IMAGEM PUBLICADA - um grupo crianças agrupadas em uma escola mostram alguns golfinhos feitos de papel multicolorido, estão sorridentes, e, quem sabe, empáticos, após uma aula sobre as relações que são nutridas pelos golfinhos, baseadas na Empatia, em sua capacidade de viver e aprender em grupalidade sobre a construção de um respeito às diferenças e aos seus semelhantes. Um caminho que ainda estamos trilhando no mundo globalizado em busca da reinvenção do Outro e o re-conhecimento do mesmo.
Tudo em tudo
Cada homem em todos os homens
Todos os homens em cada homem
Todos os seres em cada ser
Cada ser em todos os seres
Toda distinção é mente, pela frente, na mente, da mente
Sem distinção não há mente para distinguir. (Laços, Ronald Laing, 1970
Hoje acordei com as minhas dores, aliás dormi com elas apenas um pouco. Logo ao acordar já apresentei a minha filha a solução de uma tarefa escolar do dia anterior. A Isadora recebeu como lição de casa desenvolver uma ideia que envolvesse a "criação científica" de uma tecnologia ou recurso que NÃO existe ainda. Além disso teria de desenhá-la e explicá-la, em texto livre, de como funcionaria este invento. O objetivo seria que esta tecnologia pudesse ajudar uma pessoa no dia a dia ou nosso planeta. Eu lhe sugeri a criação de uma "máquina da empatia".
A Máquina da Empatia já passeia na minha mente há muitos anos. Em 2005 tive a honra de fazer uma conferência no XV COLE (Congresso de Leitura do Brasil, da ALB), com uma apresentação de um artigo: TELEPATIA, EMPATIA, ANTIPATIA: POR ONDE CAMINHAMOS NAS TRILHAS DA DIFERENÇA. Nessa ocasião disse serem "três palavras ao léu ou três movimentos que podemos realizar no tabuleiro das relações humanas, quando nos aproximamos/afastamos do Outro? Este encontro de três palavras nos empurra na direção de uma encruzilhada de labirintos teóricos e de práticas ligadas aos sujeitos e à diferença".
Tenho de retomar meu discurso de 2005, e, como no texto sobre a Violência nossa de Cada Dia, me sinto ainda mais futurista, pois ainda precisamos, urgentemente, de: "...para além das hecatombes e violências do cotidiano precisamos buscar um 'metadiálogo’, ou seja uma conversa acerca deste problemático caminhar nas trilhas da diferença em um tempo de homogeneização e de produção serializada de subjetividades"
Meus caminhos pela estrada do empatizar são antigos... Vem da Psicanálise. Para o psicanalista vienense, Heinz Kohut, o termo EMPATIA é indispensável ao exercício da psicanálise. Em 1959 publicou um artigo que enfatizou o papel do narcisismo e da empatia na teoria e na clinica psicanalítica. Ele alinhavou algumas aquisições no desenvolvimento das formas de narcisismo que vivemos e da integração de personalidade de um sujeito.
Ele alinha como outras aquisições indispensáveis a criatividade dos homens, seu senso de humor e sua capacidade de encarar a sua própria transitoriedade, enfim de saber e reconhecer-se finito e mortal, atingindo a integração e “superar nosso narcisismo inalterado”, aceitando e reconhecendo nossas limitações físicas, intelectuais e emocionais.
E, transversalizados por esta máquina inovadora e renovadora, mais empáticos, quem sabe, até nos tornemos um pouco mais telepáticos e menos televisivos.
UM METADIÁLOGO COM A POÉTICA DIFERENÇA DO FOGO
Filha – em Empédocles, o filósofo grego, pré-socrático, aquele do Etna?
Pai – é aquele que nasceu no século V antes de Cristo, que segundo o Dicionário Oxford de Literatura Clássica, era: filósofo e cientista natural de Acragás (Agrigento), na Sicília...; pertencia a uma família abastada e ilustre, e, segundo constava, foi-lhe oferecido várias vezes o trono de sua cidade, mas o filósofo recusou-o... era um gênio extremamente versátil, e interessou-se pela biologia, pela medicina e pela física (deve-se lhe a descoberta de que o ar é uma substância, distinta do espaço vazio)...
Pai – Ele nos ajudará a entender que podemos, segundo a sua filosofia, tentar reconciliar a percepção dos fenômenos cambiantes com a concepção lógica de uma existência imutável subjacente...
Filha – Como ele chegou a esta ideia?
Filha – É aí que ele afirma a existência de forças antagônicas, como nós entendemos o que chamamos de AMOR x ÓDIO?
Pai - Sim, não apenas como antagônicas, mas muito próximo do que os filósofos do TAO chamaram de yin e yang, com a CONCÓRDIA disputando com a DISCÓRDIA, construindo, destruindo e reconstruindo infinitamente...
Filha – Mas pai, o que afinal tudo isso tem a ver com aquela conversa metadialógica sobre a Telepatia, a Empatia e a Antipatia?
Pai – para esta resposta teria que ter tido a ousadia de Empédocles que se atirou no vulcão Etna, e, segundo Bachelard, em seus “fragmentos para uma poética do fogo”: Empédocles é uma das maiores imagens da poética do aniquilamento. No ato empedocliano, o homem é tão grande quanto ao fogo. O homem é o grande ator de um cosmodrama verdadeiro...!”
Filha – Então o que teremos de fazer é nos deixarmos levar pelo fogo essencial que há dentro de todos nós. Mas a chama que me abrasa é a mesma que abrasa o cerne de todos os outros? Seria isso que nos fez ficarmos próximos apenas quando acendíamos o fogo há milênios, e diante dele nos colocávamos em roda, invertendo, nesse preciso momento, nosso temor de sermos tocados pelo Outro?
Pai – quem sabe a poesia do Lawrence possa nos ajudar? Posso lê-la?
Filha – melhor seria se nos empatizarmos com ele, mas pelo menos poderemos nos forçar a sermos transmissores de sua poética do fogo, aquele poema em que ele diz ser “mais profundo que o amor...”, o fogo primordial ... conectado ao ingnoscível fogo mais remoto de todas as coisas...
Por que é que as pessoas não param de ser amáveis
Ou de pensar que são amáveis, ou de querer ser amáveis,
E passam a ser um pouco elementares?
Como o homem é feito de elementos, do fogo, chuva, ar e barro
E como nada disso é amável
Mas elementar,
O homem não pende inteiramente para o lado dos anjos...
DH Lawrence
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _
Laing, R. D ( 1982). – Laços – Petrópolis, Editora Vozes.
Kohut, Heinz, Self e Narcisismo (1984) – Rio de Janeiro, RJ – Zahar Editores
Bachelard, Gaston ( 1990) – Fragmentos de uma poética do fogo – São Paulo, SP – Editora Brasiliense.
Lawrence, D. H ( 1985) – Poemas ( edição bilíngue do centenário) – Rio de Janeiro, RJ – Editora Alhambra.
Leia também no Blog:
A Inclusão Escolar ainda usa fraldas?
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/07/inclusao-escolar-ainda-usa-fraldas.html
Um Pedaço de Giz na Tela Digital
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/10/um-pedaco-de-giz-na-tela-digital-dia.html
Direitos Humanos como questão para a Educação Inclusiva https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/05/imagem-publicada-uma-foto-de-tres.html
As Massas, as Águas, As Florestas e as Nossas Violências - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/03/as-massas-as-aguas-as-florestas-e.html
Aos que buscam como tirar as fraldas do processo de inclusão escolar envio a minha sugestão de que promovam "metadiálogos" provocativos em seus relacionamentos mais próximos, bem antes de levá-los às salas de aula, pois os nossos narcisismos das pequenas diferenças começam, primordialmente, e ainda na intimidade de nossos territórios afetivos ...
copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2010-2011 ad infinitum após 2021 (favor citar o autor e as fontes em republicação livre pela Internet, todos direitos reservados...)
Laing, R. D ( 1982). – Laços – Petrópolis, Editora Vozes.
Kohut, Heinz, Self e Narcisismo (1984) – Rio de Janeiro, RJ – Zahar Editores
Bachelard, Gaston ( 1990) – Fragmentos de uma poética do fogo – São Paulo, SP – Editora Brasiliense.
Lawrence, D. H ( 1985) – Poemas ( edição bilíngue do centenário) – Rio de Janeiro, RJ – Editora Alhambra.
Leia também no Blog:
A Inclusão Escolar ainda usa fraldas?
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/07/inclusao-escolar-ainda-usa-fraldas.html
Um Pedaço de Giz na Tela Digital
https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/10/um-pedaco-de-giz-na-tela-digital-dia.html
Direitos Humanos como questão para a Educação Inclusiva https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/05/imagem-publicada-uma-foto-de-tres.html
As Massas, as Águas, As Florestas e as Nossas Violências - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/03/as-massas-as-aguas-as-florestas-e.html
Querida amigo, parabéns! Seu texto lindo pela força que tem! Novamente suas palavras me emocionaram e cativaram! Sou grata pelo grande conhecimento que me proporciona a refletir sempre! Continue firme! Gosto e te admiro muito! Já estou com saudade... Até os próximos encontros em 2011. Forte abraço! Leandra.
ResponderExcluirQuerida Leandra
ResponderExcluirOBRIGADO mais uma vez pelo estímulo vindo de uma jornalista e ativista de Direitos Humanos, que me "empurra" cada vez mais na direção da escrita e a difusão de minhas idéias, emoções e sentimentos EMPÁTICOS... que nossos encontros continuem sendo multiplicadores e sempre alegres. um doceabraço jorgemarcio
Doutor, realmente é preciso parar para pensar no outro, para se colocar no lugar do outro, debtro desta sociedade que corre e vive sem viver...
ResponderExcluirMas esse narcisismos de acharmos que somos sempre melhores e, portanto, superiores, às vezes nos caga.
O caminho é longo, mas ainda há de se conseguir galgar novos aavnços interiores, um dia.
Um abraço
Olá amigo Jorge Marcio, passei por aqui para dizer que seu blog é muito interessante!
ResponderExcluirEspero poder sempre ter o previlégio de ler sua postagens, pois p mim vejo como um aprendizado!
Muito obg espero que siga tbm os meu blogs!
bjs
Cara MALU
ResponderExcluirObrigado pelo comentário sobre a necessidade de uma parada para pensar e repensar nossas relações e o convivío com as alteridades humanas... agradeço se estimular seus amigos e amigas na tentativa de multiplicação da máquina da empatia, tanto o texto como a ação... um abraço doce jorge
Caro Expresso
ResponderExcluirEspero que sua velocidade permita uma visitação e apreciação dos meus textos, bem como a difusão dessas idéias... irei visitar seu trabalho. Agradeço por se tornar mais um seguidor do blog. um abraço doce e online jorge
Só li agora e gostei muito da abordagem! Mas existe algo na máquina da empatia que me incomoda.
ResponderExcluirCARA Preciosa Turmalina
ResponderExcluira MÁQUINA é apenas um meio de proposta utópica de nossas trans-formações humanistas e filosóficas, como não foi ainda produzida, diga-nos sobre seu incomodo e poderemos aprimorar nossos futuros dispositivos ou ferramentas para a construção de novas cartografias... um doceabraço
Como a "Máquina do Abraço" de Temple Grandin, a "Máquina da Empatia" curaria muitos de nossos problemas.
ResponderExcluirParabéns pela feliz abordagem.
Cara MARIZA HELENA
ResponderExcluirobrigado pela comparação com a criação de Temple Grandin, mas ainda não conseguimos "montar" nossas máquinas da Empatia, precisamos de um elemento fundamental: a reinvenção do Outro...e cada um pode "inventar" e recriar a sua... venha sempre ler e comentar, bem como difundir estas idéias para um Outro Mundo Possível. um doceabraço
Estou encantada com seus textos e a proposta desse blog tão simpático. Voltarei sempre. Sua proposta de disseminar a empatia me cativou...
ResponderExcluirCARA ZEZE
ResponderExcluirTambém me encanto com a Empatia e agradeço a sua visita e seu elogio, espero que ao voltar encontre novidades e novos caminhos para que possamos aprender, cada dia mais, a nos tornar mais empáticos e solidários... um doceabraço jorge
Jorge Marcio,
ResponderExcluirExcelente. Fiquei encantado com seu blog.Parabéns! Com simplicidade e sabedoria, nos brinda com conhecimento e reflexão.
Paulo Cesar
E-mail:pecegons@terra.com.br
Blog: www.psisurdos.blogspot.com
Caro Paulo
ResponderExcluirespero que seu encantamento possa ser multiplicado por muitos e muitas amigas no no Novo Ano e que possa continuar ajudando a aumentar a esperança de um outro Mundo Possível... ONDE A EMPATIA SEJA UMA CONSTANTE e máquina mais que uma invenção... um doceabraço
jorge marcio
eu parabenizo voce e desejo que você possa contagiar, mais e mais pessoas e mais pessoas possam ser como você!! Vou ler todos os t[opicos com muita atenção e carinho. amei....
ResponderExcluircara Denise
ResponderExcluiro que seria ideal é que o contágio seja de VIDA em alteridade, ou seja contra a mesmice e a identificação acrítica, por isso desejo que sejam "meus semelhantes", mas totalmente singulares e sui generis em suas essências humanas... obrigado por sua leitura carinhosa. um doceabraço
Belíssimo texto, parabéns Dr. Jorge Marcio.
ResponderExcluirJorge, adorei a idéia da máquina da empatia! Comigo sua filha, Isadora, já tiraria logo um dez! Criativa e inspiradora idéia! Disseminar a empatia é um grande passo a favor da inclusão e nos faz refletir sobre o nosso egoísmo.
ResponderExcluirParabéns pelo blog. Adorei
Minhas palavras são sempre tão óbvias para agradecer pelo prazer que me proporcionas ao ler teus textos. Mereces se mais divulgado. Mais gente tem de saber de ti e provar de teu saber e elegância ao escrever. Abraçograto!
ResponderExcluirAgradeço sempre pelos seus textos,um aprendizado nesta vida tão corrida e que com estes textos sempre nos revigora,sempre nos dá ânimo para termos fé nesta vida!
ResponderExcluirObrigado!
Que lindo texto,importante, inspirador, muito útil, desses que fazem renascer das cinzas qualquer alminha encolhida nas sombras.
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