Imagem publicada – Uma
de minhas fotografias em preto e branco com uma criança negra, em primeiro plano, ao lado de outras crianças, chamadas de lulinhas, que segurava um cata-vento
de papel, e que fazia parte de uma manifestação pública de apoio à candidatura
do ex-presidente Lula da Silva pelo PT, em 1989, “sem medo de sermos felizes”.
Uma criança em nós, que hoje deve estar refletindo sobre sua implicação e participação
histórica nas mudanças que o Brasil realizou no campo dos conceitos e dos
preconceitos. Aqueles que se alicerçam sobre e em política, principalmente quando não
mais ocuparmos, com a mesma garra e desejo, as praças e ruas em defesa da
democracia, dos direitos humanos e da VIDA LIVRE. Hoje são novos conceitos e
ventos políticos que nos impulsionam, mas há ainda velhos preconceitos que não
demolimos. Não há ventos para novos cataventos?
Os que me perguntam
sobre a minha implicação com a publicação de ideias, matérias, notícias e
textos na Internet sempre questionam minha “velocidade” e “intensidade” com que
publico e difundo “novidades”.
O que explico, sem a
pretensão de ser compreendido, é que não podemos deixar de buscar estas
rupturas que as informações e seu conteúdo podem causar. Muito embora nos/me
saiba imerso na sua hiper exposição midiática. Somos todos midiatizados.
Quanto a essas “informações” precisamos dizer
é não há como torná-las ácidas ou suficientemente demolidoras para o rompimento
de todas as correntes que nos aprisionam.
Estas correntes muitas
vezes não são tão visíveis e identificáveis. Tendemos na nossa voragem de
modernidades e soluções rápidas, naturalizar os aprisionamentos, internações,
institucionalizações e outros meios de contenção. Somos apenas consumidores
amedrontados com o “futuro”.
Este dia 21 de Março é
propício para tentarmos romper alguns desses conceitos que sustentam os nossos
preconceitos.
Porém, são os últimos
que geraram e geram a comemoração do DIA INTERNACIONAL DE COMBATE AO RACISMO. O
outro é do DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN. Ambos estão e são transversalizados
pela comemoração da Unicef do DIA MUNDIAL DA INFÂNCIA.
São três temas, três
questões, três diferenças HUMANAS e que
precisam continuar sendo debatidas e esclarecidas. Primeiramente porque todas
as três formas de ser e estar no mundo atual são ainda submetidas a situações
de vulneração.
E além destas ainda
teríamos de comemorar o DIA MUNDIAL DO TEATRO e o DIA MUNDIAL DA POESIA, bem
como o DIA MUNDIAL DA ÁRVORE, mas estas comemorações não são nem cultural ou
socialmente consideradas tão marcantes.
Em nossas noites
globais e globalizantes, onde todos os homens tornam-se pardos, vislumbro uma
longa caminhada para que não associem negros afrodescendentes com maldições.
Da mesma forma sonho há
anos com a quebra do preconceito com pessoas com Síndrome de Down como “retardadas
mentais”. Há muitos que ainda as segregam, diagnosticam, institucionalizam ou “des-colegam”,
ou seja, por estas práticas e discursos os marginalizam.
O “descolegar” seria deixá-las
sem a chance da fuga que três atores puderam realizar no filme Colegas. Aqueles
sonhadores Down, fantasiados, fugindo das polícias, construíram um modelo
micropolítico de aliança e suavidade na busca do mar, do vento, do amor e da
liberdade.
Este verbo necessitaria
para o combate ao preconceito de um novo verbo e conceito: “colegar-se”,
tornar-se mais 01 colega. Mais um
parceiro destes sonhos. Eis, portanto, um verbo a incluir em nossas
práticas para combater sua exclusão, tanto educacional como social, mais ainda
política.
E, se ambas as
condições forem de encontro com a infância teremos aí um prato cheio para o
debate sobre como construímos, reconstruímos e tentamos manter em pé algumas velhas e corroídas instituições ou
paradigmas sobre suas diferenças e sua estigmatização.
O que me anima, nesses
tempos pastorais de entrega dos Direitos Humanos a quem mais os violenta, é a
certeza de que sob estas reterritorializações há ainda espaço para revoluções
moleculares.
Na nossa Sociedade do
Espetáculo muitas vezes o que nos apresentam como personalização do poder não
passa de uma bela armadilha. Não podemos esquecer que os Direitos Humanos são
interdependentes.
As outras “comissões” ou “frentes” parlamentares têm de
combaterem, é o que esperamos, os artifícios, dentro desse “teatro político”
para que as outras máscaras (personas) possam cair. Continuaremos sendo suas
fontes contribuintes e alimentadoras com nossos votos e campanhas?
Por exemplo, enquanto nos indignamos com os
Pastores ainda não resolvemos o problema das “cabras marcadas para morrer”. Um dado
cruel e nacional é que não reduzimos, nem mesmo com a Maria da Penha, a
violentação, prostituição, desqualificação e assassinato de mulheres.
E, hoje mesmo vi em um
canal de TV, acho que a Rede de um Pastor, uma matéria sobre meninas, de pouca
puberdade e adolescência, que fazem da prostituição infantil a sua
sobrevivência no Amapá. Uma delas diz que precisa de se “vestir bem, comer do
bom e do melhor, ganhar fácil”, e os programas da noite geram uma média de
R$300,00 (trezentos reais) em Macapá. São meninas que se tornam mães, gestações
de risco e possibilidade de maiores vulnerabilidades, a partir dos 10 ou 12
anos.
Então, como mudar esta
panorâmica e de muitas longitudes situação brasileira do preconceito que se
alimenta de falsos conceitos?
Não somos capazes de
dar conta de toda essa “complexidade” geográfica e geopolítica. Sejamos, porém,
combativos e determinados a tentar mesmo que micropoliticamente gerar uma ou
muitas possibilidades de acontecimentos.
Enfim, podemos, como
adolescentes despolitizadas e empobrecidas, nos tornamos também endividados. O
hipercapitalismo nos compra “facilmente”, empresta seu dinheiro à noite, ou
mesmo de dia, e nos cobra os juros mortais nesse mercado o resto do ano.
Por isso, não podemos deixar de lado nossas
indignações. Atualmente vivemos o tempo das massas que retomam as ruas e as
praças. E, como os colegas, sonho com uma multidão gritando contra os racismos,
as intolerâncias, os falsos profetas, os mercadores capitalísticos, ou, por
exemplo, o preconceito com crianças com deficiência intelectual.
Isso tudo me faz pensar
em nossas “caras pintadas” e nossos sonhos de outros tempos e outras políticas
para nosso país e o mundo. Porém apesar de nossa suposta integração global ainda
não estamos realmente incluídos nas soluções globais. Não devemos é aceitar
passivamente novos espetáculos fascistantes ou fascinantes do mundo político.
Somos ainda, muitas vezes,
meros espectadores do BBB e outros reality Shows, ou seja, vemos a vida sendo confinada,
porém, não conseguimos deixar de sonhar com o milhão solucionador de nossas
dívidas e outros consumos. Ou então nos tornamos crentes e messiânicos. Um novo
“pai” ,seja político ou religioso, trará a cura, a salvação e a remissão de
todas as nossas dores, dívidas e dúvidas.
Não bastará, portanto,
que não sejamos mantidos em nossa confortável posição de passividade
político-ético- social. Nossa época tem propiciado aos cidadãos e cidadãs outra
porta de saída. Não temos em todos os espaços das nossas vidas sociais “boates
Kiss” se tornando câmaras de gás mortal e asfixias. Não podemos é continuar
reproduzindo-as.
Estamos, enquanto massa
de tele-espectadores, muito mais para o papel de ribeirinhos. Aqueles que são
acusados das tragédias nas serras, que se recusam, por não ter outras saídas, a
se mudarem da beira dos rios e suas enchentes, inclusive de preconceitos.
Não nos informam, para além da contagem de
mortos e desaparecidos, quais foram as verbas do Capitalismo de Desastres
desviadas para encher outros bolsos. E, para os que persistiram em sua
territorialização marginal só restou e restará engolir mais barro, barrancos,
mortes, riscos e violências.
Inclusive as dos discursos oficiais de nossas
estrelas políticas, nossos “representantes governamentais”. Os mesmos velhos
discursos que já deveríamos ter desnaturalizado. Continuamos sendo
re-presentados?
Apesar de todas essas
situações o que vemos é a busca de outras saídas, individual ou coletivamente.
Ao menos se quebram, para uma parcela “incluída e bem informada” nos meios
informatizados da população, as correntes da desinformação. Porém, a meu ver, o
conhecimento e a sabedoria não se multiplicam nessa nova inteligência coletiva.
É nesse oceano de
multiplicidades de interesses e novidades que venho tentando introduzir, sem
pretender o sucesso, algumas provocações à reflexão. Por isso é que insisto,
apesar de quase sempre “bloqueado”, na publicação de novas e presentes
informações. É preciso navegar, navegar somente e para além da Internet é in-preciso.
Finalizando relembro
que todos os nossos conceitos são construídos, que todos eles podem ser base e
gênese social e histórica de nossas visões do mundo e do Outro. E que
dependendo das distorções que as ideologias, as crenças somadas com os
fanatismos ou fundamentalismos lhes imprimam e estimulem, podem eles, os
conceitos, se tornarem até “cientificamente” comprovados.
Para os eugenistas de
plantão, os que ainda falam ou escrevem ditatorialmente, os colegas psis que
naturalizam a tortura ou a internação compulsória, os conselheiros que não
tutelam, mas podem ser prostituídos, para racistas que justificam na pureza a
discriminação e a morte, para os que fazem propaganda de outras formas de ocupação
dos territórios marginalizados, e para os que lendo versículos prometam
milagres enquanto enriquecem,,,
ENFIM, para os que não
vislumbram o respeito e o direito a um mundo de “diferentes” que não querem ser
homogeneizados e esterilizados, aqui fica, sem nenhum tom de pregação, a
pro-vocação de que se insurjam contra eles/elas as novas massas alegres,
amorosas, suaves, plurais e sempre libertárias. Vamos dizer “presentes” nessa
necessária e urgente revolução molecular.
Ainda que em
frequências tão baixas que só os que marcharem nas praças e nas ruas consigam
ouvir...
E o 21 de março deixará
de ser apenas espaço para estas importantes comemorações, será também um dia
que um(a) ator(iz) down, um(a) poeta negro(a), uma criança só infância sem
pobreza, como milhares de árvores da liberdade estarão, rizomaticamente, se
espalhando por toda a Terra.
Eu tenho esse sonho.
Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013-2014 (favor citar o
autor e as fontes nas republicações livres pela Internet ou quaisquer outros
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Notícias citadas no
texto –
Dia Internacional
contra a Discriminação Racial https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Internacional_contra_a_Discrimina%C3%A7%C3%A3o_Racial
Dia Internacional da
Síndrome de Down – World Day Down Syndrome https://www.worlddownsyndromeday.org/
Eventos do Dia
Internacional da Síndrome de Down 2013 https://www.federacaodown.org.br/site/index.php/todas-as-noticias/273-eventos-do-dia-internacional-da-sindrome-de-down-2013.html?catid=9%3Anoticias
Dia Mundial da
Infância – UNICEF https://www.unicef.pt/ (Lembrando das crianças na Síria)
Infância Roubada:
flagrantes mostram a prostituição infantil no Amapá
COLEGAS, O FILME –
https://blogcolegasofilme.com/
Indicações para
leitura crítica e reflexão –
O ESTADO ESPETÁCULO –
ENSAIOS SOBRE E CONTRA O STAR SYSTEM EM
POLÍTICA - Roger Gérard
Schwartzenberg , Editora DIFEL, Rio de Janeiro, 1978.
TEMPOS DE FASCISMOS – Ideologia- Intolerância- Imaginário –
Maria Luiza Tucci Carneiro & Federico Cruci (orgs.) –EDUSP, São Paulo, SP, 2010.
LEIAM TAMBÉM NO BLOG –
01 NEGRO + 01 DOWN +
01 POETA = UM DIA PARA NÃO SE ESQUECER DE INCLUIR - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/03/01-negro-01-down-01-poeta-01-dia-para.html
O VIGÉSSIMO PRIMEIRO
DIA – CINEMA E SÍNDROME DE DOWN https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/03/o-vigessimo-primeiro-dia-cinema-e.html
INCLUSÃO, RACISMO E
DIFERENÇA https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/05/inclusao-racismo-e-diferenca.html
QUAL É A SUA RAÇA?
NADA A DECLARAR... https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/11/imagem-publicada-uma-foto-em-preto-e.html
A CONSCIÊNCIA
INCLUSIVA E O RACISMO NA ESCOLA - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/11/consciencia-inclusiva-e-o-racismo-na.html
OS DESASTRES, OS HAITIS E AS SERRAS NO HIPERCAPITALISMO-
NA NOITE GLOBAL TODOS OS SERES SE TORNAM PARDOS https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2009/11/infoativo-defnet-n-4305-ano-13-2122-de.html