quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SEREMOS TRANSMISSORES EM 2011?



Imagem Publicada - uma fotografia montada com imagem de uma mulher grávida, com um cabelo esvoaçante em cores avermelhadas e alaranjadas, como saindo uma série de chamas deles, com uma luz de fundo, como contraluz, que realça seu corpo feminino e sua condição de possibilidade de geração e transmissão de Vida.

NA TRAVESSIA DE MAIS UM ANO - 2010/2011

Aos amigos, amigas, leitores, leitoras,difusores e difusoras do Blog INFOATIVO DEFNET dedico um desejo profundo de que possamos construir novas formas de afetar e sermos afetados, novos caminhos que se construirão a cada passo dado, novos amigos e amigas que serão conquistados a cada abraço sincero e doce, novas intensidades amorosas que se realizarão com novos e intensos amores, novos sentidos e novas subjetividades a serem criadas, produzidas e multiplicadas para todos os cidadãos e cidadãs do Brasil que agora se conjuga no feminino... e se o Mundo é um Útero que venham os "nascimentos" de novas formas de sensibilidade e suavidade nas ações macropolíticas de nosso Brasil... que possamos, micropoliticamente, acender a qualidade de vida onde ela ainda não exista, desejando a criação coletiva de novas cartografias do viver. E, que as mulheres, não se tornando enrijecidas pelos Poderes, possam nos ensinar/aprender a aprender, mais uma vez, que:

SOMOS TRANSMISSORES

Somos, ao viver, transmissores de vida.
Quando deixamos de transmitir vida, ela a vida também deixa
de fluir em nós.

Isto é parte do mistério do sexo, é um fluxo à frente.
Gente assexuada não transmite nada.

Mas se chegamos, trabalhando, a transmitir vida ao trabalho,
a vida, ainda mais vida, se lança em nós compensando, se mostrando
disposta a tudo
e pelos dias que vêm nos encrespamos de vida.

Mesmo que seja uma mulher fazendo um simples pudim, ou um homem
fazendo um tamborete,
se a vida entrar nesse pudim ele é bom
bom é o tamborete,
contente fica a mulher, com a vida nova que a encrespa,
contente fica esse homem.

Dê que também lhe será dado
é ainda a verdade da vida.
Mas não é assim tão fácil. Dar vida
não quer dizer passá-la adiante a algum bobo indigno, nem deixar que os
mortos-vivos te suguem.
Quer dizer acender a qualidade de vida onde ela não se encontrava,
mesmo que seja apenas na brancura de um lenço lavado.


Tradução: Leonardo Froés - Ed. Alhambra
POEMAS DE D.H.LAWRENCE - Edição bilíngue do centenário - Ed. Alhambra, Petrópolis, 1985
.

SEREMOS TRANSMISSORES EM 2011? responda com paciência, persistência e doçura, assim imaginaria D. H. Lawrence nossas práxis e idéias para um Mundo, que como a poesia, estaria em permanente criação... autopoesis.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A MÁQUINA DA EMPATIA - incluindo a reinvenção do Outro

IMAGEM PUBLICADA - um grupo crianças agrupadas em uma escola mostram alguns golfinhos feitos de papel multicolorido, estão sorridentes, e, quem sabe, empáticos, após uma aula sobre as relações que são nutridas pelos golfinhos, baseadas na Empatia, em sua capacidade de viver e aprender em grupalidade sobre a construção de um respeito às diferenças e aos seus semelhantes. Um caminho que ainda estamos trilhando no mundo globalizado em busca da reinvenção do Outro e o re-conhecimento do mesmo.

Tudo em tudo 
Cada homem em todos os homens
Todos os homens em cada homem
Todos os seres em cada ser
Cada ser em todos os seres
Toda distinção é mente, pela frente, na mente, da mente
Sem distinção não há mente para distinguir
. (Laços, Ronald Laing, 1970


Hoje acordei com as minhas dores, aliás dormi com elas apenas um pouco. Logo ao acordar já apresentei a minha filha a solução de uma tarefa escolar do dia anterior. A Isadora recebeu como lição de casa desenvolver uma ideia que envolvesse a "criação científica" de uma tecnologia ou recurso que NÃO existe ainda. Além disso teria de desenhá-la e explicá-la, em texto livre, de como funcionaria este invento. O objetivo seria que esta tecnologia pudesse ajudar uma pessoa no dia a dia ou nosso planeta. Eu lhe sugeri a criação de uma "máquina da empatia".

Mas como explicar para uma criança de 10 anos a Empatia? E a minha tarefa conjunta matutina desdobrou-se em milhares de exemplos. Primeiramente, como um pai sonhador e ativista de direitos humanos, lembrei-lhe como tentar vestir a "pele" de crianças do mundo. Passei pelo Haiti e acabei pousando, de forma sensata, nas relações de bullying no meio escolar que ela conhece melhor do que eu. Ela se apropriou da ideia e foi além. Assim poderá constituído e vir a ser um processo 'metadialógico' entre um pai e uma filha.

A Máquina da Empatia já passeia na minha mente há muitos anos. Em 2005 tive a honra de fazer uma conferência no XV COLE (Congresso de Leitura do Brasil, da ALB), com uma apresentação de um artigo: TELEPATIA, EMPATIA, ANTIPATIA: POR ONDE CAMINHAMOS NAS TRILHAS DA DIFERENÇA. Nessa ocasião disse serem "três palavras ao léu ou três movimentos que podemos realizar no tabuleiro das relações humanas, quando nos aproximamos/afastamos do Outro? Este encontro de três palavras nos empurra na direção de uma encruzilhada de labirintos teóricos e de práticas ligadas aos sujeitos e à diferença".

Nesses tempos Idade Mídia, atualmente labirínticos, quando os Morros são ocupados militarizadamente, a Cólera é transmitida por soldados no Haiti, o controle biopolítico justifica novos e aperfeiçoados métodos de esquadrinhamentos e controle populacionais, a homofobia e outros modos de negação das diversidades humanas justificam novos microfascismos, afirmo que as práticas educacionais e filosóficas de construção de conceitos se tornam, bio e eticamente, indispensáveis.

Tenho de retomar meu discurso de 2005, e, como no texto sobre a Violência nossa de Cada Dia, me sinto ainda mais futurista, pois ainda precisamos, urgentemente, de: "...para além das hecatombes e violências do cotidiano precisamos buscar um 'metadiálogo’, ou seja uma conversa acerca deste problemático caminhar nas trilhas da diferença em um tempo de homogeneização e de produção serializada de subjetividades"

Meus caminhos pela estrada do empatizar são antigos... Vem da Psicanálise. Para o psicanalista vienense, Heinz Kohut, o termo EMPATIA é indispensável ao exercício da psicanálise. Em 1959 publicou um artigo que enfatizou o papel do narcisismo e da empatia na teoria e na clinica psicanalítica. Ele alinhavou algumas aquisições no desenvolvimento das formas de narcisismo que vivemos e da integração de personalidade de um sujeito.

Kohut indica uma série de aquisições que culminariam com a Sabedoria em nossa jornada rumo ao autoconhecimento, e uma visão mais humanitária de nossas relações, indicando-nos que: “ a empatia é o modo pelo qual coletamos dados psicológicos acerca das outras pessoas e pelo qual, quando elas dizem o que pensam ou sentem, imaginamos sua experiência interior, mesmo que não esteja aberta à observação direta".

Minha interlocutora Isadora me colocou novamente diante de Heinz Kohut. Ela perguntou se: ..."as pessoas,mesmo passando pela Máquina da Empatia, continuassem sendo e fazendo o que antes acontecia...", ou seja não tivessem mudando um pingo na sua posição egoísta e narcisista  Kohut, concorda com ela, e nos adverte que, desejando empaticamente o melhor para todos os nossos semelhantes, deveríamos para atingir uma incerta/insegura sabedoria.

Ele alinha como outras aquisições indispensáveis a criatividade dos homens, seu senso de humor e sua capacidade de encarar a sua própria transitoriedade, enfim de saber e reconhecer-se finito e mortal, atingindo a integração e superar nosso narcisismo inalterado”, aceitando e reconhecendo nossas limitações físicas, intelectuais e emocionais.

Dedico, pois, este texto a todos e todas que estão nas escolas brasileiras, trilhando as veredas do campo da inclusão e da reinvenção do Outro, com especial carinho e orgulho à minha filha, nos seus 10 anos de vida.

Em sua Máquina da Empatia, no seu texto escolar, ela escreveu: "a máquina da empatia faz (trans-forma) as pessoas que não são empáticas serem pessoas melhores, mais agradáveis, que dão valor aos sentimentos das outras pessoas. Bem, se pelo menos 10 pessoas, em uma cidade, fossem empáticas ela poderia ser até mais alegre..."

E, transversalizados por esta máquina inovadora e renovadora, mais empáticos, quem sabe, até nos tornemos um pouco mais telepáticos e menos televisivos.

Portanto, e enfim, para que não me torne "antipático", sem desejar a simpatia, reapresento o texto final da conferência apresentada no XV COLE:

UM METADIÁLOGO COM A POÉTICA DIFERENÇA DO FOGO

Imaginemos, então um diálogo entre um pai e sua filha, que prepara com sua mochila para uma viagem através do mundo, aos dezoito anos, sobre as três possíveis trilhas, ou a possibilidade de seu inevitável entrecruzamento:

Filha – Como é que medimos as distâncias entre as pessoas?

Pai – é incomensurável o que nos distancia, assim como o que nos aproxima... Mas podemos dizer que há três movimentos em direção a uma outra pessoa ou coisa, que diríamos está em Empédocles??

Filha – em Empédocles, o filósofo grego, pré-socrático, aquele do Etna?

Pai – é aquele que nasceu no século V antes de Cristo, que segundo o Dicionário Oxford de Literatura Clássica, era: filósofo e cientista natural de Acragás (Agrigento), na Sicília...; pertencia a uma família abastada e ilustre, e, segundo constava, foi-lhe oferecido várias vezes o trono de sua cidade, mas o filósofo recusou-o... era um gênio extremamente versátil, e interessou-se pela biologia, pela medicina e pela física (deve-se lhe a descoberta de que o ar é uma substância, distinta do espaço vazio)...

Filha – Então ele aprendeu-ensinou que as substâncias, assim como nós, tem diferenças?

Pai – Ele nos ajudará a entender que podemos, segundo a sua filosofia, tentar reconciliar a percepção dos fenômenos cambiantes com a concepção lógica de uma existência imutável subjacente...

Filha – Como ele chegou a esta ideia?

Pai – Ele desvendou/descobriu o que o poeta-Prometeu D. H. Lawrence nos anunciou alguns muitos séculos depois, que somos, basicamente, ‘elementares’, ou seja, há quatro elementos inalteráveis – a terra, o ar, a água e o fogo – de cuja interação, associação ou dissociação se produzem as mutações do mundo como o conhecemos...

Filha – É aí que ele afirma a existência de forças antagônicas, como nós entendemos o que chamamos de AMOR x ÓDIO?

Pai - Sim, não apenas como antagônicas, mas muito próximo do que os filósofos do TAO chamaram de yin e yang, com a CONCÓRDIA disputando com a DISCÓRDIA, construindo, destruindo e reconstruindo infinitamente...

Filha – Mas pai, o que afinal tudo isso tem a ver com aquela conversa metadialógica sobre a Telepatia, a Empatia e a Antipatia?

Pai – para esta resposta teria que ter tido a ousadia de Empédocles que se atirou no vulcão Etna, e, segundo Bachelard, em seus “fragmentos para uma poética do fogo”: Empédocles é uma das maiores imagens da poética do aniquilamento. No ato empedocliano, o homem é tão grande quanto ao fogo. O homem é o grande ator de um cosmodrama verdadeiro...!”

Filha – Então o que teremos de fazer é nos deixarmos levar pelo fogo essencial que há dentro de todos nós. Mas a chama que me abrasa é a mesma que abrasa o cerne de todos os outros? Seria isso que nos fez ficarmos próximos apenas quando acendíamos o fogo há milênios, e diante dele nos colocávamos em roda, invertendo, nesse preciso momento, nosso temor de sermos tocados pelo Outro?

Pai – quem sabe a poesia do Lawrence possa nos ajudar? Posso lê-la?

Filha – melhor seria se nos empatizarmos com ele, mas pelo menos poderemos nos forçar a sermos transmissores de sua poética do fogo, aquele poema em que ele diz ser “mais profundo que o amor...”, o fogo primordial ... conectado ao ingnoscível fogo mais remoto de todas as coisas...

ELEMENTAR

Por que é que as pessoas não param de ser amáveis

Ou de pensar que são amáveis, ou de querer ser amáveis,

E passam a ser um pouco elementares?

Como o homem é feito de elementos, do fogo, chuva, ar e barro

E como nada disso é amável

Mas elementar,

O homem não pende inteiramente para o lado dos anjos
... 
DH Lawrence

Aos que buscam como tirar as fraldas do processo de inclusão escolar envio a minha sugestão de que promovam "metadiálogos" provocativos em seus relacionamentos mais próximos, bem antes de levá-los às salas de aula, pois os nossos narcisismos das pequenas diferenças começam, primordialmente, e ainda na intimidade de nossos territórios afetivos ...

copyright/left  jorgemarciopereiradeandrade 2010-2011 ad infinitum após 2021 (favor citar o autor e as fontes em republicação livre pela Internet, todos direitos reservados...)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _

Laing, R. D ( 1982). – Laços – Petrópolis, Editora Vozes.

Kohut, Heinz, Self e Narcisismo (1984) – Rio de Janeiro, RJ – Zahar Editores

Bachelard, Gaston ( 1990) – Fragmentos de uma poética do fogo – São Paulo, SP – Editora Brasiliense.

Lawrence, D. H ( 1985) – Poemas ( edição bilíngue do centenário) – Rio de Janeiro, RJ – Editora Alhambra.

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

PARA ALÉM DO PRECONCEITO - A Convenção, Cidadania e Dignidade


IMAGEM PUBLICADA - Um homem, provavelmente indiano, com pernas atrofiadas é empurrado por uma jovem, dentro de um rudimentar meio de transporte, qual um carrinho rústico, com uma criança pequena entre as pernas, circulando em uma rua aberta com veículos ao fundo, representando, na minha visão, a maioria das 650 milhões de pessoas com deficiência do mundo globalizado, ou seja 06 de cada 10 pessoas com deficiência são pobres, desfiliados, marginalizados e ainda estigmatizados. Uma foto em P&B de Khaled Satter, difundida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) com a finalidade de difundir a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde- 2001), que foi premiada em "1º lugar", por mim, e apresentada, no passado em muitas conferências...

"Ser cidadão, perdoem-me os que cultuam o direito, é ser como o estado, é ser um indivíduo dotado de direitos que lhe permitem não só se defrontar com o estado, mas afrontar o Estado. O indivíduo seria tão forte quanto o estado. O indivíduo completo é aquele que tem a capacidade de entender o mundo, a sua situação e que, se ainda não é cidadão, sabe o que poderiam ser os seus direitos..." (Milton Santos, Cidadania Mutilada in O Preconceito)

O pensador e intelectual Milton Santos nos instiga a afirmação de nossos direitos. Ele interroga em seu texto: "O que é ser cidadão neste país?". E, hoje, quando se comemora o DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA (Onu) temos de buscar uma nova afirmação destes que tiveram por muito tempo sua cidadania mutilada. Eles, muitas vezes fisicamente mutilados, foram considerados, até recentemente, apenas objeto de intervenção, seja do Estado ou da Sociedade civil.

Hoje, quando a sua cidadania, quando reconhecida, permite até um enfrentamento do Estado, é a hora de buscar que direitos devem ser difundidos, educacional e persistentemente, para que sua diferença e diversidade funcional possam realmente estar em processo de inclusão social.


Em recente evento promovido pela RIADIS ( Red Latinoamericana de Organizaciones No Gubernamentales de Personas con Discapacidad y sus Familias ) e Conectas Direitos Humanos, na cidade de São Paulo, acerca da "Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência - Avanços, Desafios e Participação da Sociedade Civil", no mês de novembro, foi construído um importante marco sobre a questão do que podemos, pessoas com e sem deficiência, realizar para que o Artigo 33, acerca da Implementação e Monitoramento da Convenção em nosso país, seja plural, democrático e, principalmente, realize, concretize e implemente o que já está no Decreto Lei 6949/2009, para que os sujeitos com deficiência tornem-se, como diz Milton Santos, "indivíduos completos".

Tenho comigo a convicção de que um dos meios mais importantes, na atual situação econômica, social e política em que se encontram a maioria das pessoas com deficiência, ainda em desfiliação social e pobreza, que, sem dúvida já ultrapassam os 25 milhões de brasileiros e brasileiras do Censo de 2000, é indispensável que também, e em especial hoje, façamos conhecer o Artigo 8 - CONSCIENTIZAÇÃO, da Convenção, que nos diz:

1. Os Estados Partes se comprometem a adotar medidas imediatas, efetivas e apropriadas para:
a) Conscientizar toda a sociedade, inclusive as famílias, sobre as condições das pessoas com deficiência e fomentar o respeito pelos direitos e pela dignidade das pessoas com deficiência;
b) Combater estereótipos, preconceitos e práticas nocivas em relação a pessoas com deficiência, inclusive aqueles relacionados a sexo e idade, em todas as áreas da vida;
c) Promover a conscientização sobre as capacidades e contribuições das pessoas com deficiência.

2. As medidas para esse fim incluem:
a) Lançar e dar continuidade a efetivas campanhas de conscientização públicas, destinadas a:
i) favorecer a atitude receptiva em relação aos direitos das pessoas com deficiência;
ii) Promover a percepção positiva e maior consciência social em relação às pessoas com deficiência;
iii) Promover o reconhecimento das habilidades, dos méritos e das capacidades das pessoas com deficiência e de sua contribuição para o local de trabalho e o mercado laboral;

b) Fomentar em todos os níveis do sistema educacional, incluindo neles todas as crianças desde tenra idade, uma atitude de respeito para com os direitos das pessoas com deficiência;
c) Incentivar todos os órgãos de mídia a retratar as pessoas com deficiência de maneira compatível com o propósito da presente Convenção;
d) Promover programas de formação sobre sensibilização a respeito das pessoas com deficiência e sobre os direitos das pessoas com deficiência.

Estas medidas devem ser um dever de Estado e um direito de todos e todas no Brasil. A Convenção além de ratificada na íntegra tem também seu Protocolo Facultativo, que permite-nos a denúncia de quaisquer violações dos seus artigos. Qualquer pessoa, grupo ou entidade poderá enviar a um Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Artigo 34), e nós, enquanto cidadãos e cidadãs, devemos estar alertas para que nossa participação política e social se faça presente no monitoramento da aplicação destas medidas de conscientização.


Para tanto devemos, no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, potencializar nossos desejos de, micropoliticamente, nos confrontarmos com todas as formas de preconceito e estigmatização a que somos submetidos. Precisamos quebrar, romper e transpor as barreiras invisíveis de velhos paradigmas, enraizadas em instituições que temem a perda de poder e uso das pessoas com deficiência, espaços de segregação ou de institucionalização que se locupletam e dependem dos corpos que serão, biomedicamente, considerados defeituosos.

É HORA, PORTANTO, DA MÁXIMA VISIBILIZAÇÃO E DE "OCUPAÇÃO PACÍFICA, PORÉM AGUERRIDA" DE TODOS OS ESPAÇOS, SEJAM DA MÍDIA, QUE AINDA DIZ E ESCREVE SOBRE "PORTADORES", DAS ESCOLAS E EDUCADORES QUE CRIAM OBSTÁCULOS À INCLUSÃO ESCOLAR, ASSIM COMO DAS QUE NEGAM AS SINGULARIDADES E DIFERENÇAS NA PLURALIDADE E NO MULTICULTURALISMO QUE DEVE ALICERÇAR A EDUCAÇÃO INCLUSIVA, DAS ENTIDADES ASSISTENCIALISTAS QUE SE APEGAM A ESTEREÓTIPOS, DOS QUE GANHAM DINHEIRO EM NOME DE SUPOSTAS CARIDADES OU APLACAMENTO DE CONSCIÊNCIAS CULPOSAS E REFORÇAM APENAS O MODELO REABILITADOR, 

DOS QUE SE NEGAM A RECONHECER AS POTENCIALIDADES DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO TRABALHO E NÃO RECONHECEM AS ARTIMANHAS HIPERCAPITALISTAS NO CUMPRIMENTO DE COTAS E DE INSERÇÃO LABORATIVA COM EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES, DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE NÃO ENXERGAM PARA ALÉM DOS DITAMES BIOMÉDICOS SOBRE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E SE RECUSAM A APRENDER OS NOVOS CONCEITOS TRAZIDOS PELA CIF (CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E SAÚDE - 2001), 

PARA OS OPERADORES DE DIREITO QUE AINDA PERSISTEM NO DESCONHECIMENTO DA CONVENÇÃO E SUA MUDANÇA DE PARADIGMAS NO DIREITO E PERSISTEM EM UM OLHAR VITIMIZADOR E DESPOTENCIALIZADO DOS SUJEITOS DE DIREITO QUE SÃO AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA... É HORA DE NOSSAS REVOLUÇÕES MOLECULARES PROVOCAREM ESTES INSTITUÍDOS, E, TRANSVERSALIZANDO SEUS TERRITÓRIOS, PROMOVER A CRIAÇÃO RIZOMÁTICA, OU SEJA MULTIPLICADORA E CONTAGIANTE, DE NOVOS PARADIGMAS E NOVAS CARTOGRAFIAS.

Os tempos são da Acessibilidade, da visão Bioética, da Cidadania, da Dignidade e da construção de novos princípios Éticos como alicerces para que ninguém, nenhuma pessoa, nenhum ser humano fique ainda debaixo da mutilação e violação de seus Direitos Humanos. Este ABCDário, se efetivamente realizado, pode ser um dos caminhos para um Outro Mundo Possível, para além dos preconceitos, para além das exclusões, rumo À SOCIEDADE DAS DIFERENÇAS...

Enquanto, passando o dia e ia escrevendo, pensando e repensando, lá na ONU, uma jovem negra, qual Milton Santos, com seu histórico de artrogripose, em sua cadeira de rodas, fazia ressoar a sua música e seu canto, com toda a intensidade do Zimbaue e da África. Ela, Prudence Mabhena, mostra ao mundo como é possível se tornar, mesmo com aparentes ''mutilações'' de seu corpo, muito mais efetivadas em sua cidadania, como podemos, ao soltar nosso canto de protesto e vida, um ''indivíduo completo e surpreendente". Ouçam e se apaixonem.

copyright jorgemarciopereiradeandrade (2010-2011 - favor citar as fontes e os autores em republicação livre na Internet e outros meios de comunicação de massa)

Informações, indicações e Conexões:

CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - Decreto Legislativo 186/2008 - Decreto 6949/2009
3ª ed- rev - Brasília - Secretaria de Direitos Humanos - Secretaria de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência , 2010.
Na internet -
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm

O Preconceito - Julio Lerner Editor - São Paulo, Imprensa Oficial do Estado - 1996-1997.

A CONVENÇAO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA COMENTADA - Coordenação de Ana Paula Crosara de Resende e Flavia Maria de Paiva Vital - Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Corde - 2008.
Na Internet - http://www.bengalalegal.com/convencao-comentada

PRUDENCE MABHENA - MUSIC BY PRUDENCE -
ver/ler/ difundir o texto A Música que Encanta Depende dos Olhos? https://infoativodefnet.blogspot.com/2010/03/musica-que-encanta-depende-dos-olhos.html

Para ouvir e se encantar - VEJA O VIDEO - COM A MUSICA AMAZING GRACE https://www.youtube.com/watch?v=llVp22UuVTg&feature=player_embedded

RIADIS - http://www.riadis.net/
CONECTAS - http://www.conectas.org/index.php/Home/index

domingo, 28 de novembro de 2010

A VIOLÊNCIA NOSSA DE CADA DIA... Dai-nos também.

Imagem Publicada - uma montagem em foto com o Cristo Redentor, com um jato de combustão saindo de sua base, como se este ícone do Rio de Janeiro,em sua base no Morro do Corcovado, estivesse sendo lançado ao espaço sideral. Uma alusão aos tempos de "fogo" cruzado vividos recentemente na cidade "maravilhosa", e sua posterior pacificação naturalizada através da combinação de forças armadas e ações governamentais. (imagem publicada no jornal The Economist)

A violência, ou melhor, as variadas formas de violência institucionalizadas e naturalizadas tornaram-se banalizadas. Então, cabe a todos nós, e não apenas para alguns o dever de questioná-las, analisá-las e propor saídas e soluções coletivas, para que, ao sermos novamente paralisados, não tenhamos nossas asas cortadas, pois como diz uma estória: o passarinho, aparentemente frágil, quando entra em pânico, é a melhor vítima do bote de uma serpente, sempre que ele se esquecer de sua diferença desta, ou seja: alguns pássaros podem voar...

O texto abaixo foi publicado em Maio de 2006 - edição especial do InfoATIVO DefNet Nº 2531, republicado na Internet e em outras mídias...

O reapresento com algumas inclusões e atualizações, que surgiram após o tempo de exposição prolongada às notícias das recentes soluções militares para a chamada "guerra urbana" na cidade do Rio de Janeiro contra o narcotráfico, e a ocupação hoje do chamado "complexo do Alemão"... relembrando a atemporalidade da Violência e de nossas medidas de extermínio ou controle social do que re-produzimos incessantemente...

A VIOLÊNCIA URBANA: Ontem, Hoje e Sempre?
Jorge Márcio Pereira de Andrade

“A violência sendo instrumental por natureza, é racional até o ponto de ser eficaz em alcançar a finalidade que deve justificá-la...” (Hannah Arendt)

Dai-nos a violência cotidiana de cada dia... é o pedido que a Idade Mídia eleva em preces ao Estado, à Sociedade e ao Mundo Globalizado. Segundo Zygmunt Baumann, em Vidas Despedaçadas, brilhantemente identifica a presença de um Estado que se retroalimenta de nossa vulneração cotidiana. Diz o autor:“A vulnerabilidade e a incerteza são as principais razões de ser de todo poder político. E todo poder político deve cuidar da renovação regular de suas credenciais...”.

Nossos tempos não estão mais nem menos violentos que os de nossos ancestrais. Hoje a violência, chamada urbana, pois as outras não têm tanta midiatização, tornou-se um espetáculo.

Segundo a óptica de Arendt, esses recentes atos de terror e pânico promovidos pela criminalidade, podem ser vistos como uma tentativa de atração de olhares e de mentes apavoradas, pois: “a violência não promove causas, nem a história nem a revolução, nem o progresso, nem a reação, mas pode servir para dramatizar reclamações trazendo a atenção do público...”.

Abaixo reproduzo, na íntegra o que já pensei, escrevi e agora tenho de repensar:

Fiquei muito incomodado, ainda estou com a paralisação que todos tivemos de exercitar nos dias de maior intensidade das ações de pressão do crime organizado, quando São Paulo entrou em pânico. Chegava a Campinas, à noite, vindo de Brasília, da 1ª Conferência de Direitos das Pessoas com Deficiência,(maio de 2006) onde defendi ativamente os Direitos Humanos. 

Lá somente os ecos distantes, dentro das televisões e jornais, me mostravam ônibus incendiados, rebeliões em presídios, atentados a polícia, etc...., não me assustaram tanto. Parece que, quando estamos no ‘planalto do Poder’, ficamos atravessados pela geopolítica, meio distantes das agruras que acometem os que a ele e ela estão submetidos.

Fiquei, então, perplexo ao ver a cidade onde moro em total silêncio e toque de recolher. Pensei ao trafegar em um automóvel quase solitário, como se pode produzir tamanha comoção social? Estávamos no que se chama de Estado de Sítio? Havia um silêncio amedrontador e triste nas ruas da cidade. Todos os locais de comércio noturno, bares, postos de gasolina, supermercados 24 horas, etc..., estavam de portas cerradas, desde às 20 horas. 

Senti uma profunda preocupação com o futuro de minha filha de 05 anos, naquele momento cidadão e morador de uma cidade vazia, como o futuro de todas as crianças brasileiras, principalmente as que não têm como escapar destes momentos de terror e de violência organizada. Não era o meu corpo e a minha integridade física que estavam sob ameaça, estávamos atravessando uma ‘cidade fantasma’, sem ‘viva alma’, sem Vida em público, com praças e ruas totalmente desertas. Uma cidade transpirando o medo e o pânico paranoicos. Nem os 'camburões' trafegavam.

Sim a violência de hoje e dos poucos dias atrás continua sendo alimentada, embora não tenha outra finalidade que a de criar pânico e estagnação, a meu ver. Concordo, então, que ela não é produtiva, mas sim um 'produto', quiçá uma mercadoria, a ser pensado(a), refletido(a) e analisado(a) com todos os recursos possíveis, em especial por parte dos cientistas políticos, sociólogos e analistas institucionais.

Pelo clima generalizado de insegurança consequente aos recentes ataques, embora as ruas paulistanas já tenham sido reconquistadas pelos seus legítimos donos: os chamados cidadãs e cidadãos, não há como negar a existência ou o aumento de violência, tanto do crime organizado como das forças instituídas para sua repressão, nesse momento político social brasileiro. Porém não podemos cair na armadilha fácil de elaborar ‘propostas imediatistas’ e soluções apenas macropolíticas, ouvindo-se inclusive o pedido enganoso de uso das ‘Forças Armadas’ ou da “pena de morte”. 

Não há como negar a imprescindível análise crítica do que está subjacente a esta violência espetacularizada, pois como nos diz Lorenz: "o homem que cessa de refletir corre o risco de perder todas as qualidades e realizações especificamente humanas". Ele próprio experimentou a crítica a suas ideias e seus escritos, principalmente os que se aproximaram das ideologias fascistantes.

Chego perto de afirmar que os provocadores do recente pânico social estiveram sendo orientados por quem já leu, ou eles próprios tem a intuição e prática sobre o que escreveu Carl Von Clauzewitz, em seu livro Da Guerra, ao nos dizer que: “o êxito estratégico é a preparação favorável da vitória tática...".

..."Quanto mais a estratégia puder, graças às suas combinações, depois da aquisição de sua vitória, incluir acontecimentos nos seus efeitos, mais ela se libertará das ruínas completas, cujas fundações terão sido sacudidas pela batalha; quanto mais ela arrebatar grandes massas o que tem de ser penosamente ganho, pedaço a pedaço, no decurso da própria batalha maior será seu êxito.” Cito Clauzewitz para datar a longevidade da questão de enfrentamento da guerra e o problema da paz. Este tratado teve a sua primeira publicação em 1832.

Ele já demonstrava que os atos de guerra, quando violentos, são “destinados a forçar o adversário a submeter-se à nossa vontade”, que para “defrontar a violência, a violência mune-se com as invenções das artes e das ciências”. Entra em cena então o nosso modelo de Estado Espetáculo, e nada mais eficiente para a construção do medo e do pânico do que a sua espetacularização, de ambos os lados da “guerra urbana”.

Portanto há alguma coisa ainda sem resposta sobre as recentes ‘explosões com Molotov’. Principalmente quando a finalidade destas é a conquista de uma “surpresa”, que já fora anunciada aos órgãos oficiais com antecedência, empregando forças de ataque a partir de várias bases, buscando o apoio da população com sua histeria coletiva, para um possível efeito moral, criando um ‘teatro de guerra’, reproduzindo o modelo de territórios, fatiando a cidade em pedaços, apoiado nas comunicações de massa a fim de promover possíveis e inconscientes mecanismos de defesa coletivos, onde a crença de que o poder destes agressores é muito maior do que nossas possibilidades de reagir ou atacá-los.

Afinal estes agressores estão em “segurança máxima”, e nós? na “insegurança infinita”?

Encontrei, porém, no passado, mais uma vez, alguns indicadores para a leitura crítica que deveremos empreender. Em um artigo intitulado: “Violência: reflexões sobre a banalidade do cotidiano em São Paulo”, de Luciano Kowarick e Clara Ant, de 1981, que nos afirmam: O grave é que, ao se focalizar o problema exclusiva ou preponderantemente sobre o crime, mobiliza-se a opinião pública sobre este aspecto importante, mas não único, da violência urbana, que caracterizam o cotidiano da vida e do trabalho nas cidades”.

Os autores nos fazem interrogar sobre o papel dos meios de comunicação de massa, que antes dos acontecimentos recentes, centram suas atenções no campo da delinquência, dos crimes e das violências físicas, em especial das classes mais desfavorecidas, minimizando, segundo os autores, o arbítrio policial e omitindo que, na realidade, os acidentes de trabalho, a desnutrição e a miséria vitimam um número muito maior de habitantes de nossas grandes cidades”. (Ruben George Oliven).

Falando na possibilidade de uma impostura com a hipermidiatização da violência podemos lembrar de perguntar onde é que estão nossos impostos? Em recente matéria do Jornal do Senado, ano IV, nº. 121, 8 a 14 de maio de 2006, diz-se que os “Brasileiros estão de olho no imposto”, e ficamos sabendo que: “a soma de todos os bens produzidos pelos brasileiros, o chamado produto interno bruto (PIB), foi de R$1,94 trilhão em 2005, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os impostos pagos pelos brasileiros à União, aos estados e municípios totalizaram 37,82% do PIB, de acordo com o IBPT... Os tributos devem retornar ao Cidadão em forma de benefícios, como educação, saúde, SEGURANÇA, previdência...”.

Esta matéria ainda informa que: “Cada cidadão trabalha pelo menos 04 meses e 25 dias por ano para o Fisco”, mostrando em estatística comparativa que nos Anos 70, os Anos de Chumbo da Ditadura Militar, se trabalhava apenas 2 meses e 16 dias para pagar todos os impostos, e que, com certeza, a “impostura” oficial através das mídias era muito maior, e a violência do Estado também, com consequente desrespeito aos Direitos Humanos de todos os brasileiros e brasileiras.

Ainda não pagamos todas as nossas dividas pela defesa de nossa Constituição de 1988? Mas o que é que tem esta história com os acontecimentos atuais? Perguntará algum céptico das possibilidades de uma participação cidadã na busca de uma aplicação transparente e fiscalizada por todos nós de todo esse dinheiro arrecadado dos trabalhadores (as), exigindo-se que o Estado faça a sua parte. Deveríamos responder que têm a ver com nosso desejo de um futuro diferente entre os diferentes, com respeito e justiça para todos e todas, um tempo com o mínimo de sofrimento ético-político.

¨*Reconheço, que hoje em 2010, passados os anos o panorama social e econômico mudou. Mas mudou a situação da fome, onde ainda 11 milhões encontram-se na "insegurança alimentar", segundo o IBGE. Os tempos passam mas algumas das misérias que retroalimentam as diferentes e sutis formas de violência social perduram. Como, então responder a velhas e repetidas indagações sobre nosso futuro?

E o futuro? O de sempre? A violência, ou melhor, as variadas formas de violência institucionalizadas e naturalizadas tornaram-se banalizadas. Então, cabe a todos nós, e não apenas para alguns o dever de questioná-las, analisá-las e propor saídas e soluções coletivas, para que, ao sermos novamente paralisados, não tenhamos nossas asas cortadas, pois como diz uma estória: o passarinho, aparentemente frágil, quando entra em pânico, é a melhor vítima do bote de uma serpente, sempre que ele se esquecer de sua diferença desta, ou seja: alguns pássaros podem voar. 

Você que conseguiu ler até aqui este texto me responda: quem são os verdadeiros ‘engaiolados’, com a máxima segurança, dessa história dos tempos de cólera e impostura criminal e neoliberal?

copyright Jorgemarciopereiradeandrade 2006/2011(em caso de republicação solicito citar a fonte e o autor(es))

Referências bibliográficas--
Ant, Clara & Lucio Kowarick , Violência e Cidade – in Violência : Reflexões sobre a banalidade do cotidiano em São Paulo, Zahar Editores, Rio de Janeiro, RJ, 1982.

- Arendt, Hanna, Da Violência, Editora Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1985.

- Bauman, Zygmunt, Vidas Desperdiçadas, Jorge Zaha Editor, Rio de Janeiro, RJ, 2005.

- Clausewitz, Carl Von, Da Guerra, Martins Fontes Editora, São Paulo, SP, 1979.

- Lorenz, Konrad, Os oito pecados mortais do homem civilizado, Editora Brasiliense, São Paulo, SP, 1991.

- Oliven, Ruben George, Violência e Cidade – in Chame o ladrão: as vítimas da violência no Brasil, Zahar editores, Rio de Janeiro, RJ, 1982.

TEXTO ORIGINAL publicado em https://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1461&Itemid=2

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

QUAL É A SUA RAÇA? - Nada a declarar...


Imagem Publicada - uma foto em Preto e Branco de Martin Luther King Jr, o homem negro e ativista de direitos civis, um norte americano que não retornou à África, conforme o desejo de seu presidente Abraham Lincoln, mas afirmou " Eu tenho um sonho..." ( I have a dream) e morreu em 04 de abril de 1968, em Memphis, assassinado... mas deixou o caminho aberto que culminou na presidência dos EUA, agora com um negro.
Foi também perseguido e difamado, como tentativa de apagá-lo da História.

" Vós e nós somos raças diferentes. Existe entre ambas uma diferença maior do que aquela que separa quaisquer outras duas raças. Pouco importa se isto é verdadeiro ou falso, mas certo é que esta diferença física é uma grande desvantagem mútua, pois penso que muitos de vós sofrem enormemente ao viver entre nós, ao passo que os nossos sofrem com a vossa presença..."

De quem é esse pensamento? de Martin Luther King Jr. é que não é... esta é uma afirmação de Abraham Lincoln quando convocou um grupo de negros americanos, hoje chamados de afrodescendentes ou melhor afro-americanos, para um "diálogo" na Casa Branca. Isso ocorreu em 14 de agosto de 1862, quando o presidente tentava lhes explicar o seu desespero quanto ao futuro da "raça" negra nos EUA e o seu interesse em esquemas que os mandasse de volta para a 'mamma' África. Assim começa a história da LIBÉRIA...

No ano passado quando estava imóvel e superdoloroso em minha cama, após a minha neurocirurgia, resolvi começar este Blog. Foi em 14 de novembro de 2009. A primeira postagem era sobre a necessidade de se comprovar o crime de racismo. A primeira postagem teve como título: Atitude racista deve ser comprovada, quando em Minas Gerais o TJ, por maioria de votos negou pedido de indenização por danos morais, pelo servidor R.P.P contra I.A, acusada de atitude racista, por não haver prova suficiente nos autos.

Segundo o ofendido, entre as agressões verbais, ela o teria chamado de “ladrão”, manifestando preconceito racial por declarar que ele deveria voltar para a senzala. E essa afirmação eu já a conhecia muito bem. A minha condição de afrodescendente me chamava para um protesto, para um manifesto e para um alívio de minhas dores. Nasceu e começou assim a história de libertação da dor, como uma chibata, com o blog Infoativo.DefNet.

A atitude de permanência do diversos tipos de racismo na história da humanidade é um fato indiscutível. Podemos separá-lo, a partir de ideologias ou outros modos políticos, da sua existência e persistência, mas não poderemos nunca negar sua presença ainda viva em muitos corações e mentes. As observações de A. Lincoln nos refletem quanto à crença uma ''diferença'' nas relações entre pessoas de raças diferentes, o que não ocorreria entre as pessoas de uma mesma raça. Esquecemos, por isso, que esta visão de 1862, ainda atravessando os séculos, também se permeia de causas políticas, econômicas e sociais.

Ontem deveríamos ter feito uma busca de harmonia com os nossos Diferentes. Ontem poderíamos ter feito uma experiência de educação em Direitos Humanos e Tolerância. Em 16 de Novembro de 1996, a Assembléia Geral da UNESCO convidou os Estados Membros a celebrar o Dia Internacional da Tolerância , de cada ano, com atividades dirigidas às escolas e ao público em geral (resolução 51/95, de 12 de Dezembro). 

Hoje, passados alguns anos, ainda precisamos reafirmar a possibilidade de convivência pacífica com os que denominamos de "diferentes de nós"... dias atrás alguns de nós, racistas de plantão, ainda pretendia, por motivos racistas e excludentes, "afogar" aqueles que ainda usam os paus-arara para migrarem do Nordeste e ajudarem a construir o Sudeste.

Por isso é que a tolerância vem se tornando cada dia mais uma resultante, ou melhor, uma atitude reativa à intolerância, principalmente a que nos é provocada pela violência, pelos movimentos xenofóbicos, homofóbicos, pelo racismo, pela discriminação de pessoas com deficiência, pela segregação de pessoas com transtornos mentais, enfim, todos os movimentos que alicerçam as desigualdades sociais e promovem a Exclusão.

Mas como combater todos estes “males” que estão, transcultural e históricamente, enraizados em nossas mentes e corações? Como combater um preconceito permanente contra toda forma de alteridade ou diferença? O Outro é trasmutado, sempre, em um alienígena que virá nos destruir ou tomar a nossa querida e preciosa Terra ou território identitário.

Para sua exclusão ou até seu ''extermínio'' não precisamos mais apenas dos discursos eugênicos, à moda de Francis Galton ou nazistas, basta que os transformemos em ''pássaros pintados" de outras cores, outras idéias, outros partidos, outras diferenças, outros modos de ser e estar no mundo globalizado. Renasce, então, a busca de uma "raça pura" a ser produzida pelas biotecnologias a serviço de um mundo homogêneo e homegeneizador. O mundo dos ''sem defeitos genéticos ou raciais".

A idéia de raça, portanto, é uma ótima oportunidade para a segregação e para o exercício de "narciscismos das pequenas diferenças", como bem já o demonstrou Freud. É na idéia de que o Outro tem algum atributo, hiper qualificado ou totalmente desqualificado, que o colocamos como "sangue ruim", maléfico e contagiante. O outro passa a ser a encarnação do Mal. E muita gente, em especial alguns políticos neo-liberais, recentemente procuraram se associar à imagem de serem os "homens do Bem".

O Outro, na Idade Mídia, passa a ser visto como o ‘mal’, pois é radicalmente uma invenção maléfica, como o disse Frederick Jameson: o mal é caracterizado por qualquer coisa que seja radicalmente diferente de mim, qualquer coisa que, em virtude precisamente dessa diferença, pareça constituir uma ameaça real e urgente a minha própria existência....” ,

Assim sendo podemos localizar os “bárbaros” fora de nossa sacrossanta e pura imagem de nós mesmos, afinal ‘malvados’ sempre serão os outros, que podem ser tanto um índio, um morador de rua, um doente mental, um favelado, um deficiente intelectual ou alguém que é estranho ou fala uma outra língua.

E, para lembrar Zumbi e sua potência a comemorar, apenas um "negro"... E aí nascem um dos mais persistentes modos de excluir e de estigmatizar esses outros de coloração epidérmica diferenciada. Nascem e renascem, de modo sútil, no reino da democracia étnico racial do Brasil, os novos racismos.

AOS VISITANTES, LEITORES, COMENTARISTAS, COLABORADORES E SEGUIDORES DO BLOG INFOATIVO.DEFNET ENVIO HOJE MEU AGRADECIMENTO E UM DOCE ABRAÇO PELOS MAIS DE 15.000 ACESSOS AO BLOG. E TODOS E TODAS CONVOCO PARA UMA REFLEXÃO SOBRE NOSSOS MAIS ÍNTIMOS E RECÔNDITOS PRECONCEITOS, POIS "NÃO PENDEMOS INTEIRAMENTE PARA O LADO DOS ANJOS"...


NÃO PRECISAMOS COMPROVAR, CONFORME A DECISÃO DO TJMG, A PRESENÇA DA DISCRIMINAÇÃO E DA SEGREGAÇÃO, MUITO MENOS O DESEJO DE ALGUNS DA PERMANÊNCIA DA ESCRAVIDÃO, DO TRABALHO ESCRAVO E DA DESFILIAÇÃO SOCIAL PARA HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS, IDOSOS, QUE TENHAM SIDO CLASSIFICADOS OU DE PARDOS OU DE NEGROS NO ÚLTIMO RECENSEAMENTO DO IBGE. O CENSO DIRÁ, OS NÚMEROS AINDA CONFIRMARÃO...

Por isso ainda precisamos nos lembrar de ZUMBI DOS PALMARES... Resistir é preciso, viver é im-preciso. Se me perguntarem qual é a minha raça, sabendo-me apenas humano, demasiadamente humano, responderei: NADA A DECLARAR, como aquele histórico personagem dos anos de chumbo da Ditadura no Brasil, pois já me reconheci em meu NEGRUME. E dele, poeticamente, me apropriei... como Frantz Fanon e Beatriz Nascimento. E, no meu âmago, não preciso explicar que, continuarei de muitas e múltiplas cores, dores, amores, odores e dissabores, tentando vencer meus próprios preconceitos.

copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar as fontes e autores em reproduções livres pela internet ou meios de comunicação de massa)

INDICAÇÕES PARA LEITURA:

A IDÉIA DE RAÇA - Michael Banton, Edições 70, Lisboa, Portugal, 1977

O RACISMO EXPLICADO A MINHA FILHA - Tahar Ben Jelloun, Ed. Via Lettera, São Paulo, SP, 2000.

*SOBRE A LIBÉRIA - http://pt.wikipedia.org/wiki/Lib%C3%A9ria

ATITUDE RACISTA DEVE SER COMPROVADA
http://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Racismo

COMO FAZER A CABEÇA COM BEATRIZ NASCIMENTO
https://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Beatriz%20Nascimento

NA NOITE GLOBAL TODOS OS SERES TORNAM-SE PARDOS http://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Frantz%20Fanon


MARTIN LUTHER KING Jr.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther_King_Jr.

vídeo - I HAVE A DREAM - http://www.history.com/videos/martin-luther-king-jr-i-have-a-dream

LEIA TAMBÉM NO BLOG -
RACISMO, HOMOFOBIA, LOUCURA E NEGAÇÃO DAS DIFERENÇAS: AS FLORES DE MAIO https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/05/racismo-homofobia-loucura-e-negacao-das.html

RACISMOS, NEGRITUDES E INTOLERÂNCIAS, CONSCIÊNCIA PARÁ QUÊ? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/11/racismos-negritudes-e-intolerancias.html

RAÇA, RACISMO E IDEOLOGIA: ZUMBI ERA UM VÂNDALO, UM BLACK O QUÊ? 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/11/raca-racismo-e-ideologia-zumbi-era-um.html

domingo, 24 de outubro de 2010

QUEM SÃO ELAS? O ABORTAMENTO ´POLÍTICO' DO ABORTO

imagem publicada - Uma mulher indiana, deitada, em uma maca, olha para um bebê branco, caucasiano, que ela gestou por 09 meses, e dele terá de se despedir nesse instante. Esta é uma das cenas do filme, produzido e dirigido pelo cineasta de Tel Aviv, Zippi Brand Frank, que examina as maneiras pelas quais a globalização e o hipercapitalismo da reprodução assistida, difundiu e complicou ainda mais a indústria da fertilização. Google Baby, no entanto, também é a crônica de uma ideia concebida por um empreendedor israelense chamado Doron, que entrou no negócio usando doadoras de óvulos dos Estados Unidos e barrigas de aluguel da Índia para atender aos "sem-filho" do mundo ocidental. A necessidade pode ser a mãe da invenção. Mas quem é o pai de uma criança quando o esperma vem de Israel, o óvulo dos Estados Unidos, e a gravidez de aluguel tem lugar em Gujarat, Índia? Bem vindos ao mundo real e capitalista dos nascimentos de bebês subcontratados no Oriente, via internet, para "fregueses e freguesas" do Ocidente.

Saindo de cena e entrando no debate

Já escrevi e reescrevo "todo mundo é um útero... todo útero é um mundo...". Mas precisamos afirmar que nem toda mulher é apenas um útero. Hoje, em tempos eleitorais, digo: "todas as mulheres são eleitoras, mas algumas podem ser mais que isso...". Elas podem escolher o que gestar e gerar para o mundo, para além de quaisquer macropolíticas, preconceitos ou ideologias. Como dizia poeticamente Walt Whitman: " uma mulher me espera: ela tem tudo, nada está faltando...", contrariando a imposição de uma posição de falta e castração. " Elas não tem um ponto a menos que eu,..."

Tenho estes dias um 'treco' entalado na garganta, ou melhor um "trem ruim", como dizem em minha terra natal. Essa desagradável sensação decorre da exploração política de um tema delicado. Uma questão feminina, que me é muito cara, sendo também importante e, bioéticamente falando, fundamental na vida humana. Para quem acredita na concepção primordial de Van Renssalear Potter que: "A BIOÉTICA É A CIÊNCIA DA SOBREVIVÊNCIA HUMANA", na perspectiva de defesa da dignidade humana e da qualidade da vida.

Aos que desconhecem a realidade vivida por muitas mulheres no Brasil acerca do abortamento, da interrupção da gravidez ou do que chamamos, com nossos reducionismos de "aborto", recomendo: assistam o documentário "QUEM SÃO ELAS", de Débora Diniz.

Usem 20 minutos de suas preciosas horas vividas, e respondam a essa indagação. Depois conversamos e discutiremos sobre o direito das mulheres que estão ou estiveram com fetos anencéfalos como questão de vida. E mais ainda a resposta à pergunta: quem já abortou? quem já tentou? quem são elas, estas mulheres que abortam?

Este documentário conta a história quatro mulheres, no período de 2 anos, tendo como fio condutor histórico de que todas vivenciam "força e resignação diante do luto precoce". E o título desse filme resultou da indagação de um Ministro do STF, que indaga: "quem são elas? eu, nunca as vi...". Foi no Supremo Tribunal de Justiça que a pergunta, com esta "superioridade", foi formulada. Em julho de 2004 a Justiça brasileira havia autorizado que mulheres grávidas de fetos anencéfalos interrompessem a gestação. Após quatro meses essa autorização foi abortada... por pressão e recursos conservadores...

Agora reedita-se uma posição de midiatização e espetáculo em torno da questão do aborto, de forma superficial e semelhante. Ao invés de um debate aberto com as forças conservadoras, o que assistimos é a biopolitização do tema. É a sua retomada como uma questão de opinião ou de convicção religiosa ou ideológica. Enquanto isso, elas continuam sendo mais vítimas que rés. Continuam sendo penalizadas com suas internações no SUS, onde chegam das clínicas clandestinas, ou seu padecimento físico e psíquico por serem impedidas de realizar uma antecipação de parto em casos de anencefalia...

Abortar o aborto do cenário político e introduzi-lo no cenário do debate bioético é imperioso para o momento brasileiro. Já que engravidamos a Mídia do tema Aborto, é a hora de falar, pensar e refletir sobre a interrupção da gestação. Vamos interrogar o dilema bioético: "quando começa a Vida?". Porém com um outro olhar e abordagem. E as respostas que ainda não temos poderá vir de um amplo debate nacional. 

Temos de construir uma visão bioética e não uma reedição conservadora e a falsa ideologização, que, sob o manto da sacralização, continuam a ser gestadas nas entranhas dos mais antigos mitos, as mais antigas tradições religiosas, dos mais reacionários modos gestão e controle biopolítico da vida.

Pela vida não deixei de lutar e isso traduz-se em meu artigo Direito à Vida do livro Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada, onde afirmo: "O Direito à Vida exige a segurança social, a habitação, condições de alimentação e sobrevivência com dignidade, condições, em um mundo de exploração hipercapitalista, necessariamente ligadas aos direitos econômicos, o que nos alerta permanentemente para uma defesa intransigente e aguerrida de que a Vida tem de ser protegida e, é dever de todos os Estados a sua promoção e qualificação"

Não podemos continuar confundidos na questão de um abortamento, com casos de estupro e anencefalia, por exemplo, pois em ambos já há previsão jurídica e penal. Mas ainda, em ambas situações, há alegações de cunho moral ou religioso, e deles devemos retirar quaisquer dos ranços de eugenia ou de seleção do melhores para a vida. E isso já apontei como uma ponte para o futuro no texto Apagar-se uma pessoa com Síndrome de Down.

Os tempos modernos que são vividos pelo corpo feminino, e seu devir, traçam novas cartografias pelos campos da reprodução assistida, das manipulações genéticas, da hiperexposição ou da negação de sexualidades, e, até, da exploração de úteros de aluguel, como nos mostra um duro documentário exibido pela HBO recentemente: //Google_Baby. Nesse documentário, com a imagem reproduzida acima, retrata-se o uso de úteros de mulheres indianas que são "mães de aluguel" da Índia oferecidas ao Ocidente via espermática de Israel pela Internet. O útero foi globalizado...

Recomendo a todos a leitura atenta do texto: Bioética e Aborto, de Debora Diniz (em Tópicos de Bioética), que nos esclarece sobre as diferentes formas de interrupção de gestação, que vão desde a Interrupção Eugênica da Gestação (ieg) até a Interrupção Voluntária da Gestação. Nesse texto podemos reconhecer os direitos reprodutivos das mulheres, as que, em princípio, deveríamos escutar e respeitar quanto às questões que envolvem sua singularidade, gênero, corpo e vida.

A autora nos mostra, com argumentação bioética, que: "...o respeito à autonomia reprodutiva é um princípio inalienável para qualquer decisão...", onde a legitimidade de um procedimento de antecipação, por exemplo, terapêutica é "uma vontade expressa da mulher".

 E, então, podemos responder aos ministros, aos bispos e aos políticos: - ELAS SÃO APENAS MULHERES COM DIREITOS HUMANOS, ONDE A AUTONOMIA E A TANGIBILIDADE DA VIDA SÃO FUNDAMENTOS PARA QUE CONTINUEM SENDO AS DOBRAS DE ONDE SE DESDOBRARAM OS HOMENS.

Quanto á escolha de quem nos dirigirá presidencialmente, se um homem ou uma mulher, afirmo que devemos e podemos escapar de mais um espetáculo macropolítico que se utilizará de dilemas morais para outros fins.

Tenho a esperança de todos brasileiros que olham, micropolíticamente, para o futuro que podemos gestar e parir. E se refluirmos para o paradigma da Exceção e dos Homo Sacer (Giorgio Agamben), tornando-se um grande risco biopolítico para a autonomia e para a igualdade de direitos, seja para a vida coletiva ou para a de cada um, que tenhamos a coragem de abortar..., para além de quaisquer dilemas, quaisquer formas ou práticas de autoritarismos ou ditaduras... Os eugenistas estão de prontidão ainda.

Aos nossos atuais representantes políticos, aos bispos, aos Ministros, aos que chamo de "sinistros" e "falsos" defensores da Vida, com todo respeito, é a hora de lutarmos pela concretização de um Conselho Nacional de Bioética. E, se tiverem coragem, convoquem as mulheres, cuja voz e direito foram cassados, para presidirem esse novo espaço político e ético. Tenho a certeza de que lá elas irão também implantar um novo paradigma estético e amoroso...

Saiamos, urgentemente, do uso banalizado do termo, deixemos o Estado Espetáculo, façamos uma outra cena: vamos, coletiva e individualmente, parar de abortar o aborto de nossas mentes conservadoras, parar de negar suas realidades multifacetadas em um país de muitas ''caras''....

Vamos afirmar que, hoje, vejam a pesquisa abaixo, o aborto não mais apenas uma "opinião", é um grave problema da Saúde Coletiva no Brasil. E ainda podemos criar em breve alguns meios internáuticos de produção de seres serializados, eugênicos e de ''baixo custo", usando o Facebook, o Twitter e até o Orkut, bastando para isso manter a situação de miséria, analfabetismos, exclusões e desfiliações sociais, especialmente de mulheres... Virá, então, o útero cibernético, de mulheres pobres, naturalmente!.

copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar as fontes e autores em reproduções livres pela internet ou meios de comunicação de massa)

INDICAÇÕES, ver, repensar, refletir, recomendar:

QUEM SÃO ELAS? - documentário - Debora Diniz - Imagens Livres - 2006 (20 min)
UMA HISTÓRIA SEVERINA - documentário - Débora Diniz & Eliane Brum - Imagens Livres -
À MARGEM DO CORPO - documentário - Debora Diniz - Imagens Livres - 2006 (43 min)
HABEAS CORPUS - documentário - Debora Diniz & Ramon Navarro - Imagens Livres - 2005 (20 min)
HOMO SAPIENS 1900 -, documentário - Peter Cohen - Versátil Home Videos - Suécia, 1988.
//GOOGLE_BABY - documentário - Zippi Brand Frank - HBO - 2007.

contatos para os filmes Debora Diniz:
www.anis.org.br
Google_Baby:
http://www.hbo.com/documentaries/google-baby/index.html
A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência Comentada - https://www.bengalalegal.com/comentada.php

Fontes bibliográficas -
- Bioética e Saúde- novos tempos para mulheres e crianças - Fermin Roland Scharamm e Marlene Braz, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, 2005.
- Ensaios: Bioética- Sérgio Costa e Débora Diniz , Editora Brasiliense &Letras Livres, São Paulo/Brasília, 2006.
- Princípios de Ética Médica - Tom Beauchamp & James Childress, Edições Loylola, São Paulo, SP, 2002
- Tópicos em Bioética - Sérgio Costa, Malu Fontes e Flavia Squinca (orgs), Letras Livres, Brasília, DF, 2006.
- Introdução Geral à Bioética- História, Conceitos e Instrumentos - Guy Durand, Edições Loylola/Centro Univ. São Camilo, São Paulo, SP, 2007.
- A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada - Ana Paula C. Resende e Flavia Maria P. Vital - Corde/SEDH, Brasilia, 2008.


PESQUISA NACIONAL DE ABORTO é uma pesquisa nacional desenhada para representar o que ocorre na vida reprodutiva das mulheres urbanas alfabetizadas de 18 a 39 anos no Brasil, cuja pergunta principal é Você já fez Aborto?
Os resultados referem-se ao ano de 2010, no Brasil urbano.
FONTE

*Ao completar 40 anos cerca de uma em cada cinco (mais exatamente, 22%) das mulheres já fez um aborto.

*Contrariamente a uma idéia muito difundida, o aborto não é feito apenas por adolescentes ou mulheres mais velhas. Na verdade, cerca de 60% das mulheres fizeram seu último (ou único) aborto no centro do período reprodutivo, isto é, entre 18 e 29 anos, sendo o pico da incidência entre 20 e 24 anos (24% nesta faixa etária apenas).

*Como abortar é um fato cumulativo, naturalmente a proporção de mulheres jovens que já fizeram um aborto ao longo da vida é menor, mas ainda assim é alta, sendo 6% entre as mulheres com idades entre 18 e 19 anos. Em outras palavras, já no início da vida reprodutiva uma em cada 20 mulheres fez aborto.

*A maior parte das mulheres que realizou aborto teve filhos.

*A PNA também mostrou que há uma distribuição espacial clara sobre a prática do aborto. Sua prática é mais comum nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e tem menor incidência na região Sul do país.

*Os níveis de internação pós-aborto são elevados e colocam indiscutivelmente o aborto como um problema de saúde pública no Brasil. Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas ao aborto.

*A incidência de aborto entre as mulheres de diferentes religiões é praticamente igual.

*Como a PNA reflete a composição religiosa das mulheres urbanas brasileiras, pouco menos de dois terços das mulheres que fizeram aborto são católicas, um quarto protestantes ou evangélicas e menos de um vigésimo, de outras religiões.

*Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto utilizaram algum tipo de medicamento para induzi-lo. Os abortos ilegais realizados com medicamentos tendem a ser mais seguros que os que utilizam outros meios, em particular quando o medicamento usado é o misoprostol, popularizado no Brasil na década de 1990. Se fossem feitos sob atenção médica adequada, seriam extremamente seguros.

*Os níveis de internação pós-aborto são elevados e colocam indiscutivelmente o aborto como um problema de saúde pública no Brasil. Cerca de metade das mulheres que fizeram aborto recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações relacionadas ao aborto.

*Cerca de 8% das mulheres do Brasil urbano foi internada em razão do aborto realizado.

Se o aborto seguro fosse garantido, a maior parte dessa internação poderia ser evitada.

DIA 28 DE SETEMBRO - DIA INTERNACIONAL PELA DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO NA AMÉRICA LATINA E CARIBE.


DADOS ATUALIZADOS EM 2016 - PESQUISA NACIONAL DO ABORTO-


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RISCOS DE UMA ANENCEFALIA DA/NA  JUSTIÇA SUPREMA http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/04/riscos-de-uma-anencefalia-dana-justica.html

EUGENIA - COMO REALIZAR A CASTRAÇÃO DE MULHERES E HOMENS COM DEFICIÊNCIA? http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/01/eugenia-como-realizar-castracao-e.html