.olpc.org.br/
Profesor de la UnB afirma que menos del 10% de las lenguas del mundo están en la Web
http://noticias.universia.com.br/translate/pt-es/vida-universitaria/noticia/2011/11/10/887414/professor-da-unb-afirma-menos-10-das-linguas-do-mundo-esto-na-web.html

O Horizonte está aberto - http://www.outraspalavras.net (entrevista a Tom Ackerman com Slavov Zizek)

Sobre Ciberativismo - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciberativismo

Leia também no Blog (entre os primeiros textos publicados):

OS NÓS E OS SEM REDE – Acesso à Banda Larga na Internet Brasileira
http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/12/os-nos-e-os-sem-rede-acesso-banda-larga.html

SEREMOS 300? 01 pc para cada PC – do LIMÓGRAFO AO COMPUTADOR
http://infoativodefnet.blogspot.com/2009/11/infoativo.html

UMA LUZ NO FIM DO LIVRO - http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/09/uma-luz-no-fim-do-livro.html

ENTRE O MARCO E A BENGALA - NA INTERNET O QUE É LEGAL? http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2009/11/infoativo_26.html