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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

SOB O "DOMÍNIO" DAS TELETELAS...

Imagempublicada– uma "auto"-fotografia publicada recentemente com a “plateia” de Mark Zuckerberg, leia-se Facebook, durante a última edição da Mobile World Congress–todos devidamente equipados com o Samsung Gear VR, alegremente (como são descritos em matéria citada) ignorando tudo o que ocorria ao redor, incluindo a passagem do sujeito ilustre. Estão todos sentados com ‘óculos de realidade virtual’ (Virtual Reality) no rosto, com uma uniformidade de suas roupas (ternos¿), aparentando serem na maioria do sexo masculino, recebendo uma ‘carga’ de informações sobre essa ‘nova’ e descartável tecnologia de ponta. Todos se vestem de azul, inclusive Zuckerberg, apenas com a diferença de que ele está de camiseta, calça jeans e tênis (descubra qual é a marca, e compre um par igual, mesmo que falsificado...). Fotografia difundida pelo Mark - I just joined Samsung to launch their new Galaxy smartphones and talk about the future of virtual reality.I told the... (Publicado por Mark Zuckerberg em Domingo, 21 de fevereiro de 2016)

Há uma naturalização de nossos tempos de “all by my SELFIES”: - NÃO SOU SE NÃO ME CONECTO. NÃO ME CONECTO, PORTANTO NÃO SOU.  SEM MEU SELFIE NÃO POSSO TER UM “SELF”? Todos os meios midiatizáveis, até os in-possíveis, contribuem para esta “modernidade” que nos faz querer apenas o ‘instantâneo’, mesmo que massificado e falso.

A robotização de nossos corpos já é considerada “normal” e tem mais um filme sobre nossas ‘pulsões’ (instintos¿) artificializadas. E vamos sorrir, pois o golfinho, o poeta ou o touro indomável que aparecerá compondo meu autorretrato pode já ter morrido, ou então é mortal, no seu duplo sentido.

Em artigo com o título: Em um futuro de tecnologias invisíveis, "offline" pode não ser mais uma opção, de Carlos Ferreira, no CanalTech, encontrei uma pérola. Uma gritante preciosidade da naturalização de nossos corpos defeituosos que virão a ser, um dia, “perfeitos”. Seremos todos, como no filme, Ex Machinas. Eis o que se constrói com pequenos e contínuos grãos de informação reificada. (ver a matéria completa em link ao final deste texto)

Diz o artigo: Talvez não seja arriscado dizer que uma tecnologia é tão boa quanto mais facilmente ela puder se fazer invisível”. E o autor arremata: “-. Em plena era digital – apesar do referido culto -, o que se vê é uma integração cada vez maior entre o indivíduo e as inúmeras ferramentas do dia a dia. Mas não apenas isso: conforme avançamos por este período orquestrado pela internet, torna-se mais e mais evidente certa fusão entre o universo virtual e o físico. Senão, basta andar pelas ruas: deve demorar bem pouco para que o primeiro sujeito corcunda apareça, andando decidido enquanto envia mensagens no WhatsApp, se guia pelo GPS ou dá lances em leilões online. E isso deve ser apenas o começo”...

Foi aí que me lembrei de Quasímodo (o quase perfeito), aprisionado e isolado do mundo no alto da catedral Notre Dame. E imaginei o que o autor pretendia com a palavra ‘’sujeito corcunda’’. Seríamos e seremos, em futuro próximo, todos neo-quasímodos¿

E por que nesse mundo integrado das máquinas e de nossos corpos estaríamos todos “tortos”, “defeituosos”, e “dobrados “¿ Será porque nos des/dobramos para caminhar entre nossos semelhantes, curvados sobre os smartphones¿ ou o peso simbólico que nos conectaria ao mundo internético global seria mais forte que nossas colunas de sustentação sapiens¿

Não tenho essas respostas, embora as deseje. Nossos tempos de velocidade e hiperconexão já foram uma preocupação para mim. Hoje, “naturalmente”, tenho de re-conhecer como estou imbricado, implicado e transversalizado por todas essas ‘tecnologias’. Entretanto, para não me curvar ainda mais, já que meus parafusos de titânio não me permitem, continuo buscando a postura mais poética, micropolítica e crítica possível. Afinal não quero descobrir que sou apenas um robô, uma ex_machina aperfeiçoada e cada dia mais in-sensível.

Nesse campo das sensibilidades e dos afetos é que encontro meus antídotos. Nessas buscas para além do que as novas ‘máquinas de escrever’ notebooks me proporcionam. Nesses abusos que me permito nas buscas de ferramentas dentro das buscas. Nas ultra/passagens e interrogações do que estamos a construir ou destruir para nossos próprios ‘futuros’.

Não consigo me desconectar, não tenho como. Acho que todos os ‘on line’ que estiverem lendo este texto sabem o que digo. Somente os que estão ainda considerados ‘off line’ (um grande número de habitantes do planeta, a sua metade) é que não acessaram estas perguntas sem respostas. Já fiz parte de um grupo que desejo um Livro Verde para a inclusão digital. Já acreditei que poderíamos ampliar e melhorar todas as vidas, até as mais miseráveis, se distribuíssem máquinas conectadas, mesmo que alimentadas por velhas mecânicas ou manivelas.

Hoje, após ler o artigo e ver o filme, sou obrigado a voltar à interrogação do texto que escrevi em 2012: seremos no futuro, todos ciborgues¿ ou já nos tornaram um pouco mais que isso: trans humanos que se auto iludem sobre os seus poderes, mesmo que os falsos “micro poderes”. Os micros poderes que não são atos de micropolítica. São apenas ‘propaganda’ e identificação projetiva banal...

 Aqueles que nos fazem difundir e ampliar a alienação e a vontade de micro fascistação do viver. Os mesmos que, ao negarmos nossas historicidades, propagam, imediatamente, quaisquer agressões, homofobias, racismos, misoginias, neo-fascismos e apologias da violência militarizada do viver. TUDO QUE ESTÁ NA INTERNET É FATO, mesmo que uma in-verdade, E NÃO FACTÓIDE!
Em tempos de microcefalias, que não devem ser ‘exterminadas’ e contágios de vírus que tenham também a função do barrar os contatos, se faz urgente uma reflexão sobre o quanto agora estamos, para além do domínio do medo, impregnados e sob o domínio das ‘teletelas’. E que George Orwell me autorize a cópia in-de-vida.

BEM VINDOS ao mundo do “exército de alienados” virtuais, Zuckerberianos ou verdeamarelistas, que se dobram, inconscientes e desejantes, ao convite ‘quase’ erótico das Ex Machinas que desejam nosso controle.

Descubram os mais da contramão, sem serem neo-luditas, na foto, que sempre há alguém que olha para trás, mesmo quando nos dizem que o passado nada tem a nos mostrar ou ensinar.

Copyright/left jorgemárciopereiradeandrade  2016-ad infinitum (favor citar as fontes e o autor em republicações ‘livres’ pela Internet ou quaisquer meios de mídia e comunicação sobre e para as massas) TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025

FONTE – Matéria citada completa:
(O conteúdo do Canaltech é protegido sob a licença Creative Commons (CC BY-NC-ND). Você pode reproduzi-lo, desde que insira créditos COM O LINK para o conteúdo original e não faça uso comercial de nossa produção.)

Foto de Mark Zuckerberg na MWC 2016 pode dizer muito sobre nosso futuro https://www.tecmundo.com.br/mark-zuckerberg/100968-foto-mark-zuckerberg-mwc-2016-dizer-nosso-futuro.htm


Para ler e interrogar sobre o QI - Intelligent people have one thing in common https://www.ideapod.com/idea/Intelligent-people-have-one-thing-in-common/557678ba0a70e37c2f2d5277 (O ‘mundo’ já saberá em breve quantas horas estamos a=cor=dados ou já o sabe¿)

Sci-fi dreaming to desk-side vacations: The evolution of Virtual Tourism (A VIDA VIRTUAL)  https://mashable.com/2016/04/02/virtual-tourism-evolution-brandspeak/?utm_cid=p-LV-tw-bc#pGgAj_5KYPq

Óculos do Facebook é acusado de passar informações dos usuários para empresas https://olhardigital.uol.com.br/pro/noticia/-culos-do-facebook-e-acusado-de-passar-informacoes-de-usuarios-para-empresas/56965 

FILME INDICADO – EX MACHINA: INSTINTO ARTIFICIAL  https://www.adorocinema.com/filmes/filme-219931/

Ex_ Machina - Official Trailer (2015) [HD]  https://www.youtube.com/watch?v=XYGzRB4Pnq8
(Ex Machina (estilizado como EX_MACHINA) é um filme britânico de 2015 de ficção científica e suspense sobre um andróide com inteligência artificial. Foi escrito e dirigido pelo autor e roteirista Alex Garland, tendo sido a sua estreia como diretor. O filme foi protagonizado por Domhnall Gleeson, Alicia Vikander e Oscar Isaac, segundo - https://pt.wikipedia.org/wiki/Ex_Machina_(filme)

LEIA TAMBÉM NO BLOG –


SEREMOS, NO FUTURO, CIBORGUES? PARA ALÉM DE NOSSAS DEFICIÊNCIAS HUMANAS https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/seremos-no-futuro-ciborgues-para-alem.html



RACISMOS, BARBÁRIES, FUTEBOL... ONDE ENTRECRUZAM AS VIOLÊNCIAS SOCIAIS? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/05/racismos-barbaries-futebol-onde.html

MOVIMENTOS, MASSAS, MANIFESTOS E HISTÓRIA: POR UMA MICROPOLÍTICA AMOROSA, URGENTE. https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/06/movimentos-massas-manifestos-e-historia.html

quinta-feira, 28 de abril de 2011

VULNERAÇÃO E MÍDIA NO COTIDIANO DAS DEFICIÊNCIAS


Imagem Publicada - um homem com deformidades físicas no rosto, na cabeça, denominado Homem-Elefante, que esta atrás de uma porta de correr, com uma grade de ferro de porta de elevador, que sugere seu encarceramento e isolamento. Foto, em preto e branco, de divulgação do filme que levou ao público a dramática história de John Merrick(1862-1890), um cidadão inglês, que por ter a maior parte de seu corpo deformado por uma síndrome neurológica, a Neurofibromatose múltipla. Ele foi por longo tempo considerado um "deficiente mental", e viveu exposto, espancado e explorado em um show ambulante, até que um cirurgião, Dr. Frederick Treves, o levou para um hospital, e, dentro das limitações de seu tempo (a chamada era Vitoriana) buscou promover um pouco de dignidade a quem estava sendo motivo apenas do riso e do temor em espetáculo circense. Ele viveu em Londres onde hoje a pompa e circunstância ainda encobrem muitas formas de discriminação, segregação e exploração midiática desses que são chamados de "anormais ou aberrações humanas".

"Assim como o conceito de deficiência é construído e contextualizado, as vulnerabilidades também têm gênese social como um discurso em construção e em questionamento pelos bioeticistas, como faz Macklin, ao indagar: ”O que torna indivíduos, grupos e até países inteiros vulneráveis? E por que a vulnerabilidade constitui uma preocupação da bioética?”. Essas duas perguntas, segundo a autora, devem ser afirmadas e respondidas pela existência de que diante do poder e da exploração de sujeitos vulneráveis, temos de ter uma postura ética. Uma postura de cunho bioético e de proteção.

Essas posturas e questões têm grande amplitude, indo desde a ética clinica, da ética em pesquisas que envolvem seres humanos, e, em especial, na ética em políticas públicas. No campo político, ou melhor, dos biopoderes, ao avaliarmos a condição de pessoas vulneradas, com sua possível posição de exploração, podemos incluir as pessoas com deficiência, que, historicamente, estiveram em situação de vulneração e exclusão pelos estigmas a que foram submetidos".


Esses dois parágrafos acima fazem parte de um artigo que publiquei na Revista Saúde e Direitos Humanos, Ano 6, nº 6, 2009. O tempo passou e cada dia mais me convenço das minhas proposições de cunho bioético para o campo das deficiências.

Me sinto reforçado na indagação de Macklin quando assisto na TV a concepção que vem sendo midiatizada sobre os que são chamados de ''portadores'' de deficiências. Creio que a última atitude bizarra nos foi apresentada por um programa de Comédia onde se ridicularizava, de forma grotesca e proposital, a condição de pessoas com Autismo. A chamada Casa dos Autistas, em seu processo de reprodução dos estigmas, conseguiu gerar indignação, repúdio e ações que incluíram atitudes do Ministério Público e de parlamentares na Câmara Federal.


Ainda não conseguimos demolir alguns dos estigmas que são impostos a PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Isso mesmo, são sujeitos COM direitos humanos, são cidadãos e cidadãs, e sua nomeação e terminologia são muito importantes. NÃO PODEMOS RECUAR NO AVANÇO CONQUISTADO COM A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. A sua condição humana diferenciada e singular não deve ser nomeada como ''necessidades especiais'' e muito menos como ''invalidez'' ou ''doença'', e com estes paradigmas biomédicos, ainda em ação, promover sua espetacularização pela TV.



Os autistas podem ser também artistas. Mas não sem respeito às suas vulnerabilidades. Não se promovendo sua caracterização como ''alienados'' ou ''bobos da corte''. Muito menos como um grupo que, se confinado, à moda do BBB, possa constituir uma casa da loucura sem racionalidade e comportamentos considerados ''anormais'. O que a MTV promoveu foi a sua vulneração pela esterotipia e pela estigmatização tele-visiva.

Nesse sentido é que a busca de um olhar para além dos discursos vigentes sobre pessoas com deficiência se faz imprescindível. Temos que, pesquisar como se constroem novos paradigmas, agora com a ativa participação dos sujeitos com deficiência, como o que ocorreu na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Nações Unidas – ONU – dezembro de 2006). Historicamente este tratado internacional foi antecedido na América Latina, pela chamada Convenção da Guatemala, em 1999, que confirmou a existência primordial de fatores sociais e econômicos como geradores de situações de deficiência.

Esta Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas com Deficiência, proclamada em 1999, foi reconhecida pelo Governo Brasileiro, através do Decreto Nº 3956 (de 08/10/2001), afirma que as deficiências decorrem/surgem da interação das características de cada um com a produção de barreiras na sociedade para as suas diferenças, que ao limitar a suas capacidades de exercer as atividades da vida diária, portanto, são “causadas ou agravadas pelo ambiente econômico ou social”. 

E suas incapacidades tornam-se agravadas com o uso, aético e inconsequente, na socialização de estereótipos ou estigmas impostos aos que são chamados de deficientes, anormais, loucos, autistas ou qualquer outro termo ou diagnóstico aplicável aos fora da norma ou da normalidade científica.

Quando produzimos a hiperexposição midiática, de forma ridicularizada, de um ou mais grupos de pessoas com alguma forma de diferença, para um grande público consumidor, os telespectadores em alienação acrítica, estamos reforçando sua condição deficitária como monstruosidade, como Mal e enfermidade. Estamos os estigmatizando para nos mantermos em busca de uma sacrossanta idealização de pureza, normalidade, sanidade ou perfeição. 

O grotesco e o hilário não podem ficar associados, por mais audiência que provoquem, a uma exploração, hoje hipermidiatizada, das imagens, cenas, situações ou aparências diferenciadas vividas por pessoas com deficiência ou outras formas de incapacidades. A MTV fez isso e me levou de volta ao passado. Retomei, quando vi indignado o que eles chamaram de a Casa dos Autistas, antigos personagens do cinema, do teatro e da literatura. 

Eles voltaram ''assustadoramente'' a minha memória. Eles, por suas ''taras, defeitos, manchas, estigmas ou corcundas", podem ser denominados ''homens e mulheres elefantes'', ou de neo- Quasímodos. É, então a hora de rever e relembrar um filme: O Homem Elefante (David Lynch). Eles e elas, com suas deformidades físicas (que presupõem as mentais) foram, são e devem ser cobertos com burkas ou máscaras que nos ajudem a evitar o olhar espelhado para sua ''feiura e miséria humana''. A nossa visão narcísica pode sofrer profundos abalos com uma possível identificação projetiva com esses seres anômalos.

A eles e elas, historicamente, se destinavam os espetáculos grotescos dos circos dos horrores ou, então, como o médico interpretado por Anthony Hopkins, um pequeno quarto de hospital para que pudessem ser ''examinados'', "diagnósticados", "expostos como um caso clínico aberrante". E, nas boas intenções da medicina da época, "protegidos e cuidados", apesar de terminarem sendo apenas mais um objeto de pesquisa: cobaias humanas.

O personagem real John Merrick consegue, no filme e na sua história de vida, até impressionar uma atriz, mas não consegue ser amado por ela. Não podemos nos encontrar em um Outro tão aberrante de nossa imagem e semelhança. Ainda que ele possa ser também um artista,ou mesmo um poeta. Não aprendemos ainda, bioéticamente, a amar as cobaias. Muito menos os monstros em nós.

Por isso é que seria uma parcial reparação se o "preconceituoso" canal de TV, após suas desculpas públicas e já notórias, pudesse realizar um Ciclo de Cinema e Deficiência, seguido sempre com debates esclarecedores e críticos, a serem conduzidos pelas próprias fontes de ''diversão'', ou seja pelas pessoas com deficiência. 

Quem sabe, como já fez Chaplin, ampliassemos a sensibilização das platéias entorpecidas, em especial dos canais abertos, com o surgimento do direito à diferença, com o direito à audiodescrição, com o direito ao close caption e as legendas (para os surdos), com o direito à provocação do espanto e da indagação diante de outras formas de ser e estar no mundo e na Vida. E para tanto nem precisaríamos nos tornar ''mudos e em preto e branco".

Senhores e Senhoras, Respeitável Público: - agora no meio do palco, no meio do picadeiro, fora das jaulas, dentro do coração e das mentes de nossos telespectadores, novos atores com suas cegueiras, bizarrices, paralisias cerebrais, deficits, transtornos, distúrbios, surdez e incapacidades de toda ordem. As telinhas, ou melhor, todas as telas irão se encher de panorâmicos seres humanos que nos espelharão, nos confrontarão e nos obrigará a buscar outras maneiras de os respeitar, re-conhecer e amar. 

Em cena, os Autistas, que não cabem, por sua pluralidade, nessa mísera casa dos comediantes da MTV, irão nos levar a outras sensibilidades, outras máquinas desejantes, outros devires, outras formas de afetar e sermos afetados, a desejada criação de novas cartografias para o viver e Vida. Para além de todas as vulnerações e suas perpetuações.


Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o Autor e referências do texto em republicações e difusões livres pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Um dos motivos desse texto:
MTV faz campanha depois de polêmica - http://odia.terra.com.br/portal/diversaoetv/html/2011/4/mtv_faz_campanha_depois_de_polemica_160747.html

Abaixo-assinado Contra o Programa da MTV Casa dos Autistas
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N9211

Indicações de sensibilização e educação pelo Cinema:
O HOMEM ELEFANTE - filme de David Lynch - 1980 - http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Homem_Elefante

“Wretches & Jabberers" - Documentário de Gerardine Wurzburg - 2011 - http://pt.euronews.net/2011/04/18/a-voz-dos-autistas-wretches-jabberers/

TEMPLE GRANDIN - filme biográfico da HBO - 2010 -
http://www.soshollywood.com.br/temple-grandin/

Referências no Texto
VULNERABILIDADE E VULNERAÇÃO, QUANDO AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SÃO QUESTÕES DE DIREITOS HUMANOS? - Jorge Márcio Pereira de Andrade - Revista Saúde e Direitos Humanos - Ministério da Saúde - Fundação Oswaldo Cruz - Brasília, DF, 2010 (Ano 6, nº 6, 2009)

Leiam, Comentem e reflitam também no BLOG:

EUGENIA - COMO REALIZAR A CASTRAÇÃO DE HOMENS E MULHERES COM DEFICIÊNCIA? 
http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/01/eugenia-como-realizar-castracao-e.html

A PERFEIÇÃO RACIAL E A DESTRUIÇÃO NASCEM DO MESMO NINHO...
http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/07/a-perfeicao-racial-e-destruicao-nascem.html

Um AUTISTA pode vir a ser um ARTISTA da água? - http://infoativodefnet.blogspot.com/2010/04/um-autista-pode-vir-ser-um-artista-com.html


A Terra é Azul e o AUTISMO também -
 http://infoativodefnet.blogspot.com/2011/03/terra-e-azul-e-o-autismo-tambem.html

domingo, 24 de outubro de 2010

QUEM SÃO ELAS? O ABORTAMENTO ´POLÍTICO' DO ABORTO

imagem publicada - Uma mulher indiana, deitada, em uma maca, olha para um bebê branco, caucasiano, que ela gestou por 09 meses, e dele terá de se despedir nesse instante. Esta é uma das cenas do filme, produzido e dirigido pelo cineasta de Tel Aviv, Zippi Brand Frank, que examina as maneiras pelas quais a globalização e o hipercapitalismo da reprodução assistida, difundiu e complicou ainda mais a indústria da fertilização. Google Baby, no entanto, também é a crônica de uma ideia concebida por um empreendedor israelense chamado Doron, que entrou no negócio usando doadoras de óvulos dos Estados Unidos e barrigas de aluguel da Índia para atender aos "sem-filho" do mundo ocidental. A necessidade pode ser a mãe da invenção. Mas quem é o pai de uma criança quando o esperma vem de Israel, o óvulo dos Estados Unidos, e a gravidez de aluguel tem lugar em Gujarat, Índia? Bem vindos ao mundo real e capitalista dos nascimentos de bebês subcontratados no Oriente, via internet, para "fregueses e freguesas" do Ocidente.

Saindo de cena e entrando no debate

Já escrevi e reescrevo "todo mundo é um útero... todo útero é um mundo...". Mas precisamos afirmar que nem toda mulher é apenas um útero. Hoje, em tempos eleitorais, digo: "todas as mulheres são eleitoras, mas algumas podem ser mais que isso...". Elas podem escolher o que gestar e gerar para o mundo, para além de quaisquer macropolíticas, preconceitos ou ideologias. Como dizia poeticamente Walt Whitman: " uma mulher me espera: ela tem tudo, nada está faltando...", contrariando a imposição de uma posição de falta e castração. " Elas não tem um ponto a menos que eu,..."

Tenho estes dias um 'treco' entalado na garganta, ou melhor um "trem ruim", como dizem em minha terra natal. Essa desagradável sensação decorre da exploração política de um tema delicado. Uma questão feminina, que me é muito cara, sendo também importante e, bioéticamente falando, fundamental na vida humana. Para quem acredita na concepção primordial de Van Renssalear Potter que: "A BIOÉTICA É A CIÊNCIA DA SOBREVIVÊNCIA HUMANA", na perspectiva de defesa da dignidade humana e da qualidade da vida.

Aos que desconhecem a realidade vivida por muitas mulheres no Brasil acerca do abortamento, da interrupção da gravidez ou do que chamamos, com nossos reducionismos de "aborto", recomendo: assistam o documentário "QUEM SÃO ELAS", de Débora Diniz.

Usem 20 minutos de suas preciosas horas vividas, e respondam a essa indagação. Depois conversamos e discutiremos sobre o direito das mulheres que estão ou estiveram com fetos anencéfalos como questão de vida. E mais ainda a resposta à pergunta: quem já abortou? quem já tentou? quem são elas, estas mulheres que abortam?

Este documentário conta a história quatro mulheres, no período de 2 anos, tendo como fio condutor histórico de que todas vivenciam "força e resignação diante do luto precoce". E o título desse filme resultou da indagação de um Ministro do STF, que indaga: "quem são elas? eu, nunca as vi...". Foi no Supremo Tribunal de Justiça que a pergunta, com esta "superioridade", foi formulada. Em julho de 2004 a Justiça brasileira havia autorizado que mulheres grávidas de fetos anencéfalos interrompessem a gestação. Após quatro meses essa autorização foi abortada... por pressão e recursos conservadores...

Agora reedita-se uma posição de midiatização e espetáculo em torno da questão do aborto, de forma superficial e semelhante. Ao invés de um debate aberto com as forças conservadoras, o que assistimos é a biopolitização do tema. É a sua retomada como uma questão de opinião ou de convicção religiosa ou ideológica. Enquanto isso, elas continuam sendo mais vítimas que rés. Continuam sendo penalizadas com suas internações no SUS, onde chegam das clínicas clandestinas, ou seu padecimento físico e psíquico por serem impedidas de realizar uma antecipação de parto em casos de anencefalia...

Abortar o aborto do cenário político e introduzi-lo no cenário do debate bioético é imperioso para o momento brasileiro. Já que engravidamos a Mídia do tema Aborto, é a hora de falar, pensar e refletir sobre a interrupção da gestação. Vamos interrogar o dilema bioético: "quando começa a Vida?". Porém com um outro olhar e abordagem. E as respostas que ainda não temos poderá vir de um amplo debate nacional. 

Temos de construir uma visão bioética e não uma reedição conservadora e a falsa ideologização, que, sob o manto da sacralização, continuam a ser gestadas nas entranhas dos mais antigos mitos, as mais antigas tradições religiosas, dos mais reacionários modos gestão e controle biopolítico da vida.

Pela vida não deixei de lutar e isso traduz-se em meu artigo Direito à Vida do livro Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada, onde afirmo: "O Direito à Vida exige a segurança social, a habitação, condições de alimentação e sobrevivência com dignidade, condições, em um mundo de exploração hipercapitalista, necessariamente ligadas aos direitos econômicos, o que nos alerta permanentemente para uma defesa intransigente e aguerrida de que a Vida tem de ser protegida e, é dever de todos os Estados a sua promoção e qualificação"

Não podemos continuar confundidos na questão de um abortamento, com casos de estupro e anencefalia, por exemplo, pois em ambos já há previsão jurídica e penal. Mas ainda, em ambas situações, há alegações de cunho moral ou religioso, e deles devemos retirar quaisquer dos ranços de eugenia ou de seleção do melhores para a vida. E isso já apontei como uma ponte para o futuro no texto Apagar-se uma pessoa com Síndrome de Down.

Os tempos modernos que são vividos pelo corpo feminino, e seu devir, traçam novas cartografias pelos campos da reprodução assistida, das manipulações genéticas, da hiperexposição ou da negação de sexualidades, e, até, da exploração de úteros de aluguel, como nos mostra um duro documentário exibido pela HBO recentemente: //Google_Baby. Nesse documentário, com a imagem reproduzida acima, retrata-se o uso de úteros de mulheres indianas que são "mães de aluguel" da Índia oferecidas ao Ocidente via espermática de Israel pela Internet. O útero foi globalizado...

Recomendo a todos a leitura atenta do texto: Bioética e Aborto, de Debora Diniz (em Tópicos de Bioética), que nos esclarece sobre as diferentes formas de interrupção de gestação, que vão desde a Interrupção Eugênica da Gestação (ieg) até a Interrupção Voluntária da Gestação. Nesse texto podemos reconhecer os direitos reprodutivos das mulheres, as que, em princípio, deveríamos escutar e respeitar quanto às questões que envolvem sua singularidade, gênero, corpo e vida.

A autora nos mostra, com argumentação bioética, que: "...o respeito à autonomia reprodutiva é um princípio inalienável para qualquer decisão...", onde a legitimidade de um procedimento de antecipação, por exemplo, terapêutica é "uma vontade expressa da mulher".

 E, então, podemos responder aos ministros, aos bispos e aos políticos: - ELAS SÃO APENAS MULHERES COM DIREITOS HUMANOS, ONDE A AUTONOMIA E A TANGIBILIDADE DA VIDA SÃO FUNDAMENTOS PARA QUE CONTINUEM SENDO AS DOBRAS DE ONDE SE DESDOBRARAM OS HOMENS.

Quanto á escolha de quem nos dirigirá presidencialmente, se um homem ou uma mulher, afirmo que devemos e podemos escapar de mais um espetáculo macropolítico que se utilizará de dilemas morais para outros fins.

Tenho a esperança de todos brasileiros que olham, micropolíticamente, para o futuro que podemos gestar e parir. E se refluirmos para o paradigma da Exceção e dos Homo Sacer (Giorgio Agamben), tornando-se um grande risco biopolítico para a autonomia e para a igualdade de direitos, seja para a vida coletiva ou para a de cada um, que tenhamos a coragem de abortar..., para além de quaisquer dilemas, quaisquer formas ou práticas de autoritarismos ou ditaduras... Os eugenistas estão de prontidão ainda.

Aos nossos atuais representantes políticos, aos bispos, aos Ministros, aos que chamo de "sinistros" e "falsos" defensores da Vida, com todo respeito, é a hora de lutarmos pela concretização de um Conselho Nacional de Bioética. E, se tiverem coragem, convoquem as mulheres, cuja voz e direito foram cassados, para presidirem esse novo espaço político e ético. Tenho a certeza de que lá elas irão também implantar um novo paradigma estético e amoroso...

Saiamos, urgentemente, do uso banalizado do termo, deixemos o Estado Espetáculo, façamos uma outra cena: vamos, coletiva e individualmente, parar de abortar o aborto de nossas mentes conservadoras, parar de negar suas realidades multifacetadas em um país de muitas ''caras''....

Vamos afirmar que, hoje, vejam a pesquisa abaixo, o aborto não mais apenas uma "opinião", é um grave problema da Saúde Coletiva no Brasil. E ainda podemos criar em breve alguns meios internáuticos de produção de seres serializados, eugênicos e de ''baixo custo", usando o Facebook, o Twitter e até o Orkut, bastando para isso manter a situação de miséria, analfabetismos, exclusões e desfiliações sociais, especialmente de mulheres... Virá, então, o útero cibernético, de mulheres pobres, naturalmente!.

copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar as fontes e autores em reproduções livres pela internet ou meios de comunicação de massa)

INDICAÇÕES, ver, repensar, refletir, recomendar:

QUEM SÃO ELAS? - documentário - Debora Diniz - Imagens Livres - 2006 (20 min)
UMA HISTÓRIA SEVERINA - documentário - Débora Diniz & Eliane Brum - Imagens Livres -
À MARGEM DO CORPO - documentário - Debora Diniz - Imagens Livres - 2006 (43 min)
HABEAS CORPUS - documentário - Debora Diniz & Ramon Navarro - Imagens Livres - 2005 (20 min)
HOMO SAPIENS 1900 -, documentário - Peter Cohen - Versátil Home Videos - Suécia, 1988.
//GOOGLE_BABY - documentário - Zippi Brand Frank - HBO - 2007.

contatos para os filmes Debora Diniz:
www.anis.org.br
Google_Baby:
https://www.hbo.com/documentaries/google-baby/index.html
A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência Comentada - https://www.bengalalegal.com/comentada.php

Fontes bibliográficas -
- Bioética e Saúde- novos tempos para mulheres e crianças - Fermin Roland Scharamm e Marlene Braz, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, 2005.
- Ensaios: Bioética- Sérgio Costa e Débora Diniz , Editora Brasiliense &Letras Livres, São Paulo/Brasília, 2006.
- Princípios de Ética Médica - Tom Beauchamp & James Childress, Edições Loylola, São Paulo, SP, 2002
- Tópicos em Bioética - Sérgio Costa, Malu Fontes e Flavia Squinca (orgs), Letras Livres, Brasília, DF, 2006.
- Introdução Geral à Bioética- História, Conceitos e Instrumentos - Guy Durand, Edições Loylola/Centro Univ. São Camilo, São Paulo, SP, 2007.
- A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada - Ana Paula C. Resende e Flavia Maria P. Vital - Corde/SEDH, Brasilia, 2008.


PESQUISA NACIONAL DE ABORTO é uma pesquisa nacional desenhada para representar o que ocorre na vida reprodutiva das mulheres urbanas alfabetizadas de 18 a 39 anos no Brasil, cuja pergunta principal é Você já fez Aborto?
Os resultados referem-se ao ano de 2010, no Brasil urbano.
FONTE

*Ao completar 40 anos cerca de uma em cada cinco (mais exatamente, 22%) das mulheres já fez um aborto.

*Contrariamente a uma idéia muito difundida, o aborto não é feito apenas por adolescentes ou mulheres mais velhas. Na verdade, cerca de 60% das mulheres fizeram seu último (ou único) aborto no centro do período reprodutivo, isto é, entre 18 e 29 anos, sendo o pico da incidência entre 20 e 24 anos (24% nesta faixa etária apenas).

*Como abortar é um fato cumulativo, naturalmente a proporção de mulheres jovens que já fizeram um aborto ao longo da vida é menor, mas ainda assim é alta, sendo 6% entre as mulheres com idades entre 18 e 19 anos. Em outras palavras, já no início da vida reprodutiva uma em cada 20 mulheres fez aborto.

*A maior parte das mulheres que realizou aborto teve filhos.

*A PNA também mostrou que há uma distribuição espacial clara sobre a prática do aborto. Sua prática é mais comum nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e tem menor incidência na região Sul do país.

*Os níveis de internação pós-aborto são elevados e colocam indiscutivelmente o aborto como um problema de saúde pública no Brasil. Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas ao aborto.

*A incidência de aborto entre as mulheres de diferentes religiões é praticamente igual.

*Como a PNA reflete a composição religiosa das mulheres urbanas brasileiras, pouco menos de dois terços das mulheres que fizeram aborto são católicas, um quarto protestantes ou evangélicas e menos de um vigésimo, de outras religiões.

*Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto utilizaram algum tipo de medicamento para induzi-lo. Os abortos ilegais realizados com medicamentos tendem a ser mais seguros que os que utilizam outros meios, em particular quando o medicamento usado é o misoprostol, popularizado no Brasil na década de 1990. Se fossem feitos sob atenção médica adequada, seriam extremamente seguros.

*Os níveis de internação pós-aborto são elevados e colocam indiscutivelmente o aborto como um problema de saúde pública no Brasil. Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas ao aborto.

*Cerca de 8% das mulheres do Brasil urbano foi internada em razão do aborto realizado.

Se o aborto seguro fosse garantido, a maior parte dessa internação poderia ser evitada.

DIA 28 DE SETEMBRO - DIA INTERNACIONAL PELA DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO NA AMÉRICA LATINA E CARIBE.

DADOS ATUALIZADOS EM 2016 - PESQUISA NACIONAL DO ABORTO-



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