
Imagem publicada - a foto publicada na mídia da frente da Escola Alcina Feijão. Tem um faixa estendida que traz a seguinte frase: Parabéns, Alunos, Professores e Equipe, pela classificação honrosa: 1º Lugar das escolas públicas de São Paulo no ENEM 2010. Lá, em escala"menor", a tragédia de Escola de Realengo se reproduziu... E um cartaz anuncia que AS AULAS ESTÃO SUSPENSAS... (Foto de Raphael Prado G1)
"... A criança que não fala não conhece a morte, conhece a ausência." (Ginette Raimbault, L'Enfant et la mort, 1977)
Mais um. Mais um aluno revela o quanto precisamos aprender um simples lição: as crianças são mortais. Morte, ou melhor a Dona Morte como a tenho intimamente chamado, é um episódio que afeta profundamente às crianças. E, no nosso silêncio-tabu, não deixamos de matá-las, violentá-las e, mesmo inconsciente e filicidamente, ajudá-las a cometer o suicídio. Negando-nos à aceitação de que as crianças também morrem...
Em São Caetano do Sul, uma escola que tem nome finalizado em feijão, me trouxe de volta ao tema de outros posts do blog. Primeiramente por saber de uma trágica situação de um menino que se suicida (ou é suicidado?), com o 38 de seu pai, após atirar em sua professora. Não irei indagar o que o motivou, já estão afirmando-o uma criança com deficiência física, que mancava e que sofreu bulliyng dos colegas.
A interrogação que nos deverá assolar é: andamos, coletivamente, praticando uma pedagogia da violência? Segundo matéria publicada: a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Altina Dantas Feijão, de São Caetano do Sul, região do ABC Paulista, disse nesta sexta-feira acreditar que jamais será descoberto o motivo pelo qual um aluno da escola baleou uma professora para depois se matar.
Ela o descreve como um aluno como uma criança doce, não se envolvia em bagunça - tampouco era quieto demais - e cumpria regras. "A gente via ele brincando, mas nunca em brigas, em confusão ou bagunça".
Aí me pergunto se no perfil do suicidado estará também a pergunta de seus motivos autodestrutivos tão intensos. Estaria o aluno calmo e de boas notas arquitetando há muito tempo como Wellington uma "vingança ou revanche"? Não teremos todas a certezas e nem devemos, onipotentemente, almejá-las. Podemos sim, mas uma vez, com humildade, refletir sobre a mortalidade infantil e o quanto nossas crianças são mortais?
Morrerão ainda muitas caso nossas ações em sua proteção e defesa, intransigente, não for realizada. Morrem, a granel, inclusive no chifre da África ou no Haiti ou nos confins do Brasil, pelos olhos vendados de nosso mundo, um mundo que, como já disse, prioriza os direitos econômicos nessa hora urgente de defesa dos demais Direitos Humanos.
Nos diálogos sombrios ou metafísicos que tenho de travar com a Dona Morte, nos últimos tempos, andei refletindo sobre a Criança e a Morte. Fui buscar a releitura de Ginette Raimbault. Esta leitura foi realizada há muitos anos atrás quando trabalhei com um grupo de profissionais de saúde a terminalidade da vida. Era um trabalho no Hospital Geral de Bonsucesso, com crianças com um câncer renal inexorávelmente fatal.
O livro nos traz uma fala das próprias crianças sobre a clínica do luto. Desnudam-se nossos temores diante da Dona Morte. As crianças, com doenças terminais, diante do silêncio dos adultos sobre o tema, não o temem. Pelo contrário mostram com clareza a capacidade que têm reconhecer sua doença, portano a nossa ''mortalidade''.
Recomendo que resgatem essa obra da psicanalista, sua leitura poderá abrir espaço para o mínimo diálogo íntimo com nossa própria transitoriedade e finitude. E, nossos recônditos lutos ou temores da perda, poderão ser melhor compreendidos...
Quanto a escola deste menino e desta ferida pedagogia caberá, para além de um suporte psicológico imediato, uma profunda e séria reflexão sobre os modos éticos e bioéticos do processo de aprendizado sobre o valor da vida e sua vulnerabilidade.
Lá, espero eu, poderá, como em Realengo, vir a ser um foco de revolução molecular sobre a educação para e sobre os Direitos Humanos. Um tema que insisto deverá fazer parte viva e ativa de todos os currículos escolares, do ensino fundamental até às pós-graduações. Nesses muitos anos de aprendizado ainda faltarão muitos outros para que o respeito à Vida e ao Outro se consolidem.
O nome do suicidado é/era Davi, como os mesmos 10 anos de minha filha Isadora. Por, ela e todos que merecem um Outro Mundo Possível é que continuarei indagando: - Diante de novos Davis, armados ou não, nós somos/seremos seus Golias, tirânicos, disciplinadores e imperialistas, a serem derrubados com uma pedrada ético-política vinda da Palestina ou da Somália? Temos de cuidar para que as escolas permaneçam o lugar da diferença, e não se tornem novos campos de disciplinamento de corpos ou Vidas Nuas.
Descanse em paz, então este Davi, lá no Cemitério das Lágrimas, pois não podemos "descansar", enquanto existirem outros a serem menos vulnerabilizados e violentados. Ainda temos de construir um outro modo, ético, político e estético, para a(s) vida(s), pequenas ou maiores, de cada criança que habita o planeta Terra.
Lembrem-se: as crianças são mortais. Mais ainda se as armamos com nossas piores desatenções. Hoje no muro da escola estava escrito: uma criança chora e os pais não vêem. Escutemos em nós as nossas próprias crianças e suas vulnerações. Uma criança que é imortal em cada um(a) de nós...
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Leitura indicada: A Criança e a Morte ( Crianças doentes falam da morte: problemas da clínica do luto)- Ginette Raimbault - Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, RJ, 1978
Notícias citadas:
SP: nunca saberemos motivação de aluno atirador, diz pedagoga https://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5368220-EI5030,00-SP+nunca+saberemos+motivacao+de+aluno+atirador+diz+pedagoga.html
Aluno de 10 anos atira em professora em escola de São Paulo https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/aluno-de-10-anos-atira-em-professora-em-escola-de-sao-paulo/n1597223769645.html
Namorado diz que professora baleada não se queixava de aluno
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/09/garoto-era-aluno-exemplar-diz-professora-namorado.html
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O SUICÍDIO E A DOR - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/09/o-suicidio-e-dor.html
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