*(imagem descrita - foto da capa do livro EU SOU ATLÂNTICA sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento de Alex Ratts - com seu rosto em preto e branco pela metade)
ORI - Como fazer a cabeça com Beatriz Nascimento
IN MEMORIAM
Ás vésperas do Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, relembrando Zumbi dos Palmares, também me relembrei de uma amiga: Maria Beatriz Nascimento (1942-1995), de quem tive a intensidade e o afeto como seu interlocutor-aprendiz, no ofício de seu cuidado como psicanalista.
Aprendi com ela o que realmente foram os Quilombos, mais ainda acerca de nossa 'africanidade' e sua negação, com ela aprendi a respeitar e reconhecer muitas das questões ligadas à noções de 'raça' e gênero.
Ela que se dizia 'atlântica", realmente muitas vezes se tornou um verdadeiro Atlas em seu desejo de transformar o mundo, muito embora fosse impossível carregá-lo nas costas. Foi sua implicação irrestrita com a vida e com o Outro que a levou a uma defesa de uma mulher, e, covardemente, ser assassinada em 1995, pelas costas, por um homem que agredia a sua amiga em um bar do bairro Botafogo, no Rio de Janeiro.
O revelador e analisador de um resgate histórico sempre foi uma das lições que melhor pude aprender ao intervir/aprender com esta mulher, principalmente por sua negritude inquieta e inquietadora. Já dizia meu velho Freud: "as pedras falam"..., por mais que as soterremos.
Ela nos deixou um depoimento vivo, e agora podemos aprender novamente. Em 2009 foi relançado em formato de DVD de seu histórico transformado em filme: ORI (1989 - 131 min.), dirigida pela socióloga e cineasta Raquel Gerber.
Este documentário, em longa metragem, nos traz, a partir de um roteiro de Beatriz, a sua história entrelaçada com a 'africanidade' que se imbrica com a própria história de nossa Terra Brasilis.
Ori, o filme nos documenta os movimentos negros brasileiros, de 1977 a 1988, com imagens e textos desta historiadora, militante e intelectual, tendo como fio condutor a .sua própria história pessoal, de Sergipe ao Rio de Janeiro, passando por outros locais, que tem nos quilombos a sua ideia e eixo central. Foi ela que me apresentou a inter-relação datada e contextualizada, entre as favelas e os quilombos como territórios existenciais da resistência cultural e étnica.
Recentemente reencontrei-me com Beatriz Nascimento através do exercício estético do cinema. Assistir Ori é um exercício transoceânico, para quem trouxer e reconhecer em si nossas origens africanas. É preciso, para além de atitudes intolerantes ou preconceituosas, afirmar a presença de nossa 'mama África', como nos diz Chico César em sua música.
Para quem quiser conhecer um pouco da VIDA intensa e rica de Beatriz, assim como de seus textos, sugiro um passeio no site do Géledes, Instituto da Mulher Negra: https://www.geledes.org.br/beatriz-nascimento/, onde sua trajetória no cenário do movimento negro, assim como dedicada estudiosa, com real implicação, do papel dos quilombolas e da necessidade de resistir à pasteurização e a homogenização dos que 'fugiam da escravidão e do trabalho forçado', muitos dos que ainda compõem uma massa de brasileiros e brasileiras.
Há pessoas que acreditam que um dia para comemorar o dia da Consciência Negra, seja um estímulo à segregação ou à discriminação, da mesma maneira como negam a necessidade ainda das ações afirmativas para a defesa daqueles que compõem uma população ainda sob discriminação étnica, desfiliação, desigualdades, mantida preconceituosamente como uma 'raça' negra. A todos e todas lembramos que: a verdadeira libertação e consciência de que não foi em Maio, nas lutas dos abolicionistas, assim como nas mãos e pena de uma princesa e sua Lei Áurea, que se desencadeou o verdadeiro processo de cidadania e reconhecimento histórico-político dos negros e sua negritude no Brasil. Por isso em novembro o dia 20 é muito mais revolucionário que o dia 13 de maio.
Beatriz Nascimento, era Maria, era uma mulher, mãe e também uma negra, que mesmo machisticamente assassinada continuará VIVA. Devido à sua transatlancidade africanizada, continuara a 'fazer a minha cabeça' (ORI), em uma inversão mantida do que se espera, reducionista e naturalizadamente, do papel de quem se arriscou colocar-se no lugar e função de analista desta 'história-corpo-transcendente e pura cartografia humana'.
Ela merece, para resgate de sua memória, que Ori possa ser exibido como uma aula-cinema para todos os que ainda pensam ser melhor continuarmos negando nossas africanidades e o lugar do Negro na construção de nossa História.
Pela potência Zumbi que transversaliza nossas vidas...
(copyright jorgemarciopereiradeandrade 2009-2022/2024 - ad infinitum, todos direitos reservados)
Sugestões para leitura e reflexão:
O Negro no Brasil de Hoje - Kabengele Munanga & Nilma Lino Gomes , São Paulo, SP, Global, 2006.
O que é Colonialismo? Coleção Cadernos de Ciências Sociais - coleção dirigida por Carlos Serra (In Memoriam) - Dos Colonialismos aos Pós e Neo-colonialismos - Jorge Márcio Pereira de Andrade , Escolar Editora, Lisboa, Portugal, 2019.
ALGUNS DADOS SOBRE A DESIGUALDADE ÉTNICO-RACIAL NO BRASIL:
O BRASIL foi último país a abolir a Escravidão. Trouxemos 04 milhões de africanos para a escravidão na nossa colonização.
O Brasil é o maior país do mundo em população afrodescendente, fora do continente africano ...
"Formam mais de 79 milhões de homens, mulheres,crianças. Formam a segunda maior população negra do mundo - atrás apenas da Nigéria. Representam 46% dos brasileiros (sem contar os pardos). Transbordam nas áreas pobres. São quase invisíveis no topo da pirâmide social (vejam fala recente da representante da Alta Comissaria da ONU para os Direitos Humanos que afirmou: "Milhões de afro-brasileiros e indígenas estão atolados na pobreza e não têm acesso a serviços básicos e a oportunidades de emprego"- novembro de 2009). E enfrentam uma desvantagem quase monótona nos indicadores socioeconômicos: do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) à taxa de analfabetismo; do desemprego ao salário médio; das condições adequadas de saneamento ao acesso doméstico à Internet." (Flávia Oliveira, IETS, O Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
IMAGEM PUBLICADA *(é importante a descrição para leitores e visitantes cegos) - Capa do livro EU SOU ATLÂNTICA -sobre a trajetória de BEATRIZ NASCIMENTO - autor Alex Ratt- com o retrato em preto&branco de Beatriz - Livro publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Instituto Kuanza.
veja o DOCUMENTÁRIO em - https://www.youtube.com/watch?v=qexH85cYfK4
InfoAtivo.DefNet - Nº 4304 - Ano 13 - 19 de NOVEMBRO de 2009.
LEIAM TAMBÉM NO BLOG -
QUAL É A SUA RAÇA? Nada a Declarar https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/11/imagem-publicada-uma-foto-em-preto-e.html
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Não se discute que existe racismo, corrupção,bandidagem e um grande número de mazelas na sociedade.Devemos enfrentá-las pelo cumprimento das leis e pela educação do povo.
ResponderExcluirNo episódio me questão , jovens universitário agrediram um cidadão e pelo que parece , além da violência física , praticaram o crime de racismo.Terão que responder judicialmente e esperamos que recebam as penas previstas na legislação.
Existem leis para proteger os cidadãos e não me parece adequado é que se estimule o que a própria lei coíbe ; a separação entre as pessoas , as dividindo por raças e propagando e estimulando uma tal de consciencia negra, a consciência branca, os afro-descendentes, os euro-descendentes e uma série de propostas de divisão racial da sociedade, entre elas, os "tribunais raciais universitários para cotas".
Somos todos iguais perante a lei e quem se desviar , por racismo, violência, corrupção e etc, deverá responder por seus atos e ponto final.
OBS :Espero que neste blog não haja censura e só se publique o se considera "favorável" pois se assim for, irei procurar um espaço democrático.
É muito bom, saber que Beatriz não foi esquecida,pois parte dos avanços,discussões e debates relativos ao negro no Brasil prioncipalmente dentro das universidades na década de 70 se deve a ela.
ResponderExcluirO afeto de suas palavras devolve um pouco de Beatriz para quem a conheceu.
Cláudia Magalhães ( Eternamente GTAR)
Cara Claudia seu comentário chega em um momento muito importante para todos os que conheceram e foram "tomados" AFETIVAMENTE por Beatriz, pois estamos no mês de ZUMBI, que espero nos faça refletir sobre o futuro de todos os brasileiros e brasileiras, negros e negras, que em homenagem a ela devem continuar acreditando nas suas potencialidades.... um abraço doce e cheio de Ori e aXÉ
ResponderExcluirBeatriz ou simplesmente Betinha uma Historiadora que conhecíamos anos 70 e testemunhei sua militância Negra Revolucionária! Amiga da Neuza Santos
ResponderExcluirBeatriz Nascimento, querida! Altiva, encantadora e brilhante!
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