
Imagem publicada – uma foto colorida que tirei lá em Minas Gerais, na minha terra natal, Cambuquira, onde se vê um vasto céu azul ao fundo, com árvores em segundo plano, todas vicejando e verdes-vivas, no primeiro plano aparecem, em destaque no céu, galhos secos e velhos que fazem parte de um árvore-envelhecida. Um detalhe nos chama atenção que é a casa de barro de um pássaro: o João de barro. É, nesses aparentes galhos que se lançam ao céu como veias e artérias, que o passarinho encontrou seu melhor abrigo e futuro protegido, e lá permanecerá até que a velha árvore caia...
“A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e como é o espírito que viaja, é nele que se vive. Há, por isso, almas contemplativas que têm vivido mais intensa, mais extensa, mais tumultuariamente do que outras que têm vivido externas. O resultado é tudo. O que sentiu foi o que se viveu...” (Fernando Pessoa através Bernardo Soares)
Estamos cansados de nossas dores? E das dores do mundo também? Qual será nossa pro-cura?
HÁ TEMPOS EM QUE SONHAMOS COM OUTRO MUNDO, OUTRA NÃO FINITUDE DA VIDA.Eis que aquela Senhora Dona Morte nos incomoda e nos toma por inteiro. Eu aqui Outro Pessoanamente dessassossegado, por mais que lhe escreva novas cartas de-vidas, ela continua ainda sem me dar as respostas definitivas. E sinto que os anos da velhice já se anunciam.
O mundo esta envelhecendo. A notícia de que me 2050 teremos muito mais pessoas idosas do que jovens me preocupa. A minha atual situação me faz pensar na transitoriedade e no fim de todos e todas.Porém há um aviso que vem junto com esta constatação da OMS: teremos triplicado também o número de idosos com demências.
Segundo a especialista: "Minha mensagem é que o envelhecimento da população é algo que deve ser abordado. Há uma mudança dramática que atingirá tanto o mundo em desenvolvimento como o desenvolvido", disse Somnath Chatterji, coordenadora do estudo Global sobre o Envelhecimento e a Saúde Adulta da Organização Mundial da Saúde (OMS.
Escrevi no texto anterior sobre a necessidade de mantermos a presença do que chamamos de nossa Mente quando se decidir sobre a anencefalia. A expectativa que me causa medo agora, quiçá até certo pânico, é essa trágica perda de contato com o mundo, mesmo que envelhecido, para os que vivenciarão este prognóstico demenciador.
Como não temer esse futuro? Talvez eu não tenha as respostas para nossos tremores e temores. As respostas sempre são múltiplas e plurais. Porém, posso tentar lhes avisar sobre algumas reflexões que já foram feitas por quem estudou e analisou essas psicologias do viver e do morrer.
Há em todos e todas as criaturas com Vida um temor ou medo da Morte e do Morrer. Eu já experimentei esse fel, ou melhor, esse doce veneno.
Principalmente quando tenho de enfrentar situações onde a injustiça ou negação de seu acesso esteve presente. Eis um estímulo final para a gota que enche o copo que já estava cheio de depressão.
Há sempre os que se supõem capazes, especialistas ou dotados de poder, que se sentem nesse lugar supremo. Os que podem mudar as leis sobre a aposentadoria, os que podem cassar e reduzir o tempo de alguns que desejam sair da vida laborativa, os que doutos se sentem para instituir o que eles próprios nunca vivenciarão: asilos, isolamentos, pauperização ou mesmo a morte solitária.
Há, então, que repensar nossos desejos de fazê-los apenas “nossos velhos”. Como no texto anterior, lembrando-se de Narayama, ainda temos de derrotar nossos preconceitos e estigmas sobre a velhice. Vivenciamos no atual modelo de vida sócio-político e jurídico, o risco de nos tornarmos uma Sociedade que pratica e praticará o “gerontocídio”.
Os que se vestem de fardas, togas ou ternos pretendentes a um lugar de eterna autoridade podem ainda causar muitos estragos nesse processo do envelhecimento da Gaia. Assim como dos nossos idosos, ou melhor, todos e todas nós...
São os que ocupam papéis de decisão sobre os rios, as matas, os bichos, os índios, as florestas, incluindo aí dos os dilemas bioéticos do nascer ao morrer da Vida. Estão, como se não fossem envelhecer, lá Câmara, no Palácio, no Senado ou nos seus supremos assentos...
Porém esses senhores e senhoras também estão envelhecendo. E, recentemente, o mundo pode assistir com uma Dama de Ferro, inglesa, após sua senectude pronunciada pode tornar-se pateticamente mais uma pessoa demenciada. Há e haverá muitas Margareths ainda na História esse mundo que caminha com passos largos para sua própria devastação.
Poderá a Terra também tornar-se “demente”? Sim e ainda poderá apresentar algumas convulsões, algumas formas estranhas de tique, e, principalmente, voltar-se para a barbárie aceitando as falsas falas de extremistas de direita como Breivik, lá na Noruega.
Tivemos esses dias mais um DIA DA TERRA. Acho que a maioria do mundo nem se mexeu na direção de sua real comemoração: a sua redenção e urgente salvamento. Esquecida a data mundial a cada dia temos mais Sírias a resolver. Temos mais malárias a combater, e a tuberculose agora é um “privilégio” de quem depende do Crack, no presente de seu aniversário. Por aqui os ruralistas e os seus interesses irão destruir mananciais.
A Terra pode realizar os filmes futuristas de devastação, solidão, medo, isolamento e completar seu desfecho abraçando-se com a Dona Morte. Ou, então, reproduzir o que a propaganda da TV já naturaliza quando, saturada, ela nos “espirra” e lança no espaço todos os seus habitantes humanos.
Mas ainda podemos crer como dizia Erich Fromm em uma ‘’revolução da esperança’’. Aliás, essa palavra já foi até associada a uma de nossas mais brasileiras maneiras de ser e sonhar. Este psicanalista, ao vivenciar a crise mundial de 1968, já apontava o nosso risco de mecanização do viver e as tecnocracias tornando-se mais forte que a esperança.
Entretanto, ele acreditava que em um renascimento do humanismo e fazia um apelo à ação grupal. Ele interrogava: “De que maneira o homem, no auge da sua vitória sobre a natureza, torna-se prisioneiro de sua própria criação e corre sério perigo de se destruir?”.
Tentando, com olhar voltado para mim mesmo, responder a sua indagação é que retornei à foto e ao dia em que a tirei. Ela é um pedaço da terra onde até hoje meu pai insiste em plantar e colher. Um homem rural que não se tornou nunca um ruralista, muito mais um fervoroso aprendiz do meio ambiente.
Ele, que agora no dia 30 de abril, completa os seus 102 (cento e dois) ANOS. O meu querido Arnaldo sempre foi um homem do mato. Ele é que levava pelas estradas que nos conduzem ao respeito à Terra, a terra e seus mananciais. Com ele aprendi serenamente a observar como semear e como tentar colher. Ele já tinha um código de ética com as florestas...
A ele estarei rendendo todas as minhas homenagens possíveis. Ele me revelou como é preciso ser “camarada” e “velho companheiro” da nossa uterina mãe Gaia. Talvez, quem sabe, este velho romeiro e caminhante tenha me trazido os primeiros ensinamentos ecosóficos. Ainda que não tivesse todos os saberes, os mesmos que me proporcionou com seu trabalho e as mãos calejadas na roça.
Aos filhos, fazendo coro com minha mãe, só um grande legado e herança: o conhecimento. Esta seria talvez uma das saídas para responder ao que indagamos. Sair de um modelo e paradigma tecnocrático e desumanizador para um novo paradigma ético, estético e político como queria Guattari.
O psicanalista também interrogava como podemos estar produzindo pessoas doentes para que possamos ter uma economia sadia. Eis que, cada dia mais, o hipercapitalismo se locupleta com as desgraças, as epidemias e os sofrimentos dos desfiliados e excluídos.
O mundo envelhece, as injustiças persistem, mas há lá em Minas um senhor com 102, caminhando para os 103 anos, que olha ainda com ternura para o futuro de seus bisnetos.
Lembrei-me de meu pai com a matéria sobre o hindu que correu uma MARATONA em 08 horas. O meu velho já caminhou muitas maratonas em sua forma humilde e mansa, sempre com uma fé incomensurável, nas milhares de romarias a pé até Aparecida do Norte, cruzando a Serra da Mantiqueira. Invejo e respeito seu fervor que supera quaisquer dores ou cansaços em nome de sua fé na Vida e nos Homens.
Como então levar um pouco desse senhor idoso para o coração e as mentes daqueles que se negam a reconhecer seu próprio envelhecimento das ideias, das emoções e de seus saberes?
A ELE DEDICO ESTE TEXTO-ESPERANÇA na crença de que muitas revoluções moleculares ainda se darão, e os nossos devir-criança nos trarão de volta o prazer de pisar na terra, no chão e nele cultivar o desejo de um OUTRO MUNDO, sem a negação da diversidade, da diferença e da multiplicidade dos seres humanos. Comecemos cuidando de todas as nossas cachoeiras e das águas que turvamos e poluímos.
Ao envelhecimento e ao processo de “alzheimerização” previsto pela OMS, desejo que possamos ter muito mais Arnaldos do que Anas. Explico, é que minha mãe vivenciou, assim como nós seus amados, a experiência do Alzheimer. Digo sempre que me encontro na encruzilhada genética destes dois seres humanos, muitas vezes caminhando mais para a direção de minha mãe. Entre a longevidade com saúde e a morte precoce com uma demência.
Decorre daí o temor de nossos futuros demenciados. Não podemos perder a esperança de outras formas de viver e super-viver. Temos de ser futuristas, porém, com um olhar e sentimento bioético para com a sua, a nossa e a VIDA DA TERRA.
E, hoje, novamente eufóricos, podemos anunciar uma revolução gerada pelas ciências, vinda lá de Portugal: “Uma equipe de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), através do seu Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), produziu uma molécula única - PiB (composto B de Pittsburgh) – que possibilita a detecção da doença de Alzheimer antes de os sintomas clínicos se revelarem, permitindo ainda distinguir esta patologia de outras formas de demência..;”
O futuro dependerá, então, de nossa mais profunda e radical revolução. Continuaremos mortais, nossas mentes-cérebros poderão demenciar, nossos corpos tornar-se-ão ciborgues, nossos corações podem vir a ser pura lata ou platina, mas podemos, apesar de tudo e todos, manter um pouco de sabedoria dos nossos velhos.
E que venha o Futuro, pois um século e dois anos o meu pai já VIVEU: intensa e amorosamente.
O mundo pode renascer! A Justiça tornar-se justa e equânime. E o meu pai terá feito parte do meu legado de sabedoria a deixar como semente.
Copyright jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de massa - TODOS DIREITOS RESERVADOS 2025 ...)
Notícias citadas da Internet –
Organização Mundial de Saúde- Demência afeta 35,6 milhões e triplicará até 2050
https://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=2413153&seccao=Sa%FAde
Em 14 anos, São Paulo terá mais idosos que crianças https://www.estadao.com.br/noticias/cidades,em-14-anos-sao-paulo-tera-mais-idosos-que-criancas,533252,0.htm
Em 2050, mundo terá mais idosos que crianças https://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI1543102-EI294,00-Em+mundo+tera+mais+idosos+que+criancas.html
Universidade de Coimbra produz molécula para detecção precoce da doença de Alzheimer https://www.rcmpharma.com/actualidade/id/23-04-12/universidade-de-coimbra-produz-molecula-para-deteccao-precoce-da-doenca-de-a
Homem de 100 anos completa maratona
https://www.jn.pt/VivaMais/Interior.aspx?content_id=2061898
LIVROS para reflexão e crítica –
LIVRO DO DESASSOSSSEGO – Fernando Pessoa, Vol. II, Editora Unicamp, Campinas, SP, 1994)
PSICOLOGIA DA MORTE – Robert Kastenbaum e Ruth Aisenberg, Editora Universidade de São Paulo, São Paulo, SP , 1983.
A REVOLUÇÃO DA ESPERANÇA, por uma tecnologia humanizada – Erich Fromm, Editora Círculo do Livro & Zahar Editores, Rio de Janeiro, RJ,
LEIA TAMBÉM NO BLOG:
QUEM NÃO GOSTARIA DE VIVER 100 ANOS?
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/04/quem-nao-gostaria-de-viver-100-anos.html
SEREMOS, NO FUTURO, CIBORGUES? Para além de nossas deficiências humanas
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/seremos-no-futuro-ciborgues-para-alem.html
A PARÁBOLA DA ROSA AZUL
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/05/parabola-da-rosa-azul.html
ALZHEIMER NÃO É UMA PIADA, mas pode ser poesia de vida
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/06/alzheimer-nao-e-uma-piada-mas-pode-ser.html
POR QUE AS TECNOLOGIAS NOS AFETAM?
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/04/por-que-as-tecnologias-nos-afetam.html