Imagem publicada – Uma fotografia
colorida de uma ilha deserta, com um monte pétreo ao fundo, parecido com um vulcão. Ao
longe está um lindo céu azul, depois de uma vegetação rasteira típica e insular
de cor entre o verde e o laranja, tendo em primeiro plano uma gaivota de asas
abertas. Seríamos felizes se tivéssemos de viver, como Fernão Capelo,
degredados ou isolados nesse paraíso?
“É uma ilha ou uma montanha, ambas ao mesmo tempo, pois a
ilha é uma montanha marinha e a montanha uma ilha ainda seca. Eis a primeira
criação tomada da recriação que se concentra numa terra santa ou no meio do
oceano. Segunda origem do mundo, mais importante do que a primeira é a ilha
santa: muitos mitos nos dizem que aí se encontra um ovo, um ovo cósmico...” Gilles Deleuze.
E, também sendo chocado, o Ovo da
Serpente.
ERA UMA VEZ UMA ILHA...
Como aquela do Saramago, QUE SE ENCONTRA NA PERDIÇÃO. E que, por ser utópica, AINDA NÃO FOI
RE-CONHECIDA nem REVELADA...
Era uma vez..., contou-me um dia um marujo
vindo do Planalto da Atlântida perdida, uma ilha situada nas costas de um país
chamado Terra Brasilis. Um local paradisíaco, ainda não descoberto por resorts
ou ecologistas. Um local afastado das costas du Brésil, conforme o diário de
bordo, isolada no meio de um oceano chamado Corruptiones Terribilis.
Nessa ilha, por acaso e
destino está um náufrago. Ele foi degredado pelos seus pares. O pobre
abandonado nas praias desse isolador mundo é um ex-deputado. O quase desnudo
homem tem o nome de Feliz, porém pelo seu estado de degradação humana, cada
mês, dia, minuto ou segundo ele se autodenomina: sou o Feliz-sem-anos.
Um dia, segundo a carta
encontrada dentro de uma garrafa, escrita pelo Pedro Vais Sofazinho, parente
distante de Pero Vaz Caminha, revelou uma inusitada e surpreendente revelação.
O sobrevivente náufrago não se apaixonou por uma bola de vôlei, Wilson, como a
do personagem no cinema. Ele teve um “caso” muito sério de amor proibido.
O Feliz-sem-anos
caminhava pelas matas inebriantes e lúbricas da ilha quando o encontrou. Foi o
encontro com uma maldição. Ele descobriu que sua solitária permanência estava
sendo invadida penetrantemente por um intruso. E, como uma estória já escrita,
o nosso replicante Robinson Feliz Com o Zé (do povo) teve, tristemente, de se
ajustar à presença incômoda de um negro. Um (01) negro na ilha?
Este encontro, como são
os imprevisíveis e não desejados, gerou uma sensação de flash back no pobre
abandonado pelo Galeão, chamado Câmara Di Profundis. O nome dessa embarcação
enorme, mais capaz de coletar e distinguir espécies e gêneros que a Arca de Noé,
lhe fora dado pelo pelos capitães do Brejo da Luz, depois tornados coronéis do
Sertão da Água Seca. Hoje estão todos no mesmo barco...
A sua cassação foi
devido a um motim da marinhada de direita, após um golpe de gancho de direita
no Capetão. O castigo que sempre defendeu para seus desafetos, por suas heresias
e blas-fêmeas abusivas, devido à sua visão fundamentalista e fascista, acabou
por gerar sua própria Inquisição e excomunhão. E o mar entrou em agitação vermelha e engoliu parte do galeão.
Ele, o “tadinho” tão
difundido pela mídia, acabou deletado na prancha digital e pós-moderna do
pregão da Nau dos Menos Insensatos. Estava prejudicando a boa imagem (e os
votos) de seus pares. Após sua queda de prestígio e notoriedade acabara, então,
degredado na ilha. Não esperava por se sentir um puro e imaculado, além tanto
desaforo, ainda ter que encontrar tal maldição. Um nativo na sua privada ilha
sem privada, e com aquela cor da pele tão ruim e discriminada.
O capelão-psicólogo da nau tentara, antes do desembarque abandonativo, em vão, lhe exorcizar, mas o Feliz Neo
Robinson não acreditava nas Escrituras do Regimento Interno, muito menos nas
Tábuas legislativas, sempre rasas e por interesses apropriadas nessa embarcação
sem rumo certo. Ali prevalecia a lei dos mais ricos ou mais fortes.
Como, todos e todas,
poderíamos nos colocar na pele deste sofredor abandonado. Teríamos o mesmo
preconceito étnico e racial diante do intruso? A nossa sobrevivência nessa ilha
seria como naqueles realities shows? Teríamos também uma crise histérica
religiosa diante da figura de alteridade de um ser tão diferente de minha
pureza racial? Como tocar no côco (ainda com acento para não gerar dúvidas ou más-línguas),
com sua água salvadora, se a boca negra e maldita também bebeu por lá?
O outro incômodo, que
ele combatera e pregara a extinção em seus discursos pastorais, podia e era sua
única companhia. O que seria, então, sua suprema felicidade ou suprema solidão?
Ele descobre, como
todos/todas em situação de confinamento, como os rapazes e moças BBB, que “vale
tudo” para que EU seja o sobrevivente. No programa ainda se ganhava mais mídia
e dinheiro. O modelo original que copiou os campos de concentração e
extermínio.
Nessa ilha, onde estou
só e isolado, somente mais “calor humano” nas horas de tempestade poderá
aliviar ou me salvar? Indagava torturadamente o pobre iN-feliz-sem-ano.
Foi assim, para
encurtar esta estória/conto/lenda, que resolveu do alto de sua magnitude, dar
um nome para o seu intruso predileto. Primeiro corou-se a si próprio como o
Rei, ou melhor, o Ditador, igual ao de Chaplin. Lembremos que ele se
considerava um fidalgo, já que tinha pedigree, à diferença dos outros da Nau
dos Menos Sensatos e Mais Corruptos, sentia-se ungido e protegido pelos “deuses”
da Terra do Pau Brasilis.
Como estava imposta a presença indesejável do
Outro, em sua nobreza suposta pela paranoia, deu, como clemência, um nome ao
apelidado negro. Passou a chamá-lo de meu “pretinho básico”, já não seria mais o
“Sexta-feira Amaldiçoado”, foi convertido e revertido/invertido, e,
magnanimamente, o acolheu em sua caverna.
E VIERAM OS TEMPOS DE
ESCURIDÃO E DE FOME DE VOTOS... Nesses momentos o utilitarismo, assim como o
fascismo, proliferam. O Feliz-Sem-Ano-Robinson encontrou sua solução para os
muitos dias de SECA AFETIVO-SEXUAL. Como uma raposa no mato, que cercava sem
limites todo o território da Ilha, deixou de ser o caçador e passou a ser a
caça.
Como disse, no meio da
contação, alguém encontrou, tempos depois, nas praias da Terra Brasilis, o tal
diário de uma insuspeita e intensa paixão. Não há como tirar um ganso da
garrafa, na mesma em que cresceu, sem ter de ferir ou quebrar o recipiente.
E o nosso Robinson teve
de romper todas as suas convicções, todos os seus falsos princípios, todas as
suas pregações, todos os seus discursos moralistas e discriminatórios. Aquela
ilha só tinha dois habitantes. Oh!
Deixo aos
leitores/ouvintes a conclusão deste minireconto provoca-ação. Cada um por
imaginar o que quiser, de acordo com suas convicções ou ideologias, afinal a Ilha
era desconhecida, nem os cartógrafos a encontravam ou descreviam, e podemos
dizer que ficava, para nosso alívio, na Terra do Nunca Aceito Diferenças ou
Diversidades.
Para mim eles se
casaram, tempos depois da aprovação de uma nova lei pelo Ditador da Ilha (ele
mesmo), que aprovava e permitia a união entre pessoas do mesmo sexo.
Ressalvando que mesmo assim ainda restavam, em seus âmagos, interrogações e
dúvidas sobre a pluralidade e a multiplicidade do que chamamos de sexualidades.
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jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações
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Fonte da imagem –
LEITURAS RECOMENDADAS, SUBTERRÂNEAS ou
CITADAS NO TEXTO –.
O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA – JOSÉ SARAMAGO
- https://www.releituras.com/jsaramago_conto.asp
A ILHA DESERTA – GILLES DELEUZE,
Editora Iluminuras ltda., São Paulo, SP, 2006.
ROBINSON CRUSOE - DANIEL DAFOE - https://pt.wikipedia.org/wiki/Robinson_Crusoe
FERNÃO CAPELO GAIVOTA – RICHARD BACH
-
LEIA TAMBÉM NO BLOG –
A CORÉIA DO FANATISMO POLÍTICO E O
FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR – estamos no Século XXI? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/04/a-coreia-do-fanatismo-politico-e-o.html
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A DIFERENÇA NOSSA DE CADA DIA,
SEMEANDO A IGUALDADE DE DIREITOS. https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/09/diferenca-nossa-de-cada-dia-semeando.html
Hermoso, mil gracias querido JORGE por despertar mi conciencia e impulsar mi vuelo.
ResponderExcluirEstimada lectora y muy amiga Pilar
ResponderExcluirAgradezco su visión y deseo muchos como usted sean afectados, y combativos no dejem usurpar los derechos humanos en Latino America, y repudiem los Felicianos que se aventurem a ser nuestros oportunista en el Gobierno y en la representación legislativa... mis abrajos ternos y dulces desde el Brasil jorgemarciocapelogaivota
VE MAS LEROS LA GAVIOTA QUI VUELA MAS ALTO VÊ MAIS LONGE A GAIVOTA QUE VOA MAIS ALTO...
Quantos e quantas em suas ilhas desertas ainda se denominam reis, superiores, melhores, santos. Alçar voos, sair das ilhas, dos paraísos... que desafio! Jorge seu conto me faz refletir e me desafia.
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