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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
A MÚSICA QUE EDUCA NÃO DEPENDE SÓ DOS OLHOS
Imagem Publicada - um dedo vidente desliza sobre um texto em Braille, uma partitura musical, à direita, e na outra metade uma mão desliza sobre as teclas de um piano. Foto Agência Fapesp.
Em TEMPOS DE CARNAVALIZAÇÃO DA VIDA... ELA CONTINUA.... VIDA NUA...
Recebi, em pleno Carnaval, duas notícias importantes, ambas tratam da cegueira, mas são incongruentes. Uma eu já difundi, é a defesa de tese de doutorado, de Fabiana Bonilha, uma jovem cega, sobre Musicografia Braille, aprovada dia 10 na UNICAMP. A ela presto a minha homenagem elogiando sua tese: “Do toque ao som: ensino da musicografia Braille como um caminho para a educação musical inclusiva”.
Mas também terei de homenagear uma outra mulher. Uma mulher cega que conseguiu passar em um concurso público, como pedagoga, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Mas ela passou, venceu esta etapa, mas não levou,como dizem popularmente. Ela foi recusada como pedagoga pois, segundo a matéria, "não poderia,sendo cega, corrigir os cadernos" de seus (im) possíveis e invisíveis alunos. Telma é o seu nome, com sobrenome Nantes de Matos, e já está sendo providenciada a sua defesa, pois foi barrada na avaliação médica, após uma sonora risada profissional.
Ao meu colega médico que barrou a Telma envio minha orientação de que urgentemente se atualize. O que é válido para todos os outros profissionais de saúde do País. Já faz mais de 09 anos que a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, a CIF -2001, foi promulgada pela OMS, Ela deveria já ter sido incorporada pelos responsáveis por perícias, avaliações ou reprovações médicas,em especial nos serviços e concursos públicos. É preciso que o Estado, assim como os seus servidores públicos, assuma a sua posição de primeiro a cumprir e fazer valer as mudanças de paradigmas.
O modelo hoje reinvindicado por todos e todas que vivenciam uma ou mais deficiências é o chamado "Modelo Social". Este paradigma vem substituir o modelo biomédico e reabilitador. É um modelo que considera que as causas que geram as deficiências NÃO são de origem religiosas, míticas, e muito menos médicas. Repito o já dito: Deficiências não são Doenças...
É um modelo que aspira potencializar o respeito à dignidade humana, a igualdade de direitos, a não discriminação, a vida independente, e a acessibilidade universal. É o que faz com que uma pessoa cega, quando respeitada as suas diferenças e a sua diversidade funcional, possa estar em igualdade de exercício de funções sociais, quando rompidas as barreiras que o incapacitam, assim como o restante das outras pessoas consideradas videntes.
Ao afirmarmos o modelo social, ao qual incorporo a necessidade de um avanço estético-ético e político, devemos afirmar também que os direitos, em especial os Direitos Humanos, de todos e todas pessoas com deficiência é o cerne de quaisquer legislações e suas aplicações na vida social, como disse hoje cedo em entrevista telefônica para a Rádio Espaço Mulher, de São Paulo.
A música e a educação não são, e nunca foram, por si mesmas criações humanas ou espaços de aprendizagem excludentes, muito pelo contrário. Por isso uma Doutora em Musicografia Braille é tão importante como uma Pedagoga, dentro de uma visão inclusiva. A professora Nantes de Matos nos provará que, recebendo ajudas técnicas e outros auxílios, por exemplo um bom computador, poderá corrigir todos os cadernos e rabiscos de quaisquer alunos, com ou sem deficiência.
Porém, para que isso ocorra a Inclusão escolar não pode ser uma concessão. Deve ser um processo intrinsicamente ligado às políticas públicas , assim como um exercício de direitos. A educação e a música, sem discriminação ou exclusão, ao se superar a desfiliação social, tornam-se direitos humanos indispensáveis.
Eu escrevi este texto sem ficar todo o tempo olhando para o teclado. Assim como me deixei emocionar pela música de Joaquín Rodrigo, em seu Concerto de Aranjuez, com as cordas de um violão vibrante de Christopher Parkening me provocando. Precisava ouvir e sentir-me afetado, principalmente pelo belíssimo Adagio, tão popular como tema de milhares de propagandas que nos cegam e iludem para o máximo de consumo.
Mas o que me levou a este músico, pianista e compositor? É que Joaquín Rodrigo Vidre era um homem cego desde a mais tenra idade. É o compositor de uma das principais peças de música clássica mais executadas no Ocidente vidente. Ele é para os meus ouvidos e meu coração uma música que não depende só dos olhos, daí ter tentado uma escrita automática saindo direto de meu âmago, sem a vigilância do olhar.
Experimentem a ponta de seus dedos, sensibilizem-se com a possibilidade de tratar um teclado como se tocassem, incorporando um pouco de Joaquin Rodrigo, um piano imaginário. Um piano que a cada tecla tocada gerasse um som esclarecedor para os ouvidos/mentes dos políticos, magistrados, promotores, médicos e demais encarregados de reconhecer o direito de Telma, assim como o de Fabiana, de serem propagadoras de letras, partituras ou músicas que nos transformem em eternos aprendizes.
copyright jorgemarciopereiradeandrade 2010/2011 (favor citar a fonte em reprodução,difusão ou multiplicação livre deste texto)
Para reflexão com nossas mentes em abertura, Alegro ma non Troppo, recomendo o trecho da matéria abaixo:
Segundo Telma Nantes, quando teve que ser entrevistada pela equipe multidisciplinar da Secretaria de Educação, foi surpreendida pelas risadas de um médico que teria dito: “Como você pensa que vai ensinar desse jeito?”.
“Foi um ato de discriminação devido o preconceito da equipe multiprofissional com pessoa de deficiência”.
“Na hora eu fiquei quieta por medo de não ser nomeada. Eu sei que o prefeito não sabe o que acontece, mas todo professor tem um auxiliar. Eu que crie as minhas metodologias ou seja adequada a um espaço porque tenho certeza que tenho muito o que contribuir ...
Fontes:
Sobre a Pedagoga Telma - Instituto ajuda a cegos construírem a sua autonomia http://www.jfms.gov.br/news.htm?id=2679
Professora Cega passa em Concurso mas é Barrada: http://www.perolanews.com.br/?nav=noticia&n=1852
http://noticias.r7.com/vestibular-e-concursos/noticias/pedagoga-passa-em-concurso-mas-nao-consegue-assumir-a-vaga-por-ser-cega-em-campo-grande-ms-20100212.html
Sobre a Profª Drª Fabiana Bonilha http://www.todosnos.unicamp.br:8080/lab/partituras-em-braille
Partituras em Braille http://www.agencia.fapesp.br/materia/11759/partituras-em-braille.htm
PARA VER, OUVIR OU APENAS SE ENCANTAR - Concerto de Aranjuez - http://www.youtube.com/watch?v=e3_sML4prLE
PS - EM BREVE TRATAREI DA RESPOSTA QUE FOI DADA PELO SHOPPING D. PEDRO.... Aguardem. O Shopping não tem um Avatar.
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É incrível, como isso ainda acontece, em pleno ano de 2010, quando já se falou e discutiu tanto sobre a inclusão. Tantas medidas e políticas públicas já foram demandadas em prol da pessoa com deficiência...Esse acontecimento triste (triste? não sei se é esta a palavra), nos leva a refletir o que ainda precisamos fazer para sensibilizar nossos colegas de trabalho, educadores e médicos. Fico feliz que existam pessoas como Dr. Jorge Márcio, que através de seu jornal nos leva a refletir sobre tudo isso e não nos deixa ficar imunes.
ResponderExcluirWanilda Varela
psicóloga
Cara Wanilda
ResponderExcluirAgradeço seu comentário que prova a necessidade de se manter uma ativa e permanente defesa dos processos de Inclusão e de combate a todas as formas de Exclusão, Discriminação ou Segregação...Mantenha-se uma leitora e difusora de meu blog e envie aos seus amigos/amigas, pedindo apoio e mensagems ao MS, para que a Prof.Telma seja reconhecida como pedagoga e cidadã, e não apenas como uma pessoa cuja cegueira é ainda vista como impedimento para o ato de ensinar... um abraço
Jorge Márcio
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirJorge sou de Campinas também.Seu BLOG está muito bom e de conteúdos ótimos.Te sigo por aqui.Te convido a SEGUIR o meu se te interessar.Abraços Odila
ResponderExcluirP.S:Minha filha tem trabalhos em Joinville-SC com deficientes físicos...estou passando seu BLOG para a turma.O e-mail dela é aninha@cepe.esp.br ( CEPE é o nome da ONG)Se achares conveniente incluir na sua lista...vai ser muito bom.
CARA ODILA obrigado pelos estimulos atraves de seus comentários e o fato de seguir este trabalho no Blog... Já enviei para sua filha o material recente do INFOATIVO.DEFNET que costumo enviar há mais de 14 anos, já chegando a 4347 edições. Vou conhecer seu blog e o trabalho da CEPE com as pessoas com deficiência em Joinville. Continuarei aguardando também suas críticas e idéias para o aprimoramento do Blog e seu autor.
ResponderExcluirUM ABRAÇO e que a musica esteja presente para alem de seus olhos.
jorge marcio
É muito duro ter conhecimento desse fato, de que uma colega de profissão, que não passou na perícia médica, por falta de conhecimento da banca que se diz especial. Para avaliar a professora a banca teria que conhecê-la no cotidiano.Não podem avaliar uma professora que tem capacidade intelectual pela aparência, teriam que conhecê-la no cotidiano de sua prática pedagógica.
ResponderExcluirHoje com todo esse nosso arcabouço legislativo inclusivo temos grandes dificuldades ainda para expormos nossas habilidades, e a sociedade continua alegando desinformação ou falta de preparo com a acessibilidade, a comunicação e enfim outras desculpas esfarrapadas!!!!
OI ISIS
ResponderExcluirSei que seu comentário vem de sua própria vivência como professora, daí a veracidade de sua percepção de há outras barreiras a serem derrubadas... talvez as barreiras atitudinais sejam tão "duras" e resistentes como as outras... um abraço Jorge Marcio