Imagem Publicada- um
poemapictórico meu onde sobre o fundo de cor preta está a frase – Es Cre Ver
sobre o Preto para que o Negro vire
Poesia e Não apenas a Capa Preta da Realidade Obs escurecida... Com pequenos ”riscos”
em vermelho para nos lembrar dos riscos que corremos quando negamos o quanto
somos vulneráveis, e o quanto nos submetem à vulneração hoje em dia. A vocês, mesmos
temerosos, a afirmação de novas cartas e cartografias para o Viver, apesar e
além de todas as de-pressões ou lutos ou lutas.
“Não pode ser próprio do
poeta entregar a humanidade à morte. E, com consternação que ele, que não se
fecha a ninguém, percebe o poder crescente da morte em tantas pessoas. Mesmo
que a todos pareça façanha inútil, o
poeta vai pôr-se a sacudir esse poder e jamais, em hipótese alguma
capitulará...”
(Elias Canetti, A Consciência das Palavras, pág.322, a última)
Jovens, vocês são, nós somos, e serão,
o motivo e o objetivo principal de minha carta subjetiva. É uma 'missiva' dos
tempos dos furações, das opressões, dos desfiliados, das violências
naturalizadas, das banalizações dos espetáculos do Estado, das farsas
macropolíticas a favor da Sociedade de
Controle. Tempos de Vidas Desperdiçadas dirá Zygmunt Bauman.
Como escrever para nossa juventude que passa mais de 04 horas, em média ou mais, conectada a um smartphone? A mesma que tentam compreender, inventar subjetividades, produzi-las, além de prender e tentar matar, principalmente se sua pele for negra?
Talvez, seguindo a máxima do
Canetti, tenha que lhes provocar poeticamente. Quem sabe minhas palavras com
alguma consciência, vinda ainda do Século XX, quiçá visionárias, possam lhes
afetar. Como lhes ajudar a resistir aos mensageiros do Nada?
Não posso ir além dos limites
das letras e dos espaços de repetição. A síntese que me pedem é quase
impossível para uma mente e um coração poéticos. Não sei se já me excedi aos
140 caracteres ou às frases de efeito das redes sociais.
Só peço então que me
acompanhem em uma re-descoberta de um Poeta. Um daqueles que pode ter sido
suicidado ainda jovem. Embora, com certeza, alguns só o leiam pelo viés
ideológico, lógico que irei seguir meu desejo de lhes dar VIDA e não mais uma
pá do cale-se dos tempos de temor e não de amor.
Convido a que leiam comigo
este poema. Foi escrito por MAIAKÓVSKI (1894-1930), o poeta russo, dos anos pós-Revolução
Soviética, para um amigo: Sergei Iessiênin (1895-1925). Esse amigo, também poeta,
suicidou-se num quarto do hotel Inglaterra, em São Petersburgo (Leningrado).
Ele, ao se sangrar, escreveu com o próprio sangue seus últimos versos: “Morrer
não é novidade nesta vida. Mas viver, com certeza, não é mais novo”.
Como sei que não há palavras
soltas, mas que gostaríamos de não aprisioná-las. Escrevendo como um poeta, ou
seu arremedo, sinto que preciso das palavras de um poeta revolucionário para
tentar essa sensibilização sobre o suicidar-se ou ser suicidado. Não as Cartas
a um jovem poeta do Rilke. São apenas como diziam, antigamente, as ‘mal
traçadas’ linhas com tinta escorrendo entre elas. E, críticos e descrentes,
possam questionar e se questionar com elas.
Deixou-nos o poeta russo
essas provocações. Peço que tenham a paciência da degustação de seu modo único
de escrita e sensibilidade:
“PARTITES como dizem
Para o outro mundo
O vazio...
Estás planando
Até o céu bordado de
estrelas.
Chega de adiamentos e de
vodka.
Sobriedade.
Não, Iessiênin, isto não é
zombaria.
Na minha garganta
Nada de escárnio
Mas uma bola de tristeza.
Eu vos vejo com uma mão de
cera
Hesitando agitar o saco
De vossos próprios ossos.
Parai, deixai para trás!
Que ideia é essa de derramar
No vosso rosto esse giz
mortal?
Vós que sabeis escrever
coisas
Como ninguém no mundo.
Por quê? E como?
Derramam-se em hipóteses
Os críticos gaguejam:
De quem é a culpa?
Muito a dizer...
Mas, sobretudo lhe faltava ‘conexão’
ou ‘ligação’?
O resultado?
Muita cerveja ou aguardente?
Dizem que se vós deveríeis
ter trocado a boêmia
Pela burguesia;
A classe vos teria
influenciado,
Fim das lutas.
Mas essa classe a sua sede
Ela sacia com kvas (bebida
russa não alcóolica)?
A Classe ela também, para
beber
Entende bastante.
Dizem que se houvessem
juntado
Alguém de ‘Sentinela’
(vigilância dos escritores ‘proletários’)
Teríeis feito muitos
progressos:
Poderia a cada dia
Escrever vossos cem versos,
Enfadonhos e compridos
Como Doronine. (poeta soviético – 1900 – 1978)
Para mim este delírio
Se tivesse realizado
Vós teríeis muito mais cedo
Sobre vos mesmo se atacado.
Melhor morrer de Vodka
Do que de Tédio!
Nem a forca, nem a faca
Nos darão a chave desta
perda.
Talvez se tivessem tinta no
Hotel Inglaterra
O Senhor poderia ter evitado
De se cortarem as veias.
Os imitadores se alegram: “Bis”!
Todo um pelotão que faz
Sobre si mesmo, justiça.
Por que aumentar o número de
suicídios?
Melhor seria aumentar a
produção de tinta!
Para sempre agora esta
língua
Fica presa entre os dentes,
É duro e deslocado fazer
mistérios
O povo aquele que cria a
língua
Perdeu um de seus artesãos
Farristas e sonoros.
E trazem as quinquilharias
Dos versos funerários
Quase os mesmos desde o
último enterro.
Deveríamos dispensar o
féretro
Com um cajado
Estes versos inexpressivos.
É assim que se homenageia um
poeta?
Ainda não vos construíram um
monumento;
Onde estão os quilos de
bronze
Ou os gramas de granito?
Que diante da grade da
lembrança já tragam
As bugigangas das homenagens
e dedicatórias.
O vosso nome é colocado em
lenços.
O tenor Sobinov baba as
vossas palavras
E sob uma árvore magrinha ele
agoniza:
‘Nem mais uma palavra, meu
amigo,
Nem um suspi-i-ro’
Ah! É de outra forma que
deveríamos
Falar de Leonid Lohegrin!
Levantar-se em fulminante
escândalo,
-Eu não permito que se
mastigue
E se massacre assim os
versos!
Assoviar com os dedos até deixa-los
surdos
E mandá-los aos infernos!
Que fujam esses detritos sem
talento,
Enchendo as velas se seus paletós
Que o crítico Kogan levado
em sua debandada
Espete os transeuntes com
seu bigode.
A sacanagem hoje em dia ainda não ficou rara.
A tarefa é grande mal
bastamos.
É PRECISO REFAZER A VIDA,
UMA VEZ REFEITA PODEREMOS
CANTÁ-LA.
O NOSSO TEMPO, PARA PENA GERAL,
NÃO É MUITO FÁCIL.
Mas digam-me os ‘inválidos’,
os impotentes,
Onde e quando aqueles que
são grandes
Escolheram os caminhos
traçados e fáceis?
A palavra capitaneia a força
humana.
PARA FRENTE, ANDEMOS,
E que o tempo estoure em
bombas
Que o vento sopra para os
dias passados
Só de leve mechas de cabelos
misturados.
PARA A ALEGRIA O NOSSO
PLANETA
ESTÁ MAL PREPARADO.
É preciso extorquir a
alegria aos dias futuros.
NESTA VIDA MORRER NÃO É DIFÍCIL
CONSTRUIR A VIDA É BEM MAIS
DIFÍCIL ”.
Sim construir vidas é bem
mais difícil. É muito fácil para os hipercapitalismos de desastre as
destruí-las depois das ondas e dos ventos dos tsunamis, e dos Estados de Exceção. Foram jovens estudantes
que levaram, em 1930, ao Poeta, que antes fora consagrado pela Revolução
Soviética (1917), em 04 de Abril de 1930, aos 36 anos, nos deixasse também pelo
suicídio. Ele era acusado de usar ‘palavras
indecentes’ e de ser “... incompreensível para as massas’’.
Ele replicou aos jovens do
LBM da época: “Quando eu morrer, vocês vão ler meus versos com lágrimas de
enternecimento”. Hoje, nenhum daqueles jovens insuflados por ideologia e
desejo de poder, hoje também por dinheiro, é ou foi lembrado com o poeta.
Por isso vos digo como quem
já teve a Dona Morte nos calcanhares, e, hoje a hospeda apenas na varanda de
sua/minha verdadeira morada, meu/nosso corpo: “Não neguem o temor de Viver, intensamente, quando for preciso RE-EXISTIR ao caminho mais simples: a alienação
de si mesmos” (jmpa2017).
Um doceabraço a todos e todas que ainda se
sentirem afetados e tocados pela e com a Poesia e pelas Artes.
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LEITURAS
CRÍTICAS:
A
CONSCIÊNCIA DAS PALAVRAS – Elias Canetti, Companhia das Letras.
VIDAS
DESPERDIÇADAS – Zygmunt Bauman, Jorge Zahar Editor.
MAIAKÓVSKI –
Vida e Obra – Editora Martin Claret.
Campanha
“Doe um minuto de seu tempo. Mude uma vida” busca conscientizar sobre prevenção
ao suicídio OPAS/OMS https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5489:campanha-doe-um-minuto-de-seu-tempo-mude-uma-vida-busca-conscientizar-sobre-prevencao-ao-suicidio&Itemid=839
Preventing
suicide: a resource for media professionals - update 2017 WHO https://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/resource_booklet_2017/en/
Leiam também no blog –
O
SUICÍDIO, ADENTRANDO AO MAR E AO NÃO HÁ MAR... https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/08/o-suicidio-adentrando-ao-mar-e-ao-nao.html
CARTAS
deVIDAs à DONA MORTE https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/08/imagem-publicada-foto-do-ator-al-pacino.html
CRIANÇAS
SÃO MORTAIS! - O Suicidado pedagógico https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/09/criancas-sao-mortais-o-suicidado.html