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segunda-feira, 1 de abril de 2013

AUTISMO – TODOS PODEMOS SER/NOS TORNAR UM POUCO AZUIS?


Imagem publicada –  uma rosa azul, apenas uma rosa, considerada diferente, única, singular e "artificial",  que não é como todas as outras rosas, apenas diferenciada pela sua cor, com um fundo verde das plantas consideradas "normais", porém que também poderão um dia  se tornarem azuis... Uma rosa como a da minha Parábola da Rosa AZUL, imersa e escondida dentro de um outro mar de rosas... vermelhas, que chamamos: a Vida.

O FIO VERMELHO QUE PODE  SE TRANSFORMAR EM AZUL
"O mito diz que os deuses prendem um fio vermelho no tornozelo de cada um de nós e o conectam a todas as pessoas cujas vidas estamos destinados a tocar. Esse fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir."

O texto acima é parte de uma lenda chinesa Segundo essa lenda, que versa sobre o Destino, somos todos conectados por um fio vermelho, amarrado ao tornozelo, àquela pessoa a qual estamos destinados: nossa “alma gêmea” ou “par ideal”.

E, para as pessoas com diferenças notáveis tenho a certeza de que necessitamos do Outro, também diferente e diverso, que o/nos re-conheça e a ele se conecte afetiva e afetuosamente. Há, a partir dessa visão da lenda, acontecimentos que não podemos pré-determinar, porém há acontecimentos que nos pré-determinam.

Estava pensando e refletindo sobre o que escrever. Então, aparece, há alguns dias atrás, em um programa da TV o Kiefer Sutherland.  A sua presença me chama a atenção para o programa de Jonathan Ross Show. Porém os poucos minutos da entrevista que vejo me levam ao tema que pensava. Ele fala da série que aborda o Autismo: TOUCH.

Touch é uma série televisiva que foi apresentada na Fox. É a história de um menino autista e seu pai (Kiefer Sutherland).  A série foi apresentada no ano passado. O menino, em seu autismo, tem a capacidade de ver o passado e prever o futuro, porém como autista não consegue usar nossas formas de comunicação.

Na trama desse seriado está o fio vermelho. No centro da cena está Martin Bohm (Kiefer Sutherland), viúvo e pai solteiro, martirizado pela impossibilidade de se comunicar com Jake (David Mazouz), seu filho autista, de onze anos.

Ele precisa de números para se expressar. Precisa de uma matemática única e singular. Na história criada o pai muda seu comportamento quando descobre que Jake possui um incrível e especial dom para ver coisas e padrões que ninguém mais consegue.

Nas nossas vidas, no mundo real muitas vezes esta estória virou história...

 Foi aí que o filme sobre Temple Grandin me retorna com sua forma de construção do pensamento através de imagens, assim como as incompreensões que teve de vencer. Há muito cinema e muitos filmes ou documentários sobre os autismos...

Como ela que é uma singular história real, o ficcional menino Jake nos diz da importância de deixar-se tocar muito mais do que achar que devemos tocá-los. Uma máquina do abraço como a de Grandin, pode vir a ser mais confortável do que uma aproximação física forçada por nós.

Ao buscar essa série encontrei o meu fio da meada. O fio azul que me ligou longo tempo à questão e experiência do autismo. É preciso ser tocado, ser afetado pelo mundo diferente de uma pessoa com autismo. E o meu tornozelo, primeiro médico e depois humanizado foi sendo amarrado às interrogações sobre o que chamo, no plural, de nossos autismos.

As interrogações se misturam às minhas vivências, que já escrevi sobre elas em tempos remotos de minha prática clínica. Há, porém, interrogações que nascem de novos conhecimentos e novos conceitos. Já disse que precisamos dos novos paradigmas para quebrar e romper com nossos pré-conceitos que se enraízam.

O DIA MUNDIAL DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O AUTISMO é hoje uma data consagrada. Hora de pintar o mundo e nossas ideias e, principalmente, nossas ações de AZUL.

 É uma boa oportunidade para desmitificar os milhares de preconceitos que foram construídos sobre quem vive com este transtorno, ou melhor, essa “neurodiversidade” afetivo-comportamental.

Sim, a compreensão do novo conceito de Diversidade junto com a necessidade do respeito às singularidades e diferenças é que, hoje, pode nos ajudar a desestigmatizar todos os comportamentos e “doenças” ligados ou decorrentes das noções, políticas e científicas, de “cérebro” e “mente”.

As neurociências vêm ganhando terreno na construção de um novo determinismo: o cerebral. E, a partir, deste estão surgindo as resistências a ver em um sujeito com autismo apenas uma condição neurobiológicamente determinada.

Os próprios autistas de alto desempenho, chamados “aspies” vêm, desde 1999,afirmando que todos os cérebros, independentemente de suas limitações, são belos. Para eles não há somente cérebros “normais”.

Ficam muito próximos do que reivindicaram as pessoas com deficiência com os Estudos Culturais sobre as Deficiências  com a criação do chamado modelo social há muitos antes. Vejam aí a construção da semente do chamado “orgulho autista”.

Os que defendem essa posição desestigmatizadora, que rompe com a modelização biomédica e neurológica, dizem que as neurodiversidades, nas quais se incluiriam os autismos, constituem formas diferenciadas de cada sujeito de revelação de suas capacidades, incapacidades e funcionalidades, principalmente as cognitivas.

Estes defensores se esforçariam para que possamos “re-conceituar” os autismos, saindo da noção já consagrada dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento e do espectro autista. Eles têm um movimento mundial que tem por principais objetivos:

  1  - Reconhecer que as pessoas com neurodiversidade não são “doentes”,  portanto não necessitam de uma “cura”;

   2  -  Portanto, as terminologias médicas e nomenclaturas de “distúrbio, transtorno e/ou doença”, principalmente com a ideia comum de  gravidade e isolamento total, devam ser modificadas;

   3 Com essa ruptura dos termos e conceitos afirmarem, como já foi feito pelas pessoas com deficiência, o direito ao reconhecimento de novos tipos de autonomia, o direito à Vida independente;

   4  - Apoiados nessa mudança de paradigmas, já incluída em novos marcos legais como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas Com Deficiências, passarem ativamente a participar do controle, com apoio dos familiares e da sociedade, das formas de tratamento a que querem e devem ser submetidos, inclusive qual será a sua duração.

Hoje temos a notícia de uma primeira iniciativa internacional de afirmação dessas neurodiversidades apoiadas na/pela Convenção. Um jovem com Asperger no México reivindica o seu direito a não ser tutelado e questionou junto á Suprema Corte a constitucionalidade da lei que o considera um incapaz. Ele não quer, como muitos outros Ricardos ou Marias, para além do México, serem mantidos e considerados como “menores de idade”, portanto tuteláveis.

Então, utilizando esse conceito de “neurodiversidade” é que interrogo no título deste texto homenagem sobre a possibilidade de todos nós também estarmos tão AZUIS como aqueles que pretendemos diagnosticar, tratar ou limitar como autistas.

Há em todos nós também o “fio azul” que nos aproxima de nossas próprias formas de isolamento, incomunicabilidade, dissociação da chamada realidade, e, em seu extremo, de nossas próprias e singulares “loucuras”.

Há quem se utiliza dessa afirmação para falar de um novo movimento anti-psiquiátrico nos subterrâneos dos que defendem as neurodiversidades. Há, porém, que datar e contextualizar essa tentativa de um outro olhar, uma outra escuta sensível e um outro modo de se deixar “tocar’’ pelo fio vermelho do tema Autismos. Novos tempos, novos conceitos contra velhos preconceitos.

Os tempos atuais, que denomino “pastoriais”, têm trazido para o debate as retomadas que buscam o conservadorismo nas práticas e nas ciências. Estamos em tempos de enfrentamento dos que acreditam que os hospitais, as internações, as clínicas especializadas são as únicas formas de tecnologias do cuidado e atenção para com os autistas, assim como para com outros que possam estar nesses campos de intervenção médico-reabilitadora.

Aprendi há muitos anos atrás como é provocador de emoções o contato, o convívio e a vivência de um sujeito com autismo. Experimentem os que apenas os viram nos filmes ou leram acerca dessa proximidade tão contagiante...

Portanto, mesmo que em mim persista o conhecimento científico e os muitos anos que foram dedicados à Medicina, ainda devo tentar ir além da visão que reduz os autismos e aos seus diversos sujeitos à condição de uma síndrome. Tenho o dever ético e bioético de buscar essa nova compreensão e diálogo com o movimento de defesa dos direitos das pessoas com autismo.

O seu “orgulho” nos fará ir mais uma vez em direção aos Estudos sobre Deficiências, e na minha humilde visão ir além do que os nossos conhecimentos padronizados que nos afirmam e garantem. Um sujeito com autismo não é apenas peça da ficção dos diversos filmes já realizados sobre o tema. Uma pessoa com autismo é também um UNIVERSO que no DIVERSO afirma que nossos fios continuam emaranhados.

E hoje é apenas um dos muitos dias que teremos de alinhavar com fios azuis novos laços sociais em prol da sua singularização, autonomia, diversidade e, mais ainda, dos seus direitos humanos e sua inclusão em todos os espaços, como as escolas regulares, e outros bens sociais.

 E o laço azul se entrelaçará, definitiva e vivamente, com o nosso fio vermelho...

Copyright/left – jorgemarciopereiradeandrade 2013-2014 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de massa - TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

FONTES E INDICAÇÕES PARA LEITURA NA INTERNET-

O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade  Francisco Ortega https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132008000200008

Neuro diversity

Neurociências: na trilha de uma abordagem interdisciplinar

INDICAÇÕES PARA LEITURA E CRÍTICA –

Deficiência, Direitos Humanos e Justiça – Debora Diniz, Lívia Barbosa & Wenderson Rufino dos Santos – SUR - https://www.surjournal.org/conteudos/getArtigo11.php?artigo=11,artigo_03.htm
s

Caponi S, Verdi M, Brzozowski FS, Hellmann F, organizadores. Medicalização da Vida: Ética, Saúde Pública e Indústria Farmacêutica. 1ª Edição. Palhoça: Editora Unisul; 2010.

PARA VISITAR, NAVEGAR, ASSISTIR E REFLETIR

TEMPLE SITE OFICIAL GRANDIN - https://templegrandin.com/

Baixar - TEMPLE GRANDIN - DVDRIP - RMVB LEGENDADO https://www.omelhordatelona.biz/genero/drama/1002-temple-grandin.html

Autism in the movies – Autismo nos filmes - https://www.imdb.com/list/0sigYQ1Icp0/

TOUCH – TV Fox – Série https://www.canalfox.com.br/br/series/touch/


LEIA(M) TAMBÉM NO BLOG –


O AUTISMO NÃO É APENAS UMA DOENÇA

AUTISMO: O AMOR É AZUL?

ORGULHOS ´MÚLTIPLOS' - no combate a todos os preconceitos https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/06/orgulhos-multiplos-no-combate-todos-os.html


MATÉRIAS PUBLICADAS NO INFONOTÍCIAS DEFNET (algumas) –

ASPERGER/AUTONOMIA - Jovem mexicano reivindica afirmação de sua autonomia legal Jovem com síndrome de Asperger luta contra a lei que o incapacita no México https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/04/aspergerautonomia-jovem-mexicano.html

AUTISMO - LEI 12.764/2012 equiparação e inclusão Brasil cria política de proteção à pessoa autista https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/01/autismo-lei-127642012-equiparacao-e.html

AUTISMO/INCLUSÃO ESCOLAR - Rompendo com preconceitos/medos nas escolas  É preciso perder o medo mútuo entre escola e autistas  https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/02/autismoinclusao-escolar-rompendo-com.html

AUTISMO - A lei "Berenice Piana" entra em ação ESCOLA QUE SE RECUSAR A MATRICULAR AUTISTA SERÁ PUNIDA https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/01/autismo-lei-berenice-piana-entra-em-acao.html

Ufam desenvolve software para auxiliar crianças autistas, em Manaus https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/02/autismo-software-amazonense-ajuda.html

Escolas regulares de AL não são preparadas para receber autistas https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/03/autismoinclusao-escolar-em-alagoas-pais.html

AUTISMO/PESQUISAS - Universidade Federal de São Carlos lança revista especializada https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/03/autismopesquisas-universidade-federal.html

AUTISMO/PESQUISAS - Estudo nos EUA desmitificam vacinas como causa de Autismo Novo estudo nos EUA descarta vínculo entre vacinas infantis e autismo https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/03/autismopesquisas-estudo-nos-eua.html

Neurocientistas identificam área cerebral relacionada ao autismo https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2013/02/autismopesquisas-identificada-area.html

DESINFORMAÇÃO: ASPERGER NÃO É PSICOPATIA! Discurso de psicóloga no Faustão indigna mães de autistas e especialistas https://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2012/12/desinformacao-asperger-nao-e-psicopatia.html
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

ASPERGER, UMA SÍNDROME DE MENTES BRILHANTES OU NÃO?


Imagem Publicada - A capa da Revista Ciranda da Inclusão, nº22, outubro 2011, escrito Incl em azul, com o U sendo representado por duas figuras, e São em rosa. Tem a foto de uma criança que ilustra o tema principal deste número: A síndrome de Asperger, que traz sob seu título: a Revista do Educador. À direita indica os temas da revista: Asperger, como um transtorno do espectro autista, Deficiência Visual - espaço é referência no ensino do sistema Braille,Juntos pela Inclusão - Assistência Especializada faz a diferença. No rodapé traz as imagens de encartes grátis em Braille. São fotos de uma das maiores diversidades da natureza: as flores e suas múltiplas formas e cores que tanto nos encantam. Aquelas que nunca nos excluem ou decepcionam, principalmente se são cuidadas com carinho e amor.

ASPERGER OU NÃO ASPERGER? normal ou a-normal?

Em confirmação das possibilidades de ir além com as pessoas com e sem deficiência reproduzo o texto sobre Síndrome de Asperger que foi publicado na edição de Outubro da Revista Ciranda da Inclusão, após sua edição, e que reafirma a necessidade de sua inclusão social e escolar, indo além de qualquer noção de anormalidade ou normalidade.

Excentricidade. Uma palavra que poderia resumir o que é vivenciado e sentido pelos que são diagnosticados com a Síndrome de Asperger. Primeiramente por sua condição de inclusão no amplo espectro das síndromes autísticas. Depois por estarem em um diagnóstico que afirma uma possibilidade ambígua tanto de inclusão como de exclusão. Sim são, ou tornam-se, pessoas excêntricas, se considerarmos os nossos padrões rígidos da chamada ‘’normalidade’’.

Mas não ficam fora do centro apenas por suas diferenças. Eles também ficam em situação de um ‘’mundo’’ próprio e com muitas singularidades. Eis seu maior risco ou possibilidade de sofrimento: o isolamento social. Mais ainda sua estigmatização.
As pessoas que recebem este diagnóstico são incluídas nos Transtornos Globais do Desenvolvimento.

São as que apresentem distúrbios, não evolução ou desenvolvimento alterado nos campos das habilidades sociais, da comunicação e, da linguagem. Podem, por suas singularidades, serem, como os demais autistas, ser excluídos ou segregados, por exemplo, no campo educacional. E, hoje, sua condição reconhecida de ‘’alto funcionamento’’ intelectual pode ser melhor abordada pela educação inclusiva.

O que diríamos se nos fossem apresentados algumas mentes brilhantes, seja nas ciências, nas artes ou nas filosofias, que foram e são colocados sob o diagnóstico de Síndrome de Asperger?

Foram assim “diagnosticados, postumamente, alguns ‘‘gênios”, como Mozart, Einstein, o compositor Bela Bartók, o músico Glenn Gould ou o filósofo Wittgenstein. Restará nos perguntarmos eram: Asperger ou não Asperger, eis a questão?

O próprio Dr. Hans Asperger, criador do termo é descrito, em sua infância, com algumas das características, sintomas ou peculiaridades que são motivo de diagnóstico de Asperger. Ele foi um pediatra austríaco que denominou um quadro inicialmente denominado de ‘psicopatia autística infantil’, em 1944. Ele observou quatro crianças em sua clínica que tinha dificuldade de integração social.

Embora com uma inteligência considerada, á época, normal estas crianças tinha uma dificuldade de empatia, com desvio do olhar e o encarar aos outros. E eram consideradas grosseiras em suas comunicações. Ou seja, tinham alterações de comportamento social e de seus interesses.

Somente em 1981, a psiquiatra infantil britânica Lorna Wing denominou esta perturbação como Síndrome de As¬perger, em homenagem ao insigne pediatra vienense. Esta entidade faz parte das perturbações globais (ou pervasivas, do inglês pervasive, sem tradução consensual para português) do desenvolvimento.

Os estudos de Wing foram, então, popularizados e difundidos amplamente. A síndrome só veio a se tornar uma ‘’enfermidade’’ em 1992, quando foi incluída na 10ª edição do Manual de diagnósticos da OMS (Organização Mundial da Saúde), a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), e em 1994 foi agregada à DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o livro de referência diagnóstica da Associação Psiquiátrica Americana (EUA).

Em contraposição à esta visão diagnóstica surgiram, alguns anos depois, os movimentos criados pelos próprios portadores da Síndrome. Eles fundamentados nos Estudos sobre Deficiência, questionando a patologização de suas ‘’excentricidades’’ comportamentais, como a chamada ‘’cegueira mental’’, que os faz terem um maior distanciamento denominar de ‘’Aspies’’ e, reforçando sua singularidade, conectam-se via internet, afirmando que todos os ‘’cérebros são lindos’’, apesar de suas diferentes formas de funcionamento e cognição.

Sabemos hoje que o espectro autístico é multifacetado, e, dependendo das condições onde se encontram as pessoas assim diagnosticadas, os seus distúrbios de desenvolvimento serão mais bem compreendidos, cuidados e respeitados seus direitos. Mas há que reconhecer que nem sempre nossos ‘’aspies’’ estão e estarão nos mesmos ambientes socioeconômicos e familiares que os ajudem a superar suas vulnerabilidades.
Em recente pesquisa desenvolvida na USP apontou-se que faltam estudos dedicados sobre adolescentes que apresentem um quadro do espectro autístico.

Segundo o levantamento da Profª Fernanda Dreux M Fernandes, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Usp, dos 3.065 artigos publicados em revistas internacionais e nacionais sobre fonoaudiologia e autismo, apenas 56 versam sobre adolescentes, sendo somente 03 artigos brasileiros. E dos 1.356 estudos referentes ao autismo, só 43 eram sobre adolescentes.

Sabe-se que entre 1% a 1,5% da população mundial apresenta características relacionadas com o espectro do autismo. Daí ter a preferência pessoal de me referir ao autismo no plural, ou seja, vivenciam-se múltiplos, heterogêneos e plurais transtornos ou distúrbios do desenvolvimento. Não há o autismo e sim os autistas. Cada um com uma forma singular e única de desenvolvimento de suas dificuldades nas áreas de socialização, linguagem e comunicação, assim como em atividade imaginativa e cognição.

Hoje sabemos que os chamados Aspies são possíveis ‘’mentes que brilham’’, apenas no escuro, quando nós, dito normais, não compreendemos seu ‘’brilhantismo’’ obsessivo por determinados temas ou assuntos. Por se tratarem de modos de funcionamento neuro-cognitivo hiper diferenciado, e, principalmente, por seu relacionamento com o mundo ‘’normal’’, tornam-se mentes que se ofuscam ou podem ser ofuscadas pelo seu enquadramento nosológico, como uma ‘’doença’’.

Não devemos apenas enquadrá-los no campo dos transtornos invasivos do desenvolvimento, pois que enquadrados, de forma reducionista e simplista, como uma das formas de Autismo, deixam os que têm baixo funcionamento intelectual como uma extremidade. Não serão, portanto reconhecidos em suas diferenças, respeitados em suas singularidades, mas homogeneizados nas formas de tratamento ou ‘’cura’’.

A interrogação que nos trazem os mais recentes filmes e documentários sobre a Síndrome de Asperger, podem nos ajudar a formular uma interrogação sobre estas múltiplas formas de ser e estar com a SA: toda mente Aspie é brilhante?

Esta pergunta nos foi primeiramente apresentada, em 1988, pelo filme Rain Man. Nesta obra ‘’brilhante’’ de Barry Levinson, temos o astro Dustin Hoffman com um desempenho digno e fidedigno do que uma pessoa com ASPERGER, em tom maiúsculo, pode vivenciar. Ele é o irmão institucionalizado para o qual o irmão, considerado normal, interpretado por Tom Cruise, se volta na busca de uma partilha de herança deixada por seu pai.

Mas o mesmo brilhante Aspie que consegue dizer, com precisão, quantos palitos de fósforo estão dentro de uma caixa, torna-se um sujeito incapaz de reconhecer-se amando e sendo amado em outras cenas do filme. Recomendo que assistam esta película, pois ela é contemporânea dos anos de ‘’descoberta’’ e diagnose das Síndromes de Asperger. E aviso que o brilhante ator não deverá ser tomado como um padrão para todos os ‘’aspies’’.

Há os que têm comprometimentos que não lhes permitem uma real socialização ou mesmo uma efetiva inclusão social. Para estes é que uma distinção e diferenciação diagnóstica poderá vir a ser uma solução para que sejam cuidados e respeitados em seus direitos fundamentais, em especial o da inclusão escolar e a sua não vulneração social.

Outro filme que nos mostra uma das múltiplas facetas da Síndrome de Asperger é Adam, de Max Mayer. Nele um jovem com Síndrome de Asperger é um vizinho apaixonante de uma jovem professora. É uma história sobre as possibilidades e os entraves para a ruptura do isolamento que a síndrome pode provocar. Os isolamentos apontados no filme são principalmente, pela perda paterna, pois o personagem vive como um adulto solitário, como seu trabalho obsessivo, e suas persistentes fixações na vida social.

É um jovem obcecado por estrelas, pelo Universo e pelos planetários, mas que precisava de uma pessoa, capaz da empatia e do apaixonar-se, para a tentativa de rompimento de sua tele-visão do mundo que o cercava, alguém disposta para ensinar/aprender a amar a diferença.

Melhor ainda para compreender e se questionar sobre o brilho das mentes aspies é o filme, quase documentário, sobre Temple Grandin. Este filme exibido pela HBO na TV ganhou o Emmy de 2010, e retratou com fidedignidade uma mulher que se tornou emblemática para a Síndrome de Asperger. A atriz Claire Danes consegue nos mostrar o quanto precisamos aprender sobre a sua ‘’máquina do abraço’’, uma criação de Temple Grandin para o alívio de suas tensões e angústias diante das relações com outros seres humanos. A história é verídica e mostra todos os percalços e barreiras impostas a quem vive em um mundo autísticamente distanciado.

A própria Temple nos ensina: “Você não sabe que a maneira que você pensa é diferente até que você começa a questionar as pessoas sobre como você pensa”. Ela é hoje uma doutora universitária, que aplicou a sua máquina do abraço no processo de mudança do abate cruel do gado. O filme é merecedor dos prêmios pelo despertar de uma outra visão sobre quem vive com a síndrome.

Portanto temos de responder que nem todas as mentes ‘’ASPIES’’ devem ser, mesmo cinematográficamente, vistas como brilhantes. As suas capacidades e habilidades merecem ser reconhecidas, mas as possibilidades de apresentarem as alterações do espectro dos autismos é muito grande.

Um estudo realizado sobre sua visão e compreensão sobre a Morte é um bom exemplo. Em pesquisa realizada no Instituto de Psicologia da USP, por Leticia C. Drummond Amorim, sobre o conceito de morte em indivíduos com o espectro autístico, e, em especial, na Síndrome de Asperger, onde os pesquisados revelam que para eles a morte é vivenciada de modo impessoal e concreta.

Eles a interpretam de uma forma literal, e, caso quando comparados com pessoas com deficiência intelectual, estes se diferenciam pela forma estereotipada e formal de conceituar a morte e o morrer.

O que não podemos perder de vista e de reflexão é que ambos, tantos os ‘’aspies’’ quanto as pessoas com deficiência intelectual, para além de suas limitações ou habilidades, devem ser reconhecidos como cidadãos de direito, como pessoas que podem ter fragilidades maiores que a média dos outros sujeitos, do ponto de vista evolutivo, porque sua dificuldade pode ser a compreensão do pensamento dos outros, tornando-se mais vulneráveis.

Lembrem-se, portanto, que há os diagnósticos, principalmente para as crianças com alterações graves de comportamento, linguagem ou de interação social dentro do espectro dos autismo(s). Há porém um grupo que tem afirmado que: Every Brain is Beatiful (Toda Mente é bela), com um cérebro multicolorido que vem sendo utilizado no Dia do Orgulho Autista. Nesse dia alguns autistas norte-americanos, em 18 de junho de 2005, afirmaram: “Não nos tratem como ‘’doentes’’.Somos diferentes, sim. Mas não precisamos de remédio ou de cura, mas de uma chance de sermos nós mesmos...”

Enfim, tendo a atualização de sua nova constituição legal, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto 6949/2009), devem ser mais que mentes que brilham ou se ofuscam, são, em uma sociedade igualitária, diferenças e diversidades do modo humano de ser e estar. São, enfim, mais que um diagnóstico, um rótulo ou um estigma, e, com equiparação de suas oportunidades, podem brilhar, mesmo que singelamente, cada um a sua própria luz.


copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 (favor citar o autor em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025)

Meus textos sobre Autismo – Blog INFOATIVO.DEFNET

Um Autista pode vir a ser um Artista da água-
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/04/um-autista-pode-vir-ser-um-artista-com.html

Orgulhos ‘múltiplos’ – no combate a todos os preconceitos
-https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/06/orgulhos-multiplos-no-combate-todos-os.html

A Terra é Azul e o Autismo também -
https://infoativodefnet.blogspot.com/2011/03/terra-e-azul-e-o-autismo-tambem.html

FILMES sobre a Síndrome de Asperger
• RAIN MAN – (1988) Filme de Barry Levinson - 1988 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rain_Man
• ADAM – (2009) – Filme de Max Mayer
• http://caminhosdoautismo.blogspot.com/2011/02/filme-adam-2009-sindrome-de-asperger.html
• TEMPLE GRANDIN (2010) – Filme de Mick Jackson
http://caminhosdoautismo.blogspot.com/2010/05/temple-grandin-o-filme-download.html


VIDEOS SOBRE ASPERGER na INTERNET

Mary&Max – desenho animado (dublado)
Max escreve uma carta a Mary depois de anos sem mandar notícias devido ao seu problema de saúde, que logo saberia que é Síndrome de Asperger
https://www.youtube.com/watch?v=6iNcAOoeXwY&feature=related

LIVROS sobre a Síndrome de Asperger
Autismo e Morte – Letícia C. Drummond Amorin – Ed. Rubio, Rio de Janeiro, RJ, 2011.
Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperger – estratégias práticas para país e profissionais – Chris Williams e Barry Wright – Ed. M. Books do Brasil, SP, 2008.

Indicação de ARTIGO
DEFICIÊNCIA, AUTISMO E NEURODIVERSIDADE – Francisco Ortega
https://redalyc.uaemex.mx/pdf/630/63014108.pdf

LINKS – Faltam Estudos sobre adolescente do espectsro autista
https://www.usp.br/agen/?p=69341

REVISTA CIRANDA DA INCLUSÃO

https://www.principis.com.br/revistainterativa/Mainm_ciranda.php?MagID=3&MagNo=4