domingo, 5 de maio de 2013

A ILHA DE FELIZ SEM ANO E SEU INTRUSO, E, NÓS TAMBÉM. (apenas um re-conto)



Imagem publicada – Uma fotografia colorida de uma ilha deserta, com um monte  pétreo ao fundo, parecido com um vulcão. Ao longe está um lindo céu azul, depois de uma vegetação rasteira típica e insular de cor entre o verde e o laranja, tendo em primeiro plano uma gaivota de asas abertas. Seríamos felizes se tivéssemos de viver, como Fernão Capelo, degredados ou isolados nesse paraíso?

“É uma ilha ou uma montanha, ambas ao mesmo tempo, pois a ilha é uma montanha marinha e a montanha uma ilha ainda seca. Eis a primeira criação tomada da recriação que se concentra numa terra santa ou no meio do oceano. Segunda origem do mundo, mais importante do que a primeira é a ilha santa: muitos mitos nos dizem que aí se encontra um ovo, um ovo cósmico...” Gilles Deleuze.

E, também sendo chocado, o Ovo da Serpente.

ERA UMA VEZ UMA ILHA... Como aquela do Saramago, QUE SE ENCONTRA NA PERDIÇÃO. E que, por ser utópica, AINDA NÃO FOI RE-CONHECIDA nem REVELADA...

 Era uma vez..., contou-me um dia um marujo vindo do Planalto da Atlântida perdida, uma ilha situada nas costas de um país chamado Terra Brasilis. Um local paradisíaco, ainda não descoberto por resorts ou ecologistas. Um local afastado das costas du Brésil, conforme o diário de bordo, isolada no meio de um oceano chamado Corruptiones Terribilis.

Nessa ilha, por acaso e destino está um náufrago. Ele foi degredado pelos seus pares. O pobre abandonado nas praias desse isolador mundo é um ex-deputado. O quase desnudo homem tem o nome de Feliz, porém pelo seu estado de degradação humana, cada mês, dia, minuto ou segundo ele se autodenomina: sou o Feliz-sem-anos.

Um dia, segundo a carta encontrada dentro de uma garrafa, escrita pelo Pedro Vais Sofazinho, parente distante de Pero Vaz Caminha, revelou uma inusitada e surpreendente revelação. O sobrevivente náufrago não se apaixonou por uma bola de vôlei, Wilson, como a do personagem no cinema. Ele teve um “caso” muito sério de amor proibido.

O Feliz-sem-anos caminhava pelas matas inebriantes e lúbricas da ilha quando o encontrou. Foi o encontro com uma maldição. Ele descobriu que sua solitária permanência estava sendo invadida penetrantemente por um intruso. E, como uma estória já escrita, o nosso replicante Robinson Feliz Com o Zé (do povo) teve, tristemente, de se ajustar à presença incômoda de um negro. Um (01) negro na ilha?

Este encontro, como são os imprevisíveis e não desejados, gerou uma sensação de flash back no pobre abandonado pelo Galeão, chamado Câmara Di Profundis. O nome dessa embarcação enorme, mais capaz de coletar e distinguir espécies e gêneros que a Arca de Noé, lhe fora dado pelo pelos capitães do Brejo da Luz, depois tornados coronéis do Sertão da Água Seca. Hoje estão todos no mesmo barco...

A sua cassação foi devido a um motim da marinhada de direita, após um golpe de gancho de direita no Capetão. O castigo que sempre defendeu para seus desafetos, por suas heresias e blas-fêmeas abusivas, devido à sua visão fundamentalista e fascista, acabou por gerar sua própria Inquisição e excomunhão. E o mar entrou em agitação vermelha e engoliu parte do galeão.

Ele, o “tadinho” tão difundido pela mídia, acabou deletado na prancha digital e pós-moderna do pregão da Nau dos Menos Insensatos. Estava prejudicando a boa imagem (e os votos) de seus pares. Após sua queda de prestígio e notoriedade acabara, então, degredado na ilha. Não esperava por se sentir um puro e imaculado, além tanto desaforo, ainda ter que encontrar tal maldição. Um nativo na sua privada ilha sem privada, e com aquela cor da pele tão ruim e discriminada.

O capelão-psicólogo da nau tentara, antes do desembarque abandonativo, em vão, lhe exorcizar, mas o Feliz Neo Robinson não acreditava nas Escrituras do Regimento Interno, muito menos nas Tábuas legislativas, sempre rasas e por interesses apropriadas nessa embarcação sem rumo certo. Ali prevalecia a lei dos mais ricos ou mais fortes.

Como, todos e todas, poderíamos nos colocar na pele deste sofredor abandonado. Teríamos o mesmo preconceito étnico e racial diante do intruso? A nossa sobrevivência nessa ilha seria como naqueles realities shows? Teríamos também uma crise histérica religiosa diante da figura de alteridade de um ser tão diferente de minha pureza racial? Como tocar no côco (ainda com acento para não gerar dúvidas ou más-línguas), com sua água salvadora, se a boca negra e maldita também bebeu por lá?

O outro incômodo, que ele combatera e pregara a extinção em seus discursos pastorais, podia e era sua única companhia. O que seria, então, sua suprema felicidade ou suprema solidão?

Ele descobre, como todos/todas em situação de confinamento, como os rapazes e moças BBB, que “vale tudo” para que EU seja o sobrevivente. No programa ainda se ganhava mais mídia e dinheiro. O modelo original que copiou os campos de concentração e extermínio.

Nessa ilha, onde estou só e isolado, somente mais “calor humano” nas horas de tempestade poderá aliviar ou me salvar? Indagava torturadamente o pobre iN-feliz-sem-ano.

Foi assim, para encurtar esta estória/conto/lenda, que resolveu do alto de sua magnitude, dar um nome para o seu intruso predileto. Primeiro corou-se a si próprio como o Rei, ou melhor, o Ditador, igual ao de Chaplin. Lembremos que ele se considerava um fidalgo, já que tinha pedigree, à diferença dos outros da Nau dos Menos Sensatos e Mais Corruptos, sentia-se ungido e protegido pelos “deuses” da  Terra do Pau Brasilis.

 Como estava imposta a presença indesejável do Outro, em sua nobreza suposta pela paranoia, deu, como clemência, um nome ao apelidado negro. Passou a chamá-lo de meu “pretinho básico”, já não seria mais o “Sexta-feira Amaldiçoado”, foi convertido e revertido/invertido, e, magnanimamente, o acolheu em sua caverna.

E VIERAM OS TEMPOS DE ESCURIDÃO E DE FOME DE VOTOS... Nesses momentos o utilitarismo, assim como o fascismo, proliferam. O Feliz-Sem-Ano-Robinson encontrou sua solução para os muitos dias de SECA AFETIVO-SEXUAL. Como uma raposa no mato, que cercava sem limites todo o território da Ilha, deixou de ser o caçador e passou a ser a caça.

Como disse, no meio da contação, alguém encontrou, tempos depois, nas praias da Terra Brasilis, o tal diário de uma insuspeita e intensa paixão. Não há como tirar um ganso da garrafa, na mesma em que cresceu, sem ter de ferir ou quebrar o recipiente.

E o nosso Robinson teve de romper todas as suas convicções, todos os seus falsos princípios, todas as suas pregações, todos os seus discursos moralistas e discriminatórios. Aquela ilha só tinha dois habitantes. Oh!

Deixo aos leitores/ouvintes a conclusão deste minireconto provoca-ação. Cada um por imaginar o que quiser, de acordo com suas convicções ou ideologias, afinal a Ilha era desconhecida, nem os cartógrafos a encontravam ou descreviam, e podemos dizer que ficava, para nosso alívio, na Terra do Nunca Aceito Diferenças ou Diversidades.

Para mim eles se casaram, tempos depois da aprovação de uma nova lei pelo Ditador da Ilha (ele mesmo), que aprovava e permitia a união entre pessoas do mesmo sexo. Ressalvando que mesmo assim ainda restavam, em seus âmagos, interrogações e dúvidas sobre a pluralidade e a multiplicidade do que chamamos de sexualidades.

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livre pela Internet ou outros meios de comunicação de massa)

Fonte da imagem –

LEITURAS RECOMENDADAS, SUBTERRÂNEAS ou CITADAS NO TEXTO –.

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA – JOSÉ SARAMAGO - http://www.releituras.com/jsaramago_conto.asp

A ILHA DESERTA – GILLES DELEUZE, Editora Iluminuras ltda., São Paulo, SP, 2006.

ROBINSON CRUSOE - DANIEL DAFOE - http://pt.wikipedia.org/wiki/Robinson_Crusoe

FERNÃO CAPELO GAIVOTA – RICHARD BACH - 

LEIA TAMBÉM NO BLOG –

A CORÉIA DO FANATISMO POLÍTICO E O FANATISMO RELIGIOSO DO PASTOR – estamos no Século XXI?  http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/04/a-coreia-do-fanatismo-politico-e-o.html


A TOLÊNCIA É MAIS QUE UM BACALHAU NO MEU FEIJÃO COM ARROZ? – EM BUSCA DA EMPATIA, PARA ALÉM DA ANTIPATIA... http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/07/tolerancia-e-mais-que-um-bacalhau-no.html

A DIFERENÇA NOSSA DE CADA DIA, SEMEANDO A IGUALDADE DE DIREITOS. http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/09/diferenca-nossa-de-cada-dia-semeando.html

3 comentários:

  1. Hermoso, mil gracias querido JORGE por despertar mi conciencia e impulsar mi vuelo.

    ResponderExcluir
  2. Estimada lectora y muy amiga Pilar
    Agradezco su visión y deseo muchos como usted sean afectados, y combativos no dejem usurpar los derechos humanos en Latino America, y repudiem los Felicianos que se aventurem a ser nuestros oportunista en el Gobierno y en la representación legislativa... mis abrajos ternos y dulces desde el Brasil jorgemarciocapelogaivota
    VE MAS LEROS LA GAVIOTA QUI VUELA MAS ALTO VÊ MAIS LONGE A GAIVOTA QUE VOA MAIS ALTO...

    ResponderExcluir
  3. Quantos e quantas em suas ilhas desertas ainda se denominam reis, superiores, melhores, santos. Alçar voos, sair das ilhas, dos paraísos... que desafio! Jorge seu conto me faz refletir e me desafia.

    ResponderExcluir