sexta-feira, 10 de junho de 2011

A EDUCAÇÃO DE PÉS DESCALÇOS

imagem publicada - capa de dvd do filme Nenhum a Menos. Este filme chinês, dirigido por Zhang Yimou (Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1999), a ser visto como uma alegoria de uma jovem, de 13 anos, que substitui o professor, determinada a não permitir que ''nenhuma criança fique fora de sua sala de aula'', custe o que custar, mesmo que tenha de caminhar milhares de quilômetros contra a evasão escolar, em um cenário ainda muito próximo das condições de educação rural em nosso país. Nesta capa aparece a menina chinesa, Whei Minzhi, no centro de uma imagem desfocada, como uma multidão, tendo abaixo um grupo de crianças chinesas sentadas, com presença de um menino, de 10 anos, está entre as letras de Nenhum a Menos (Not One Less). O menino a ser resgatado da cidade, para onde foi em busca de sobrevivência familiar, assim como milhares ainda o fazem ao sair do campo em busca de trabalho no Brasil, embora devessem estar é em escolas.

"É direito. É todos direitos que a humanidade tem, né? Os direito!" (fala de um morador de Capão Redondo, São Paulo)

Por um educação dos diferentes pés, calçados ou não...

Hoje, sentia muito frio nos meus pés. Nesse amanhecer de inverno para minhas dores, no cedo tão frio minha manhã ficou mais quente e calorosa. Era a notícia de que o Senado, no caminho para a disciplina de direitos humanos ser incluída nas escolas, está discutindo: "diretrizes nesse sentido estão sendo elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), conforme anunciou nesta quinta-feira (9) o representante do colegiado, Raimundo Feitosa, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH)...".

E estas diretrizes já se tornaram antigas máximas que repeti durante muitos encontros. Já, para além dos universalismos, publiquei em quase todos os textos que escrevi: a educação em e para os direitos humanos é a via regia para a construção de uma futura Sociedade que respeite as diferenças.

Quem já 'sabe' o que são os Direitos Humanos? As vozes e ecos populares, assim como Ícaros que vão em direção ao Sol, aprenderam uma máxima que é o contrário: ''Vixe, agora as crianças vão aprender desde cedo que o crime compensa, e que tem muita gente que viva à custa dele...", confirmando os ares penetrantes do passado dos Anos de Chumbo. A maioria da população brasileira que ainda usa os pés descalços, tanto física como educacionalmente, para caminhar acredita, piamente, que só há direitos humanos para ''bandidos''.

Como então construir um outro conhecimento sobre o que realmente são os Direitos Humanos? Há que providenciar uma outra forma de educação. Uma educação que tire as meias dos preconceitos, os coturnos da disciplina militarizada e do passado, retire os temores das pedras das intolerâncias arraigas, e, como Heráclito, acredite que os novos caminhos e estradas se construirão ao caminhar. Para além de todos os obstáculos e todos os percalços das novas estradas do conhecimento.

O território que experimentamos é, como já o disse Milton Santos, para além dos territórios conhecidos e mapeados, são os territórios banais. É nesse campo, em especial nos longíguos recantos brasileiros, que precisaremos de um persistente e contínuo desejo de educar para e com direitos humanos. Até nas metrópoles e nas cidades mais desenvolvidas há um incessante murmúrio velado sobre os Direitos Humanos. Um exemplo nos vem de uma experiência realizada em Capão Redondo, situado na região sul de São Paulo.

Esta experiência de enfrentar os "Desafios para a atuação de um Centro de Direitos Humanos e Educação Popular", é descrita por Petronella Maria Boonen. Ela nos mostra que em uma área de concentração de favelas, loteamentos clandestinos e moradias precárias, com população majoritária de migrantes, o trabalho de educar para direitos humanos fica ainda mais árduo. Esta é (ou foi) uma região conhecida pelos altos índices de homicídios e violências cotidianas.

Como então vencer preconceitos arraigados sobre o que são, a quem se destinam e como efetivar os Direitos Humanos? A pesquisadora Petronella em seu artigo nos avisa sobre as representações que os moradores destes espaços têm sobre direitos humanos. E, ao lê-la, sobre a possível 'razão' do que chamamos de 'população desfavorecida' ter resistências ao tema, como sendo o ''desenraizamento'' associado à exclusão social, ficaremos para refletir sobre as mudanças de conceitos e de representações que uma escola pode propiciar.

A afirmação dos Direitos Humanos, que passam pela profissão, pela moradia digna, pelo saneamento básico, pelo emprego, pela conquista de justiça social, tem uma velha origem: a palavra direito. Esta palavra, segundo Lèvy Bruhl, citado por Buono e Boonen, deriva de "droit, right, Recht, Diritto e direito, nas diversas línguas, provém de uma metáfora, em que a figura geométrica adquiriu sentido moral e, em seguida, jurídico: o direito é a linha reta, que se opõe à curva ou à oblíqua, e que se liga à noção de retidão, de franqueza e de lealdade nas relações humanas''.

A notícia, mesmo que tardia, da introdução de uma disciplina de direitos humanos nas escolas só acrescenta à geometria civilizatória uma dose necessária de gramática civil. O exercício, como deverá ser em uma proposta de inclusão escolar, da máxima: NENHUMA CRIANÇA A MENOS, é por si só um possível para a erradicação dos analfabetismos funcionais sobre direitos humanos.

Estaremos abrindo portas e janelas dos ambientes escolares para a ventilação de novas idéias de convívio, respeito e aprendizagem com a diferença. Por isso convoco a todos e todas para que ''politizemos'' a questão dos direitos humanos nas escolas. Principalmente nas escolas rurais, sertanejas ou reconditas, onde os pés ainda calçam chinelos ou, preferencialmente, ainda vivem do chão batido.

Peço apenas que retiremos as meias palavras e nossas protegidas meias visões sobre estes Outros em marginalização. Somente um exercício de aplicação dos nossos conhecimentos eivados de muito afeto, empatia e respeito poderão abrir e construir, com as mãos calejadas ou sem calos, juntas, singularizadas, uma estrada aberta para o futuro dos Direitos Humanos.

Direito é direito. Muito embora, na realidade brasileira, faça curvas e trace caminhos oblíquos para os que só andam de sapatos ou botas de couro, sejam nacionais ou importados, de griffe ou da 25 de Março. Entretanto, parece que seus pés, "tristemente entortados", principalmente pelas corrupções, começam a ser igualitariamente tratados pela Justiça. Eles também se dizem ''portadores'' de direitos humanos...

Os filhos de nossos filhos verão, assim desejo, um outro mundo possível: direitos humanos transversalizarão todas as vidas humanas, independentemente de quaisquer privilégios ou preconceitos, assim como a educação é e será sempre um direito fundamental. NÃO PODEMOS TEMER NEM ATEMORIZAR NOSSAS CRIANÇAS.

copyright jorgemarciopereiradeandrade 2011/2012 ad infinitum , todos os direitos reservados  (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou em outros meios de comunicação de massa)

Referência Bibliográfica no texto:
Direitos Humanos e Educação - Outra Palavras, Outras Práticas - Flavia Schilling (Org.) , Ed FEUSP/Cortez Editora , São Paulo, SP, 2005.

Direitos humanos deverão ser ensinados nas escolas 
https://www.senado.gov.br/noticias/direitos-humanos-deverao-ser-ensinados-nas-escolas.aspx

Direitos Humanos nas Escolas - BLOG (Ver comentários)
https://maringa.odiario.com/blogs/edsonlima/2011/06/10/direitos-humanos-nas-escolas/

Filme - NENHUM A MENOS
https://www.infoescola.com/cinema/nenhum-a-menos/
https://www.asia.cinedie.com/not_one_less.htm

LEIA TAMBÉM NO BLOG - 

DIREITOS HUMANOS COMO QUESTÃO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA-
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/05/imagem-publicada-uma-foto-de-tres.html

UM PEDAÇO DE GIZ NA LOUSA DIGITAL - Pelo Dia do(a) Professor(a) 
https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/10/um-pedaco-de-giz-na-tela-digital-dia.html

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. EDUCAÇÃO EM GREVE MÍDIA CARIOCA OMISSA!!!
    MÍDIA NO RIO OMISSÃO COM A EDUCAÇÃO!!!!
    A MÍDIA DA GLOBO NEWS, HOJE PELA MANHÃ (11/06) 8h DA MANHÃ MOSTROU NA TV O MOVIMENTO DA PASSEATA DOS PROFESSORES NO CENTRO RIO ONTEM, MOSTRANDO NOSSO CARRO DE SOM COM UMA DAS DIRIGENTES DO SINDICATO A VERA NEPANUCENO E MUITO MAIS QUE MIL EDUCADORES CAMINHANDO JUNTOS E CANTANDO EM DIREÇÃO AO ENCONTRO NA ALERJ COM O MOVIMENTO DOS BOMBEIROS ONDE ENGROSSOU A MOVIMENTAÇÃO E DEU UMA MANIFESTAÇÃO COM MILHARES DE PESSOAS, FORA A SOCIEDADE PRESENTE E REPRESENTANTES DE ESTUDANTES, ESTUDANTES, PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS, E DA CATEGORIA DA SAÚDE QUE IGUAL AOS EDUCADORES DO RIO ESTÃO NA EMINÊNCIA DE ENTRAR EM GREVE, OS PROFESSORES JÁ ESTÃO EM GREVE AQUI NO RIO A QUASE UMA SEMANA E MAIS DE 60% DAS ESCOLAS PARADAS EM TODO ESTADO E NADA DISSO A GLOBO-GLOBO NEWS FALOU NA REPORTAGEM, USOU AS IMAGENS PARA FALAR FINALMENTE DO MOVIMENTO DOS BOMBEIROS QUE ESCONDEU DURANTE UM TEMPO, E QUE RESOLVEU FAZER REPORTAGEM PORQUE A MÍDIA INTERNACIONAL JÁ ESTÁ DIVULGANDO AOS QUATRO VENTOS!!! QUE VERGONHA GLOBO NEWS EMISSORA OMISSA E IRRESPONSÁVEL COM AS NOTÍCIAS DE MOVIMENTOS SOCIAIS VERDADEIROS DA EDUCAÇÃO NO NOSSO ESTADO COM RELAÇÃO AOS ...PARECE NÃO ESTAR NEM AI!!!! E AINDA FALAM DE "AMIGOS DA ESCOLA""!!!
    GABRIELLA RANGEL -EDUCADORA -RIO DE JANEIRO

    ResponderExcluir
  3. Querida Gabriella
    Compartilho de sua indignação com os usos espetaculares que a Mídia Global faz, e pelos "esquecimentos ou apagamentos" dos movimentos reinvindicatórios de categorias profissionais INDISPENSÁVEIS para que nossos Direitos Humanos sejam exercidos: os BOMBEIROS E OS PROFESSORES... mas hoje temos nossas formas micropolíticas e ciberativistas de resposta a essas mídias hegemômicas, vamos difundir ao máximo a situação dos profissionais de educação do RJ. Não há como realizar Direitos Humanos nas escolas sem a ativa participação dos educadores... um doceabraço e vamos à luta cotidiana pelos DH

    ResponderExcluir
  4. Acredito que somente pelos caminhos da educação, quer oblíquos, tortuosos ou retos chegaremos a um lugar comum onde os direitos humanos sejam frutos dessa caminhada árdua e persistente!! Ousemos por esses e outros caminhos...

    ResponderExcluir