quarta-feira, 30 de julho de 2014

A PERFEIÇÃO RACIAL E A DESTRUIÇÃO NASCEM NO MESMO NINHO...

Imagem publicada – uma foto da cidade de Gaza com sinalizadores que são lançados de Israel na madrugada, e iluminam o céu da cidade sitiada, riscos ou traços de fumaça branca, anúncio de bombardeios aéreos maciços, que segundo dados já mataram mais de 1.100 palestinos. Uma fotografia em sépia, com a força de uma noite prolongada que obscurece o futuro da própria História de um povo que já foi também massacrado e exterminado holocausticamente..., um povo que se disse “escolhido”, um grupo humano que se tornou significante de muitas coisas criativas ou destrutivas, e carregou uma estrela de Davi como símbolo de exclusão e vulneração. Hoje as verdadeiras estrelas saíram da faixa, não existe ar que as permitam brilhar... (foto de Khalil Hamra/AP)

“Toda luta entre homens é, de fato, uma luta pelo reconhecimento, e a paz que se segue a essa luta é apenas uma convenção que institui os sinais e as condições desse mútuo e precário reconhecimento. Tal paz é sempre e apenas a paz das nações e do direito, ficção de reconhecimento de identidade da linguagem, que provém da guerra e acabará na guerra.” *(Giorgio Agamben – A ideia da Paz in Ideia da Prosa – Autêntica Ed.,2013)

Os meus pulmões não são perfeitos. Acho que ainda não aprendi a respirar “perfeitamente”. Quem sabe isso é consequência da minha miscigenação genética? Um pouco de cristãos novos, obrigados a ser uma árvore frutífera, lá na Inquisição de Portugal pode ter sido o começo de tudo: tenho o Pereira no nome e no sangue. E, hoje, me sinto palestino e sem ar...

Aliás, para quem não sabe que alguns cristãos novos são judeus, ou mesmo de origem moura, convertidos a ferro e fogo pela Igreja Inquisitorial a se converterem, deixando sob os porões de Lisboa e arredores os seus outros livros sagrados e seus purismos raciais, tornam-se criptojudeus ou massacrados, lá em 1506. Hoje nessa minha mais nova pneumonia, que já passa da quinta em alguns anos, estou pensando que o Google tem razão. Meu sangue deve ser “ruim”.

Hoje li e publiquei o artigo que anuncia uma possível neoeugenização ou neobiotecnomedicina para a ‘’a busca do ser humano perfeito”. Em matéria de Raquel Freire para a Techtudo anuncia-se que o “... Google começou a coletar material genético de voluntários com objetivo de montar um banco de dados de biomarcadores, que mostrarão como um ser humano saudável deve ser. Denominado Baseline Study, o polêmico projeto sobre o corpo e a saúde perfeitos está sendo desenvolvido pelo Google X, o “laboratório secreto” que cuida dos planos mais audaciosos do gigante de Internet...”.

Para mim foi a concretização de uma reflexão bioética sobre como estamos caminhando, cada dia mais velozmente, para uma suposta medicina de prevenção das doenças e do sofrimento, enquanto mantemos uma massa de seres humanos ainda vivendo com o Ebola, a Dengue, e, preferencialmente, com as máquinas mortíferas da guerra ampliando nossas misérias e doenças “tropicais e sub-tropicais”.

Como estarão, agora, milhares de crianças em situação de exposição de guerra no Sudão, na Síria, em Gaza, no Iraque, ou mesmo, nas nossas multiplicantes periferias das megalópoles? Não falo apenas das guerras que vivemos assistindo nas Tvs. Não falarei das que recebemos como notícias longínquas ou que não nos afetam diretamente. Falo e grito sim é sobre os que estão sendo lentamente sufocados, subterraneamente mantidos, ou mesmo, sob novos, e até visíveis, muros de vergonha e de segregação. Os cenários de destruição, após controle biopolítico, em massa. E que comporão a possível “escória” infame a ser geneticamente purificada.

Tenho, por força dessa minha própria condição debilitante física, sido obrigado a reconhecer nossa intrínseca relação com a Dona Morte. O nosso corpo imperfeito/frágil nos obriga a reconhecer o sentido da finitude da Dona Vida. Começamos a nos sentir imperfeitos mortais? E, neo eugenicamente, nos iludimos, aceitando que nosso sangue seja coletado para um “projeto secreto” que irá, no futuro, eliminar todos os nossos defeitos genéticos, inclusive aqueles que nos turvam a mente e nos tornam “transtornados mentais”. Eliminarão a parte “negativa e ruim” de minhas heranças genéticas lá de Portugal ou da África?

A busca de uma perfeição humana é a mesma daquela que originou micro e macrofascismos. Persistentemente, têm adeptos do ‘sangue bom’ x ‘sangue ruim’, ideológica, fanática e religiosamente. É o alicerce dessa discriminação: a chamada ‘perfeição racial’. Já escrevi, aqui, que a ideia de uma raça “pura” antecede aos modelos fascistas ou nazistas do século XX. As suas raízes são mais profundas, mais transhistóricas. A atual utilização do discurso racial no Oriente Médio nos levará, se pesquisarmos, até muito antes dos hebreus e da Terra Prometida.

A atualização do discurso de purificação racial é hoje, por exemplo, em Israel utilizada pelos mais diferentes apologistas desse massacre em ação. Houve até a sua comprovação com o discurso de um ‘professor israelita de Literatura Árabe’ que nos diz que uma forma de impedir os atentados palestinos é cometer um atentado sexual. Diz ele: “...As palavras exatas de Mordechai Kedar, citadas no site do Alternative Information Center (AIC), de Jerusalém, são as seguintes: "A única coisa que pode deter um bombista suicida é saber que, em caso de captura [de quem? - a tradução inglesa não é clara], a sua irmã ou a sua mãe serão violadas".

E, para melhorar ainda a solução final, parecida com as do Dr. Mengele, há ultranacionalistas sionistas que pregam o ‘extermínio’ desses “insetos” que não são uma “raça pura e boa”...E como uma esterilização em massa, no caldeirão bombástico atual de lá, não foi e nem será possível, propõem uma matemática cruenta: para cada israelense morto multipliquem, com as bombas, em no mínimo 100 palestinos “cirurgicamente extirpados”. Não importa se adultos, velhos ou crianças. Talvez, em alguma mente perversa o melhor é seguir o método do Mordechai. Afinal ele não é um professor?

Por isso afirmo que a chamada perfeição racial é nascida do mesmo ninho da serpente da destruição. Dessa construção de uma suposta PAZ fomentando uma industrial e eficiente máquina da guerra. Para a Paz violentadora de alguns que se implante a Paz pela violência e destruição de outros, sejam estes inclusive geneticamente “tão perfeitos como nós”. Diremos que são ‘defeituosos’ e uma ameaça às nossas próprias vidas.

Já vimos esse filme devastador. Os próprios ancestrais, inclusive os meus Pereiras, já virão como é fácil demonizar e exorcizar, com Cruzadas, Cruzes ou Campos de Extermínio, aqueles que passam a ser o modelo social da “impureza, da sordidez, da avareza, da degeneração racial ou mesmo da luxúria”. O Outro “infiel e não crente” só merece mesmo a tortura, a expulsão ou ostracismo, a sua inclusão pelo trabalho escravo, ou melhor, ainda, a sua “eliminação”...

Por essa indignação que me atravessa, transhistoricamente no meu próprio corpo dito impuro, que traz também o sangue de índios e de negros, é que supliquei outro dia, poeticamente para que nos revoltássemos contra essa nova ditadura de um mundo tão perfeito, tão limpo e ao mesmo tempo com tantas ruínas em produção. E ainda continuo e continuarei, nesse sangue miscigenado e brasileiro, buscando alguma coisa contra a perfeição...

E REPITO: A PERFEIÇÃO RACIAL E A DESTRUIÇÃO NASCEM DO MESMO NINHO... E esse ninho pode ser em qualquer mente, corpo ou “coração”, mesmo os geneticamente modificados...

Aí vai para os que não me leram em rede:

O AR É O VERDADEIRO FOGO!
  (para os meus e os seus meninos/meninas em Gaza)

Quantas vezes já sentiram lhes faltar?
Quantas vezes o expiras?
Quantas vezes o sentes?
Quantas vezes, silenciosamente, o escutas?
Quantas vezes foi o ausente?
A sua ausência nem ao fogo permite potência
A sua saturação é o que lhe propaga...
Em nós quem sabe o apagaria?
Penso novamente nele, apenas na pneumonia?
Para o que te tornas tão dependente?
Até lá fora da Terra me prendes?
Se desço profundidades também?
Por isso aqui também sinto sua presença
Onde uma ausência nem mesmo será notada
Caso desejem o impérios tirá-lo do ar...

O ar esse invisível parceiro sendo quase um infiel
Tornou-me, em segundos, sem fôlego, sem forças,
Sem fogo vital...

 Será o mesmo que agora em instantes arde em outras
Faixas sitiadas e cheias de gaze, cheias de sangue, sem chão, sem água e SEM AR?
E, cada segundo ou seus milésimos mais indiferentes,
Nós, que não o perdemos, como respiramos?
Mais aéreos, como as bombas, menos arejados como os túneis.
A nossa hipocrisia e distanciamento, são como respostas,
Como profundos silenciosos, aqueles onde o vácuo das mentes povoa...
Somos afinal respirantes, somos quiçá apenas transpirantes?
Sequem as já desérticas superfícies sensíveis
E nenhuma gota ética será suada por nenhum Genocídio,
Seguem em marcha então, com máscaras anti gases,
Exércitos, massas, seguidores, fanáticos e fascistas,
Seguem retirando a música silenciosa do vento,
Substituem-na por um fogo que só queima o que
De pureza no ar ainda resiste...

E se o teu fôlego e empenho até aqui te trouxe,
Não te iludas que dele, o ar, também és dependente e amante...
ENTÃO, por que, como os torturados, dele privados, o imploras?
FAZ a tua parte, abre agora a tua janela, expande teus pulmões,
E GRITA: nenhuma fé, nenhuma ideologia, nenhum partido,
Nenhum que se arvore a ser humano, nem pequeno ou grande,
Poderá ser, assim como da Terra, do AR o único dono.
Ar, AR, AR-RREFECER, DES-AR-MAR, ASPIR-AR, AO AR AM-AR,
PRINCIPALMENTE SE É ELE O QUE ESQUECESTES... O OUTRO SUFOCADO.
Perdoem-me a falta de pausas, é que falta INS PIRAÇÃO...

Sobram-me a dor, urgência de novos ares, novos pARes, e essa dura constatação:
O AR É O NOSSO VERDADEIRO FOGO.
CESSEM O OUTRO, ELE SÓ TRAZ FUMAÇA...
E o sufocamento. ...

Copyright/left jorgemarciopereiadeandrade 2014 ad infinitum  2023...(favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet ou outros meios de comunicação de e para as massas, TODOS DIREITOS RESERVADOS)

Links de matérias na Internet –


NEOEUGENIA (termo que chamo atenção e alerto há algum tempo) ou a NEOBIOTECNOMEDICINA? – Google quer catalogar material genético para criar 'ser humano perfeito' 

Em inglês (recomendo o texto Jewish Eugenics de Glatt) - NeoEugenics' web site https://www.neoeugenics.net/

The future of neo-eugenics. Now that many people approve the elimination of certain genetically defective fetuses, is society closer to screening all fetuses for all known mutations? https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1794693/ (a partir da questão bioética da “prevenção” dos chamados ‘defeitos genéticos’ e da síndrome de Down, uma discussão sobre o uso de técnicas de ‘eliminação’  desses ‘defeitos’...)

Académico israelita recomenda violação de palestinianas para impedir atentados https://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=754372&tm=7&layout=121&visual=49

PARA ONDE CAMINHA ISRAEL? Deputada israelita anti-racista foi suspensa do parlamento 
Documentário - Homo Sapiens 1900 (Original) Ano produção: 1998 Dirigido por: Peter Cohen Duração: 88 minutos https://www.youtube.com/watch?v=jUXC9dj3Oqw

LEIA TAMBÉM NO BLOG


EUGENIA – Como realizar a castração e esterilização de mulheres e homens com deficiência? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/01/eugenia-como-realizar-castracao-e.html

SEREMOS, NO FUTURO, CIBORGUES? Para Além de Nossas Deficiências Humanas https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/seremos-no-futuro-ciborgues-para-alem.html

RACISMOS, BARBÁRIES, FUTEBOL... ONDE ENTRECRUZAM AS VIOLÊNCIAS SOCIAIS? https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/05/racismos-barbaries-futebol-onde.html

A TOLERÂNCIA É MAIS QUE UM BACALHAU NO MEU FEIJÃO COM ARROZ ? em busca da Empatia , para além da Antipatia... https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/07/tolerancia-e-mais-que-um-bacalhau-no.html

O RETORNO DA INTEGRAÇÃO PELA INCLUSÃO: OS NOVOS MUROS NAS ESCOLAS, FÁBRICAS E HOSPITAIS (e nas fronteiras)  https://infoativodefnet.blogspot.com/2016/08/o-retorno-da-integracao-pela-inclusao.html

domingo, 6 de julho de 2014

FUTEBOL, VÉRTEBRAS, CLONES E TRANSFORMERS – A PRODUÇÃO DO ESPETÁCULO DA VIOLÊNCIA.

Imagem publicada- foto da maquete tridimensional de propaganda do filme, recém lançado: Transformers 4, a Era da Extinção, onde  ‘caminhões-robôs’, são transformam em gigantescos e super armados Autobots e Deceptions, que hora defendem ou ameaçam a Terra e os humanos de sua extinção e aniquilamento total. Essa versão de número 4 inclui também o retorno de míticas figuras, como da foto, de monstros pré-históricos, qual dragões aliens ou dinossauros hipermetálicos, que são os meios de ataque ou de destruição a serem combatidos. Na foto há um robô  hipermetálico “cavalgando” uma dessas feras, dessas bestas deste Apocalipse, um Tiranossauro futurista, com vértebras de aço ou titânio. Entretanto tudo acontece, segundo a sinopse do filme porque: “um grupo de cientistas e empresários que buscam aprender com as invasões passadas dos Transformers, acabam levando a tecnologia a limites para além do que eles podem controlar...”. A utilização dessa imagem é uma aproximação da influência que estas ‘feras’ têm de humano. É a constatação de como, cada dia mais, o ato violento é legitimado, naturalizado, inclusive para supostas defesas patrióticas contra os ‘alienígenas’ ou quaisquer um que se torne, ou seja, tornado uma ameaça ou oponente... Como diz o cartaz: ‘agora não é guerra, é a extinção’. É o matar ou morrer. Na ficção naturaliza-se a tele visão da banalização da violência, em qualquer campo, inclusive os de futebol.

“Há diversos aspectos violentos, diretos ou indiretos, de caráter mais geral que ocorrem no futebol, mas não são exclusividade dele. Vejam só: o tráfico de drogas e de armas, o alcoolismo, a corrupção, a impunidade, a homofobia, competição excessiva, opressão, covardia (inclua-se o racismo) são práticas de violência que acontecem no futebol” (Maurício Murad, pág. 220).

Os jogadores do futuro usarão novamente armaduras ou camisas hiper tecnológicas? Ou duras armas letais que nos saciaram as nossas buscas de superação de nossas finitudes? Serão imbatíveis, heroicos, incansáveis, insensíveis, insípidos e, principalmente, indestrutíveis, como se fossem verdadeiras máquinas de fazer gols, mesmo que para isso fosse preciso passar como um trator sobre o outro que não veste a mesma camisa? O gramado que era verde poderá se tingir de vermelho, sem passar pelo amarelo?

Escrevi ontem, após mais um jogo da Copa do Mundo: “#NEYMAR EU SEI O QUE É DOR - PELA NÃO NATURALIZAÇÃO E BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA DENTRO E FORA DO CAMPO - Neymar tem um FRATURA DE VÉRTEBRA (após anúncio “oficial”, via televisão, com  lesão na região lombar, da vértebra L 3,  para mim como agressão intencional), e Zuniga (jogador da Colômbia) nem remorso têm de sua deslealdade e violência? VALE TUDO.... UFUTEBOLCLUBE - UFC? Ou será apenas o UtilitarismoFIFAcomCerteza?

Há quase um ano atrás, por vários motivos, inclusive as manifestações das ruas, interessava-me questionar a produção social das violências. Estava atendendo a um pedido que me veio para um artigo sobre o que é Violência Social? Vinha lá da África, onde violências são, como aqui, parte do cotidiano. Logo de princípio reuni os livros que tinha sobre o tema. Um deles agora me incomoda e convida a relê- novamente: A Violência no Futebol, dele sai a citação lá em cima.

Não estaria escrevendo agora, com o sol já nascendo e me iluminando, ontem a noite dolorosa e a madrugada insone me colocaram em total implicação e empatia com um jogador de futebol: Neymar. E, graças à insônia e a inquietude diante da violenta cena de um “joelhaço” premeditado, resolvi provocar nas redes sociais uma fagulha de indignação, de revolta, mas também de reflexão. Valerá uma taça tantos “heróis”, suas vértebras ou mitos quebrados?

Vi, recentemente, um pequeno desenho animado com os jogadores sendo substituídos por CLONES: PERFECT, como propaganda da NIKE, que no Brasil recebeu o nome de o “ÚLTIMO JOGO”, como parte de uma série #arrisque tudo. Nela os grandes jogadores de futebol do mundo seriam substituídos por seus clones.

E Ronaldo, o fenômeno que negou a Copa, é encarregado de dizer aos ‘verdadeiros’ originais: “_ Vocês fazem o jogo, vocês não tem medo de arriscar... lembrem-se que vocês jogam como se fosse um jogo... eles jogam como se fosse um emprego...”. Mas como vencer um jogo contra nossos próprios espelhos? Contra nós mesmos?

 E, ironicamente, sabemos qual é o preço de cada um desses “corpos”, volantes ou atacantes, no mercado, ou não?

Mas não é o seu valor de mercado que está em questão para mim. Já se naturalizou a frase: a vida (útil) de um jogador é curta. As suas pernas e seus passes serão precocemente exauridos. E o seu corpo-jogador será aposentado. Nós também ‘penduramos as chuteiras’? Sim, em outras condições e por outras perdas, assim como outros mínimos valores. Eles, entretanto, serão ‘eliminados’, ou em breve substituídos, após contusões, lesões e vértebras fraturadas? As suas carreiras, à exceção de alguns Garrinchas, podem ser “transformadas”.

O que poderá acontecer, por exemplo, com os que mordem, atropelam, violentamente ou ‘’falso intencionalmente’’, deixam seu corpo quebrar o desses outros, os que mais ganham, tanto sucesso como dinheiro, quando são driblados? Perguntem ao uruguaio Luiz Soares ou ao colombiano Camilo Zuniga, um deles já está com um contrato de 75 a 90 milhões de euros com o Barcelona.

Como eles vão vencer os ‘clones’ perfeitos? Tornar-se-ão avatares de clones criados para eliminar quaisquer adversários, com dentadas ou joelhaços. Vale tudo. Diz a propaganda da Perfect Nike: “vocês arriscam tudo... TUDO... para VENCER”, custe o que custar, inclusive o sacrifício espetacular dos seus ou dos corpos de outros jogadores.

 CORPOS VIDAS NUAS como os dos gladiadores, na neo-arenas, nos gramados ou competições, treinados para reações, em breve, aos seus pés, braços ou cérebros com chips implantados, assim como os que já existem dentro das bolas. Tornam-se máquinas, robôs ou seres trans humanos que poderão ser controlados e manipulados a bel prazer dos interesses, desde os macropolíticos até os empresariais/industriais do futebol. É só vestir uma camisa com novas tecnologias já idealizadas, com microfones, microcâmeras, e, quiçá, com possíveis monitoramentos dos movimentos e até das emoções dos competidores.

A comparação de jogadores com neogladiadores, tão sutil e presente, virará realidade? Já questionei em 2010 essa onda crescente de naturalização e banalização do que acontece dentro dos estádios, desde tempos ditatoriais. A ideia de que é natural em um ‘esporte de contato viril’, jogo para machos escolhidos a dedo, se confrontarem até o ‘mata-mata’, revela os significantes necessários para a análise do que é vir a ser o ‘campeão nas arenas’.

A violência no futebol também é a “do” futebol. Apenas uma representação de um fenômeno considerado social, e, portanto, também um fenômeno humano. Entretanto se o vislumbramos como uma “paixão coletiva”, conforme se reforçam nos mitos, aí temos de lembrar-se das arquibancadas, dos torcedores.

Nesse campo já somos campeões. Como nos diz o livro A VIOLÊNCIA NO FUTEBOL, de Maurício Murad, sobre mortes de torcedores: “...O que dizer dos dados de 2009 e 2010? Chegamos a 9 e 12 mortos por ano, respectivamente. A grave conclusão da pesquisa, no entanto,  é que 78,8% são de torcedores com nenhuma ligação com grupos organizados e responsáveis por atos e comportamentos marginais...”

E, dentro do panorama Copa, quando essas violências, com múltiplas facetas, são exercitadas agora contra os que ficam fora do perímetro dos estádios? Lá também está a presença, mesmo não visível, do modelo gerado pela Sociedade do Espetáculo, lá está presente, com a força truculenta das polícias e suas tropas de choque, o Estado Espetáculo. E são também naturalizadas as atitudes repressivas ou violadoras de direitos humanos, em nome da ordem e do progresso. Aí também está o “vale tudo”.
E, durante entrevista, o técnico da Seleção Brasileira, nos traduz o que fica aparentemente encoberto sobre essa violência naturalizada: “sabíamos que o Neymar seria caçado, desde o início da Copa...”. Há a caça, o caçado e o neo-caçador de chuteiras. Teremos, então, de nos preparar para assistir, em futuro não muito longínquo, o no ROLLER-FOOTBALL?

Como responderíamos, se nossa memória fosse mais viva, à indagação de onde estávamos no ano passado? Nas ruas ou nos nossos sofás? Acho que preferiríamos continuar mais um tempo, confortavelmente, ou nos sofás ou nos lugares de alguns que conseguiram ingressos para estar nos estádios/arenas. Não é mais seguro e menos arriscado nos mantermos nesses campos?

É-nos mais habitual ficarmos de espectadores do que espect-Atores? Melhor a primeira condição do que a exigente segunda, afinal ter de se re-inventar e, a cada momento, ter de se assumir produzindo, social ou individualmente, nossos próprios gozos ou sofrimentos.

 E, assim ficamos de costas para as nossas próprias penalidades. Nossos clones trocados por belicosos “transformers” resolverão todas as disputas, todas as querelas, e, como os heróis míticos, nos levarão para um futuro sempre vencedor e glorioso. Como máquinas-de-guerra aperfeiçoadas não mais precisaremos nem mesmo de biotecnologias, apenas bioengenharias que nos tornem “quase-perfeitos”, “quase-imortais”. Seremos todos ciborgues ou Robocops?

Em tempos de drones, clones, busca de perfeição e aprimoramento das máquinas futebolísticas e espetacularizantes, qual então será nossa proposta para enfrentamento, para além dos racismos e das discriminações, das bananas nos gramados às condenações de Zunica por sua pele e não por sua deslealdade violenta, para que recuperemos nossos sentidos éticos para todos os nossos jogos, todas nossas disputas e jogadas, todos os nossos “encontrões e trombadas” com o Outro e as alteridades?

Vamos “aprender a aprender”, ou melhor, inventar e re-inventar, como linhas de fuga e suaves cartografias coletivas, outros modos de viver mais humanos e menos cópias perfeitas de nós mesmos? E que tal recuperarmos nossos sentidos de multidão, sem temor das repressões, para além de massas passivas que podem ser esmagadas pelos viadutos, superfaturados e desestruturados, que só nos levam em direção dos estádios? Ou dos espetaculares estádios que nos fazem esquecer aqueles que os construíram e sob suas ferragens deixaram alguns “soterrados”?

E, se possível, dizermos, para além dos hinos ou dos patriotismos: NÃO VALE TUDO PARA VENCER EM QUALQUER CAMPO OU GRAMADO...

E a próxima Copa já começou... Continuaremos apenas campeões de audiência, passividade e ausência, insensibilizados e anestesiados diante da Era da Extinção, aquela que nós mesmos produzimos?

PS- Dona Fifa acrescente nas suas faixas:  SAY NO VIOLENCE IN FOOTBALL, além do RACISM que também se fundamenta em outras sutis e históricas violências.

Copyright/left – jorgemarciopereiradeandrade (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação e manipulação de massas)

LEITURAS CRÍTICAS INDICADAS –

A VIOLÊNCIA NO FUTEBOL – Maurício Murad, Editora Benvirá, Saraiva, São Paulo, SP, 2012.

VIOLÊNCIA E CIDADANIA, Práticas Sociológicas e Compromissos Sociais – José Vicente Teixeira dos Santos et allii (orgs), Editora UFRGS/Sulina, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2011.

NOTÍCIAS NA INTERNET – *(relacionadas com o texto)

Nike Futebol lança animação "O Último Jogo" vejam em: 

Copa do Mundo 2014 | Neymar, o gladiador abatido pela violência desleal do colombiano Zuñiga http://www.jornalgrandebahia.com.br/2014/07/copa-do-mundo-2014-neymar-o-gladiador-abatido-pela-violencia-desleal-do-colombiano-zuniga.html



Infográfico: a computação vestível e o futuro das camisas de futebol http://idgnow.com.br/ti-pessoal/2014/05/20/infografico-a-computacao-vestivel-e-o-futuro-das-camisas-de-futebol/

DIRETO DO TWITTER -  Guerra do futuro pode ter ‘transformers’ e drones impressos em 3D 
http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/guerra-do-futuro-pode-ter-transformers-drones-impressos-em-3d-13156602

LEIAM TAMBÉM NO BLOG –

RACISMOS, BARBÁRIES, FUTEBOL... ONDE ENTRECRUZAM AS VIOLÊNCIAS SOCIAIS? http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2014/05/racismos-barbaries-futebol-onde.html


EM BUSCA DE UM CORPO “PERFEITO” PERDIDO, NO TEMPO DAS OLIMPÍADAS... http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/08/em-busca-de-um-corpo-perfeito-perdido.html

SEREMOS NO FUTURO, CIBORGUES? PARA ALÉM DE NOSSAS “DEFICIÊNCIAS” HUMANAS http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2012/02/seremos-no-futuro-ciborgues-para-alem.html