terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O APRENDIZADO DO DESASTRE - O hai di ti é em qualquer lugar,,,

Imagem publicada: Uma da série de fotos tiradas por soldados americanos de prisioneiros do Iraque em Abu Ghraib. O prisioneiro com capuz (Satar Jabar) teve as duas mãos e o pênis amarrados com arame, e seria, segundo notícias, eletrocutado se ele caísse da caixa sobre a qual estava de pé. No momento em que esta foto veio a público, oficiais americanos declararam que o arame não estaria eletrificado. Isto foi negado depois pela pessoa da foto que declarou em uma entrevista que o arame estava eletrificado e estava "acostumado" a levar choques, para não perder todos os equilíbrios. A naturalização e a exibição das imagens pelos soldados tem uma finalidade de desmoralização de suas vítimas, assim como um alerta para todos os que se opuserem às suas técnicas de dominação, sejam políticas, econômicas ou mesmo as militares...

"...Mas países estilhaçados são atraentes para o Banco Mundial também por outra razão: eles acatam as ordens docilmente. Após um evento cataclísmico, os governos habitualmente fazem seja o que for para obter ajuda em dólares — mesmo se isso significa assumir dívidas enormes e concordar com políticas de reformas arrasadoras. E com a população local a lutar para obter abrigo e comida, a organização política contra a privatização pode parecer um luxo inimaginável". ( Naomi Klein - A Ascensão do Capitalismo do Desastre - 2005 )

A afirmação acima é feita por Naomi Klein, uma jornalista canadense, uma mulher inquieta e lúcida que traz, há anos, um pouco de luz às trevas ocultas sob as entranhas do Hipercapitalismo. Ela é autora de um livro de 592 páginas, que desnudam a face obscura de ações de guerras e de intervenções militaristas, em especial dos EUA, em países considerados "com soberania limitada". O Afeganistão, o Timor Leste, e, para um refresco de memória, o devastado HAITI, foram e são exemplos notórios.

Em seu texto a autora, em 2005, já denunciava: "O mesmo se passou no Haiti, a seguir à derrubada do presidente Jean-Bertrand Aristide. Em troca de um empréstimo de US$ 61 milhões, o banco está exigindo "parceria público-privado e governabilidade nos setores da educação e da educação", segundo os documentos do Banco (Mundial - World Bank) — ou seja, companhias privadas passam a administrar as escolas e os hospitais. 

Roger Noriega, ao secretário de Estado Assistente dos EUA para os Negócios do Hemisfério Ocidental, deixou claro que o governo Bush compartilha esses objetivos: "Também encorajaremos que o governo do Haiti avance, no momento apropriado, com a restruturação e a privatização de algumas empresas públicas", disse ele ao American Enterprise Institute em 14 de Abril de 2004".

Mais um desastre se tornou espaço de intervenção globalizada. Mais um povo deverá, no futuro, pagar as contas de todos os 'investimentos' e, quiçá, as ' doações' generosas e indispensáveis para a reconstrução da velha terra queimada, que para esta jornalista é, portanto, uma excelente oportunidade para a aplicação de " A Doutrina do Choque ". Este seu livro tem um sugestivo subtítulo, que utilizo com outras possibilidades: " A Ascensão do Capitalismo do Desastre", já traduzido e nas livrarias brasileiras.

Tomei contato com a pesquisa e ideias dela, que não são infundadas ou mero panfleto anticapitalista, em um vídeo do YouTube onde a aplicação de eletrochoques(ECT), são historicamente lembrados da psiquiatria, de Cerletti e Bini, aos dias de hoje, e são a base sobre a qual, segundo Klein, a CIA elaborou uma teoria sobre o seu uso e aplicação no campo macropolítico. Veja o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=jKU3jm4sjZE . No Iraque esta 'teoria' foi aplicada em Abu Ghraib.

Transcrevo um trecho do livro que por si só deixará para nós uma reflexão sobre as vítimas do terremoto no Haiti, ou melhor o que será feito desse país devastado e re-colonizado, pois o fura Katrina afetou especialmente um povo negro: "Tragédia em Nova Orleans, 2005. Enquanto o mundo assiste ao flagelo dos moradores com as inundações causadas por tempestades que estouraram os diques da cidade, o economista Milton Friedman apresenta no jornal The Wall Street Journal uma ideia radical. 

Aos 93 anos de idade e com a saúde debilitada, o papa da economia liberal das últimas cinco décadas vislumbrava, naquele desastre, uma oportunidade de ouro para o capitalismo: “A maior parte das escolas de Nova Orleans está em ruínas”, observou. “É uma oportunidade para reformar radicalmente o sistema educacional”

Para Friedman, melhor do que gastar uma parte dos bilhões de dólares do dinheiro da reconstrução refazendo e melhorando o sistema escolar público, o governo deveria fornecer vouchers para as famílias, que poderia gastá-los nas instituições privadas. Estas teriam subsídio estatal. A privatização proposta seria não uma solução emergencial, mas uma reforma permanente. A ideia deu certo. Enquanto o conserto dos diques e a reparação da rede elétrica seguiam a passos lentos, o leilão do sistema educacional se tornava realidade em tempo recorde".

Nossos pequenos desastres, nossas vítimas mais próximas nos aproximam dos mais de 200 mil mortos no Haiti. A nossa compreensão do desastre do Outro deveria passar pela visão bioética de pertencimento à mesma Terra. Mas, lentamente, no nosso modo hipermidiático de ser, vamos retirando das manchetes o Haiti e seu povo.

 Lentamente, esqueceremos ou não. Se a terra aqui não fosse tão pluvial e tropical, se a terra tivesse cobrido, não uma pousada a beira mar e casas humildes, mas invadisse a Usina em Angra, talvez agora estivéssemos agradecendo a chegada de mais uma leva de Marines... Dizem por aí que God is a Brazilian?...

Mas ainda há, espero, as revoluções moleculares e a resistência aos neocolonialismos, mesmo os travestidos de humanismo e de generosidade dos mais 'desenvolvidos', e os soterrados e sob controle nos campos de refugiados sobreviventes de Vida Nua ressurgirão dos destroços para assustar e expulsar os neo-invasores de seus territórios. VIVA O HAITI VIVO E LIVRE...

Lá estará, mundialmente, por enquanto, um privilegiado espaço para uma 'extreme makeover", como o programa da ABC, onde 'voluntários' passam por cirurgias e reformas radicais de seus corpos, que modificam plasticamente esses sujeitos e depois os devolvem para uma família, amigos e telespectadores maravilhados com a mudança de seu visual fashion... Aparentemente é tudo de graça, é tudo free..., com as melhores das boas intenções.

Portanto, 'hai di ti' que crê estar em um mundo longe desta possível aplicação de uma reforma radical, por interesses macropolíticos e econômicos, se o seu córrego ou riachinho virar uma inundação... E conheceremos a 'parte social do Capitalismo' tão cara ao encontro de Davos.

Não ficamos chocados com as imagens do Haiti? Qual será nosso aprendizado? Esperamos outros ''choques''?

(jorgemarciopereiradeandrade -Copyright and left ad infinitum, 2021, todos direitos reservados)

FONTES = indicações de leitura crítica e letramento

 A DOUTRINA DO CHOQUE -  A Ascenção do Capitalismo de Desastre - Naomi Klein, Nova Fronteira, 2006, Rio de Janeiro, RJ.







LEIAM TAMBÉM NO BLOG - 

OS DESASTRES, OS HAITIS E AS SERRAS NO HIPERCAPITALISMO - https://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/01/os-desastres-os-haitis-e-as-serras-no.html 

O HAITI NÃO ERA AQUI - A TERRA QUEIMADA 

3 comentários:

  1. meu conhecimento, verdadeiro aprendizado, o guardo no coração, as informações, por um tempo, em algum escaninho da memória, e com
    o tempo e novos hai di tis se soterram.
    os mesmos travestidos que lá estão, cá estão
    agora, e estarão, de plantão, qual abutres na carniça, assim que as águas baixarem.Portanto, nossa ajuda real é tão qual nossos corações sintam e nossos braços
    alcançam. aqui. agora. o havai é aqui. o haiti. o mandaqui. o tucuruvi.

    ResponderExcluir
  2. Somos humanos e devemos entender que muitos afugentam esperanças e destroem sonhos. Cabe a nós, entender que estamos muito próximos dessa realidade, por nos sabermos humanos e, certamente, nos indignarmos com tantos poderosos estúpidos, em suas ações.

    ResponderExcluir
  3. Somos humanos e devemos ficar indignados com o fato de que muitos afugentam esperanças e destroem sonhos. Cabe a nós, entender que estamos muito próximos dessa realidade, por nos sabermos humanos e, certamente, nos indignarmos com tantos poderosos estúpidos, em suas ações.

    ResponderExcluir