quinta-feira, 21 de março de 2013

COMO ROMPER CONCEITOS PARA DEMOLIR PRECONCEITOS na Sociedade do Espetáculo?


Imagem publicada – Uma de minhas fotografias em preto e branco com uma criança negra, em primeiro plano, ao lado de outras crianças, chamadas de lulinhas, que segurava um cata-vento de papel, e que fazia parte de uma manifestação pública de apoio à candidatura do ex-presidente Lula da Silva pelo PT, em 1989, “sem medo de sermos felizes”. Uma criança em nós, que hoje deve estar refletindo sobre sua implicação e participação histórica nas mudanças que o Brasil realizou no campo dos conceitos e dos preconceitos. Aqueles que se alicerçam sobre e em política, principalmente quando não mais ocuparmos, com a mesma garra e desejo, as praças e ruas em defesa da democracia, dos direitos humanos e da VIDA LIVRE. Hoje são novos conceitos e ventos políticos que nos impulsionam, mas há ainda velhos preconceitos que não demolimos. Não há ventos para novos cataventos?

Os que me perguntam sobre a minha implicação com a publicação de ideias, matérias, notícias e textos na Internet sempre questionam minha “velocidade” e “intensidade” com que publico e difundo “novidades”.

O que explico, sem a pretensão de ser compreendido, é que não podemos deixar de buscar estas rupturas que as informações e seu conteúdo podem causar. Muito embora nos/me saiba imerso na sua hiper exposição midiática. Somos todos midiatizados.

 Quanto a essas “informações” precisamos dizer é não há como torná-las ácidas ou suficientemente demolidoras para o rompimento de todas as correntes que nos aprisionam.

Estas correntes muitas vezes não são tão visíveis e identificáveis. Tendemos na nossa voragem de modernidades e soluções rápidas, naturalizar os aprisionamentos, internações, institucionalizações e outros meios de contenção. Somos apenas consumidores amedrontados com o “futuro”.

Este dia 21 de Março é propício para tentarmos romper alguns desses conceitos que sustentam os nossos preconceitos.

Porém, são os últimos que geraram e geram a comemoração do DIA INTERNACIONAL DE COMBATE AO RACISMO. O outro é do DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN. Ambos estão e são transversalizados pela comemoração da Unicef do DIA MUNDIAL DA INFÂNCIA.

São três temas, três questões, três diferenças HUMANAS e  que precisam continuar sendo debatidas e esclarecidas. Primeiramente porque todas as três formas de ser e estar no mundo atual são ainda submetidas a situações de vulneração.

E além destas ainda teríamos de comemorar o DIA MUNDIAL DO TEATRO e o DIA MUNDIAL DA POESIA, bem como o DIA MUNDIAL DA ÁRVORE, mas estas comemorações não são nem cultural ou socialmente consideradas tão marcantes.

Em nossas noites globais e globalizantes, onde todos os homens tornam-se pardos, vislumbro uma longa caminhada para que não associem negros afrodescendentes com maldições.

Da mesma forma sonho há anos com a quebra do preconceito com pessoas com Síndrome de Down como “retardadas mentais”. Há muitos que ainda as segregam, diagnosticam, institucionalizam ou “des-colegam”, ou seja, por estas práticas e discursos os marginalizam.

O “descolegar” seria deixá-las sem a chance da fuga que três atores puderam realizar no filme Colegas. Aqueles sonhadores Down, fantasiados, fugindo das polícias, construíram um modelo micropolítico de aliança e suavidade na busca do mar, do vento, do amor e da liberdade.

Este verbo necessitaria para o combate ao preconceito de um novo verbo e conceito: “colegar-se”, tornar-se mais 01 colega. Mais um  parceiro destes sonhos. Eis, portanto, um verbo a incluir em nossas práticas para combater sua exclusão, tanto educacional como social, mais ainda política.

E, se ambas as condições forem de encontro com a infância teremos aí um prato cheio para o debate sobre como construímos, reconstruímos e tentamos manter em pé  algumas velhas e corroídas instituições ou paradigmas sobre suas diferenças e sua estigmatização.

O que me anima, nesses tempos pastorais de entrega dos Direitos Humanos a quem mais os violenta, é a certeza de que sob estas reterritorializações há ainda espaço para revoluções moleculares.

Na nossa Sociedade do Espetáculo muitas vezes o que nos apresentam como personalização do poder não passa de uma bela armadilha. Não podemos esquecer que os Direitos Humanos são interdependentes. 

As outras “comissões” ou “frentes” parlamentares têm de combaterem, é o que esperamos, os artifícios, dentro desse “teatro político” para que as outras máscaras (personas) possam cair. Continuaremos sendo suas fontes contribuintes e alimentadoras com nossos votos e campanhas?

 Por exemplo, enquanto nos indignamos com os Pastores ainda não resolvemos o problema das “cabras marcadas para morrer”. Um dado cruel e nacional é que não reduzimos, nem mesmo com a Maria da Penha, a violentação, prostituição, desqualificação e assassinato de mulheres.

E, hoje mesmo vi em um canal de TV, acho que a Rede de um Pastor, uma matéria sobre meninas, de pouca puberdade e adolescência, que fazem da prostituição infantil a sua sobrevivência no Amapá. Uma delas diz que precisa de se “vestir bem, comer do bom e do melhor, ganhar fácil”, e os programas da noite geram uma média de R$300,00 (trezentos reais) em Macapá. São meninas que se tornam mães, gestações de risco e possibilidade de maiores vulnerabilidades, a partir dos 10 ou 12 anos.

Então, como mudar esta panorâmica e de muitas longitudes situação brasileira do preconceito que se alimenta de falsos conceitos?

Não somos capazes de dar conta de toda essa “complexidade” geográfica e geopolítica. Sejamos, porém, combativos e determinados a tentar mesmo que micropoliticamente gerar uma ou muitas possibilidades de acontecimentos.

Enfim, podemos, como adolescentes despolitizadas e empobrecidas, nos tornamos também endividados. O hipercapitalismo nos compra “facilmente”, empresta seu dinheiro à noite, ou mesmo de dia, e nos cobra os juros mortais nesse mercado o resto do ano.

 Por isso, não podemos deixar de lado nossas indignações. Atualmente vivemos o tempo das massas que retomam as ruas e as praças. E, como os colegas, sonho com uma multidão gritando contra os racismos, as intolerâncias, os falsos profetas, os mercadores capitalísticos, ou, por exemplo, o preconceito com crianças com deficiência intelectual.

Isso tudo me faz pensar em nossas “caras pintadas” e nossos sonhos de outros tempos e outras políticas para nosso país e o mundo. Porém apesar de nossa suposta integração global ainda não estamos realmente incluídos nas soluções globais. Não devemos é aceitar passivamente novos espetáculos fascistantes ou fascinantes do mundo político.

Somos ainda, muitas vezes, meros espectadores do BBB e outros reality Shows, ou seja, vemos a vida sendo confinada, porém, não conseguimos deixar de sonhar com o milhão solucionador de nossas dívidas e outros consumos. Ou então nos tornamos crentes e messiânicos. Um novo “pai” ,seja político ou religioso, trará a cura, a salvação e a remissão de todas as nossas dores, dívidas e dúvidas.

Não bastará, portanto, que não sejamos mantidos em nossa confortável posição de passividade político-ético- social. Nossa época tem propiciado aos cidadãos e cidadãs outra porta de saída. Não temos em todos os espaços das nossas vidas sociais “boates Kiss” se tornando câmaras de gás mortal e asfixias. Não podemos é continuar reproduzindo-as.

Estamos, enquanto massa de tele-espectadores, muito mais para o papel de ribeirinhos. Aqueles que são acusados das tragédias nas serras, que se recusam, por não ter outras saídas, a se mudarem da beira dos rios e suas enchentes, inclusive de preconceitos.

 Não nos informam, para além da contagem de mortos e desaparecidos, quais foram as verbas do Capitalismo de Desastres desviadas para encher outros bolsos. E, para os que persistiram em sua territorialização marginal só restou e restará engolir mais barro, barrancos, mortes, riscos e violências.

 Inclusive as dos discursos oficiais de nossas estrelas políticas, nossos “representantes governamentais”. Os mesmos velhos discursos que já deveríamos ter desnaturalizado. Continuamos sendo re-presentados?

Apesar de todas essas situações o que vemos é a busca de outras saídas, individual ou coletivamente. Ao menos se quebram, para uma parcela “incluída e bem informada” nos meios informatizados da população, as correntes da desinformação. Porém, a meu ver, o conhecimento e a sabedoria não se multiplicam nessa nova inteligência coletiva.

Nessas redes que hoje nos aprisionamos/libertamos, como o Facebook ou Twitter, apresentamos nossos protestos, nossas manifestações ou manifestos cibernéticos. Também super, hiper expomos, inclusive quando clicamos “curtir” todas nossas próprias privacidades misturadas com todo tipo de ideias, conceitos e ideologias. Somos apenas cidadãos e cidadãs de “vidro”?

É nesse oceano de multiplicidades de interesses e novidades que venho tentando introduzir, sem pretender o sucesso, algumas provocações à reflexão. Por isso é que insisto, apesar de quase sempre “bloqueado”, na publicação de novas e presentes informações. É preciso navegar, navegar somente e para além da Internet é in-preciso.

Finalizando relembro que todos os nossos conceitos são construídos, que todos eles podem ser base e gênese social e histórica de nossas visões do mundo e do Outro. E que dependendo das distorções que as ideologias, as crenças somadas com os fanatismos ou fundamentalismos lhes imprimam e estimulem, podem eles, os conceitos, se tornarem até “cientificamente” comprovados.

Para os eugenistas de plantão, os que ainda falam ou escrevem ditatorialmente, os colegas psis que naturalizam a tortura ou a internação compulsória, os conselheiros que não tutelam, mas podem ser prostituídos, para racistas que justificam na pureza a discriminação e a morte, para os que fazem propaganda de outras formas de ocupação dos territórios marginalizados, e para os que lendo versículos prometam milagres enquanto enriquecem,,,

ENFIM, para os que não vislumbram o respeito e o direito a um mundo de “diferentes” que não querem ser homogeneizados e esterilizados, aqui fica, sem nenhum tom de pregação, a pro-vocação de que se insurjam contra eles/elas as novas massas alegres, amorosas, suaves, plurais e sempre libertárias. Vamos dizer “presentes” nessa necessária e urgente revolução molecular.

Ainda que em frequências tão baixas que só os que marcharem nas praças e nas ruas consigam ouvir...

E o 21 de março deixará de ser apenas espaço para estas importantes comemorações, será também um dia que um(a) ator(iz) down, um(a) poeta negro(a), uma criança só infância sem pobreza, como milhares de árvores da liberdade estarão, rizomaticamente, se espalhando por toda a Terra.
 Eu tenho esse sonho.

Copyright/left jorgemarciopereiradeandrade 2013-2014 (favor citar o autor e as fontes nas republicações livres pela Internet ou quaisquer outros meios de comunicação de massa)

Notícias citadas no texto –


Dia Internacional da Síndrome de Down – World Day Down Syndrome http://www.worlddownsyndromeday.org/

Dia Mundial da Infância – UNICEF  http://www.unicef.pt/  (Lembrando das crianças na Síria)

Infância Roubada: flagrantes mostram a prostituição infantil no Amapá

COLEGAS, O FILMEhttp://blogcolegasofilme.com/

Indicações para leitura crítica e reflexão –

O ESTADO ESPETÁCULO – ENSAIOS SOBRE E CONTRA O STAR SYSTEM  EM POLÍTICA -  Roger Gérard Schwartzenberg , Editora DIFEL, Rio de Janeiro, 1978.

TEMPOS DE FASCISMOS – Ideologia- Intolerância- Imaginário – Maria Luiza Tucci Carneiro & Federico Cruci (orgs.) –EDUSP, São Paulo, SP, 2010.

LEIAM TAMBÉM NO BLOG –
01 NEGRO + 01 DOWN + 01 POETA = UM DIA PARA NÃO SE ESQUECER DE INCLUIR - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/03/01-negro-01-down-01-poeta-01-dia-para.html

O VIGÉSSIMO PRIMEIRO DIA – CINEMA E SÍNDROME DE DOWN  https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2010/03/o-vigessimo-primeiro-dia-cinema-e.html




OS DESASTRES, OS HAITIS E AS SERRAS NO HIPERCAPITALISMO-

sexta-feira, 8 de março de 2013

MULHERES, DIREITOS HUMANOS HOJE E SUA EXCLUSÃO, em tempos pastorais...


Imagem publicada - uma fotografia em preto & branco de minha autoria. Eu a fiz em uma esquina do centro de Campinas, perto de uma Faculdade de Direito, onde se lê como aviso de trânsito: PARE.  E, sendo colada, por algum cidadão ou cidadã, logo abaixo, as palavras: “de ser indiferente”. Um apelo, criativo, necessário e urgente: PARE DE SER INDIFERENTE.

“Trespasse as montanhas, em vez de escalá-las, escave a terra em vez de aplainá-la, abra buracos no espaço em vez de mantê-lo uniforme, transforme a Terra em um queijo suíço”. Gilles Deleuze e Félix Guattari (Mil Platôs – Mille Plateaux)

Há uma indiferença massificada para a afirmação de que somos des-iguais, quando se reflete sobre as condições da maioria das mulheres e seus Direitos Humanos. Temos, porém de reconhecer que nessa invenção do Século XX: os Direitos Humanos, ainda não aprendemos muito sobre o feminino e suas multiplicidades. Mas ficamos sabendo, impotentes, de suas violações e vulnerações.

Estive forçado pelas minhas limitações humanas, assim como por um triste olhar sobre como somos, como estamos e para onde caminhamos, in-diferentes, afastado do exercício desta necessidade e urgência de escrever.

Somente a minha própria re-leitura, olhando para o Feminino em nós, relembrando que o ÚTERO É O MUNDO E O MUNDO É UM ÚTERO, é que decidi me forçar a “pena” árdua de usar a pena, como diriam os que se escreviam as cartas de papel e tinta há alguns séculos atrás.

Os escritos indignados nem sempre trazem a força do que desejamos colocar ou expressar através deles.

Hoje, 08 de março de 2013, estamos vendo como é possível a “venda”, sob o modelo “utilitarista’’ do mundo capitalístico, aquilo que também pareceria invendável: os direitos humanos.

Uma venda que também pode ser dita como a mesma que impede a Justiça de enxergar claramente e “direito” os nossos direitos sendo aviltados... A mesma Senhora Vetusta que, por força desses vedamentos e pelo andar da carruagem da História do mundo, caminha a passos rápidos em direções mais destras do que sinistras.

Um pastor, que não é de rebanhos não dóceis, foi levado como oferta política para a condução dos Direitos Humanos e das MINORIAS, no Planalto Central. As Minorias, aquelas que se confundem com as marginalizações, foram excluídas em uma “eleição” a portas fechadas.

 E, para dentro de um espaço dito democrático, mesmo que com as portas e os ouvido fechados aos protestos, sob contenção, do lado de fora, o Deputado Federal Marco Feliciano foi “ungido” como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.

 Lá fora gritavam deitados no chão, os expulsos brasileiros e brasileiras: - NÃO PODEMOS CAIR NESSA CONTRADIÇÃO ESTATAL; UM RACISTA, UM HOMOFÓBICO NÃO TEM COMO SE DIZER E AFIMAR  UM DEFENSOR DESSES DIREITOS, AGORA, POR ELE BEM- DITOS: HUMANOS.  Assistimos a mais uma encenação, no ventre dos Poderes, forjada evangélica e macro politicamente

E, caros amigos e amigas, que me desculpem, se não entendi. O Pastor me/nos pede uma chance para provar sua capacidade de nos defender?

Estou nesses dias Marco Felicianos de Cristandades Falsas, embora descontente e indignado, refletindo e repensando como homenagear as mulheres.

O calor gerado pelas manifestações contrárias a este pastor, que não é de cabras não cegas, me fez desejar que a DOÇURA OU A FORÇA FÊMEA, incluída em nossos corpos e mentes, me possuíssem e reinstalassem meu desejo de outro mundo possível. Um mundo da afirmação de nossos devires-mulher.

Ficamos todos e todas, muito desiludidos? Talvez sim, no primeiro choque com a notícia. E, após uma reflexão das minorias como potências, NÃO. Somos cientes de que as alianças macropolíticas encenadas em nossas CÂMARAS, das municipais até as federais, sempre foram urdidas para a manutenção de uma ORDEM e de um PROGRESSO.

 Há e houve, entretanto, em nossa história democrática as criações de brechas, rachaduras moleculares e os rizomas, que espalhando indignação ou conscientização geram e geraram os pequenos furos sociais, as linhas de fuga, por onde a liberdade se instalou e pode ser vivenciada.

O dia 08 rememora as mulheres que cruzaram seus braços e decretaram que não mais iriam tecer ou fiar. Foi há mais de um século e meio, em Nova Iorque, na busca da sonhada igualdade de condições de trabalho e das horas de fiação sob o comando de homens.

As mulheres, com sua força para fiarem, tecerem e, como as Penélopes, desfazerem seus próprios tecidos, inclusive os mais fecundos de seus úteros, foram e são também as protagonistas políticas dessas re-evoluções nas quais nos prendemos e nos soltamos.

Hoje são elas, como vi recentemente no campo da Medicina, que passam a ser o a “maioria”. Porém permanecem, para além de sua crônica desqualificação trabalhista e profissional, alguns estigmas que nos fizeram e ainda fazem torná-las ainda bruxas ou feiticeiras.  Hoje inventamos fogueiras sutis e menos visíveis do que na Inquisição para “queimar” suas diferenças.

Os tempos digitais não descobriram o seu potencial feminino não analógico. Ainda somos mecânicos com elas. Ainda as violentamos em muitos países, em diferentes culturas, mas com as mesmas castrações e esterilizações.

Ainda, como Freud, em 1933, nos surpreendemos com as MULHERES e suas capacidades, para além da tecelagem de um tapete ou malha, feita por Anna Freud, sua filha-discípula e solteirona.  Segundo Sadie Plant: “Sigmund Freud fez a tentativa final de solucionar o enigma da feminilidade...”. 

Ele escreveu “que as mulheres só deram umas poucas contribuições às invenções e descobertas da história da civilização...”. Porém, foi uma de suas analisandas, a analista Marie Bonaparte, que lhe salvou a pele diante do nazi-fascismo a peso de ouro de Napoleão Bonaparte.

Como diriam Guattari e Deleuze, o pai da Psicanálise se manteve apenas preso a um “olhar edipiano”, reducionista e até ridículo sobre as mulheres, inclusive as que formavam os primordiais círculos psicanalíticos. Mas o doutor Freud era do Século XIX.

As mulheres, diriam os dois anti-edípicos e visionários pensadores franceses, são muito mais rizomáticas, relvas que se espalham, do que árvores com uma única e sedentária raiz fixada ao chão, masculino e machista. São Gaia, são Terra.

 “Um rizoma não tem começo nem fim; está sempre no meio, entre coisas”. As relvas, as epífitas, as samambaias e os bambus, que não respeitam territórios fixos, não têm raízes, mas rizomas.

Podem crescer e se multiplicar subterraneamente, assim agiram Emma Goldman, Rosa de Luxemburgo, Zuzu Angel, Sonia Moraes Angel, e muitas outras guerreiras ou revolucionárias. São, foram e serão sempre “subversivas”.

 Elas estão mais próximas das Folhas das Folhas da Relva do poeta Walt Whitman, que em sua orientação sexual divergente já as elogiava e reconhecia como as dobras das quais, desdobradas, vinham e virão nascer os grandes homens.

Nascemos delas, delas ainda, todos e todas, descenderemos. E não será um processo de serialização por reprodução assistida em laboratório que as descartarão em futuro próximo. O seu útero ainda é sua maior, inigualável e insubstituível força. Até mesmo quando tentamos castrá-lo, mesmo que virtualmente.

Por isso, temos de buscar essas Mulheres Digitais e Mãe-trix que nos superarão para o futuro. Isso se não forem reprimidas, violentadas, condicionadas e aprisionadas em nossos modelos binários e binarizantes de macho e fêmea.

O Pastor ainda funciona nessa visão estreita e preconceituosa – homem é homem, índio é índio, negro é negro, mas os homo-sexuais não são e serão além de coisas aberrantes e anormais, também coisas demoníacas...

Como algumas mulheres. E o casamento entre diferenças pode ser o fim da humanidade. Para impedir essas aberrações só a família, com a mulher como propriedade do homem, pode combater e reprimir esses desviantes ou diferentes seres.

Somos e continuaremos sendo, humanamente e demasiado, muito além das limitações a que nossos séculos de doutrinações, sejam políticas, ideológicas, religiosas ou mesmo científicas, tornaram redutíveis às nossas superfícies biológicas e sexuais.

Não podemos esquecer, por Deleuze e Guattari, que o Estado e seus mecanismos de controle biopolítico agem por conversão dos fluxos moleculares e desinstitucionalizadores em segmentos molares, novas instituições.

Portanto, não estranhemos que entreguem os Direitos Humanos para quem os viola. É a reterritorialização estatal de nossos potenciais e desejos de revoluções micropolíticas e moleculares. Os discursos sobre estes direitos não mais os efetivam, apesar de serem interdependentes, sem ativa participação das chamadas minorias.

A maior profundidade que podemos atingir não passa de nosso maior órgão do corpo humano: a pele. Por isso devemos combater, todos os dias, essas pregações de cunhos fundamentalistas e de gênero.

Somos múltiplos, como as mulheres, somos plurais e podemos ser muitos e muitos Outros em apenas um de nós mesmos. O poeta Pessoa não me deixa omitir ou negar.

E, docemente, peço que não reduzam esta afirmação ao seu cunho apenas de prosa ou poesia, pois é sim “poesis”.

Afirmemos o sentido de poesis como geração, ou melhor, gestação, de muitas formas de Vida, para além da visão de Vidas Nuas. Façamos os resgates que o Feminino Plural deve tomar em suas mãos e corpos para que a trans-formação de nosso mundo continue em marcha e evoluindo. O Futuro está nas mãos e corpos das filhas, das filhas das filhas de minhas filhas...

Destas que herdarão o que semearmos agora, seja em direitos ou em exclusões e miséria, é que devemos esperar, para além do modelo reality-show da Sociedade do Espetáculo, a construção de outra “gramática civil”, outra indispensável liberdade e cidadania. Outros caminhos, outras veredas e cartografias do viver e re-existir.

Copyright/left, a destra e a sinistra, jorgemarciopereiradeandrade 2013=2014 (favor citar o autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de comunicação de massa)

LEITURAS INDICADAS NO/PARA ALÉM DO TEXTO E DO CONTEXTO –

MIL PLATÔS  Capitalismo e Esquizofrenia - Gilles Deleuze & Félix Guattari – Editora 34, Rio de Janeiro, RJ, 1995-1997.

MULHER DIGITAL – O FEMININO E AS NOVAS TECNOLOGIAS – Sadie Plant, Editora Rosa dos Ventos, Rio de Janeiro, RJ, 1999.

LEIA(m) TAMBÉM NO BLOG –

OS DES(Z) MANDAMENTOS DO CORPO FEMININO http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2015/03/os-desz-mandamentos-do-corpo-feminino.html

O MARTELO NAS BRUXAS – COMO “QUEIMAR”, HOJE, AS DIFERENÇAS FEMININAS?

MULHERES SANGUE E VIDA, PARA ALÉM DE SUA EXCLUSÃO HISTÓRICA.

TODO ÚTERO É UM MUNDO.

EUGENIA, COMO REALIZAR A CASTRAÇÃO E ESTERILIZAÇÃO DE MULHERES E HOMENS COM DEFICIÊNCIA?