Imagem publicada- uma
foto de minha autoria, que denominei de uma Saudação ao Futuro? Primariamente
colorida, transformada digitalmente em preto e branco, como nos Anos 60. Foi
feita durante a manifestação popular aqui em Campinas, no dia 20 de junho de
2013. É o instante de um jovem com o braço erguido, com vários cartazes à sua
volta, e se destacava um deles: Feliciano sai do armário. Há nesta foto, para
mim, um movimento dos corpos que protestavam, indignados, na rua contra muitas
das violências invisíveis a que todos e todas fomos e somos submetidos. Existe
também nela uma reprodução de uma saudação com os punhos cerrados. Este gesto
foi feito por negros, por brancos, por diferentes seres humanos. Teve a cada tempo
uma simbologia. A que me ligou o olhar foi a que lembra os braços em ordem e
progresso, alinhados e serializados dos tempos fascistas da nossa História
ocidental. Ou será uma história acidental? Uma história repetitiva? ou um alerta para novos Fascismos?
Não dormi direito esta noite novamente, e acho isso vai continuar. Eu tive
um motivo extra para minha insônia já cotidiana. Passei um tempo tentando usar
as comunicações das redes sociais para levar um pouco de minhas reflexões. Podem
dizer para que os meus leitores e leitoras tenham paciência, fôlego e persistência.
Os temas acima me exigiram também emoções.
Ainda tento modificar e questionar a constatação de Bauman: “Nenhuma das explosões populares de protesto
estimuladas pela Internet e eletronicamente ampliadas conseguiu remover os
motivos da raiva e do desespero das pessoas”. Será?
Os discursos extremados e extremistas, que trouxeram um cheiro podre de
golpe e de re-militarização da vida esses dias, me provocaram. Meu/nosso cartaz
na manifestação era: “64 Nunca Mais – Direitos Humanos Sempre”!
Eis-me refletindo sobre a nossa força virtual ou presencial nestes dias
de apaixonadas manifestações por todo o país. Por isso temos agora, após as
suas espetacularizações, um momento impar de diálogo aberto com o que chamamos
de Governo.
Temos a rara oportunidade de uma maior politização social, e, por
conseguinte, do ato de esclarecer nossos concidadãos, brasileiros e brasileiras,
sobre as midiatizações bem ou mal intencionadas. O momento é de combater e
denunciar, principalmente, os atos de Intolerância e Terror Policial que foram,
estão e podem sendo cometidos no país.
Disse concidadãos (ãs) para não usar o termo compatriota. O patriotismo
já revela e revelou nos seus “ismos” recentes como os slogans fascistas nele
podem se esconder. Lembre-se de cartazes ou faixas que dizem: -“Meu partido é o meu País”. Os fascistas
gostam de homogeneidade e desaparecimento de qualquer manifestação de
diferença.
Os criadores dos partidos Fascistas na Itália ou na Alemanha também
utilizaram a ideia inicial do apartidarismo como forma de captura, por exemplo,
dos desejos das massas italianas ou alemãs, principalmente os jovens. Depois propuseram a ideia do
Partido único e hegemônico.
Por isso seus líderes máximos tiveram seu apogeu nos períodos de guerra
na Europa, no início do Século XX. E arrastaram o Mundo e arrasam muitas massas.
Na construção de seres matáveis e sacrificáveis, como no Holocausto, eliminaram
muitos corpos considerados ou impuros eugenicamente ou inúteis.
Uma grande Onda, um Tsunami ideológico, conquistou e envolveu o “povo”.
Essa massa humana, presa às inflações econômicas e éticas, tinha a crença de
uma “nova” forma de populismo ultranacionalista.
Uma massa que se considerava uma verdadeira “floresta” em marcha, um exército a ser invencível, um grupo de eleitos por outra massa inflacionada que poderia “salvar” todo o mundo e dominá-lo. Porém precisavam de culpados por suas falências.
Uma massa que se considerava uma verdadeira “floresta” em marcha, um exército a ser invencível, um grupo de eleitos por outra massa inflacionada que poderia “salvar” todo o mundo e dominá-lo. Porém precisavam de culpados por suas falências.
Essas inflações, com várias origens, inclusive as crises monetárias,
foram imputadas aos “diferentes”: fossem judeus ou comunistas, pessoas com
deficiência ou homossexuais, ciganos ou dissidentes políticos, todos,
ideologicamente, foram, cada grupo ao seu tempo, “incluídos no estigma de
insetos nocivos para a Sociedade”. Tornaram-se o “mal” a ser eliminado.
Após a retomada de alguns textos importantes para nossas reflexões, e a
análise mais detalhada das fotos que fiz no dia 20 de junho, no início da
manifestação aqui em Campinas, amenizei as outras dores do meu corpo e mente
conectados com as massas.
O título escolhido para este texto é uma provocação para a urgente
compreensão das raízes subterrâneas, não rizomáticas, duras e nefastas que já
estavam sendo plantadas contra esse movimento popular histórico. Não há mágicas
para explicar essa explosão, esse “enxame humano” que está ocupando as ruas do
Brasil. Há é gêneses políticas e socioeconômicas. Não são só os 20 centavos do
MPL.
Reli e sugiro leitura urgente alguns capítulos do livro TEMPOS DE
FASCISMOS. Lá há uma importante conceituação sobre a INTOLERÂNCIA. Este termo é
transversal tanto para os Governadores, como Cabral ou Alkmin e outros, como
para outros gestores, e, principalmente para o tipo de Polícias, repressões e
Políticas que estão em ação no Brasil.
A INTOLERÂNCIA, em um importante glossário e dicionário construído na
Itália, durante os ANOS FASCISTAS de Mussolini, em uma visão enciclopédica, é
definida como sendo: “a atitude de quem,
tanto na religião como na política, sente um apego tão forte às próprias
ideias, opiniões, sentimentos, que não pode admitir de nenhuma maneira a
MANIFESTAÇÃO de um pensamento diferente, ao qual, com base unicamente em tal
deformidade nega qualquer validade...”.
O interessante e histórico é que esse verbete, que faz parte da
Enciclopédia Italiana, criada à sombra do regime fascista entre 1929 e 1939,
foi escrito por Alberto Pincherle, um professor judeu de história das religiões
na Universidade de Roma, e depois na de Cagliari. Ele próprio sofreu
perseguições e foi vítima da intolerância fascista. Foi afastado do mundo
acadêmico em 1938.
Foi excluído pelo decreto de expulsão de todas as “pessoas
judias” da escola italiana de qualquer “grau ou ordem”. Por aqui essa
perseguição, com muitos exilados, torturados ou presos, foi o mote dessa caça
aos “professores comunistas” ou “vermelhos (simpatizantes de partidos de
esquerda)” em muitos períodos da Ditadura Militar.
A definição de Pincherle tem o cuidado de esclarecer ainda mais esse
mecanismo e atitude tão atravessador das histórias do mundo. Por negar qualquer
validade a outras formas de pensamento é que os intolerantes: “... considera(m) também a polêmica apenas como
um meio destinado a uma finalidade mais geral. Tal atitude nasce da convicção
de possuir uma verdade absoluta e imutável, por isso a intolerância
distingue-se também da intransigência, que é predominantemente de ordem prática...”.
Para um mundo que vem assistindo como diz Giorgio Agambem uma
perpetuação do que ele denuncia: “... A
tradição dos oprimidos nos ensina que o Estado de Exceção em que vivemos é na
verdade uma regra geral. Precisamos construir um conceito e História que
corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é
criar um verdadeiro Estado de Emergência”.
Porém o que estamos hoje, ouvindo, assistindo e promovendo é uma
‘urgência de outro Estado’, e os ‘golpistas’, aliados aos fundamentalistas, reivindicam
o trono e a glória. Anunciam-se como donos da Verdade, não a da Comissão, como os
arautos salvadores de um Brasil Novo, quiçá um Estado Novo remodelado.
E, para aplacar essas ondas e massas, com múltiplos interesses ou
reivindicações, o Governo Federal e nossa Presidente se apressam na proposição
de pactos e de um Plebiscito. Porém o que permanece claro para os indignados,
agora mais provocados ainda, é que se associam os governistas hegemônicos, PT e
aliados, com os que querem evangelizar o Planalto.
O protesto que se anuncia, quando os 20 centavos, a PEC 37 e um novo
ordenamento político anti-corrupção se pronunciam, momentaneamente, solucionados,
agora é pela luta contra a intolerância e fundamentalismo na recente aprovação
da chamada “Cura Gay”.
E um ícone pastoral surge, novamente, para além dos cartazes e faixas
como o novo “inimigo do povo” a ser derrotado. Porém corremos um risco aí da
suposta ingerência do Executivo no Legislativo, que não se fez e nem se fará, e
o Feliz sem ano continuará, mesmo a contragosto popular, “gerenciando”
felicianamente os Direitos Humanos e as Minorias.
Por isso associei a não “cura” possível desses “males”: o fundamentalismo
religioso e os fascismos. As suas raízes “pangenéticas”, ou seja, múltiplas,
nascem, pelo que aprendemos da História, do próprio desejo das massas.
No verbete intolerância ainda podemos compreender melhor essa faceta,
esse rosto de Jano dos intolerantes, fascistas e fundamentalistas. Para eles,
como foi definido por Pincherle: “... A
intolerância, em outros termos, pressupõe uma ortodoxia, ou seja, trata-se não
somente de defender a verdade, mas impedir que os outros caiam em erro (acrescentaria
o Pecado), considerado por si só pernicioso, aliás, o pior dos males, a ser
evitado mesmo a custo de consequências gravíssimas.”
Foi essa a gravidade de uma sorrateira ação fundamentalista do Pastor.
Foi e é nessa forma de intolerância que não deve ser apenas quanto às escolhas
ou modos de vida sexual, que uma Comissão de “Direitos Humanos” alegou o
direito de escolha para serem curados os que considerarem suas
homossexualidades um “mal a ser curado”, mesmo que isso implique em uma nova
forma de “castração psicológica” ou “arrependimento de um grave pecado”.
Caso não consigam entender como podem ser fascistantes estas perigosas
ações dos fundamentalistas, reforço que eles/elas, muitas vezes investidos de
nossos representantes, se outorgam ter, por Amor, a capacidade de escolher o
que é melhor para os outros mortais. Basta que lembremos que suas palavras são
meras repetições de suas Bíblias, suas afirmações são mais que ortodoxas, são
dogmáticas. As suas bocas vociferam A VERDADE.
Por isso, não podemos cair na ‘pastorfobia’, na ‘deputadofobia’, na ‘políticofobia’.
Não tenhamos essas arrogâncias ou “doenças” fascistantes. Estes, dessa lista, querem
impor sua verdade, como vimos, e se tornam totalitaristas. Hoje se transmutam
em utilitaristas já que muitos dos seus eleitores são apenas “consumidores” de
suas pregações e convicções. E, muitos creem neles ou nelas.
Para fanáticos ou fascistas não há nem diversidade, nem diferença,
somente uma identitária e ortodoxa igualdade... Vestem os mesmos uniformes,
ternos ou longas saias encobridoras de desejos, aspiram purezas imaginadas em
corpos doutrinados, marcharam no mesmo passo repetitivo e alienante.
Por isso podem destruir com a mesma dureza quaisquer uns que lhes
pareçam ser ameaça às suas verdades. São, porém mais sutis que os partidários
de Mussolini. Os novos campos de exceção ou de doutrinamento primordiais foram
montados em velhos cinemas. Lá já encontraram o palco e a tela. Os seguidores
já sabiam previamente do Espetáculo.
Um espetáculo, na Alemanha , denominado Triunfo da Vontade, que uma cineasta alemã,
Leni Rienfenstahl soube muito bem, em 1934, captar no e para o Nazismo. Apenas
localizou e ampliou os ângulos de crescimento e força das massas nacional
socialistas de Hitler. E, magistral e cinematograficamente, valorizou um gesto:
Heil Hitler! E multidões, muito bem
adestradas e serializadas, gritavam em uníssono em grandiosos cenários
públicos, como o de Nuremberg.
Tomemos, portanto, cuidado ao erguermos nossas mãos. Podemos estar
realizando o mesmo movimento, a mesma ONDA, os mesmos símbolos e as mesmas
intolerâncias que Mussolini ou Hitler propunham para os Fascistas e os
Nacionais Socialistas.
Temos nas vivências mais simples a possibilidade de reproduzir esses tiranos, mesmo nas nossas mais microscópicas relações. Essas microfascistações estão no âmago dos seres humanos ditos modernos e revolucionários.
Temos nas vivências mais simples a possibilidade de reproduzir esses tiranos, mesmo nas nossas mais microscópicas relações. Essas microfascistações estão no âmago dos seres humanos ditos modernos e revolucionários.
Esse é, então, o mesmo cuidado e carinho que devemos ter ao buscar no
movimento atual das multidões brasileiras. Não podemos generalizar ou
simplificar. Há uma complexa engrenagem social, econômica e um grande
Analisador Histórico em ação.
Não estamos nas barricadas da Comuna de Paris, em 1867, como no filme
os Miseráveis, muito menos na Presidente Vargas de 1964. Só não podemos nos
arvorar a reproduzi-las, pois já deveríamos ter aprendido algumas coisas, por
exemplo, como são analisadoras essas
lições das ruas e das “revoluções” populares do passado da Humanidade.
Os analisadores históricos são importantes para trazer à tona as partes
submersas dos ‘parcialmente’ visíveis icebergs das sociedades. Ontem, antes de
ontem e, quiçá, amanhã as mídias simplificaram e naturalizaram como Vandalismos
as violências dos violentados.
Ocorreram e ocorrerão exageros e depredações. Foram e serão reativas, assim como provocativas, a uma eficiente máquina policial repressora chamada de Choque. A mesma que troca a munição de borracha por chumbo grosso quando entra na “pacífica e higienizadora” tomada das favelas.
Ocorreram e ocorrerão exageros e depredações. Foram e serão reativas, assim como provocativas, a uma eficiente máquina policial repressora chamada de Choque. A mesma que troca a munição de borracha por chumbo grosso quando entra na “pacífica e higienizadora” tomada das favelas.
O cenário que se construiu, midiática e espetacularmente, aproximou-se
do chamado Caos. Este caos de fumaças, bombas, lágrimas violentadas, corpos
arrastados e outras violências visíveis e tele visíveis, forma anunciados como
a antevéspera dos fins e dos apocalipses.
Eram, a meu ver, apenas resultantes dessas mútuas intolerâncias
surgidas de confrontos políticos latentes. E do lado dito popular tenho minhas
indagações certeiras sobre suas infiltrações fascistantes e direitistas. Os que
se chamam de “carecas”, em outros confrontos, por exemplo, gostam desses
exercícios de força e de lutas. Eis um exemplo de intolerância que se encaixa
“perfeitamente” no conceito de Pincherle.
Esses, em suas homofobias e
racismos múltiplos (de negros a judeus, passando por moradores de rua e gays),
são um exemplo típico da violência intolerante. Lembremos que, recentemente, isso
foi evidenciado pelos ataques a homossexuais por skinheads na Avenida Paulista
e outros locais do Brasil. São, porém, apenas
a ponta minoritária do iceberg dos fanatismos políticos fascistas.
Os episódios dos Choques que foram e estão sendo explorados
midiaticamente, geram falas endireitadas e perigosas, a ponto de termos de
ouvir um SemAntena falar sobre a urgente “hora da revisão Constitucional”
diante da “falta de política e de políticos honestos”. Hora da generalização e do sensacionalismo.
Outras redes de televisão exploram os diferentes focos de fogo ou
insurgência popular, e, novamente os manifestantes tornam-se os porta-vozes de
uma “urgente reforma política, com novas eleições”.
E as redes sociais reproduzem até o pedido de Impeachment a la Collor. Começam dizendo que a marcha é “pacífica”, mas têm os vândalos infiltrados para provocar uma dura repressão. A energia desse “fogo” das ruas deverá ser aplacada.
E as redes sociais reproduzem até o pedido de Impeachment a la Collor. Começam dizendo que a marcha é “pacífica”, mas têm os vândalos infiltrados para provocar uma dura repressão. A energia desse “fogo” das ruas deverá ser aplacada.
Discursos competentes que reproduzem, a meu ver, também essas
intolerâncias subjacentes e não visíveis dos atuais movimentos e manifestos. E
o discurso “oficial”, vem dias depois, se associar a esta fala televisiva que
nos distancia de uma real visão analítica implicada dos acontecimentos.
Como acalmar os ânimos dos rebeldes? Como responder ao “clamor” dessas massas? Novos pacotes, novos acordos, novos pactos, novas leis, novos endurecimentos da governamentabilidade ameaçada?
Como acalmar os ânimos dos rebeldes? Como responder ao “clamor” dessas massas? Novos pacotes, novos acordos, novos pactos, novas leis, novos endurecimentos da governamentabilidade ameaçada?
Há como já escrevi, relembrando
um texto de 25 anos atrás, a insurgência e a emergência dos rancores reprimidos
contra o Estado de Exceção. É aí que corremos o risco do amor fanático à Cólera
coletiva. E todos levam a mão ao peito, erguem o punho, e cantam emocionados o
Hino Nacional. A que ou ao que estamos e estaremos saudando? Ou o que e quem
esperamos salvar?
Surgem, portanto, nesse cenário de força criativa das multidões, dois
caminhos possíveis: a despolitização dessas massas ou a sua hiperpolitização
falsa ao lhe dar um caráter de totalidade de todo um “povo brasileiro”.
Nem a aversão aos partidos e seus/nossos
representantes como solução, nem a ideia e pensamento mágico de mudança utópica
apenas pela nossa expressão massiva de opiniões e queixas do Estado e seu
modelo democrático. Há alguma forma de
“cura” profilática ou higienizadora que dê conta dessas convulsões sociais?
Não podemos ter a pretensão totalitária de “curar” as atitudes dos que
agora dizem ouvir as ‘vozes e clamores da multidão’.
Os manifestantes, segundo a Globo emitem “gritos de guerra”. Já estão
gritando velhos e conhecidos refrãos pelos direitos civis. Todos dizem: , ARROZ
E FEIJÃO! SAÚDE, EDUCAÇÃO. Porém a transversalidade do momento histórico nos
revela que a descrença na política e nos políticos não se resolve de forma
vertical e hierárquica.
“Eles” lá no PlanALTO
e nós sob os paralelepípedos, blocos de cimento ou asfalto das ruas intensificadas.
A história nos diz que, em
1968, quando éramos “os jovens”, ou apenas meninos e meninas sonhadores, sob as
pavimentações das ruas estavam intensos e múltiplos sóis ou luas. Os novos
tempos demonstram que há uma micropolítica emergente, milhares de intensidades se
manifestando ao ar livre. A Rocinha, que
não é rural, só pede saneamento básico, saída para os esgotos que se derramam
no mesmo mar do Leblon, no Rio de Janeiro.
Porém como já disse há a permanência de alguns fanáticos ou fascistas e
suas intolerâncias que nos querem “manter engarrafados”, não apenas na Marginal
como marginais ou periféricos.
Querem é nos asfixiar com suas “verdades” fundamentalistas. E,
asfixiados por estas bombas e gases invisíveis deixarmos a indignação de lado.
Então, novamente seduzidos pela Sociedade do Espetáculo e do Controle passarmos
para o seu caminho endireitador e biopolítico de corpos em serialização.
Não se derrubaram Pinochets, Médicis, Videlas e outros generais
fascistas e suas ditaduras apenas com a molecularidade revolucionária dispersa
das ruas ocupadas. Elas foram, são e serão indispensáveis. Segundo Canetti as
multidões tem como metáfora as fogueiras. E se o fogo for cívico ou tender para
o fanatismo fará com que tenhamos o resultados históricos diferentes dessas labaredas das massas.
Escrevi hoje sobre um cidadão que resolveu quebrar a calçada de um
órgão público, uma Secretaria da Saúde, para construir ali um direito por ser
um cadeirante: uma rampa. Disse a respeito da matéria: “- um homem sozinho pode
quebrar algumas ou muitas barreiras... entretanto, quando as gotas de água do
Rio humano se unem e aglutinam podemos até transformá-las em cascatas,
cachoeiras, TROMBAS D'ÁGUA, em ENCHENTES DE GENTES...”.
Vamos lembrar que um pequeno grupo de mães e avós, uma gota lúcida nas
águas turvas da Ditadura Argentina, chamadas de “loucas”, as Madres e Abuelas
de Mayo, conseguiram, também, denunciar e combater os desaparecimentos
políticos da co-irmã ditadorial dos Anos 70. Mantêm sua roda em frente à Casa
Rosada até este instante de hoje. Os fascismos e fanatismos em nós precisam de
combate cotidiano e persistente.
Aprendemos que, mesmo denominada Las Locas, persistiram e não arredam
os pés e lenços da sua vigília cívica na Plaza de Mayo. Aqui no Brasil também já temos nossas Mães de
Maio, lutam por, em e para Direitos Humanos. Também viram seus filhos serem
assassinados.
Nossas mães têm uma história que
as motiva e alimenta como às argentinas, lutam, cotidianamente: “Em memória das 13 vítimas da Chacina da Maré
e do jovem Jackson de Itacaré-BA (25/06/2013), das 3 vítimas da Favela
Funerária (22/06/2013); das 8 vítimas da Baixada Santista (última semana) e
demais vítimas da repressão em todo Brasil”. Serão também chamadas de “malucas”, “loucas”,
“doidas”?
Até quando estamos dispostos a manter nossas passeatas e manifestações
para além do virtual, para contrariar algumas expectativas oficiais, para além
das redes sociais ou dos outros modos de distanciamento do Outro e da política?
Não poderemos curar os pastores homofóbicos, se ficarmos imobilizados,
pois seus corpos e mentes já foram ou se sentem salvos. Não há como dizer para
eles que não existe essa Verdade absoluta e totalitária de um mundo só de seres
totalmente idênticos e iguais. Muito menos lhes explicar o que significa e se
enraíza neles de uma adoecida e envelhecida intolerância brutal.
Oportunamente, diante das manifestações que usam seu nome nas faixas e
cartazes, o Infeliz Sem Ano, anuncia, provavelmente com seu cartel já instalado
em Brasília, que “não existe cura gay,
pois a homossexualidade não é uma doença”...
Porém, homossexuais, lésbicas, transexuais, travestis e outros
desviantes sexuais, continuarão sendo alvo da intolerância, por pastores
homofóbicos e seguidores, como uma “aberração” contra os princípios de uma
verdade bíblica e dogmática. Estes cidadãos e cidadãs são “amaldiçoados”, e
nós, os negros também nos incluímos aí...
Provavelmente irão, diante das iras populares incendiadas, que a mídia
oficial chamou de “vândalos”, enterrar esse projeto que autoriza a chamada
“cura gay”, com tratamentos psicológicos. Não dirão que há, no magma destas
terapias, um passado de lobotomias, eletrochoques, experimentações médicas,
castrações, tratamentos hormonais, trabalhos forçados, reconversão com uso de
prostitutas, extermínio e campos de concentração.
A construção da Anormalidade sempre justificou medidas terapêuticas
biopolíticas, panópticas, manicomiais, de isolamento social, repressivas e, se
necessário, de eliminação dessas Vidas Nuas. Como recurso final, deveríamos
internar compulsoriamente estes anormais?
Concluo, então, que os PASTORES FUNDAMENTALISTAS, RACISTAS E
HOMOFÓBICOS, NÃO TÊM “CURA”, ASSIM COMO A INTOLERÂNCIA E O FASCISMO. Não
podemos usar a sua lógica perversa e aética para aplicar a eles a mesma
terapêutica ou conversão.
Todos têm história, enraizamento, plateia, seguidores e formam outra
“rede” ideológica, como uma cruzada, na qual querem “incluir” todo o MUNDO... E
CONTINUAREMOS ASSIM, OS INFIÉIS, OS ÍNDIOS, SEM O DEUS DELES, MORTAIS E TERNAMENTE
INCURÁVEIS.
Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013/2014/ 2024 ad infinitum, atualizado e revisto em 11 de janeiro 2023, após invasão do Congresso, Palácio do Planalto e STF por bolsonaristas insuflados por seu fascismo- Todos os direitos RESERVADOS 2025 (favor citar o
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comunicação de Massas)
Notícias na INTERNET conectadas no texto:
Medo das ruas?
Feliciano agora diz que não existe 'cura gay' https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/06/26/interna_politica,412957/feliciano-agora-diz-que-nao-existe-cura-gay.shtml
Homossexuais na
Alemanha Nazista https://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexuais_na_Alemanha_Nazista
Tempos de NeoCura Gay
- Terapia de Reversão Sexual incluiram Lobotomia, Choques e Castração, é
desumano!
PARA OS QUE AINDA
LEGITIMAM, usando inclusive a Constituição, o retorno a um passado de
preconceito, eugenia e intolerância - recomendo a leitura de Triângulo Rosa —
Um Homossexual no Campo de Concentração Nazista https://acervo.revistabula.com/posts/livros/triangulo-rosa-um-homossexual-no-campo-de-concentracao-nazista
Hoje(01/10/2011) na
História: 1944 - Nazistas iniciam experiências de castração em gays nos campos
de concentração https://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/15630/hoje+na+historia+1944++nazistas+iniciam+experiencias+de+castracao+em+gays+nos+campos+de+concentracao.shtml
Para quem não leu a
HISTÓRIA E AS SUAS RAÍZES- Nazistas tentavam 'curar' gays com prostitutas e
tratamento hormonal https://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2013/06/1297868-nazistas-tentavam-curar-gays-com-prostitutas-e-tratamento-hormonal.shtml
Cadeirante se revolta
e constrói rampa de acesso a órgão público de MT https://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2013/06/cadeirante-se-revolta-e-constroi-rampa-de-acesso-orgao-publico-de-mt.html
Resposta do Movimento Mães de Maio ao convite da Presidenta Dilma
Rousseff para importante reunião! https://racismoambiental.net.br/2013/06/resposta-do-movimento-maes-de-maio-ao-convite-da-presidenta-dilma-rousseff-para-importante-reuniao/
LIVRO CITADO –
TEMPOS DE FASCISMOS – Ideologia – Intolerância – Imaginário – Maria Luiza
Tucci Carneiro & Federico Croci (Orgs.) – Editora EDUSP, São Paulo, SP,
2010.
FILME citado no texto –
O TRIUNFO DA VONTADE (TRIUMPH DES WILLENS) – Leni Rienfenstahl – 1935 -
DVD- Excertos do filme https://www.youtube.com/watch?v=KQxKvg_CDLQ
LEIAM TAMBÉM NO BLOG –
ABRAM A PORTA DA SALA... A RUA ESTÁ ENTRANDO POR ELA https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/06/abram-porta-da-sala-rua-esta-entrando.html
MOVIMENTOS, MASSAS,
MANIFESTOS E HISTÓRIA: POR UMA MICROPOLÍTICA AMOROSA URGENTE
A PRAÇA É DO POVO? AS
RUAS SÃO DOS AUTOMÓVEIS E ÔNIBUS? E OS DIREITOS HUMANOS SÃO DE QUEM?
A TOLERÂNCIA É MAIS
QUE UM BACALHAU NO MEU ARROZ COM FEIJÃO? – EM BUSCA DA EMPATIA, PARA ALÉM DA
ANTIPATIA... https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/07/tolerancia-e-mais-que-um-bacalhau-no.html
A COREIA DO FANATISMO POLÍTICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR: ESTAMOS NO SÉCULO XXI?
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/04/a-coreia-do-fanatismo-politico-e-o.html
A COREIA DO FANATISMO POLÍTICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR: ESTAMOS NO SÉCULO XXI?
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/04/a-coreia-do-fanatismo-politico-e-o.html