quinta-feira, 8 de abril de 2010

A SAÚDE E O SENTIDO PARA A VIDA II


Imagem publicada - um imagem do filme 1984, baseado no livro homônimo de George Orwell, que se passa no auditório onde os homens e mulheres são doutrinados pelo Grande Irmão, que aparece em uma tela gigante, trazendo a confirmação orwelliana de que: A Guerra é Paz, A Liberdade é Escravidão e a Ignorância é Poder, ampliando a "lavagem cerebral" a que todos, uniformizados e vigiados pela Teletela, se submetem em nome de uma sociedade burocratizada, alienante, onde a Vida pertence ao Estado, supondo-se que todos os corpos e mentes estejam sob total controle à distância, televisivamente.

O texto abaixo foi escrito para comemorar/lembrar o Dia MUNDIAL DA SAÚDE, há muitos INFOATIVOS passados (no número 4200 DE ABRIL DE 2009) e foi publicado em um tempo que o Blog não existia ainda. A minha saúde física na época já tinha sido afetada. 

Apenas havia um corpo vibrátil, que pela dor pós-acidente que sofri, se afetava com os vários acontecimentos daquele momento. Resolvi republicar por um pedido especial e pelo fato de estar estes dias com muitas dores pela mudança climática absurda que estamos vivendo. Os meus parafusos presos me anunciam a temperatura, já que os soltos na cuca não funcionam tão bem. O frio do tempo anda se combinando com outras insensibilidades e friezas. Aos que já leram peço que descubram o prazer da releitura, pois um novo olhar nasce todos os dias em corações e mentes inquietas. 

AOS QUE AINDA NÃO LERAM o meu desejo que façam uma breve parada para refletir sobre as nossas SAÚDES:

A Saúde e o Sentido Para a Vida

"Um sábio escritor/aviador/filósofo, Antoine de Saint-Exupéry,nos deixou como legado, para além do Pequeno Príncipe, um alerta sobre a necessidade de que busquemos um Sentido para a Vida. Ele nos indicou o caminho quando, em seus livros Terra dos Homens e Um Sentido para a Vida, nos disse: "De que estamos nós precisando para nascer para a vida? Precisamos nos dar. Sentimos que o homem não pode comunicar com o homem senão através de uma mesma linguagem.... Quando nos encaminharmos na direção boa morte, aquela que tomamos na origem, ao despertamos do barro, somente então seremos felizes. Só então poderemos viver em paz e morrer em paz, porque o que dá um sentido à vida dá um sentido à morte".

Necessitamos, hoje, no mundo do medo líquido e das vidas desperdiçadas ou da vida nua, urgentemente de uma nova linguagem universal. Necessitamos todos de uma Nova Saúde, a moda de Nietzche e Walt Whitman. Necessitados estamos todos e todas de um sentido para nossas vidas.

Hoje, dia 07 de abril, se comemora o Dia Mundial da Saúde. Amanhã o que comemoraremos? o desaparecimentos das 'novas pestes e epidemias? o fim de nossas 'não-visões brancas'? o surgimento de novos meios biotecnológicos de controle das mortalidades e do sofrimento humano? ou o enriquecimento e dignificação da vida humana com novos princípios éticos e bioéticos?

(HOJE, EM 2010, ACRESCENTO A CONFIRMAÇÃO DE QUE TEMOS UM NOVO TEMPO DO CAPITALISMO DOS DESASTRES EM MOVIMENTO, POIS AS CATÁSTROFES, TERREMOTOS E INUNDAÇÕES PASSARAM A SER CRÔNICAS DE MORTES ANUNCIADAS, E, LOGO APÓS CESSADO O VENTO, A CHUVA E OS TREMORES,SURGEM NAS TVS A ONDA DE PEDIDOS DE VERBAS POLÍTICAS PARA A RECONSTRUÇÃO DE CIDADES, COMO OS MILHÕES PARA O RIO DE JANEIRO INUNDADO NESSE ABRIL FRIORENTO)

Digo que sem a última resposta de nada valerá uma resposta às indagações anteriores. Senão, gananciosamente, os proprietários/empresários da Sáúde nos anunciarão/venderão uma falaciosa "descoberta" de um novo modo de Viver e Morrer, inclusive com as frequentes violações de todos os princípios sobre pesquisas em seres humanos. Isso, diante da nossa alienação, se não prestarmos atenção, com urgência, para a produção do que chamo de Vulneração/Expropiação da Vida.

Hoje é (era) dia de exclusão. Sim é(era) dia de exclusão 'saudável' no Big Brother. E se estamos todos aguardando o próximo 'milionário' e seu 'milhão', que dizem ser escolhido por nós, continuamos também assistindo a terra, a gaia, tremendo e nos anunciando novas e italianas e universais mortes, bem como novas lágrimas em olhos afegãos e/ou africanos ou nordestinos.

 A nossa atual sensibilidade para o sentido Universal da Vida tem, na banalização das violências, tornado , a cada dia na Idade Mídia, um modelo de viver. Nos estão afirmando, 'economicisticamente', que 'vale tudo' para vencer entre os muros, sob as câmeras e teletelas, com uma visão naturalizadora de um panóptico olhar de milhares de nós-espectadores.

(NESSE MÊS AINDA ESTOU LAMENTANDO A NÃO EXCLUSÃO DE UM BROTHER QUE SE REVELOU HOMOFÓBICO E PREPOTENTE, ALÉM DE TOTALMENTE DESINFORMADO SOBRE AIDS E SUA NECESSIDADE DE PREVENÇÃO PARA TODAS FORMAS DE EXPERIÊNCIAS SEXUAIS, E AINDA GANHOU, COM GRANDE APOIO POPULAR O SONHADO MILHÃO, POR SUA PERFORMANCE E RESISTÊNCIA ÀS EXPERIMENTAÇÕES TORTURANTES DE UM GRUPO PREVIAMENTE PREPARADO PARA ESTE REALITY SHOW SEM VIDA REAL...)

Estamos comemorando hoje a saída de nossos 'irmãos' ou 'irmãs' do Big Brother. Estaremos, então, felizes por nos identificarmos projetivamente com o Vencedor(a). Porém ,em seguida, quando um pequeno indiano nos ensinar como 'ganhar o primeiro milhão e nos tornarmos todos milionários', ainda assim estaremos cativos de um medo fundamental: "o medo de ser pinçado sozinho da alegre multidão, ou no máximo separadamente, e condenado a sofrer solitariamente enquanto todos os outros proseguem seus folguedos. O medo de uma catástrofe pessoal" (1).

Vivenciamos, absortos e absorvidos (mas não absolvidos) diante das nossas TVs um 'show da realidade', ou seja o reality show que está nos, subliminarmente, avisando que seremos 'inevitavelmente' excluídos. Apenas um será o milionário. 

Confirmar-se e se naturaliza que o hipercapitalismo tem suas razões e suas verdades. Não será e não é preciso que ninguém nos advirta que estamos 'nos assistindo' nos reality shows da vida. Sabemos e naturalizamos que para vencer teremos de lutar para não sermos excluídos. Já nos colocamos como pré-desfiliados. E isso ocorrerá na fila do INSS, na fila do banco, na fila da escola, na fila do espetáculo, nas filas de entrada para a Era do Acesso, onde alguns poucos selecionados podem participar do show e milhares serão seus 'tele-colegas' deste trabalho sob clausura e confinamento.

(NESSE ANO DE 2010 FOI DADO O OSCAR PARA A GUERRA AO TERROR. UM AVISO AO MUNDO DE QUE NOVOS HERÓIS DESARMADORES DE HOMENS BOMBA ESTÃO EM AÇÃO, PARA PROTEÇÃO DOS QUE, MESMO INVADIDOS, SÃO AINDA VISTOS COMO OS FRACOS PERIGOSOS QUE PRECISAM DE LIÇÕES DE BIOPOLÍTICA DO CONTROLE TOTAL DE SUAS VIDAS, PETRÓLEO E OUTRAS RIQUEZAS, POIS A ÍNDIA SÓ SERÁ AMEAÇA SE APRENDER A FAZER USO BÉLICO DA ENERGIA NUCLEAR. OS FRÁGEIS E VIOLENTADOS MENINOS E MENINAS DE QUEM QUER SER MILIONÁRIO DE LÁ SÃO SUBSTITUIDOS PELOS FORTES E BEM DOTADOS DOURADOS RAPAZES TATUADOS DAQUI...)

E onde entra a Saúde no meio deste cenário? sim, as nossas saúdes (que não serão apenas a ausência das doenças) entram na necessidade do que Viktor E. Frankl (2), a quem dedico(dediquei) algum tempo de minhas leituras atuais, afirmou de forma contundente sobre sua experiência no campo de concentração de Auchwitz: "...que o sentido da vida sempre se modifica, mas jamais deixa de existir..., podemos descobrir esse sentido na vida de três diferentes formas: 1. criando um trabalho ou praticando um ato; 2. experimentando algo (como o amor, a beleza, a verdade) ou encontrando alguém; 3. pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável".

A mim, na minha atual condição de saúde vulnerada, me interessa a autotranscendência necessária para o reconhecimento de minhas fragilidades consideradas humanas, inclusive, com o 'direito humano' de me deixar contaminar pela 'cegueira branca das mídias globais'. É, então, diante de minha vulnerabilidade humana que precisarei estar trabalhando, micropoliticamente, pela busca de novos modos de ser e estar no mundo.

Tenho, em homenagem a Orwell, a incansável tarefa de humanizar meus atos médicos, realizando as experimentações e pesquisas, com crítica e ética, de todos os avanços que a Medicina e as Biotecnologias em que estou envolvido/capturado.

Devo tentar alcançar a proposta de Frankl, ele também médico e psiquiatra. Ele realizou com persistência e nobreza o ato da sobrevivência em um campo de concentração, reforçando que muitas vezes foi o humor, o amor aos seus semelhantes , o reconhecimento de seus algozes da SS como humanos, a resiliência e permanente busca de uma outra forma de saúde, lhe permitiu sair vivo desta experiencia crucial de vida nua, ou seja: buscar aquilo que alguns filósofos existencialistas ensinam, ou seja, tolerar a FALTA DE SENTIDO DA VIDA. 

Podemos, portanto, mesmo diante de uma situação inexorável e de nossa finitude, afirmar nossa transitoriedade vital e, com coragem e determinação, afastar o medo líquido e certo da Morte, afirmando que a Vida tem um sentido incondicional. O que nos dá um sentido às nossas vidas também dará um sentido às nossas mortes.

Por isso digo, em especial aos que ainda olham como inválidos os que se tornam pessoas com alguma forma de incapacidade ou deficiência, que a Vida vale a pena (sofrimentos criativos) e as penas (sofrimentos patológicos), quando compartilhamos de uma nova linguagem universal. Mais vale ainda se seu sentido e linguagem é propor um novo paradigma ético-estético e político para o viver (Guattari), onde tentamos ser éticos, para ser potência ativa que surge na imanência das práticas para coordenar a vida e escolher a forma de vivê-la, com profundo respeito à Diferença e os Outros. 

Mais ainda olhando com um olhar para além do olhar, um novo modo de ver/sentir estético e subversivo, rompendo, como criação e criadores permanentes, a pretensa unidade economicista do mundo capitalístico e globalizado atual; e, finalmente, nos afirmando micropoliticamente com a implicação de escolha de que modos de mundo desejamos VIVER e MORRER COM SUAVE DIGNIDADE.

A TODOS E TODAS MEU DESEJO DE UMA SAÚDE PARA ALÉM DA QUE NOS DIZEM SER NECESSÁRIO E INDICADA PARA BEM-VIVER.

jorgemarciopereiradeandrade copyright 2009-2010-2011 e ad infinitum enquanto houver saúde...

Referências bibliográficas -

Na imagem publicada - 1984 - George Orwell - Companhia Editora Nacional - São Paulo, SP, 1977

http://www.duplipensar.net/george-orwell/1984-orwell-resumo.html

(1) Medo Líquido - Zigmunt Bauman - Jorge Zahar Editora - Rio de Janeiro, RJ, 2008.

(2) Em Busca de Sentido - Um Psicólogo no Campo de Concentração - Viktor E. Frankl - Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2008 - 26ª Edição.

Fonte original:
   InfoAtivo DefNet - 4387 - 07 abril de 2010 

NOTA- OS ACRÉSCIMOS DE TEXTO AO ORIGINAL FORAM ESCRITOS EM LETRA MAIÚSCULA E ENTRE PARENTESES  EM ITÁLICO ( PARA QUE AS ATUALIDADES E ACONTECIMENTOS) POSSAM CONFIRMAR A ATEMPORALIDADE DE ALGUMAS DE MINHAS IDÉIAS E DOS AUTORES CITADOS, LAMENTAVELMENTE, A RODAVIDA RODA E A VIDA RODA APESAR DA DONA MORTE).

LEIA TAMBÉM NO BLOG - 

ORGULHOS 'MULTIPLOS' - no COMBATE A TODOS OS PRECONCEITOShttps://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/06/orgulhos-multiplos-no-combate-todos-os.html

OS NOSSOS CÃES desCOLORIDOS - Nossas "DEPRESSÕES" E O DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTALhttps://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/10/os-nossos-caes-descoloridos-nossas.html

5 comentários:

  1. Jorge Márcio, tenho lido, atenta, teus boletins e repassados alguns deles a amigos. Esse será mais um que será repassado.
    Sou médica pediatra e geneticista clínica, portadora de osteogenesis imperfecta. Sempre me importei com o modo como atendo famílias que me trazem o susto, o luto de terem uma criança com "defeito de fabricação", ou alguma diferença, onde devo escutá-los, responder-lhes, apoiá-los, orientá-los.
    Como personagem de todo esse círculo, já que tenho uma proteína diferente no colágeno, tenho uma mãe, sou mulher, quase mãe, médica geneticista, enteno o cuidado que quero ter com cada um que me procura.
    Gosto do que escreves e por isso, mais uma vez repasso a outros amigos.
    Ótimo lembrar o novo código de ética médica.
    Obrigada.
    Abraços,
    Lina

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  2. Carissima LINA
    Também acompanho seu nobre e persistente trabalho no campo da OSTEOGENESIS IMPERFECTA, assim como de Celinha, e agradeço sua ajuda na difusão de meus textos e informações... espero ainda escrever sobre os 'ossos de vidro como uma forma e condição que em algumas pessoas as tornam mais INQUEBRANTÁVEIS e resilientes, portanto re-existentes diante dos estigmas e preconceitos, enfim GRANDIOSAS...receba meu abraço doce, AGRADECIDO e terno JORGE MARCIO

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  3. Dr: Márcio , outro texto fantástico . Eu acredito que hoje os pacientes e os pais de autistas estão mais experts , como voce mesmo comenta em ética médica. A gente não aceita mais a idéia que nossos filhos estejam em mundos inacessíveis. Eu mesma sempre estou preocupada com o respeito ao meu filho Filipe atenta ao seu sofrimento psíquico.
    Ainda outro dia , lia sobre as pesquisas avançadas na cura do autismo. Dentre elas diziam que o autista tem o cerébro inflamado. E que em breve iriam descobrir a cura . seja ligado a este ponto ou a outras especulações.
    Mais aí eu pergunto: Enquanto não vem a cura , que devemos fazer?
    Cruzar os braços?
    E esta criança autista sem possibilidade de cura vai ficar sem o respeito pela sua pessoa e individualidade?
    Antes desta hipótetica cura , deveríamos pensar o que estes mesmos sentem em relação ao mundo que vivem. Incluí-los na nossa sociedade , curado ou não.
    Jorge Márcio , voce já ouviu falar de alguém que convidou um autista para jantar com ele e o tratou com dignidade respeitando-lhe todos os seus limites?
    Temos que começar a compreende-los antes da cura.
    Não seria esta a melhor cura? E ela não seria para nós mesmos?
    Creio que é preciso uma discussão na sociedade de como sentem todo portador de necessidades especiais.
    Contamos com voce Dr: Jorge Márcio para esta discussão!
    Abraços!
    Ray

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  4. CARA RAY
    Agradeço mais uma vez seu comentário e suas indagações que tem pertência e fundamento na experiência e vivência com um filho com Autismo... apenas lhe oriento que hoje em dia, a partir da CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, não mais se utiliza o termo PORTADOR para as pessoas com alguma incapacidade, deficiência ou condição de diferença ou transtorno invasivo do desenvolvimento, e será um grande avanço, para além do campo terminológico, se conseguirmos que antes de qualquer estigma ou estereótipo possamos nomear estes cidadãos e cidadãs na primeira pessoa, vendo-os e tratando-os com iguais em direitos porém com suas singularidades respeitadas....
    Vamos manter a discussão sobre a maneira como nossa Sociedade DO ESPETÁCULO trata as diferenças e as diversidades humanas.
    Um outro abraço doce JORGE MARCIO

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  5. Dr: Jorge Márcio,MUITO OBRIGADA pela orientação e explicação em relação a palavra PORTADOR. Eu não sabia. Isso é importante para mim pois escrevo um livro sobre Filipe e usava este termo.
    O certo então é nomear os cidadãos no primeiro nome? É essa a orientação?
    Grata pela resposta desde jpa!
    Ray

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