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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

MULHER (ES), PODER (ES) E O(S) MEDO (S)...

Imagem publicada – uma foto (de uma série) da minha janela voltada para o pôr do sol (da deusa Disis), que intensifiquei como fogo no céu, acentuando os alaranjados, os azuis e os amarelos (próximos do que amo em Van Gogh), tempo visível com a sombra dos prédios que todos os dias posso avistar de minha janela aprisionada pelo tempo visto como passado, mas que se torna uma fulgurante demonstração de como podemos rever e transver nossas próprias horas, e se torna um tempo-vida-imaginação...

...’Esqueço as horas pensando em outras horas de quem tem poucas horas ou muitas horas. Ora Hora!... Não penso nas horas; elas e que me pensam’...

Preciso do silêncio e da negação de todos os sons para tentar pensar. Outro dia fui lembrado, nas ‘altas horas da madrugada’ que precisava me cuidar com a passagem do Tempo. Lembravam-me que, humano ainda, tenho um corpo físico e uma suposta saúde a deixar descansar. Este texto, como parto prolongado, nasceu em horas sem ruídos metálicos ou zumbidos alienantes. Em horas que não cabem nos relógios digitais ou ampulhetas.

Respondi com a frase acima, relâmpago afetivo, mais ou menos, sobre minha relação com as horas. As horas são e serão sempre femininas. As horas, conforme a mitologia grega são mulheres. Seriam as mulheres de Atenas? Aquelas cuja cidadania era negada, aquelas equiparadas apenas aos escravos. Ou seriam e são as guardiãs do Olimpo que organizam a passagem das estrelas? As que trazem a fertilidade da mudança?

Na versão apresentada pela Wikipédia são: - “As horas (em grego:  Ώρες, em latim: horae) constituíam, na mitologia grega, um grupo de deusas que presidiam as estações do ano. Filhas de Zeus e Têmis eram três deusas que personificavam a ordem do mundo. Eunômia (Εὐνομία, "legalidade") representa a legalidade, a boa ‘ordem’, as leis cívicas. Eirene ou Irene (Εἰρήνη, "paz") representa a paz. Dikê ou Dice (Δίκη, "justiça") representa a justiça”.

As horas também têm suas versões latinas. São também o tempo, as estações, as passagens dos momentos, das atividades de um dia ou as épocas. Quais seriam, hoje, as épocas que vivemos ou que nos dizem ou permitem ser vividas?  Vivemos o tempo em que a(s) Mulher (es), o(s) Poder(es) e o(s) Medo(s) encontram-se na(s)  mesma(s) encruzilhada(s)?

Como disse são, hoje, agora, nesse instante fugaz, nesse segundo, quando toco as teclas das letras que elas, as horas, aquelas deusas me assombram. Permitem-me, reles mortal, a aspirar com elas ainda sonhar com utopias, com as outras invenções gregas, tal qual a democracia. Entretanto, nesse mesmo passado do relógio, a História me diz que as deusas passaram a servir a outros ordenadores burocráticos do mundo.

Onde foram parar, pelo menos nesses territórios mais próximos, agora recriadores de novos muros e novas instituições, a legalidade, a Paz e aquela que pendula entre a espada e a balança? Passaram a ser apenas servas do Estado Nação ou de um novo Estado de Exceção?

Porém, se são Mulher (es) como já escrevi nos seus Dez(s) Mandamentos por aqui, não seguem os caminhos predeterminados pelos governantes mortais. Não se tornam, apesar de nossa persistência histórica, em escravas de um Tempo dos temores e dos desamores. Não se deixam capturar, completamente, pelas novas formas sutis de colonização de seus corpos e mentes.

O feminino e seu gozo não são visíveis. Não há e nem haverá a possibilidade de sua total dominação. Nem mesmo pelas armas ou pelos exércitos ou pelas microfascistações do cotidiano e suas falsas horas. São, mesmo as mais humilhadas, ricas de outro modo de devir, outros poderes, outras desterritorializações e fugas. São e serão, mesmos as mais duras, profundamente, como as deusas, inspiradas pelas suavidades, caso contrário seus opostos se tornam soberanos.

As mulheres podem vestir togas, podem usar fardas, podem e devem cair nas homogeneizações e binarizações/dualidades. São sujeitos sociais, assim como todos os gêneros e indivíduos. Mas nenhum de seus uniformes retirará de seus corpos as suas castrações, ao contrário, podem acentuar suas falicidades. Como horas, passantes, mutantes e mutáveis, surpreendem e se surpreendem, como as heterogeneidades de formas de amar, apaixonar ou inventar. Elas são e serão uterinas, mesmo quando histerectomizadas pelos homens ou pelas novas tecnologias. Ou mesmo por outras mulheres in-vestidas de autoridade(s).

Para que continuemos a busca do feminino como liberdade, embora nos tenham levado às ilusões temerosas, cabe à(s) mulher (es) o restabelecimento do equilíbrio que as horas, não mais reificadas ou endeusadas, nos ensinaram e ensinam a desejar ir além dos permitidos. Ir além, dos preconceitos, das discriminações, dos mitos, das falácias, dos podres poderes e, principalmente do Medo.

Como, então, a partir das muitas feminilidades, das muitas multiplicidades, das singularidades e das pluralidades de ser e existir poderemos enfrentar essa Cultura do Medo? A resposta recente me veio de releituras de Espinosa e as novas de Antonio Negri sobre o filósofo polidor de lentes e mentes. De lá extrai o conceito de tempo vida e não de temporalidade. O viver como duração e não durabilidade.

Para A. Negri: “A filosofia de Espinosa exclui o tempo-medida. Ela apreende o tempo-vida. É por isso que Espinosa ignora a palavra ‘tempo’ – mesmo fixando seu conceito entre vida e imaginação. De fato, para Espinosa o tempo só existe como liberação. O tempo libertado se faz imaginação produtiva, radicada na ética. O tempo liberado não é nem devir, nem dialética, nem mediação. Mas ser que se constrói, constituição dinâmica, imaginação realizada. O tempo não é medida, é Ética...”.

O tempo é da ‘hora’ que retoma a Eunomia. Tal como o corpo feminino pode, se for libertado, se tornar o ser da revolução, da contínua escolha ética da produção. Do direito de não ser apenas um corpo reprodutor, mas aquele que enriquece o ser.

Pelos corpos que mesmo negados, ou ainda sob desmandos, ou sob midiatizações espetaculares, é que afirmo que a hora é a do ser-mulher, como forma de potência e transformação. Afirmo que, diante dos nossos desencantamentos coletivos, não nos iludamos com as organizações, mesmo as globais ou globalizantes.

A hora é a do desafio da quebra de alguns paradigmas. Macro e micropolitica-mente. A hora é do afirmar o respeitar as ‘minas’, mas tomando cuidado para pisar nas mesmas que alguns querem, belicosamente, semear em nossos caminhos e passos.

Quando, dos poderes visíveis, das ditas autoridades do alto, nos vem o anúncio de novos muros, novas discriminações, novas guerras, que muitos aqui não vêem como já existentes, as horas se tornam mais urgentes. Precisamos das outras horas, pois há sim outras deusas-horas, como Disis, que era a deusa da finalização do dia, o por do sol.

Este texto não crepuscular é um apelo, não uma alegoria, que convoca/provoca às mais poderosas e destemidas, às que podem abrir as portas de corações, podem encantar avenidas, podem desafiar ditadores, podem lançar foguetes no espaço, podem revelar verdades e desmitificar as ondas de alienação e submissão. À(s) Mulher(es) com o(s) Poder(es) de demolir(em) todo(s) o(s) Medo(s)...

(copyright/left jorgemárciopereiradeandrade 2017 ad infinitum após 2024, favor citar o autor em republicações livres pela Internet e outros meios de difusão, comunicação ou manipulação de massas... TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025 )

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domingo, 8 de março de 2015

OS DES(z)-MANDAMENTOS DO CORPO FEMININO

Imagem publicada–uma foto,que fiz recentemente, da exposição comemorativa em homenagem à "Mafalda", personagem criada pelo cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, pelos 50 anos dessa doce, mordaz e crítica invenção em quadrinhos. Nela vemos a Declaração dos Direitos das Crianças, do UNICEF, comentada por Mafalda e seus amigos, onde se lê, à direita, no décimo artigo: “A criança deve ser protegida contra influências que possam induzi-la a qualquer forma de discriminação racial, religiosa ou de outro gênero. Ela deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade para com todos os povos, paz e fraternidade universal, e na consciência de que deverá colocar a sua energia e talento a serviço do próximo”. À sua esquerda estão Mafalda e um globo terrestre, onde a menina, apontando seu dedo de forma firme e decidida, diz: “E VAMOS TRATAR DE RESPEITAR ESSES DIREITOS, TÁ? VAMOS VER SE ELES NÃO FAZEM COM ELES O QUE FIZERAM COM OS DEZ MANDAMENTOS”. Uma referência de como o humor, do mais suave ao mais irônico, poderá nos ajudar a compreender como responder, principalmente às nossas meninas, o porquê continuamos tratando-as como o “segundo sexo”, ou melhor, o corpo negado e explorado, desde a infância ultrajada, sem que nenhum novo “des-mandamento” tenha realmente sido efetivado e vivenciado por elas.

“Sendo a própria substância das atividades poéticas do homem, compreende-se que a mulher se apresente como uma inspiradora: as Musas são mulheres... É através da mulher, cujo espírito se acha profundamente ligado à Natureza, que o homem sondará os abismos do silêncio e da noite fecunda. A Musa não cria nada por si mesma; é uma Sibila ajuizada que docilmente se faz serva de um senhor...” (ou melhor, se finge de servidão e submissão, quando se tornar realmente uma mulher livre) – Simone de Beauvoir (1949).

 A ELAS, para as quais devo proclamar novos des-mandamentos, questionando essa universalidade apenas por escrito, é que pergunto: Como lhes provocar, nova e insistentemente, o espanto e a revolta? Como lhes estimular a que não se tornem veículos, físicos ou até tecnológicos, da moda, hoje midiática, da discriminação ou do ódio? Como reinventar seus passos em direção à verdade sobre o amor e sobre o sexo? Como, enfim, ao falar ou escrever, tarefa quase impossível, e não interpretar o desejo feminino, mas sim torná-lo mais uma das forças desejantes de uma possível revolução molecular?

Para que os e as que me acompanham os meus pensamentos e divagações envio um texto-quase-bomba-afectiva, envio, quiçá, o que me demandam estes tempos tão pastorais e de novas repressões ou fanatismos. Envio um pouco de desmando, desmanche e desatino. Uma proposta de inverter e subverter todas as imposições que ainda recaem sobre um corpo-diferença que se tem tornado mais um corpo serializado na produção de Vidas Nuas.

A vocês, e aos que se sentem no feminino ao se deixarem tocar, envio estes DES-MANDAMENTOS, sem nenhum caráter oficial, macropolítico ou de cunho religioso. Pelo contrário peço que os leiam do fim para o começo, do meio para o depois, do hoje que já é amanhã para todas as mulheres daqui e do resto do mundo espetacularizado e sob controle.

Imaginem, como uma pré-visão, o Comando Central dos Exércitos dos Guardiões das Crenças e das Ilusões Masculinas promulgando uma série de des-mandos dirigidos às perigosas e, possivelmente, ameaçadoras (com certeza) mulheres que podem sabotar todas as imposições e todos os projetos de controle e de submissão de seus corpos femininos.

Eis alguns deles, como pura invencionice ou loucura:

1º - TODA MULHER não nasceu, não nasce e nem nascerá LIVRE!
Parágrafo único – Por isso e mais aquilo, por serem, por decreto das biopolíticas e psicobiologias, consideradas o oposto e a falha binária, é que urge afirmar todas, incontestavelmente, LIBERDADES... Caminhando nas estradas abertas contra todas as ‘MARCHAS RÉS’, principalmente aquelas que usam sempre o discurso instituído da defesa da família, seus falsos Estatutos, ou aquelas que reificam e glorificam Impérios, Estados ou divindades neo-capitalistas.

2º TODA MULHER não teve, não pode ter e não terá um verdadeiro “corpus” político!
Parágrafo único – portanto caberá a todos os votantes-que-não-votam, mas pensam que sim, o dever de lhes assegurar, não só no cenário e palco oficial, as suas múltiplas formas de exercício da Política, com participação inebriante no que chamamos de VIDA /POLÍTICA...

3º TODA MULHER, principalmente o que chamamos de “mulherzinhas perigosas e desviantes”, pode e deve, como no passado e nas Histórias, ser considerada uma VIDA NUA!
Parágrafo único – ao serem assim catalogadas e destituídas de suas humanidades, vistas apenas como seres biológicos, sob uma visão criacionista ou fascista, precisam ser/ter os seus ÚTEROS E SEUS CORPOS sob proteção inestimável, já que são e serão os maiores “focos” e “fogos” de re-existência possível, portanto, não se poderá prendê-los, negociá-los, trafica-los, comercialmente ou como cobaias, nos novos e sutis “campos de concentração das novas subjetividades assujeitadas”, inclusive pelas MEDICINAS BIOTECNOCRÁTICAS. Não poderão, a partir desta data, inclusive para o olhar psi, VIR A SEREM consideradas seres mal-castrados ou de castração possível.

4º TODA MULHER E TODAS AS MULHERES, inclusive aquelas que frequentam a Escola de Safo, NAS NOVAS ILHAS DE EDUCAÇÃO SÓ PARA CORPOS FEMININOS, será monitorada e VIGIADA, individual e coletivamente, COM O USO IRRESTRITO das câmeras e dos monitores, de seus desvios  ou DI-VERSÕES SEXUAIS!
Parágrafo único – como tal, dentro da nova FALSA FILOSOFIA que se baseia nos TONS, todas as MULHERES SEMPRE MENINAS devem E DEVIR SÃO, desde os seus berços, serem educadas e ensinadas sobre sonhos libertadores, ou melhor, sobre as infinitas possibilidades dos seus corpos, desde suas vaginas até as suas mentes divertidas, para além das funções e funcionalidades permitidas aos seus úteros visíveis. Devem ser alertadas, previamente, de que o CINZA SOLITÁRIO, SEM OUTRAS CORES OU SABORES, TENDE SEMPRE PARA A MORNO-TONIA VITAL, mesmo quando lhe aplicamos o molho SAZON-MASOQUISTA. Lembrar que nestas portas que se querem sempre escancaradas aos poderes masculinos, jamais foi possível impor, inclusive pelo medo ou temor, a suposta castidade, os cinturões e os vetos ao gozo e ao prazer.

5º TODA MULHER E MULHERES NÃO TERÃO acesso igualitário, assim como sua permanência e sucesso, aos espaços (inclusive os inacessíveis), sejam públicos ou privados, aos cargos, funções, status, e, principalmente, ao que já se naturalizou como O PODER MASCULINO!
Parágrafo único – tais, como gênero, assim catalogadas, dito feminino, podem e poderão ULTRAPASSAR os muros e barreiras, visíveis e invisíveis, INCLUSIVE AS MURALHAS DA CHINA, quando lhes propiciarmos , não a equiparação,  mas também os seus direitos aos sonhos e suas inerentes poesias corporais, aquelas que desmontam quaisquer das forças que lhes oprimem. Todas terão direito ao LETRAMENTO, das letras, das ideias, das críticas, das artes, das ÉTICAS e das mulheridades impossíveis.

6º- TODAS AS MULHERES OU MULHER, sejam singulares ou se pretendam plurais, são e serão INTERDITADAS, baseando-se em suas condições humanas de “menores” e por suas "IN-CAPACIDADES” inatas, e, cientifica e religiosamente, reconhecidas ”mundialmente”, assim como por alguns LEGISLADORES e EVANGELIZADORES DA CONSERVAÇÃO, COMO TARAS E DEFEITOS HEREDITÁRIOS. Passados de mães para filhas desde os tempos de EVA E LILITH.
Parágrafo único – ÁS MENINAS, tão fisicamente diferentes dos meninos e outras orientações, principalmente às que nasceram ou nascerão nos chamados locais de minorias ou marginalidades, deve e deverá ser garantido o exercício libertário dos desafios aos limites e limitações, sejam estas VISÍVEIS (impostas) ou IMAGINÁRIAS (resultantes da colonização de seus corpos e inconscientes). E se tornem DES-OBEDIENTES, ALGUMAS DES-VAIRADAS, OUTRAS DES-LUMBRANTES E A MAIORIA DES-MONTADORAS DEMOLIDORAS DE MITOS, PRECONCEITOS E ESTIGMAS.

7º- TODA MULHER, NASCIDA e assim determinada pela LEI, será acompanhada, como uma mercadoria valiosa ao Estado, desde seu berço, família, crenças ou ideologias, a fim de impedir DESVIOS MORAIS OU FUGAS PARA FORA DOS TEMPLOS E TEMPOS OFICIAIS!
Parágrafo único – às SUBMETIDAS, a estas judicializações e vigilâncias, será garantido, além da defesa, o prazer de transgredir e de violar quaisquer das PRÉ-DETERMINAÇÕES sobre o VIVER e a sua EXPANSÃO CARTOGRÁFICA e RIZOMÁTICA, com rompimento de todos os parâmetros, latitudes ou longitudes dos mapas pré-fabricados pela Sociedade do Espetáculo e do Controle.

8º- TODA MULHER deve e deverá obedecer a DISCIPLINARIZAÇÃO de seus corpos e de suas mentes/imaginários!
Parágrafo único – como há falhas nessa afirmação de suas condições de falta e não-falos, a elas será estimulado o alegre descobrir de suas MULTIPLICIDADES e SINGULARIDADES, incentivando as suas desmontagens dos papéis  e da identidades do Mesmo e das falsas igualdades.

9º-TODAS AS MULHERES NÃO terão re-conhecidas as suas potencialidades, para além dos já delimitados espaços domésticos e domesticados, sob o risco e riso da desconstrução do RESPEITO À HONRA dos homens pré-fabricados como “MACHOS”!
Parágrafo único – sabedores da permanência dessa fabricação, agora por meios mais eficientes e sutis, em especial pela midiatização do Viver, às mulheres será permitido ousar quebrar os tabus e as tábuas bíblicas, assim como algumas das cadeiras de ferro a elas destinadas pela HISTÓRIA OFICIAL e sua HISTORIOGRAFIA.

10º- TODA MULHER, ASSIM CONSIDERADA, deve não deixar de SER MULHER, PADRONIZADA E OFICIALIZADA, segundo os Princípios de todas as burcas e todas as algemas ideológicas das SOCIEDADES DO CONTROLE E  DA ORDEM, e, lógico, do PROGRESSO!
Parágrafo único e a ser demolido – como TODAS AS MULHERES trazem em si muitas outras, e algumas são e serão sempre OCULTAS E SECRETAS, a elas deve ser facultado o aprendizado das DIFERENÇAS e das PLURALIDADES, tornando obsoletos e descartáveis, não seus corpos, agora não mais VIDAS NUAS, todas as formas de IMPOSIÇÃO DA NUDEZ autorizada pelo Capital e pela Capital. TODAS AS FORMAS DE DES-MANDAMENTOS, aqui inventados ou sonhados, SERÃO QUEIMADOS EM PRAÇA PÚBLICA, assim como na Santa Inquisição, nos fascismos e nos diversos fundamentalismos APERFEIÇOADOS. E NÃO SERÃO MAIS REPRODUZIDOS, POR QUAISQUER MEIOS OU MÍDIAS, EM ESPECIAL PELAS REDES ONDE IMPERAM OS BOATOS, A INFÃMIA, A CALÚNIA E A DISTORÇÃO. E, como finalidade, RETIRAR O ESTIGMA DE FEITIÇARIA E BRUXARIA DOS CORPOS FEMININOS, que ELAS possam inverter sua posição, todas as posições, e continuar nos dando nossas impotentes ilusões de PODER...

Os e as que aqui se manifestarem poderão encontrar, de minha parte, como corpo autorizado pelo modelo/gênero masculino em nós naturalizado, uma “brutal e inconsciente” REVOLTA E REPRESSÃO afinal ter de se reinventar e desconstruir é quase uma tarefa, humana, IM-POSSÍVEL. E as POLÍCIAS DO PENSAMENTO, MESMO DISFARÇADAS DE LIVRE COMUNICAÇÃO, continuam e continuarão a nos castigar. E as multidões, como fogueiras, poderão vir, elas são ditas ou ditadas no feminino...

E, eu, um simples proclamador desses des-mandamentos também quero descobrir os outros CINQUENTA que  SE TORNAM DES-TOANTES das NORMAS E DAS NORMALIZAÇÕES sobre o viver... Se possível ainda CONTAMINADO E CONTAGIADO pelo MISTÉRIO e pelo INSONDÁVEL QUE É SER E ESTAR MULHER.

Copyright/left – jorgemarciopereiradeandrade 2015-2016 (favor citar o autor, no masculino, em todas as republicações livres pela Internet e outras formas de midiatização, inclusive as hipócritas, para as massas que não serão multidões. TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Para LEITURAS CRÍTICAS
Sobre a história dos feminismos – O SEGUNDO SEXO- Vol. 1 FATOS E MITOS e Vol. 2 A EXPERIÊNCIA VIVIDA – Simone de Beauvoir, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, 1980.

Sobre nossas tonalidades e des-coloridos afectivos e sexuais – SACHER&MASOCH – O frio e o cruel, Gilles Deleuze, Zahar Editores, Rio de Janeiro, RJ – 2009.

Sobre novas cartografias e suavidades do Feminino – CARTOGRAFIA SENTIMENTAL – Transformações contemporâneas do desejo, Suely Rolnik, Ed. Estação Liberdade, São Paulo, SP, 1989.

SOBRE O PERSONAGEM DE QUADRINHOS – MAFALDA - Conheça 'O Mundo Segundo Mafalda' em exposição gratuita e interativa (até 15 de março) em SP - https://catracalivre.com.br/sp/agenda/gratis/conheca-o-mundo-segundo-mafalda-em-exposicao-gratuita-e-interativa/

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O MARTELO NAS BRUXAS – COMO “QUEIMAR”, HOJE, AS DIFERENÇAS FEMININAS? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/11/o-martelo-nas-bruxas-como-queimar-hoje.html


sábado, 8 de março de 2014

MULHERES PODEM SE TORNAR DEVIR, NÃO SÃO E SERÃO UM DEVER....

Imagem publicada – fotografia que fiz da capa da Revista Caros Amigos, de novembro de 2004, há quase 10 anos atrás, quando Cecília Maria Bouças Coimbra, então presidente do Grupo Tortura Nunca Mais RJ, concedeu uma entrevista que recebeu a manchete: “Abram os arquivos da Ditadura”, na qual ela já pedia o exercício de uma busca da memória e da história do Brasil. Ela afirmava, então: “Nunca se chegou publicamente a dizer: - ‘o Estado foi terrorista’ e o Estado covardemente assassinou, sequestrou, desapareceu com corpos.”. Muitos desses corpos eram de mulheres, como Sônia Stuart Angel, que acreditavam na re-existência feminina à qualquer forma de totalitarismo, mesmo que isso implicasse no risco de suas próprias vidas. Afirmaram o quanto é preciso de coragem e determinação na defesa de direitos humanos, nos quais se incluem, hoje, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Hoje, para além das conquistas legais, muitas ainda terão de lutar pelos seus direitos...

Mulheres, como lembrar, para homenagear, o que significa um ser, um gênero, uma diferença humana, singularidades que nem mesmo Freud ousou decifrar?

 Lembrar, então, de modo mais simples e nada profundo, que já houve, como vida, na existência de qualquer um a presença feminina. Indecifráveis. Elas..., mães, singulares mulheres de todos e todas...

Eu, aqui, recentemente recuperei uma histórica e importante presença delas que me povoa e alicerça. Reencontrei uma velha reportagem da revista Caros Amigos, de 2004. Nela, relembrei, afetuosamente, uma antiga companheira de lutas: Cecília Coimbra.

Ela, na época contava sua história pessoal e de seu ativismo político, revelando a ‘caixa-preta da Ditadura’, mas também a dura experiência de seus porões e seus torturadores, a serviço de um Estado terrorista e de exceção.

Passei um tempo a refletir sobre mulheres que, para além da Ditadura, persistem na direção oposta do retrocesso histórico. Estiveram como Cecílias, caminhando, sem marchar militarescamente, para se tornarem devir e, por isso, continuam questionando os “deveres” impostos à condição feminina.

Reencontrei-me, também, com meu tempo de ‘bendito o fruto’(embora não ‘abençoado’ e único) em um grupo majoritário de mulheres. Fui, na minha memória já falha, de volta ao criativo e pensante grupo de mulheres do Núcleo. Estas “psis”, psicólogas e psicanalistas, que desejavam uma Klínica para além das instituições oficiais.

Sim, um núcleo dissidente destas instituições, nos anos 80 para os 90. O Núcleo Psicanálise e Análise Institucional. Foi lá que pude me aproximar de alguns conceitos que me nutrem até os dias de hoje. Foi, então, com as minhas amigas de debates e de buscas instituintes, que tentei entender o significado do “devir-mulher”.

Esta possibilidade pequena, sensível e diferenciada, a partir da leitura de Deleuze e Nietzsche, e, suavemente, com Suely Rolnik e Felix Guattari, que nos obrigava muitas outras grandes e profundas leituras, muitos outros caminhos à moda de Heráclito. Nada era totalmente conhecido, nossos passos conjuntos criavam e inventavam novos passos, novos caminhos, novas veredas. Novas interrogações sem certezas.

O devir-mulher, assim como outros devires (devir-animal, devir-invisível, devir-molécula,...), é uma resultante de seres que estão em permanente e intenso fluxo. Constroem-se, a partir de alianças onde há uma suavidade e amizade, alianças afetivas que fazem sempre escapar das políticas de identidades.

Fazem também escapar do modelo de dever ser mulher ou homem. O dever de estar de acordo com o desejo de um Outro onipresente, aquilo que foi chamado de falocracia. Um modelo machista, que também pode atingir e contaminar o corpo feminino, quando este fica tão próximo do poder e da violência.

Os pensadores Brucker e Finkielkraut nos interrogam ao afirmar que: “... homens e mulheres, vocês acreditam estar falando, a nova linguagem da liberação, mas ainda há muitos obeliscos em seus fantasmas,..., vocês são objetivamente culpados da Cârencia (falta) que se acreditam subjetivamente isentos...”.

Os filósofos, mais que os psicanalistas, têm nos advertido da permanência do falocentrismo. A sua invisível presença, já o disse antes, se faz com as macropolíticas enrijecedoras e castradoras ao mesmo tempo. Não bastará termos ‘presidentas’ ou ‘senadoras’. Ainda mais quando se tornam ‘damas de ferro’ ou sósias da solidão do poder.

Revi, estes dias, o filme “Hannah Arendt”, de Margareth Von Trotta,  pude ver na história da filósofa e suas ideias o quanto é possível esse devir-mulher superar quaisquer dos deveres impostos ao feminino. Foi lendo seus textos sobre os riscos de nossos fascínios pelos modelos totalitários, que encontrei esta possibilidade. A sua leitura da violência é fundamental.

Ao lembrar-se da lúcida Cecília e das outras amigas ficou mais claro ainda que não poderemos silenciar a História dos Anos de Chumbo no Brasil. Como nos diz Arendt: “...Não há dúvida de que é possível criar condições sob as quais os homens são desumanizados – tais como os campos de concentração, a tortura, a fome -, mas isso não significa que eles se tornem semelhantes aos animais...”.

Não há raiva e revisionismo em quem foi torturado, como esta amiga, há é uma indignação quando “há razão para supor que as condições poderiam ser mudadas, mas não o são’’. E não serão as marchas retrógradas, com ou sem a Família, que trarão o regime e o pavor militar como solução final para o Brasil.

Lá, nos tempos nuclêicos, como gosto de lembrar estes encontros rizomáticos, aprendíamos que o devir-mulher, como parte de nossa luta libertária para não reproduzir os jogos de poder, nos poderia criar/inventar possíveis novas subjetividades ainda não capturadas pelas formas de existir do hipercapitalismo.

Essas amigas eram implicadas, de corpo e ‘alma’, com outras lutas, nos mais diversos espaços, da Universidade aos consultórios privados. Como Cecília Coimbra, com o Grupo Tortura Nunca Mais. Essas mulheres me mostraram, também, que não há e nem pode haver a dicotomia entre a nossa micropolítica e nossos desejos de trans-formação do mundo.

Fiquei e ficarei, portanto, com as suas marcas indeléveis, suas novas suavidades, suas poéticas lembranças e uma indestrutível amizade e cumplicidade, para além do Tempo.

Hoje, quando reflito ou assisto esse novo mundo dito líquido moderno, vejo e sinto a retomada de um corpo feminino que, do evangélico pastoral ao banal carnavalizado, ainda não rompeu com as correntes que podem aprisionar seus devires.

Por isso fui buscar as antigas companheiras, in memoriam também a que chamou afetuosamente de ‘capitão’ de nossa nau de insensatos corações, Maria Beatriz Sá Leitão, como alento e esperança para as mulheres a quem desejo um novo devir. Um novo mundo Outro, com os úteros como força transformadora de subjetividades capturadas e alienadas.

Somente as linhas de fuga, como diziam Guattari e Deleuze, podem romper os modelos binários e dicotômicos com o devir-mulher. Este devir não flui somente nas mulheres. Aliás, não deveria ser tomado como ‘privilégio’ ou ‘característica’ do feminino. A potência de criar vida está em todos os corpos. Sem a distinção sexista e binária de gênero masculino/feminino.

Em tempos de recrudescimento e de apologia da violência, tanto a social, com os justiciamentos e os racismos, assim como a do Estado, na criação de leis de ‘endurecimento’ contra manifestações populares, apelando para o autoritarismo e novas micro fascistações (os fascismos em nós), é a hora de apontar para novos devires.

Sós ou grupalizados, seres humanos afetados uns pelos outros podem, nas ruas, nas redes sociais, nos blocos ou em outros carnavais buscar como a Cecília, ao historicizar a relação entre a Psicologia e os Direitos Humanos, entender que “ é no nível das práticas cotidianas, micropolíticas, que podem estar alguns caminhos...”.  Segundo ela: “Aprendemos a caminhar neste mundo guiados por modelos. Estes nos dizem o que fazer e como fazer, ocultando sempre o ‘para quê fazer’...”.

Nessa homenagem a estas e todas as mulheres nos meus des-caminhos, como desejo de contaminar outras do desejo de novas cartografias, é que reafirmo Nietzche: - “Diz-se que a mulher é profunda- por quê? Se nela jamais chegamos ao fundo. A mulher não é nem sequer (ou se deseja) plana...”.

(A todas as outras ‘nuclêicas’: Cecília, Ana, Heliana, Tânia, Janne, Denise, Azoilda, Regina(s), Elaine, Leila, Maria Cristina, Isabel, Vera, Zelina, Kátia, Maria Lúcia, Ana Lúcia, Andréa, Cristina, Lília (terna parceira de ideias e textos, na dupla pós-68), e às outras que a Dona Memória não me permitiu recordar, envio, hoje, amanhã e no por vir meu mais doceabraçocomdevirmulhersempre...
E, como docelembrança, ficará para sempre Maria Beatriz Sá Leitão no coração do seu ‘capitão’ da Nau das Insensatas).

Copyright/left –jorgemarciopereiradeandrade 2014/2015 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação coma as massas. TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Cecília Maria Bouças Coimbra - Psicóloga, professora adjunta da Uff (Universidade Federal Fluminense), Pós-doutora em Ciência Política pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, Ex-Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, Ex-presidente da Comissão de Direitos humanos do Conselho Federal de Psicologia.

ALGUMAS LEITURAS CRÍTICAS INDICADAS –

Micropolítica. Cartografia do desejo: Felix Guattari & Suely Rolnik, Petrópolis, Ed. Vozes, 1989.

Clio-Psyché/Paradigmas: Historiografia, Psicologia, Subjetividades – Ana Maria Jacó-Vilela, Antônio Carlos Cerezzo, Heliana de Barros Conde Rodrigues, Rio de Janeiro, Ed. Relume Dumará, Faferj, 2003.

A Nova Desordem Amorosa – Pascal Bruckner e Alain Finkenkraut, São Paulo, SP, Ed. Braziliense, 1981.

Revista Caros Amigos, Ano VIII nº 92, Novembro de 2004 – “Abram os arquivos da Ditadura” – Entrevista explosiva: Cecília Coimbra, do Grupo Tortura Nunca Mais.
Sobre a Violência – Hannah Arendt, 3ª edição, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Civilização Brasileira, 2011.

Crepúsculo dos Ídolos ou a Filosofia a Golpes de Martelo, F. Nietzsche, São Paulo, SP, Ed. Hemus, 1976.

PARA VER, ASSISTIR E REVER –

Hannah Arendt – Margarethe Von Trotta (atriz Barbara Sukova), Ano 2012: 

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sexta-feira, 8 de março de 2013

MULHERES, DIREITOS HUMANOS HOJE E SUA EXCLUSÃO, em tempos pastorais...


Imagem publicada - uma fotografia em preto & branco de minha autoria. Eu a fiz em uma esquina do centro de Campinas, perto de uma Faculdade de Direito, onde se lê como aviso de trânsito: PARE.  E, sendo colada, por algum cidadão ou cidadã, logo abaixo, as palavras: “de ser indiferente”. Um apelo, criativo, necessário e urgente: PARE DE SER INDIFERENTE.

“Trespasse as montanhas, em vez de escalá-las, escave a terra em vez de aplainá-la, abra buracos no espaço em vez de mantê-lo uniforme, transforme a Terra em um queijo suíço”. Gilles Deleuze e Félix Guattari (Mil Platôs – Mille Plateaux)

Há uma indiferença massificada para a afirmação de que somos des-iguais, quando se reflete sobre as condições da maioria das mulheres e seus Direitos Humanos. Temos, porém de reconhecer que nessa invenção do Século XX: os Direitos Humanos, ainda não aprendemos muito sobre o feminino e suas multiplicidades. Mas ficamos sabendo, impotentes, de suas violações e vulnerações.

Estive forçado pelas minhas limitações humanas, assim como por um triste olhar sobre como somos, como estamos e para onde caminhamos, in-diferentes, afastado do exercício desta necessidade e urgência de escrever.

Somente a minha própria re-leitura, olhando para o Feminino em nós, relembrando que o ÚTERO É O MUNDO E O MUNDO É UM ÚTERO, é que decidi me forçar a “pena” árdua de usar a pena, como diriam os que se escreviam as cartas de papel e tinta há alguns séculos atrás.

Os escritos indignados nem sempre trazem a força do que desejamos colocar ou expressar através deles.

Hoje, 08 de março de 2013, estamos vendo como é possível a “venda”, sob o modelo “utilitarista’’ do mundo capitalístico, aquilo que também pareceria invendável: os direitos humanos.

Uma venda que também pode ser dita como a mesma que impede a Justiça de enxergar claramente e “direito” os nossos direitos sendo aviltados... A mesma Senhora Vetusta que, por força desses vedamentos e pelo andar da carruagem da História do mundo, caminha a passos rápidos em direções mais destras do que sinistras.

Um pastor, que não é de rebanhos não dóceis, foi levado como oferta política para a condução dos Direitos Humanos e das MINORIAS, no Planalto Central. As Minorias, aquelas que se confundem com as marginalizações, foram excluídas em uma “eleição” a portas fechadas.

 E, para dentro de um espaço dito democrático, mesmo que com as portas e os ouvido fechados aos protestos, sob contenção, do lado de fora, o Deputado Federal Marco Feliciano foi “ungido” como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.

 Lá fora gritavam deitados no chão, os expulsos brasileiros e brasileiras: - NÃO PODEMOS CAIR NESSA CONTRADIÇÃO ESTATAL; UM RACISTA, UM HOMOFÓBICO NÃO TEM COMO SE DIZER E AFIMAR  UM DEFENSOR DESSES DIREITOS, AGORA, POR ELE BEM- DITOS: HUMANOS.  Assistimos a mais uma encenação, no ventre dos Poderes, forjada evangélica e macro politicamente

E, caros amigos e amigas, que me desculpem, se não entendi. O Pastor me/nos pede uma chance para provar sua capacidade de nos defender?

Estou nesses dias Marco Felicianos de Cristandades Falsas, embora descontente e indignado, refletindo e repensando como homenagear as mulheres.

O calor gerado pelas manifestações contrárias a este pastor, que não é de cabras não cegas, me fez desejar que a DOÇURA OU A FORÇA FÊMEA, incluída em nossos corpos e mentes, me possuíssem e reinstalassem meu desejo de outro mundo possível. Um mundo da afirmação de nossos devires-mulher.

Ficamos todos e todas, muito desiludidos? Talvez sim, no primeiro choque com a notícia. E, após uma reflexão das minorias como potências, NÃO. Somos cientes de que as alianças macropolíticas encenadas em nossas CÂMARAS, das municipais até as federais, sempre foram urdidas para a manutenção de uma ORDEM e de um PROGRESSO.

 Há e houve, entretanto, em nossa história democrática as criações de brechas, rachaduras moleculares e os rizomas, que espalhando indignação ou conscientização geram e geraram os pequenos furos sociais, as linhas de fuga, por onde a liberdade se instalou e pode ser vivenciada.

O dia 08 rememora as mulheres que cruzaram seus braços e decretaram que não mais iriam tecer ou fiar. Foi há mais de um século e meio, em Nova Iorque, na busca da sonhada igualdade de condições de trabalho e das horas de fiação sob o comando de homens.

As mulheres, com sua força para fiarem, tecerem e, como as Penélopes, desfazerem seus próprios tecidos, inclusive os mais fecundos de seus úteros, foram e são também as protagonistas políticas dessas re-evoluções nas quais nos prendemos e nos soltamos.

Hoje são elas, como vi recentemente no campo da Medicina, que passam a ser o a “maioria”. Porém permanecem, para além de sua crônica desqualificação trabalhista e profissional, alguns estigmas que nos fizeram e ainda fazem torná-las ainda bruxas ou feiticeiras.  Hoje inventamos fogueiras sutis e menos visíveis do que na Inquisição para “queimar” suas diferenças.

Os tempos digitais não descobriram o seu potencial feminino não analógico. Ainda somos mecânicos com elas. Ainda as violentamos em muitos países, em diferentes culturas, mas com as mesmas castrações e esterilizações.

Ainda, como Freud, em 1933, nos surpreendemos com as MULHERES e suas capacidades, para além da tecelagem de um tapete ou malha, feita por Anna Freud, sua filha-discípula e solteirona.  Segundo Sadie Plant: “Sigmund Freud fez a tentativa final de solucionar o enigma da feminilidade...”. 

Ele escreveu “que as mulheres só deram umas poucas contribuições às invenções e descobertas da história da civilização...”. Porém, foi uma de suas analisandas, a analista Marie Bonaparte, que lhe salvou a pele diante do nazi-fascismo a peso de ouro de Napoleão Bonaparte.

Como diriam Guattari e Deleuze, o pai da Psicanálise se manteve apenas preso a um “olhar edipiano”, reducionista e até ridículo sobre as mulheres, inclusive as que formavam os primordiais círculos psicanalíticos. Mas o doutor Freud era do Século XIX.

As mulheres, diriam os dois anti-edípicos e visionários pensadores franceses, são muito mais rizomáticas, relvas que se espalham, do que árvores com uma única e sedentária raiz fixada ao chão, masculino e machista. São Gaia, são Terra.

 “Um rizoma não tem começo nem fim; está sempre no meio, entre coisas”. As relvas, as epífitas, as samambaias e os bambus, que não respeitam territórios fixos, não têm raízes, mas rizomas.

Podem crescer e se multiplicar subterraneamente, assim agiram Emma Goldman, Rosa de Luxemburgo, Zuzu Angel, Sonia Moraes Angel, e muitas outras guerreiras ou revolucionárias. São, foram e serão sempre “subversivas”.

 Elas estão mais próximas das Folhas das Folhas da Relva do poeta Walt Whitman, que em sua orientação sexual divergente já as elogiava e reconhecia como as dobras das quais, desdobradas, vinham e virão nascer os grandes homens.

Nascemos delas, delas ainda, todos e todas, descenderemos. E não será um processo de serialização por reprodução assistida em laboratório que as descartarão em futuro próximo. O seu útero ainda é sua maior, inigualável e insubstituível força. Até mesmo quando tentamos castrá-lo, mesmo que virtualmente.

Por isso, temos de buscar essas Mulheres Digitais e Mãe-trix que nos superarão para o futuro. Isso se não forem reprimidas, violentadas, condicionadas e aprisionadas em nossos modelos binários e binarizantes de macho e fêmea.

O Pastor ainda funciona nessa visão estreita e preconceituosa – homem é homem, índio é índio, negro é negro, mas os homo-sexuais não são e serão além de coisas aberrantes e anormais, também coisas demoníacas...

Como algumas mulheres. E o casamento entre diferenças pode ser o fim da humanidade. Para impedir essas aberrações só a família, com a mulher como propriedade do homem, pode combater e reprimir esses desviantes ou diferentes seres.

Somos e continuaremos sendo, humanamente e demasiado, muito além das limitações a que nossos séculos de doutrinações, sejam políticas, ideológicas, religiosas ou mesmo científicas, tornaram redutíveis às nossas superfícies biológicas e sexuais.

Não podemos esquecer, por Deleuze e Guattari, que o Estado e seus mecanismos de controle biopolítico agem por conversão dos fluxos moleculares e desinstitucionalizadores em segmentos molares, novas instituições.

Portanto, não estranhemos que entreguem os Direitos Humanos para quem os viola. É a reterritorialização estatal de nossos potenciais e desejos de revoluções micropolíticas e moleculares. Os discursos sobre estes direitos não mais os efetivam, apesar de serem interdependentes, sem ativa participação das chamadas minorias.

A maior profundidade que podemos atingir não passa de nosso maior órgão do corpo humano: a pele. Por isso devemos combater, todos os dias, essas pregações de cunhos fundamentalistas e de gênero.

Somos múltiplos, como as mulheres, somos plurais e podemos ser muitos e muitos Outros em apenas um de nós mesmos. O poeta Pessoa não me deixa omitir ou negar.

E, docemente, peço que não reduzam esta afirmação ao seu cunho apenas de prosa ou poesia, pois é sim “poesis”.

Afirmemos o sentido de poesis como geração, ou melhor, gestação, de muitas formas de Vida, para além da visão de Vidas Nuas. Façamos os resgates que o Feminino Plural deve tomar em suas mãos e corpos para que a trans-formação de nosso mundo continue em marcha e evoluindo. O Futuro está nas mãos e corpos das filhas, das filhas das filhas de minhas filhas...

Destas que herdarão o que semearmos agora, seja em direitos ou em exclusões e miséria, é que devemos esperar, para além do modelo reality-show da Sociedade do Espetáculo, a construção de outra “gramática civil”, outra indispensável liberdade e cidadania. Outros caminhos, outras veredas e cartografias do viver e re-existir.

Copyright/left, a destra e a sinistra, jorgemarciopereiradeandrade 2013=2014 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de massa. Todos os direitos reservados 2025...)

LEITURAS INDICADAS NO/PARA ALÉM DO TEXTO E DO CONTEXTO –

MIL PLATÔS  Capitalismo e Esquizofrenia - Gilles Deleuze & Félix Guattari – Editora 34, Rio de Janeiro, RJ, 1995-1997.leia resenha em 

MULHER DIGITAL – O FEMININO E AS NOVAS TECNOLOGIAS – Sadie Plant, Editora Rosa dos Ventos, Rio de Janeiro, RJ, 1999.

LEIA(m) TAMBÉM NO BLOG –

OS DES(Z) MANDAMENTOS DO CORPO FEMININO https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/03/os-desz-mandamentos-do-corpo-feminino.html

O MARTELO NAS BRUXAS – COMO “QUEIMAR”, HOJE, AS DIFERENÇAS FEMININAS?

MULHERES SANGUE E VIDA, PARA ALÉM DE SUA EXCLUSÃO HISTÓRICA.

TODO ÚTERO É UM MUNDO.

EUGENIA, COMO REALIZAR A CASTRAÇÃO E ESTERILIZAÇÃO DE MULHERES E HOMENS COM DEFICIÊNCIA?